quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Na ‘silly parva’ o Zeca disse não. Chapéus há muitos, seus…


Ao pequeno almoço tranches de Trump ensopadas em pescadinhas com o rabo na boca, todas enroladas em circuito fechado. É disto que o Curto se abre por Candeias que nem sempre iluminam o que realmente nos interessa. Dizem que estamos na “silly season”, aquela época parva, cretina, tola dos jornalistas. E é, é mesmo. Trump novamente, a novela. Que coisa!

Notícias de interesse nacional não faltam. Aprofundadas até dariam quase livros. Bons livros. Com gente que vimos e caminha como zumbis ao nosso lado. Quase nem damos por eles, de tão fechados que estão, notam-se pelos sorrisos amarelos e dixotes que disfarçam os dramas das suas vidas. Pois. Mas isso não é notícia. Nãoooo.

Aquela do governo dar mais dois meses aos dos arrendamentos de casas para as pressões ‘bulingosas’ é mesmo de PS no governo. Sempre ao lado dos “dinheirinhos” dos que depois lhes pagam em favores simpáticos e muitas vezes chorudos – como se tem visto em alguns (demasiados) do PS, mas também do PSD e do CDS. Pudera! É sacar vilanagem. Dito certo. E os vilões andam atiçados a ladrar às pernas dos arrendatários. Senhorios. Que de senhores e senhoras nada têm. Jagunços, diz-se no Brasil e também por cá. Especuladores e etc… Pois.

Apesar de ainda não ter percebido com rigor (falta de tempo) o que se passa com a transparência dos que nos governam e representam na AR, talvez desses e dos e etc., parece que com a nova lei dos dados não vamos ter a possibilidade de saber publicamente quanto sacam os marmanjos das mordomias e outras alcavalas que nos esmifram. Os tais que dizem que nos servem mas na realidade o que fazem é servir-se e sacar o mais possível à custa dos totós portugueses. Assim está bem. Fizeram a lei à medida de evitar o conhecimento de quanto nos sacam, nos roubam (grosso modo).

E o José Afonso falou. Disse uma vez mais NÃO! Disse-o pela “voz” do filho Pedro e família. “Não quero ir para o Panteão, vão à merda!” Subentende-se.

Aquela tirada do José Jorge Letria ou de quem teve esta ideia lá pela SPA (autores) foi mais que estranha. Foi aquilo a que chamam ‘lobi’ mas que rima com seita? Terá que ver com a mais valia de encafuar o Zeca no Panteão Nacional para abrir caminho a Mário Soares e Sá Carneiro? Assim como a outros que vão para ali mas que só engrossam o números dos que estão lá a mais? Zeca até mereceria se esse tal panteão fosse algo decente e não uma bandalheira. Assim não. Assim Zeca fica onde estão tantos combatentes antifascistas, da liberdade e da democracia, em campa rasa. E é ali que está bem, porque é um dos nossos. Dos tantos que morreram no Tarrafal, nas masmorras da PIDE do Salazar e do Marcdelo Caetano tão chegado  a Marcelo PR… Onde isto chegou!

Chegou ao esgoto. Também visível nessas tantas condecorações que parecem ter saído da loja chinesa. Vários já foram condecorados “porque sim”. Alguns sacanórios na lista. Cavaco Silva até condecorou o ‘modisto’ (alfaiate) da Dona Maria sua mulher que até ganhava tão pouco como professora e com reforma miserável. Disse-o o “tatebitate” então em Belém, esse Cavaco. Um ‘modisto’? Só porque fazia os andrajos para a talvez primeira-dama que cá não existe (felizmente)? Porra, mas que podridão! O abandalhamento só não é superior aos terriveis odores emanados por quase toda aquela gentinha. Políticos de esgoto.

Adiante, que isto teria pano para mangas, pernas, rabos grandes e pilas avantajadas…

Expresso Curto. Vamos nessa. Novela Trump e outras coisas, algumas com interesse. Outras porque vale sempre a pena saber o que se passa ou dizem que se passa… e depois pensar. Até o Expreso tem por slogan: Liberdade para pensar. Que bom. E por enquanto ainda não paga imposto. Paga? Talvez. Pois. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Se parece esturro, cheira a esturro e sabe a esturro, então é bem provável que seja ele

Pedro Candeias | Expresso

Há uma lei universal não escrita que diz o seguinte: se parece esturro, se cheira a esturro e se, em última análise, sabe a esturro, então é bem provável que o esturricado seja de Donald Trump. É por isso que aqui estamos. Outra vez.

Recapitulando as últimas: na terça-feira, Michael Cohen, o fixere cão de ataque (e também antigo advogado) de Trump, confessou sob juramento ter recebido dinheiro do “candidato a presidente” para pagar o silêncio de uma porn star e de uma modelo da Playboy com quem o presidente-eleito tivera relações extra-conjugais para “influenciar as eleições”. Isto são suspeitas particularmente perigosas. Imagine o que seria se as histórias de Stormy Daniels e Karen McDougal tivessem chegado aos jornais a meio da campanha.

