O conceito de cultura é
polissémico e complexo, inclui várias dimensões, como as crenças, a moral e os
costumes, entre outras. Nesta perspectiva, a escarificação é cultura ou
violação dos direitos humanos?
Na linha de pensamento de Edward
Tylor, a cultura como um todo engloba grande variedade de culturas em que cada
uma delas é característica de um certo grupo de indivíduos, daí que, conforme
advogava o grande mestre das Ciências Sociais, Marcel Mauss, qualquer
investigação etnográfica apresenta sempre dificuldades subjectivas. Este grande
nome da etnologia e da antropologia, Mauss (1950), professor do Institut
d’Ethnologie da Universidade de Paris I – Sorbonne, já falecido, defendia que
para qualquer estudo de âmbito sociológico há princípios de observação a
respeitar para procurar-se a objectividade, tanto na exposição como na
observação.
É precisamente imbuído desse
espírito, aceitando que o conceito de “cultura” (ou “culturas”) nem sempre
acarreta consensos, e ciente de que se deve respeitar as diferentes partes que
integram os fenómenos sociais (geografia humana, religião, língua, etc.), entendi
que poderia ser interessante partilhar algumas fotografias que postei na minha
conta do facebook. Estas imagens incríveis, praticamente todas da autoria do
fotógrafo francês Eric Lafforgue, referem-se à técnica da escarificação (marcas
realizadas na pele com lâmina ou outro objecto cortante) praticada em alguns
países.
Trabalho de Eric Lafforgue
O fotógrafo viajou por vários
países africanos para melhor compreender a técnica da escarificação. Numa
entrevista concedida ao Daily Mail, Eric Lafforgue terá referido que uma rapariga de 12
anos de idade, em sessão de escarificação, terá permanecido em silêncio durante
10 minutos. No final terá confessado que “estava à beira de um colapso” mas que
o importante era ficar com as marcas, um sinal de beleza dentro da tribo, e que
não tinha sido obrigada.
Ao ler os comentários de reacção
às imagens postadas na minha conta do facebook achei interessante verificar que
as opiniões diversificavam em função das origens socioculturais de cada
interveniente. Alguns dos comentaristas estavam totalmente a favor da
escarificação. Na opinião destes, as escarificações simbolizam os costumes dos
países em questão, tais como o processo de transição de rapaz para adulto, a
forma de ostentar a beleza das mulheres ou para diferenciar as tribos. Outros
participantes, com opiniões diametralmente opostas, de reprovação total,
alegaram que é uma óbvia violação dos direitos humanos à luz da Carta Universal
dos Direitos do Homem.
*Publicado em Jornal Tornado
M. Azancot de Menezes, Díli, Timor-Leste
*Professor universitário
- Documentado com várias imagens
no original, Jornal Tornado
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