O Sistema de Protecção Social
(SPS) de Angola está a pagar prestações mensais, entre pensões, abonos e
subsídios, a mais um 1,7 milhões de angolanos, longe dos 7,5 milhões estimados
em idade activa, assumiu fonte hoje governamental.
A ministra da Acção Social Família
e Promoção da Mulher de Angola, Victória da Conceição, que falava na abertura
do seminário “Regimes de Protecção Social”, admitiu que, apesar da
obrigatoriedade legal de inscrição e vinculação dos trabalhadores por conta de
outrem, por contra própria, do serviço doméstico e do clero religioso, ainda há
uma “parte considerável” da população activa por cobrir pela Segurança Social.
Para Victória da Conceição, o
número de segurados continua abaixo dos dois milhões, bastante inferior à
dimensão real da força de trabalho existente, que se estima na ordem dos 7,5
milhões.
A governante frisou que as
estatísticas da Segurança Social mostram que 99% dos segurados estão vinculados
ao regime dos trabalhadores por conta de outrem, lembrando que, nestes, estão
incluídos os funcionários públicos, e apenas 1% se distribui pelos restantes
regimes especiais de protecção social obrigatória.
Nesse sentido, sublinhou ser
necessário alargar a cobertura do sistema de protecção social obrigatória aos
trabalhadores agrícolas de pequena produção, das pescas, por conta própria, com
frágil capacidade contributiva, as domésticas e empregadores urbanos das
microempresas, garantindo que se exige a inovação administrativa para assegurar
a diversificação da economia.
Além da necessidade de se
expandir o sistema de protecção social obrigatório a novos grupos
profissionais, é fundamental, explicou, que se assegure também que as entidades
empregadoras e os trabalhadores destes regimes especiais contribuam regularmente
para o sistema.
A crise angolana fez com que o
Governo só tenha conseguido cobrir 43% das 15 mil famílias vulneráveis a que se
propôs ajudar em 2016. O governo ajudou 6.500 famílias. Para um universo de 20
milhões de pobres, comprova-se que o regime do MPLA pouco mais consegue,
estando mo Poder há quase 43 anos, do que arranjar desculpas para uma crónica e
criminosa miopia que não permite ver mais do que o próprio umbigo.
As conclusões constam do
relatório da Assistência e Reinserção Social em Angola, divulgado pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmando os efeitos da crise que
afecta o país na atribuição de apoios sociais pelo Estado. Confirma igualmente
que os pobres são cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.
Portanto, é uma crise selectiva com o selo de autenticidade do MPLA.
Na componente de famílias
assistidas com bens alimentares, o relatório, produzido pelo Ministério da
Assistência e Reinserção Social, refere que as metas estabelecidas para 2016
previam a distribuição de alimentos, nas 18 províncias, a 15 mil famílias
vulneráveis.
A falta de apoio nas restantes
províncias é justificada no relatório com a “escassez de meios”, com o
documento a considerar ainda 2016 como “um ano bastante difícil em termos de
aprovisionamento de bens alimentares e não alimentares”, deixando o projecto de
assistência às famílias vulneráveis realizado em apenas 43% do valor global. As
províncias do Namibe e do Zaire não chegaram a ter qualquer família vulnerável
contemplada com estes apoios, enquanto no Uíge apenas sete receberam alimentos.
No capítulo de vítimas de
sinistros e calamidades assistidas, o estudo aponta para 26.961 pessoas que
receberam algum tipo de apoio, com o Cunene a concentrar, uma vez mais, a
atenção. Só nesta província, 20.333 tiveram de ser assistidas vítimas de
calamidades, nomeadamente da seca que afecta, além do Cunene, outras regiões do
sul de Angola.
Em 2015, o número de pessoas
assistidas em Angola, vítimas de calamidades, foi de 366.764, de acordo com o
estudo. Para “apoiar as condições de habitabilidade e minimizar situações de
risco”, o anuário da Assistência e Reinserção Social em Angola refere ainda que
em 2016 foram entregues 32.005 chapas de zinco a 1.136 famílias em todo país,
sobretudo nas províncias de Luanda (11.370) e do Uíge (5.815), regiões
habitualmente afectadas pelas fortes chuvas.
Como é hábito, os sucessivos
governos continuam a pedir aos pobres dos países ricos para ajudarem os… ricos
dos países (supostamente) pobres.
Recorde-se que, por exemplo, em 2015, a União Europeia (UE)
financiou um programa de 32 milhões de euros para, em conjunto com a Unicef,
ajudar o Governo angolano na assistência e protecção social às populações mais
vulneráveis. Só mesmo assim. Quando o país é pobre…
O programa “Aprosoc” foi
apresentado em Luanda no dia 22 de Julho de 2015 e surgiu numa altura em que o
Estado angolano anunciou que pretendia – recorde-se – expandir a protecção
social às camadas “mais desfavorecidas” da população, para “aumentar o nível de
integração das intervenções sociais em Angola”.
“Estamos a falar desta importante
intervenção de carácter social quando o país sofre as consequências da marcada
redução do preço do barril de petróleo a nível internacional, e a reacção
imediata e legítima é de contenção das despesas públicas”, admitiu, durante a
apresentação do programa, o representante do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) em Angola.
Face ao cenário financeiro,
Francisco Songane apelou ao Governo angolano para dispensar atenção redobrada
aos mais necessitados.
“Contudo, consideramos importante
tratar as despesas sociais numa perspectiva de protecção dos mais vulneráveis,
pois com uma redução nesta área, afectando o provimento de serviços, os pobres
vêem a sua situação agravada”, enfatizou o responsável.
A primeira componente do
“Aprosoc” – que envolveu também o Ministério da Assistência Social e Reinserção
-, estava avaliada em 10 milhões de euros e pretendia “fortalecer a capacidade
institucional” ministerial na prestação de apoios, ao nível nacional e
provincial, nomeadamente em formação, ficando a cargo de um consórcio de
empresas.
A segunda componente, que
absorveu mais de 22 milhões de euros, seria implementada pela delegação de
Angola da Unicef e envolveria a criação de novos programas e projectos para
aproximar a assistência social dos mais necessitados. Ainda reforçando o conhecimento
e a capacidade de análise nesta área, ao nível da gestão dos programas sociais
públicos, mas também na capacidade dos parceiros académicos e de investigação
científica.
“Queremos reforçar os sistemas
que o país tem para providenciar assistência social. Isso significa reforçar os
mecanismos institucionais presentes no terreno, reformular os programas,
remodelar a operação ou apoiar a criação pontos de acesso, descentralizado para
que as pessoas possam aceder ao serviço sem que se tenham de deslocar à capital
provincial”, explicou Stefano Visani, chefe da secção de Políticas Sociais da
representação da Unicef em Luanda.
Inclui-se ainda nesta componente
a atribuição de alguns fundos directamente para transferências sociais,
nomeadamente, para programas de apoio a crianças com menos de cinco anos em
situação de risco.
O programa “Aprosoc” foi lançado
para um período de implementação das acções ao longo de quatro anos, cabendo
depois ao Governo angolano assegurar a sua continuidade.
“A ideia é disponibilizar
ferramentas sólidas para que o Governo, com recursos domésticos, possa expandir
a protecção social nos próximos anos”, concluiu Stefano Visani.
Folha 8 com Lusa
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