Mas há mais: a dada altura, Cohen foi o fazedor de pontes transcontinentais quando o indiscreto líder do mundo livre quis uma Trump Tower em Moscovo – obviamente, o negócio correu mal, mas ficou um odor estranho no ar. Segundo o multicitado Steele Dossier, da autoria do ex-MI6 Christopher Steele, Cohen encontrou-se em 2017 com russos que tinham informações e/ou se imiscuíram nas eleições de 2016.

A propósito deste dossiê, Trump chamou-lhe “lixo” e os três oligarcas russos implicados tentaram processar o autor por difamação. Christopher Steele ganhou-lhes ontem em tribunal.

Bom, na mesma terça-feira Paul Manafort, antigo diretor de campanha de Trump – amigado de gente, digamos, duvidosa, como Mobutu Sese Seko, Ferdinando Marcos ou Viktor Yanukovich – foi condenado por oito de 18 crimes, de evasão fiscal a falsificação de declarações de impostos. [Manafort será julgado em setembro por supostas ligações promíscuas com a Ucrânia].

Logicamente, Donald Trump foi ao Twitter e elogiou Manafort, “um bom homem” por “não quebrar” sob pressão (está, inclusivamente, a considerar um perdão ao tipo) e criticou Cohen pelas razões opostas. “Só inventou histórias para conseguir um acordo judicial”. E depois, numa suave e caseira entrevista ao programa “Fox And Friends”, o presidente defendeu-se com a habitual descoordenação: “Tem de perceber, Ainsley, o que ele fez… não foram tirados das finanças da campanha e isso é que interessa. Vieram [os pagamentos] da campanha? Não vieram da campanha, mas de mim. E eu tuitei sobre isso. Você sabe, eu pus - não sei se você sabe que eu tuitei sobre isto.” Usar dinheiro da campanha para tapar um escândalo sexual é simplesmente criminoso.

O confronto da Administração com a imprensa aconteceu quando a porta-voz Sarah Huckabee Sanders entrou na sala de conferências. Sanders tentou amolecer a audiência e animar o espírito republicano ao citar a Bíblia enquanto deu as condolências à família de Mollie Tibbetts, uma estudante de 20 anos cujo corpo foi encontrado sem vida; um emigrante ilegal de 24 anos foi acusado de homicídio, o que só “justifica as nossas políticas de emigração”, disse ela antes de ser repetidamente questionada sobre o tema: o presidente cometeu alguma ilegalidade? A “Politico” contou as onze vezes que Sanders respondeu “o presidente não fez nada de mal, não há acusações contra ele, não houve conluio”.

Fact check: em abril, Donald Trump garantiu em pleno voonão saber que Michael Cohen pagara 130 mil dólares a Stormy Daniels.

Reality check: mentir às autoridades é crime, mentir ao público em geral é só moralmente questionável; Trump, que é estruturalmente mentiroso, não será apanhado por isto.

Além disso, Trump está historicamente protegido, apesar de o advogado de Cohen garantir que o seu cliente mudou definitivamente de lado e irá contar tudo o que possacomprometer o POTUS – e a relação entre ambos vem de muito longe, com casos de violação escondidas por ameaças veladas e muita bravata.

Por outro lado, a destituição parece improvável, ainda que possível, porque os republicanos controlam a Câmara dos Representantes: o GOP tem 236 lugares e os democratas têm 193. Só uma reviravolta nas eleições intercalares de novembro próximo dá esperança ao “impeachment” que teria de passar, ainda, pelo Senado.

Até lá, Trump, o homem das mil e uma más companhias, irá desviar-se das balas, mesmo as que atingem a sua Fundação de caridade, como melhor sabe: expondo-se mediaticamente onde lhe interessa e insistindo patologicamente na teoria da caça às bruxas. O “New York Times” diz que Donald já usou a expressão “witch hunt” 110 vezes desde maio.

OUTRAS NOTÍCIAS

Ainda do outro lado do Atlântico, e ainda sobre originalidades políticas, o preso político ou político preso – depende de quem analisa isto fora dos tribunais – Lula da Silva lidera confortavelmente as sondagens às presidenciais brasileiras. De acordo com a sondagem da “Data Folha”, Lula tem 39% das intenções de voto a seu favor numa corrida em que está a correr, porque, bem, está na lei, como escreve a “Forbes”. O PT inscreveu-o como candidato porque o podia fazer, e assim o manterá até que todos os apelos dos advogados do ex-presidente se esgotem – e o nome de Lula seja trocado pelo de Fernando Haddad, na esperança de que a colagem mediática deste último ao primeiro seja suficiente para travar a subida de Jair Bolsonaro (18,9% na sondagem), o candidato da extrema-direita. É arriscado, mas tudo parece possível neste mundo.

