quinta-feira, 28 de junho de 2018

Angola | Pequenos sinais e grandes males


Carlos Calongo | Jornal de Angola | opinião

Quem saberá dizer às quantas anda a campanha de resgate dos direitos cívicos e morais que, durante muito tempo, com algum tom politizado, foi apregoada como dos principais males que corrói a sociedade angolana?

Sem necessidade de realizarmos profundos exercícios mentais, podemos facilmente concluir que a referida campanha está longe dos seus objectivos, atendendo o que se vai assistindo um pouco por todos os lados desta imensa Angola, catalogada como órfã dos valores ético-morais.

Da constatação acima, uma coisa é certa: Persiste a necessidade de continuar-se a luta contra este mal que, a par da corrupção e do nepotismo, são dos maiores factores que impedem o desenvolvimento de qualquer sociedade, para lá dos visíveis que não se reflecte apenas na infra-estruturas e bens materiais de vários tipos. A necessidade de resgate dos valores representa um regresso à um passado que estandardizou a matriz sócio-cultural da sociedade angolana, nas idas décadas dos anos 40, 50,60 e primeira parte da de 70. Enumerar os valores que faziam de Angola uma sociedade moralizada, é um exercício assaz árduo, ante degradação da moral social que nos coloca num ponto de quase ruptura total, ao ponto de levar-nos a pensar que nunca houve momentos gloriosos em relação a matéria em questão.

Moral social aqui é entendida como o conjunto de normas de conduta que os seres humanos devem respeitar em função da própria consciência, para aferir o valor (negativo ou positivo) dos actos. Alguns estudiosos em matéria de direito definem a ordem moral como sendo uma ordem de consciência para o bem, que pode dividir-se em “individual” que representa imperativos impostos aos indivíduos pela sua própria consciência ética, e em “social ou positiva” que corporiza o sentido das ideias e sentimentos dominantes na colectividade. Fica pois claro, que para o que se pretende com este texto, a teoria acima enunciada serve e bem, no intuito de despertar os actores da sociedade angolana para a inversão do quadro de degradação dos valores, quando exercidos como pertença colectiva, fazem de qualquer Nação, um bom espaço para se viver. Tais acções devem começar no individualismo, ou seja, cada um fazendo a sua parte e dando o seu exemplo, e nada que seja instituído por via de um decreto ou qualquer instrutivo jurídico-legal, no rigor da definição científica correspondente ao direito, enquanto ciência.

É pela consciência individual das pessoas que se atingem os grandes objectivos colectivos, derivando daí os ganhos até mesmo para as gerações vindouras, isso em ratificação da ideia de que devemos deixar um mundo melhor para os nossos sucessores. Devemos (re) incutir nas crianças o espírito do patriotismo, da protecção e preservação do meio ambiente que sofre agressões de bradar aos céus, a exemplo do que está a ser feito com as florestas e faunas do País, que já podem consubstanciar crime.

Mudar a consciência implica abandonar práticas em que se envolvem certos agentes dos órgaos de defesa e segurança que, quando solicitados pelos agentes reguladores de trânsito a apresentarem a carta de condução, ao invés deste documento exibem passe de serviço ou a camisa da farda pendurada no banco das viaturas, como se fossem elementos de habilitação ao exercício da condução e outros poderes exacerbados. Aos elementos das empresas privadas de protecção física não se deve permitir o exercício de regularem o trânsito em favor dos seus patrões, muitas vezes numa autêntica complicação do trânsito automóvel, assim como não se deve aceitar como de menor importância, a conivência de muitos automobilistas que cedem prioridades à colegas mesmo em situações de contravenção das regras de trânsito. Para com os utentes de viaturas com sirene, sejam elas protocolares ou não, já nem devemos gastar latim, porquanto o assunto já foi objecto de tratamento numa das reflexões feitas neste mesmo diário generalista em que debitamos nossas ideias.

Finalmente, devemos reflectir muito sobre a forma de produção do lixo, cuja limpeza custa muito dinheiro aos cofres do Estado e que, verdade seja dita, já criou alguns muitos endinheirados à nossa maneira de ser e estar.

Do respeito aos mortos e óbitos, talvez fosse recomendado para teses de licenciatura e outros níveis de graduação, pois tudo que se assiste é deveras lamentável. Contudo, são pequenos sinais que redundam grandes males.

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