domingo, 1 de julho de 2018

Mexicanos vão a votos em eleições com resultado previsível, ao contrário do futuro do seu país


O esquerdista López Obrador é o favorito para vencer as eleições mexicanas, pondo um fim a décadas de poder do PRI e do PAN. Violência, corrupção e Trump pesam sobre o futuro incerto do México.

Os mexicanos vão a votos este domingo no México, numas eleições que se prevêem que resultem na eleição de Andrés Manuel López Obrador como Presidente do México. O líder do Morena deixa no ar mais dúvidas do que respostas para o futuro do país, que chega às urnas numa altura em que a corrupção e a violência no México chega a níveis preocupantes.

Durante a longa campanha, que durou três meses, López Obrador prometeu levar o México à sua quarta transformação, sucedendo assim a três momentos históricos daquele país: a independência (1821), a reforma (1854) e a revolução (1920).

As urnas abriram às 8h00 locais (14h00 de Lisboa) e só fecham às 18h00 locais (00h00 de Lisboa). Os primeiros resultados são esperados apenas às 23h00 locais deste domingo (5h00 de segunda-feira de Lisboa).

O fundador e líder do Morena (Movimento Nacional de Regeneração, de esquerda) aparece destacado nas sondagens, com valores que quase tocam nos 50% — o suficiente para ser eleito, já que no México as eleições presidenciais fazem-se a uma só volta. O maior adversário de López Obrador é Ricardo Anaya, do Partido Ação Nacional (PAN, de centro-direia), cujas previsões em torno dos 25% o deixam longe de poder realisticamente ser eleito.

Ao vencer estas eleições, o homem conhecido como AMLO (junção das suas iniciais) deverá tornar-se no primeiro Presidente mexicano a liderar um governo que não pertence nem ao Partido Revolucionário Institucional (PRI, de centro-esquerda e do Presidente cessante, Enrique Peña Nieto) nem ao PAN. López Obrador já tinha concorrido outras duas vezes para Presidente do México: em 2006 perdeu por menos de 250 mil votos contra Felipe Calderón; em 2012 perdeu contra Peña Nieto, por 6,6%. Agora, a vitória parece não fugir-lhe das mãos.

Desta forma, o resultado destas eleições presidenciais e legislativas é praticamente um apontamento quando colocado ao lado daquilo que parece ser a maior dúvida: que futuro sobra para o México depois deste domingo? A campanha de López Obrador tem sido marcada por uma ambiguidade.

Embora prometa o fim daquilo a que chama a “época neoliberal” e de se promover como um opositor do establishment — valendo-lhe de forma recorrente comparações a Hugo Chávez — durante esta campanha procurou ir ao encontro de empresários. Se, de um lado, promete um combate cerrado contra a corrupção, por outro, em dezembro, chegou a sugerir amnistiar alguns dos líderes de cartéis da droga que estão atualmente presos — proposta que retirou depois de ter sido amplamente criticado por ela.

A violência é também uma das principais preocupações neste México que vai agora a votos. Com mais de 26 mil homicídios — a um ritmo cerca de 80 por dia — o ano de 2017 foi um dos mais sangrentos dos últimos 20 anos, quase ultrapassando os 27.199 homicídios registados em 2011. Aqui, o combate ao narcotráfico e também os conflitos entre alguns daqueles grupos criminosos, é o principal responsável. Durante a campanha, também foram mortos 130 políticos.

A nível internacional, López Obrador terá a Norte o seu maior desafio, à medida que Donald Trump fecha a fronteira com o México (impedindo a passagem de emigrantes mexicanos e também de outros países da América Central) e no caso de o Presidente norte-americano cumprir a sua promessa de rever ou cancelar o NAFTA, o tratado de livre-comércio entre os EUA, o México e o Canadá.

João de Almeida Dias | Observador | Foto: Pedro Pardo | AFP/Getty Images

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