Isabel Moreira | Expresso | opinião
O feminismo passa sem alarido se
for silencioso. O feminismo passa sem espancamentos se não tiver rostos e
vozes, se não tiver, enfim, visibilidade. Se o feminismo se atreve a ganhar voz
e, portanto, espaço, descobrimos o que sempre aqui esteve: ódio.
Descobrimos que o sexismo e a
misoginia são cancros sociais. As feministas atrevem-se a expandir as suas
reivindicações, porque sabem que a violência doméstica “que a todos une” só
pode ser combatida se tudo o que diz respeito a desigualdade de género, a estereótipos
de género, for combatido. Atrevem-se.
É por isso que homens e mulheres
feministas alertam para a eficácia negativa de livrinhos de escola
diferenciados ou para campanhas antitabágicas com a “princesa” e a mãe
“culpada”.
Nesse alerta há resultados e, subitamente,
somos invadidos por campanhas de ridicularização, que são ódio.
Se fosse ingénua, teria
dificuldade em perceber o que leva tanto cronista e comentador furioso nas
redes sociais a insultar quem se bate pela igualdade em vez de optar pelo
debate.
Como não sou ingénua, sei que o
ódio espontâneo que a visibilidade do feminismo gera é ele próprio prova do
sexismo e da misoginia que sempre aqui esteve.
Tem sido extraordinário
descobrir, como tantas pessoas, que sou histérica, urbana, alguém com acesso à
comunicação social (alguém, ou uma mulher?), dada à censura, enfim, sou muitas
coisas que homens “sem privilégio algum” colaram na minha e noutras testas.
Conservar é muito mais cómodo do
que fazer pelo progresso.
Temos histórias para contar.
Temos história para fazer.
E podemos.
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