Pedido do Governo angolano para
transladar restos mortais do general da UNITA "Ben Ben” é sinal de
consolidação da reconciliação nacional, dizem analistas e Presidência
sul-africana. Delegação angolana está em Pretória.
Os restos mortais do antigo chefe
de Estado Maior Adjunto das Forças Armadas Angolanas, Arlindo Chenda Pena,
falecido na África do Sul em 1998, chegaram esta quinta-feira (13.09) a Luanda. O
general "Ben Ben", como era conhecido, foi também vice-chefe de Estado
Maior das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola), braço armado da UNITA.
Em declarações à imprensa local,
Alcides Sakala, porta-voz do "Galo Negro", explicou que, na
sexta-feira (14.09), haverá uma cerimónia oficial e, no dia seguinte, os restos
mortais seguem para a província angolana do Bié, a sua terra natal.
A decisão de repatriar os restos
mortais surgiu na sequência de um pedido do líder da UNITA, Isaías Samakuva, ao
Presidente angolano, João Lourenço, que, por sua vez, contactou o homólogo
sul-africano, Cyril Ramaphosa, que deu "luz verde" à exumação.
Sinal de consolidação: sim ou
não?
Em entrevista à DW África, o
analista político Osvaldo Mboco afirma que esta posição tomada pelo Governo
angolano, liderado pelo MPLA, é um sinal de consolidação da reconciliação
nacional.
Segundo Osvaldo Mboco, este
Governo "está com uma política um pouco mais inclusiva, e também de
apostar qualquer elemento que possa servir de fantasma, no âmbito de um
espírito de reconciliação nacional, ou então, qualquer elemento que pode ser
usado como aproveitamento político e uma falta de vontade política de querer
ver as soluções, ou alguns elementos ultrapassados. O Presidente João Lourenço
teve um posicionamento assertivo".
Já Agostinho Sicatu, apesar de
louvar a iniciativa do executivo, interpreta a ação do Governo "apenas
como o cumprimento "daquilo que foi acordado antes". Ou Seja, explica
o também analista político, o memorando de entendimento alcançado na província
angolana do Moxico. "Talvez não com maior acutilância neste aspeto
político da transladação dos restos mortais do general Ben Ben, mas
a reintegração dos ex-militares estava prevista no memorando de
entendimento", disse.
A reintegração dos ex-militares
das FALA é outra questão que consta do acordo de Luena. Na opinião de Agostinho
Sicatu, "Governo e UNITA devem andar juntos, para que esse processo seja
concluído. Acredito que estes que morreram foram patriotas e é necessário que
tenham um funeral condigno porque, para nós africanos, isso tem muito
significado. Por outro lado, João Lourenço vai tirar um aproveitamento
político, mas é um aproveitamento positivo".
A reconciliação nacional em
Angola começou em 2002 com o fim da guerra civil. Para Osvaldo Mboco, o
processo "deve ser consolidado todos os dias com atos e práticas que visam
cimentar este espírito entre os angolanos". O professor universitário
explica ainda que a reconciliação não é um processo que começa hoje,
"começa no momento em que os crimes de guerra foram perdoados e em que se
abriu caminho para o diálogo para a reconciliação nacional entre os
angolanos".
África do Sul concordou em ajudar
Também a Presidência sul-africana
considerou como um contributo para a "reconciliação" angolana o apoio
à transladação para Angola dos restos mortais do general da UNITA. Num
comunicado enviado esta terça-feira (13.09), a Presidência de Cyril Ramaphosa
avança que a cerimónia de repatriamento será realizada esta manhã, na Base
Aérea de Waterkloof, em
Pretória. E justifica que face "ao empenho do Presidente
[de Angola], João Lourenço, em reconhecer os angolanos que lutaram na luta
anticolonial pela libertação, o Presidente Ramaphosa concordou em ajudar e
apoiar os esforços do Governo angolano para uma maior paz, reconciliação e
união".
Também esta quinta-feira (13.09),
chegou à África do Sul uma delegação do Governo de Angola, liderada pelo
ministro da Justiça e dos Direitos Humanos angolano, Francisco Queirós, e da
qual fazem parte também oficiais generais das Forças Armadas Angolanas (FAA).
O corpo do general, formalmente
equiparado a chefe adjunto do Estado-Maior General das FAA, está sepultado no
cemitério de Zandfontein, em Pretória, África do Sul.
Por ter sido morto em combate, a
19 de outubro de 1998, no conflito que opôs o exército do Governo angolano às
forças militares da UNITA, as autoridades sul-africanas de então decidiram
embalsamar o corpo de Arlindo Chenda Pena "Ben Ben" e lacrá-lo numa
urna própria para que, a qualquer momento, a família pudesse reclamar o
repatriamento para Angola.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário