Chefe alemão de inteligência
chama de "alarmante" a radicalização de crianças muçulmanas, após
relatório apontar que jovens estão sendo doutrinados cada vez mais cedo.
Conservadores querem vigilância antes dos 14 anos.
Crianças que crescem em famílias
muçulmanas fundamentalistas na Alemanha representam uma "ameaça
potencial considerável", afirmou nesta segunda-feira (06/08) o presidente
do Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV, na sigla em
alemão), Hans-Georg Maassen.
Um novo relatório do BfV,
divulgado por jornais do grupo de mídia Funke, alertou haver sinais de que a
"radicalização de menores e jovens adultos" está se tornando mais
comum e ocorrendo cada vez mais rápido e mais cedo.
As crianças em algumas dessas
famílias são "educadas desde o nascimento com uma visão de mundo
extremista que legitima a violência contra outros e deprecia aqueles que não
fazem parte de seu grupo", segundo as conclusões do serviço de
inteligência alemão.
Os especialistas acreditam que,
na Alemanha, haja um "número de três dígitos" de famílias islâmicas
radicalizadas com várias centenas de crianças.
O relatório do BfV aponta ainda
que a ameaça parte não só de famílias que viajaram para zonas em guerra no
Oriente Médio, mas também daquelas que permanecem na Alemanha.
Em entrevista ao Funke, Maassen
advertiu que o que ele descreveu como socialização jihadista das crianças em
curso no país é "alarmante" e pode representar um desafio
significativo para as autoridades nos próximos anos.
As conclusões do BfV levaram
políticos da União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler federal alemã,
Angela Merkel, a pressionarem por uma nova redução da idade mínima para a
vigilância de crianças – em 2016, o limite caiu de 16 para 14 anos.
"Não se trata de
criminalizar menores de 14 anos, mas de evitar ameaças significativas ao nosso
país, como o terrorismo islâmico, que também tem crianças como alvo",
afirmou o deputado Patrick Sensburg, da CDU, ao grupo Funke.
Stephan Mayer, um porta-voz da
União Social Cristã (CSU), partido irmão da CSU, defendeu que tal medida seria
para proteger as crianças afetadas, afirmando que pessoas muito jovens viajaram
para regiões em crise na Síria e no Iraque para se juntar ao jihadismo.
Legendas como A Esquerda e o
Partido Verde se disseram contrários a permitir a vigilância de menores de 14
anos, medida que também foi condenada por entidades de direitos humanos.
A organização humanitária alemã
Humanist Union (HU) disse ser irracional considerar crianças uma ameaça à ordem
constitucional democrática, uma vez que "suas ideias e opiniões ainda não
estão totalmente desenvolvidas e estão sujeitas a mudanças".
"Colocar crianças sob
vigilância é, portanto, uma violação maciça de seus direitos
fundamentais", afirmou Martin Kutscha, membro do conselho da HU, à DW.
No ano passado, o chefe da BfV já
havia expressado preocupação com potenciais repatriados, especialmente com
menores de idade que partiram com seus pais para as zonas de combate.
"Vemos o perigo de que os
filhos de jihadistas retornem das regiões de combate para a Alemanha,
socializados no islã e doutrinados nesse sentido", advertira Maassen em
meados de novembro. "Assim, uma nova geração de jihadistas também poderia
crescer aqui."
De acordo com o BfV, mais de 950
radicais islâmicos partiram da Alemanha para a Síria e o Iraque até o final do
ano passado. Um quinto deles seriam mulheres, e 5% menores de idade, informou o
órgão, acrescentando que por volta de um terço desses radicalizados já teria
retornado ao país.
Em dezembro passado, o serviço
secreto doméstico alemão calculou haver na Alemanha um total de 1.870
radicais islâmicos violentos.
EK/afp/dpa/dw
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