quinta-feira, 19 de abril de 2018

PORTUGAL | "No passado, era em nome da crise que se exigiam sacrifícios". E agora?


O secretário-geral comunista acusou o Governo de trocar a "crise" pelo "sucesso" económico para justificar restrições ao investimento público e reposição de rendimentos e direitos, enquanto o primeiro-ministro partilhou os louros com a maioria parlamentar.

"No passado, era em nome da crise que se exigiam sacrifícios que o povo ainda está a pagar. Agora, é o sucesso que serve de mote para fundamentar a continuação dos sacrifícios, aguentar mais uns anos de salários congelados, de serviços públicos degradados ou a meio gás, investimento muito aquém das necessidades para cumprir os critérios do fundamentalismo monetarista e, inexplicavelmente, ir além dele", lamentou o líder comunista, Jerónimo de Sousa, no debate quinzenal com o primeiro-ministro, no parlamento.

Na resposta, o primeiro-ministro, António Costa, rejeitou tratar-se de uma análise justa e distribuiu a responsabilidade pela melhoria da situação do país com os partidos à esquerda do PS, que apoiam parlamentarmente o Governo.

"Invocamos o sucesso porque é merecido. Não é só do Governo. O sucesso é também do PEV, do PCP, do BE, da bancada do PS, de todos aqueles que, no final de 2015, tiveram a coragem de dizer que havia uma alternativa, virar a página da austeridade e lançar uma nova política em Portugal", afirmou o líder do executivo.

O secretário-geral do PCP tinha questionado o primeiro-ministro sobre o atraso no compromisso de valorizar as longas carreiras contributivas, nomeadamente a segunda fase da despenalização por reforma antecipada prometida para 2018 e adiada para 2019, mas também as necessidades de investimento nos setores da saúde, transportes ou cultura, uma "política de unhas rentes".

Jerónimo de Sousa criticou ainda o "monstrengo da ameaça de perigos futuros, que agora também se agita", contrariando que "os perigos vêm, como a vida o provou, de o país ficar nas mãos dos interesses estrangeiros e sujeito às suas imposições", pois "foi a cedência a essas imposições por sucessivos governos que conduziu o país à grave situação a que urge dar resposta".

Face ao anterior Programa de Estabilidade (PE), António Costa referiu que o atual (2018-22) documento reforça em 350 milhões de euros as verbas para contratação de pessoal pelo Estado para os diversos serviços públicos, lembrando ainda que já há mais 7.000 profissionais de saúde entretanto e estão construídos ou em construção 113 novos centros de saúde e cinco hospitais, além do recente investimento no Metro de Lisboa de 210 milhões de euros.

"Não vou entrar no campeonato de qual dos dois deseja mais satisfazer mais rapidamente todas as necessidades. Concedo que temos os dois a mesma vontade. Agora, temos de prosseguir a par e passo, garantindo a irreversibilidade daquilo que já conquistámos nestes dois anos e meio", disse António Costa, recorrendo depois a uma metáfora futebolística para dizer que há "ainda uma segunda parte da legislatura para levar até ao fim".

Sobre a nova fase de despenalização das reformas antecipadas "de quem tem longas carreiras contributivas", o chefe do Governo sublinhou que o PE contempla um "reforço de 22,6 milhões de euros e mais 40 milhões de euros nos próximos anos para esta medida".

Jerónimo de Sousa começara o debate pela condenação do ataque de EUA, Reino Unido e França na Síria, considerando-o "um ato de agressão sob pretexto" de alegadas armas química por comprovar e em violação do direito internacional, já que "primeiro bombardeia-se, depois investiga-se", mas António Costa não comentou o assunto.

Lusa | Notícias ao Minuto

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