Como, por exemplo, um presidente destituído esmagadoramente numa AG de um clube continuar a enviar mensagens aos seus antigos jogadores na véspera de um jogo depois de irromper nas instalações, dizendo-se de novo presidente, assinando comunicados como presidente, pedindo a bancos coisas que só os presidentes alegadamente podem fazer – quando não é certo, sequer, que esteja legalmente garantida a sua corrida às eleições, apesar das suas providências. Ontem, soube-se da resposta da Comissão de Gestão à medida cautelar de Bruno de Carvalho: são 225 pontos nos quais se referem a relação tóxica com o plantel, a perda de investidores e patrocinadores, a paralisação da gestão do clube e as rescisões de contrato.

E por falar em contratos, a SIC foi à TVI e de lá trouxe a apresentadora Cristina Ferreira; e esta é a contratação do mercado de verão que inundou naturalmente a internet com piadas futebolísticas (é fazer scroll por aqui). O assunto foi à primeira página do “Correio da Manhã”, que fala em “1 milhão por ano”, “Jornal de Notícias” e do “Público”.

NÚMEROS

24,4
A desvalorização da moeda venezuelana nos últimos cinco dias. Os analistas dizem que isto se deve a novas medidas de Nicolas Maduro. Enquanto isso, a crise agrava-se e o país afunda-se

37
Milhões de euros, o simpático buraco que Filipe Soares Francodeixou no Novo Banco e na Haitong.

1,2
Milhões de euros, a dívida que uma empresa angolana tem por saldar com 43 trabalhadores portugueses.

30%
A percentagem de agravamento na quota do condomínio segundo as novas regras do alojamento local que entram em vigor em novembro

MANCHETES

Arranco, precisamente, com o tema anterior: “Em dois anos e meio ASAE fechou apenas dez alojamentos locais”, escreve o “Público”.
“Jornal I”: “Revolta no Exército - não esquecemos aqueles que estão para trás”.
“Jornal de Notícias”: “Governo cria exceção para pagar menos IMI às Câmaras”.
“Correio da Manhã”: “1 milhão por ano - SIC rouba Cristina à TVI”.

Nos jornais desportivos, destaque para a sondagem de “A Bola”: “Varandas (35,4%) e Benedito (28,4%) na frente” na corrida às presidenciais do Sporting.
O “Record” aponta a renovação de “Rúben Dias [com o Benfica] até 2023” e o novo reforço do Sporting: “Gudelj hoje em Lisboa”.
“O Jogo" titula: “Ai está Marega”, regressado após castigo interno no FC Porto.
E a “Marca” põe a foto dos capitães das equipas de Espanha para ilustrar um anúncio de greve contra a ideia peregrina de disputar jogos da La Liga nos Estados Unidos: “É o momento de dizer basta”.

O QUE ANDO A LER

Quase todas elas começam com a palavra “amigos” após o que somos levados irremediavelmente pela imaginação: Nelson Rodrigues de suspensórios, charuto e sobrancelhas peludas a contar-nos mais uma história de futebol num jeitinho muito próprio.

Em “Brasil Em Campo”, da Tinta da China, estão reunidas muitas das crónicas desportivas que o extraordinário e fértil autor brasileiro escreveu ao longo da sua carreira. Pensando bem, “crónicas desportivas” é uma formulação redutora, porque o que aqui lemos é o Brasil e a forma como Nelson olha para ele no momento em que o país calçava as chuteiras.

Fala-se no “complexo do vira-lata”, nascido no Maracanazo de 1950, que Nelson Rodrigues quis combater com previsões extemporâneas que ele garantia estarem justificadas pela sua visão superior – na verdade, Nelson era míope e não distinguia um jogador do outro, pelo que todos os seus relatos de jogo estão carregados de imagens e metáforas, e ligações ao seu quotidiano. Mas não faz mal, porque há frases inesquecíveis e estilisticamente exageradas, sobretudo contra os “idiotas da subjetividade”. “O brasileiro é ainda maior quando solitário. Ponham o brasileiro numa ilha deserta. Ele sozinho como um Robinson Crusoé, ou apenas com uma arara no ombro. E o brasileiro [...] será um rei shakesperiano, terá um peito de césar proclamado”.

É sobre o genial Garrincha. E é incrível.

O único problema do livro, porém, não está no que está escrito, mas no que faltou escrever: são muitas referências históricas e genuinamente brasileiras que a Tinta da China não contextualizou nem explicou, pelo que muitas das ironias e parábolas de Nelson Rodrigues se perdem na viagem.

Para não perder pitada do que se passa no país e no mundo e no desporto e na música, siga o Expresso, a Tribuna Expresso e a Blitz.

Sem comentários:

Mais lidas da semana