A preservação do património da
ilha de Moçambique está a avançar, mas as Nações Unidas pedem mais rapidez
nalgumas intervenções.
A ilha
completa 200 anos de elevação a cidade com festejos que arrancam hoje
e que se prolongam até à data da celebração, segunda-feira, 17 de setembro.
Em 1991, a ilha foi declarada
Património Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), organismo que há dois meses pediu às
autoridades moçambicanas que terminem "prontamente" a atualização do
plano de gestão da ilha, entre outras medidas regulamentares.
Da mesma forma, é pedida com
celeridade a redefinição da "zona tampão", permitindo a "proteção
de património arqueológico subaquático", assim como obras de emergência no
antigo hospital, a par do arranque de ações de manutenção regular dos edifícios
públicos.
UNESCO "satisfeita”
Uma equipa da UNESCO visitou a
ilha em março e, no relatório final, diz ter ficado satisfeita ao ver algumas
obras de requalificação a avançar, assim como a realização de um inventário
patrimonial e um registo do tipo de construção - recomendado que venha a
incluir também os imóveis tradicionais. "O Estado tem feito progressos
face aos desafios colocados", no entanto, "combinar iniciativas
privadas de conservação com necessidades locais continua a ser um
desafio", refere o documento, destacando a necessidade de
"especialistas aconselharem o Estado a encontrar um uso apropriado para a
Fortaleza de São Lourenço", depois de as autoridades terem rejeitado a
conversão em hotel.
No aspeto imaterial, a UNESCO
alerta para desigualdades crescentes e recomenda que haja melhorias
"urgentes" nas condições de vida dos bairros tradicionais da ilha,
por forma a "adequarem-se ao estatuto de valor histórico para a
humanidade" e educando a população como seus guardiões.
O historiador moçambicano Aurélio
Rocha defende que é necessário "um projeto de requalificação que tenha
pernas para andar", respeitando a "dimensão antropológica do
espaço". "É preciso olhar para as pessoas que vivem na Ilha" que
podem "não entender muito bem a razão pela qual se está a valorizar o
património de pedra e não se está a dar atenção às comunidades", observou
o docente universitário.
Vasco da Gama chegou ali em 1498
e estabeleceu uma escala na rota comercial entre Portugal e a Índia, naquele
que se tornaria um importante entreposto de escravos. Ocupando uma área de 245 quilómetros
quadrados, a ilha foi a primeira capital de Moçambique, permanecendo de pé
diversos monumentos históricos, como a Fortaleza de São Sebastião.
Aumentar o conhecimento sobre a
ilha
Aurélio Míria, antropólogo e
também docente universitário, entende que Moçambique precisa de repensar a
importância da Ilha, que é "o mais emblemático de todos os monumentos que
o país possui". "Nós podemos colher experiências de vários países
para reabilitar a ilha. Os ganhos provenientes do turismo, embora poucos, podem
servir para gerar alguma receita para compensar o investimento aplicado",
observou.
A adoção de conteúdos sobre a
ilha nos currículos escolares é também apontada pelo académico como uma
solução, tendo em conta que há "um forte desconhecimento sobre a
importância histórica da ilha".
Portugal tem sido um dos
parceiros das autoridades locais com intervenções no âmbito da preservação e
reabilitação do património histórico e cultural. O Cluster da Cooperação
Portuguesa na Ilha de Moçambique incluiu um orçamento de um milhão de euros para
a segunda fase de implementação (período 2015-2018).
No âmbito das comemorações do
bicentenário como cidade, Portugal organizou um total de sete exposições, na
Ilha e em Maputo, ao longo do ano e está projetar organizar outros dois
seminários, além de dois documentários e mais sete atividades ligadas à
cidadania e a boas práticas.
"A ilha é de uma riqueza
patrimonial única e este é o nosso contributo para esta celebração.
Continuarmos com vontade de cooperar com as autoridades para a valorização
deste local histórico, tanto para Moçambique, como para Portugal", garante
Patrícia Pincarilho, conselheira para a cooperação na embaixada de Portugal em
Moçambique.
Viaturas proibidas
A partir de hoje, as autoridades
locais vão interditar a entrada e circulação de viaturas particulares na ilha
para permitir a livre circulação de pessoas para as comemorações do
bicentenário de elevação a cidade - haverá transportes públicos especiais.
O número de camas disponíveis nas
unidades hoteleiras ronda as 300, escreve a Agência de Informação de Moçambique
(AIM), que prevê que o número possa subir ligeiramente: os organizadores das
comemorações estão a encorajar os residentes "a apetrecharem os seus
alojamentos".
O programa das festas serve de
prova de que a ilha é um local onde as culturas sempre se encontraram ao longo
da história. Tufo, N'sope e Nsirriputi são três dos estilos de danças a ser
interpretados no espetáculo de abertura marcado para hoje à noite, com 11
grupos de dançarinos dirigidos pela coreógrafa e bailarina moçambicana, Pérola
Jaime.
Agência Lusa, nn | em Deutsche Welle
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