sábado, 16 de junho de 2018

Portugal | Ódio


Isabel Moreira | Expresso | opinião

O feminismo passa sem alarido se for silencioso. O feminismo passa sem espancamentos se não tiver rostos e vozes, se não tiver, enfim, visibilidade. Se o feminismo se atreve a ganhar voz e, portanto, espaço, descobrimos o que sempre aqui esteve: ódio.

Descobrimos que o sexismo e a misoginia são cancros sociais. As feministas atrevem-se a expandir as suas reivindicações, porque sabem que a violência doméstica “que a todos une” só pode ser combatida se tudo o que diz respeito a desigualdade de género, a estereótipos de género, for combatido. Atrevem-se.

É por isso que homens e mulheres feministas alertam para a eficácia negativa de livrinhos de escola diferenciados ou para campanhas antitabágicas com a “princesa” e a mãe “culpada”.

Nesse alerta há resultados e, subitamente, somos invadidos por campanhas de ridicularização, que são ódio.

Se fosse ingénua, teria dificuldade em perceber o que leva tanto cronista e comentador furioso nas redes sociais a insultar quem se bate pela igualdade em vez de optar pelo debate.

Como não sou ingénua, sei que o ódio espontâneo que a visibilidade do feminismo gera é ele próprio prova do sexismo e da misoginia que sempre aqui esteve.

Tem sido extraordinário descobrir, como tantas pessoas, que sou histérica, urbana, alguém com acesso à comunicação social (alguém, ou uma mulher?), dada à censura, enfim, sou muitas coisas que homens “sem privilégio algum” colaram na minha e noutras testas.

Conservar é muito mais cómodo do que fazer pelo progresso.

Temos histórias para contar.

Temos história para fazer.

E podemos.

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