O secretário-geral comunista
acusou o Governo de trocar a "crise" pelo "sucesso"
económico para justificar restrições ao investimento público e reposição de
rendimentos e direitos, enquanto o primeiro-ministro partilhou os louros com a
maioria parlamentar.
"No passado, era em nome da
crise que se exigiam sacrifícios que o povo ainda está a pagar. Agora, é o
sucesso que serve de mote para fundamentar a continuação dos sacrifícios,
aguentar mais uns anos de salários congelados, de serviços públicos degradados
ou a meio gás, investimento muito aquém das necessidades para cumprir os
critérios do fundamentalismo monetarista e, inexplicavelmente,
ir além dele", lamentou o líder comunista, Jerónimo de Sousa, no debate
quinzenal com o primeiro-ministro, no parlamento.
Na resposta, o primeiro-ministro,
António Costa, rejeitou tratar-se de uma análise justa e distribuiu a
responsabilidade pela melhoria da situação do país com os partidos à esquerda
do PS, que apoiam parlamentarmente o Governo.
"Invocamos o sucesso porque
é merecido. Não é só do Governo. O sucesso é também do PEV, do PCP,
do BE, da bancada do PS, de todos aqueles que, no final de 2015, tiveram a
coragem de dizer que havia uma alternativa, virar a página da austeridade e
lançar uma nova política em Portugal", afirmou o líder do executivo.
O secretário-geral
do PCP tinha questionado o primeiro-ministro sobre o atraso no
compromisso de valorizar as longas carreiras contributivas, nomeadamente a
segunda fase da despenalização por reforma antecipada prometida para
2018 e adiada para 2019, mas também as necessidades de investimento
nos setores da saúde, transportes ou cultura, uma "política de
unhas rentes".
Jerónimo de Sousa criticou ainda
o "monstrengo da ameaça de perigos futuros, que agora também se
agita", contrariando que "os perigos vêm, como a vida o provou, de o
país ficar nas mãos dos interesses estrangeiros e sujeito às suas
imposições", pois "foi a cedência a essas imposições por sucessivos
governos que conduziu o país à grave situação a que urge dar resposta".
Face ao anterior Programa de
Estabilidade (PE), António Costa referiu que o atual (2018-22)
documento reforça em 350 milhões de euros as verbas para contratação de pessoal
pelo Estado para os diversos serviços públicos, lembrando ainda que já há mais
7.000 profissionais de saúde entretanto e estão construídos ou em construção
113 novos centros de saúde e cinco hospitais, além do recente investimento no
Metro de Lisboa de 210 milhões de euros.
"Não vou entrar no
campeonato de qual dos dois deseja mais satisfazer mais rapidamente todas as
necessidades. Concedo que temos os dois a mesma vontade. Agora, temos de
prosseguir a par e passo, garantindo a irreversibilidade daquilo que já
conquistámos nestes dois anos e meio", disse António Costa, recorrendo
depois a uma metáfora futebolística para dizer que há "ainda uma
segunda parte da legislatura para levar até ao fim".
Sobre a nova fase
de despenalização das reformas antecipadas "de quem tem longas
carreiras contributivas", o chefe do Governo sublinhou que o PE contempla
um "reforço de 22,6 milhões de euros e mais 40 milhões de euros nos
próximos anos para esta medida".
Jerónimo de Sousa começara o
debate pela condenação do ataque de EUA, Reino Unido e França na Síria,
considerando-o "um ato de agressão sob pretexto" de alegadas armas
química por comprovar e em violação do direito internacional, já que
"primeiro bombardeia-se, depois investiga-se", mas António Costa não
comentou o assunto.
Lusa | Notícias ao Minuto
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