sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Salto de Lula nas pesquisas leva investidores a colocar Haddad no segundo turno


Aparecem embolados no terceiro posto Marina Silva (Rede), com 8%, Geraldo Alckmin (PSDB), 6%, e Ciro Gomes (PDT), com 5%. O Datafolha ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios, de 20 a 21 de agosto.

O salto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que alcança 39% das intenções de voto para Presidência da República, segundo pesquisa Datafolha divulgada na madrugada desta quarta-feira, leva os investidores a rever posição quanto às eleições brasileiras. Mesmo preso, na sede da Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba, Lula cresceu 7 pontos percentuais em relação ao levantamento feito em abril.

Ele ratifica o favoritismo apontado na segunda-feira por pesquisas CNT/MDA e Ibope. Em qualquer cenário, Lula supera em mais que o dobro o segundo colocado, Jair Bolsonaro, quem tem agora 19% (tinha 15% em abril).

Aparecem embolados no terceiro posto Marina Silva (Rede), com 8%, Geraldo Alckmin (PSDB), 6%, e Ciro Gomes (PDT), com 5%. O Datafolha ouviu 8.433 pessoas em 313 municípios, de 20 a 21 de agosto. A margem de erro do levantamento, feito em parceria entre Folha de S. Paulo e TV Globo, é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Análise

O setor de política da corretora XP Investimentos, ligada ao grupo Itaú, a maior do país, encaminhada aos clientes, nesta manhã, já concorda que Lula é imbatível, no cenário eleitoral. E admite que Haddad, se substituir o ex-presidente, estará no segundo turno.

Segundo o documento as últimas pesquisas “confirmam a substancial subida de Lula – que se estivesse solto poderia levar a disputa já no primeiro turno, e o potencial de votos que ele pode transferir não é nada desprezível. Fernando Haddad, que deve substituir Lula, poderá chegar perto do tamanho de um Bolsonaro com alguma tranquilidade e mais rápido do que se esperava”.

Em linha com os dados da análise, a “campanha do PT segue a máxima: “Lula é Haddad e Haddad é Lula”. O texto da corretora, que vocaliza a opinião dos investidores, é assertivo: a campanha do PT será eficaz e em breve as bases do “centrão” e do MDB irão aderir a ele.

Pesquisas

“Aos poucos, o nebuloso quadro eleitoral começa a dar pistas sobre como será outubro. Para o cientista político Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (CEPESP) da FGV, são grandes as chances de uma repetição de disputa entre um candidato vermelho (à esquerda) e outro azul (à direita)”, presume.

No campo da esquerda, diz o documento encaminhado aos investidores, “ele vê o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), atual vice na chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como franco favorito para ir ao segundo turno”.

Na outra ponta, uma batalha entre o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) “ainda tem desfecho absolutamente imprevisível”, concorda. O primeiro conta com expressiva vantagem nas pesquisas “e o apoio convicto de uma fatia relevante do eleitorado”, acrescenta.

Ficha Limpa

O segundo estruturou a maior aliança e contará com ampla vantagem no horário eleitoral e em inserções diárias na programação de rádio e televisão.

“Com o endosso de Lula, não há dúvida de que Haddad é o grande candidato [da esquerda] para ir ao segundo turno. Com a campanha, a transferência (de Lula para Haddad) vai se cristalizar e ele é o favorito para ir ao segundo turno. A dúvida é: vai chegar em primeiro ou segundo lugar no primeiro turno?”, questiona.

“Temos uma definição mais clara neste campo. Ele está virtualmente no segundo turno”, observou Pimentel, em entrevista por telefone à corretora. Para ele, a estratégia do PT de manter Lula candidato mesmo com o elevado risco de ser impedido de disputar, em função da Lei da Ficha Limpa, provou-se eleitoralmente eficaz”.

— Do ponto de vista ético, moral e político, podemos considerar essas críticas de confundir o eleitorado. Do ponto de vista eleitoral, foi a melhor estratégia possível — disse.

Bateu no teto

Mesmo assim, ele admite o risco de uma fragmentação de votos entre candidaturas de esquerda ameaçarem a ida de o nome petista ao segundo turno, embora também chame atenção para o peso do chamado “voto útil” na reta final.

A ideia agora passaria a ser de misturar as imagens de Lula e Haddad, que já faz campanha no Nordeste em nome da candidatura petista nesta semana. Embora publicamente o PT mantenha a narrativa de que Lula é o candidato do partido, o momento da substituição da candidatura se aproxima, na medida em que avança o processo em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa seu pedido de registro de candidatura.

No campo azul, Pimentel observa um ambiente de mais incerteza.

— Bolsonaro atingiu um teto, não passa dos 20% — definiu.

Mais tempo

Para o analista, “a tarefa de Alckmin é mais difícil. Enquanto Bolsonaro tem que ‘empatar o jogo’, ele precisa virar”.

— Com muito tempo de televisão e considerando o elevado número de indecisos, o tucano vai crescer. A dúvida é se será suficiente. Alckmin enfrenta um adversário resiliente em um cenário de crítica em relação ao establishment — pontuou.

Além da vinculação com a imagem de (Michel) Temer, ele está há muito tempo no Estado.
— Pairam dúvidas se vai poder trazer a renovação necessária ou se ele é uma continuidade à política como está — ponderou o cientista político.

Informação

Pimentel acredita que Alckmin poderá começar a crescer a partir de um segundo momento da campanha, quando forem direcionados ataques a adversários.

— Como Alckmin tem muito tempo de TV, ele pode pautar a agenda. Ele pode colocar como tema a experiência de gestão. Neste momento, fazendo uma campanha negativa e comparativa, pode despontar entre os indecisos — observou.

Para ele, mais importantes que o horário de propaganda eleitoral gratuita serão os spots de propaganda dos candidatos durante a programação das emissoras de televisão e rádio. Neste caso, os espectadores são pegos de surpresa e assimilam melhor a informação transmitida.

Pesquisas

Como Alckmin terá muito mais exposição que seus adversários neste modelo em comparação com seus adversários, ele poderá ser capaz de pautar melhor o debate. Bolsonaro pode ter dificuldades em responder ataques.

— Alckmin vai subir nas pesquisas. O quanto ele vai subir e se vai ser suficiente só vamos saber na prática — concluiu Pimentel.

Correio do Brasil – São Paulo

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