Em entrevista exclusiva à DW
África, Sílvia Lutucuta fala em redução de casos de malária, diz que o país
cumpre seu dever de casa na prevenção ao ébola e que redução da mortalidade
materno infantil é prioridade da pasta.
No âmbito da visita Presidencial
à Alemanha, na semana passada, a ministra angolana da Saúde, Sílvia Lutucuta,
concedeu uma entrevista exclusiva à DW África, em Berlim, na qual falou sobre
as prioridades e desafios de sua pasta, mas também sobre como Angola está a
se proteger do surto de ébola na República Democrática do Congo. A ministra
avaliou ainda a situação da malária no país, doença que vem sendo administrada
por uma abordagem multisetorial, segundo Lutucuta.
DW África: Dentre os projetos que
tem na área da Saúde, o que está a ser uma prioridade atualmente?
Sílvia Lutucuta (SL): Nós
temos várias prioridades. Medicamentos. Nós precisamos ter uma logística de
medicamentos mais eficaz, com a qualidade necessária. Por outro lado, temos
compromissos muito importantes com a redução da mortalidade materno-infantil.
Para além disso, por outro lado, temos a melhoria das infraestruturas e
qualidade dos recursos humanos. Estes são os grandes desafios e, depois, temos
todos os outros que concorrem para a melhoria da assistência médica e
medicamentosa dos angolanos.
DW África: Quais são as medidas
que estão a ser tomadas para ultrapassar esses desafios?
SL: Nós estamos a trabalhar
para a melhoria dos cuidados primários de saúde. É a referência que 80% das
situações de saúde têm solução a nível dos cuidados primários de saúde. Para isso,
estamos a melhorar a quantidade e qualidade dos nossos postos médicos e centros
de saúde. Nós temos hospitais que foram construídos, unidades muito boas, com
equipamentos e com a qualidade, em termos de infraestruturas, de topo. Mas,
precisamos de melhorar a qualidade de recursos humanos que lá metemos.
Também subespecializar os
hospitais. Termos uma referência, por exemplo, em ortopedia, uma referência em
cirurgia cardíaca e outras referências. E fazer geminação com unidades
hospitalares, no estrangeiro, de referência.Isto vai aumentar a eficiência, a
qualidade da assistência e também há sempre a possibilidade de formarmos mais
quadros qualificados e localmente.
DW África: Um tema que tem
chamado a atenção tem sido esse vai-e-vem das crises de ébola na República
Democrática do Congo. Como Angola está a ver isso?
SL: Do ponto de vista
comercial, assistência médica, nós trabalhamos de forma integrada com os outros
países e também cumprimos as normas internacionais de saúde. Também temos um
parceiro muito importante que é a Organização Mundial de Saúde, a OMS África.
Portanto, em Angola, foram tomadas as medidas preventivas. Temos estado a fazer
trabalhos ao nível das nossas fronteiras, preparar condições para o caso de
surgir um caso [de ébola] e estamos a educar a nossa população, formação de
técnicos. É um esforço conjunto que nós temos estado a fazer, não só em Angola,
mas na região.
DW África: Este controle na fronteira
continua em andamento e até quando será mantido?
SL: Isso será mantido até
não termos ébola na República Democrática do Congo. Qualquer país tem que estar
em permanente alerta.
DW África: Qual é a situação da
malária atualmente em Angola e como está a ser implementado o esforço do
Governo no combate à malária?
SL: A malária é uma das
principais causa de morte e morbilidade em Angola, é uma doença endémica. Mas
está sendo feito um esforço conjunto, e gostaria também que percebessem que nós
estamos, e é essa a orientação do titular do Poder Executivo, de os ministérios
trabalharem de forma integrada.
As doenças resultam de uma série
de determinantes de saúde e então, estamos a fazer um esforço multisetorial.
Trabalhamos com o Ministério da Energia e Águas, por causa do abastecimento de
água potável, com o ministério da Família e Reinserção Social, que tem um
programa específico de combate à pobreza. E também é nossa preocupação, dentro
das nossas políticas, trabalhar mais na prevenção e, assim, conseguimos ter um
sistema de saúde mais resiliente.
Nós temos uma comissão multissetorial
de combate à malária, de combate à cólera e outras doenças e que tem estado a
trabalhar de forma integrada para arranjar soluções para o problema.
DW África: Já foi possível
identificar avanços no combate à malária?
SL: Já. Já houve avanços significativos.
Já conseguimos ter melhor quantificação dos casos e melhor tomar medidas - quer
para o tratamento, quer para a prevenção. Com isto, temos estado a controlar
melhor a situação. O pior ano da malária foi 2016 e final de 2015 - nós tivemos
mais de seis milhões de pessoas com malária e o número de mortes também foi
muito elevado. Esses números baixaram um pouco. Este ano [2017/2018], tivemos
cerca de três milhões e 500 pessoas com malária. A mortalidade foi inferior a
do anos de 2016, tivemos cerca de 2.500 mortes.
E vamos continuar a tratar,
sensibilizar a população - há de fazer advocacia para o uso do mosquiteiro e
também evitar todas as condições para a reprodução do mosquito que é a base do
problema.
Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
| Deutsche Welle
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