O esquerdista López Obrador é o
favorito para vencer as eleições mexicanas, pondo um fim a décadas de poder do
PRI e do PAN. Violência, corrupção e Trump pesam sobre o futuro incerto do
México.
Os mexicanos vão a votos este
domingo no México, numas eleições que se prevêem que resultem na eleição de
Andrés Manuel López Obrador como Presidente do México. O líder do Morena deixa
no ar mais dúvidas do que respostas para o futuro do país, que chega às urnas
numa altura em que a corrupção e a violência no México chega a níveis
preocupantes.
Durante a longa campanha, que
durou três meses, López Obrador prometeu levar o México à sua quarta
transformação, sucedendo assim a três momentos históricos daquele país: a
independência (1821), a reforma (1854) e a revolução (1920).
As urnas abriram às 8h00 locais
(14h00 de Lisboa) e só fecham às 18h00 locais (00h00 de Lisboa). Os primeiros
resultados são esperados apenas às 23h00 locais deste domingo (5h00 de segunda-feira
de Lisboa).
O fundador e líder do Morena
(Movimento Nacional de Regeneração, de esquerda) aparece destacado nas
sondagens, com valores que quase tocam nos 50% — o suficiente para ser eleito,
já que no México as eleições presidenciais fazem-se a uma só volta. O maior adversário
de López Obrador é Ricardo Anaya, do Partido Ação Nacional (PAN, de
centro-direia), cujas previsões em torno dos 25% o deixam longe de poder
realisticamente ser eleito.
Ao vencer estas eleições, o homem
conhecido como AMLO (junção das suas iniciais) deverá tornar-se no primeiro
Presidente mexicano a liderar um governo que não pertence nem ao Partido
Revolucionário Institucional (PRI, de centro-esquerda e do Presidente cessante,
Enrique Peña Nieto) nem ao PAN. López Obrador já tinha concorrido outras duas
vezes para Presidente do México: em 2006 perdeu por menos de 250 mil votos
contra Felipe Calderón; em 2012 perdeu contra Peña Nieto, por 6,6%. Agora, a
vitória parece não fugir-lhe das mãos.
Desta forma, o resultado destas
eleições presidenciais e legislativas é praticamente um apontamento quando
colocado ao lado daquilo que parece ser a maior dúvida: que futuro sobra para o
México depois deste domingo? A campanha de López Obrador tem sido marcada por
uma ambiguidade.
Embora prometa o fim daquilo a que
chama a “época neoliberal” e de se promover como um opositor do establishment —
valendo-lhe de forma recorrente comparações a Hugo Chávez — durante esta
campanha procurou ir ao encontro de empresários. Se, de um lado, promete um
combate cerrado contra a corrupção, por outro, em dezembro, chegou a sugerir
amnistiar alguns dos líderes de cartéis da droga que estão atualmente presos —
proposta que retirou depois de ter sido amplamente criticado por ela.
A violência é também uma das
principais preocupações neste México que vai agora a votos. Com mais de 26 mil
homicídios — a um ritmo cerca de 80 por dia — o ano de 2017 foi um dos mais
sangrentos dos últimos 20 anos, quase ultrapassando os 27.199 homicídios
registados em 2011. Aqui, o combate ao narcotráfico e também os conflitos entre
alguns daqueles grupos criminosos, é o principal responsável. Durante a
campanha, também foram mortos 130 políticos.
A nível internacional, López
Obrador terá a Norte o seu maior desafio, à medida que Donald Trump fecha a
fronteira com o México (impedindo a passagem de emigrantes mexicanos e também
de outros países da América Central) e no caso de o Presidente norte-americano
cumprir a sua promessa de rever ou cancelar o NAFTA, o tratado de
livre-comércio entre os EUA, o México e o Canadá.
João de Almeida Dias | Observador
| Foto: Pedro Pardo | AFP/Getty Images
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