Alfredo Barroso
| Jornal i | opinião
No antro mediático das “araras do
regime”, expressão utilizada por ele próprio, Pedro Santana Lopes deixou de ser
o genius loci desde que Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da
República e decidiu beijocar, lambuzar, abraçar, sufocar diariamente milhões de
portugueses até mais não poder. Outra das mais conhecidas “araras do regime”,
igualmente candidato a genius loci, é o frenético Luís Marques Mendes, também
ex-presidente do PPD-PSD, além de ex-ministro de Cavaco, com espaço reservado
há muito num canal de TV - como todas as “araras velhas” do PPD-PSD que se
prezam -, mas que ainda não percebeu que não é por muito esbracejar que melhor
convence os telespectadores com as suas balelas e patranhas semanais, ou que
mais expande a sua inteligência como aquele velho chupa-chupa a que, quando eu
era miúdo, chamávamos “estica-larica”.
Estes três exemplares do PPD-PSD,
considerados velhas “araras” mediáticas do regime, não gostaria de tratá-los
como aves de bicos muito curvos e fortes que os ajudam a trepar na política.
Ainda menos como plantas ornamentais cultivadas em Portugal. Ou como
patetas ou pessoas ingénuas. Nada disso! Prefiro tratá-los (sobretudo Pedro
Santana Lopes nesta nova etapa da sua vida mediática) como demagogos
“telepopulistas”, produtos do “videopoder” ou da “videopolítica”, que se
comportam como actores “telegénicos” (Marques Mendes nem por isso, porque
esbraceja muito, é um caso deplorável de overacting!), todos eles ocupando com
regularidade os ecrãs de televisão em horas de grande audiência e optando pelo
“espectáculo televisivo” em detrimento das mediações tradicionais
(deliberações, debates parlamentares, confrontação pública de ideias e
programas, etc.).
Os média têm-se substituído aos
partidos políticos quer como mecanismos de selecção da classe política, quer
como instrumentos de mobilização da opinião e de definição da agenda política.
Tudo isto afecta claramente o funcionamento e a orientação da democracia,
transformando-a cada vez mais numa “democracia de opinião” ou, pior ainda, numa
“democracia demagógica”. Tanto nos EUA como em várias democracias europeias,
temos assistido à emergência daquilo a que muitos sociólogos e politólogos
chamam neopopulismo mediático e plebiscitário. Como sucedeu, por exemplo, em
Itália, e salienta o politólogo Mario Caciagli, o caminho tem sido linear: “Da
democracia referendária passou-se à democracia plebiscitária e, desta, à
democracia demagógica.” Portugal ainda é excepção. Ainda…
Os demagogos “telegénicos” e
“telepopulistas” dizem que falam directamente ao “povo” (regra geral, reduzido
ao público de telespectadores); pretendem situar-se fora do sistema de partidos
(onde quase sempre não foram politicamente felizes); optam por um discurso
antipartidos e costumam “denunciar” as elites no poder (Santana Lopes diz, por
exemplo, que “há vários que se julgam donos disto tudo” e que, com ele, “vão
deixar de o ser”!); e anunciam, finalmente, programas políticos reduzidos a
fórmulas vagas e a promessas impossíveis de cumprir, o que não impede,
infelizmente, que alguns tenham sido eleitos presidentes ou
primeiros-ministros. O populismo, com toda a sua retórica demagógica, coloca em
causa a própria existência da mediação política centrada nas instituições
representativas. O populismo pode ser, de facto, a corrupção ideológica da
democracia.
Foi, contudo, por esta via que
Santana Lopes decidiu enveredar, porventura em busca duma “arca” da “Aliança”
capaz de conter - sabe-se lá - as partituras dos até agora inexistentes
“concertos para violino de Chopin” e, sobretudo, do segredo do supremo poder
que nunca logrou alcançar enquanto militante e dirigente do PPD-PSD. Para
tanto, PSL resolveu fazer “tábua rasa” do seu passado - péssimo
primeiro-ministro, mau secretário de Estado da Cultura, desastrado presidente
do Sporting e autarca esbanjador quer na Figueira da Foz quer em Lisboa -,
optando, evidentemente, por um discurso de “denúncia” duma classe política a
que sempre pertenceu (e que tantas vezes contribuiu para desacreditar). Tudo
isto para gáudio do universo mediático doméstico sedento de “espectáculo” e
hoje dominado pela plutocracia e por jornalistas profissionais que já nem
escondem o desejo do regresso da direita ao poder e vão mesmo ao ponto de
enumerar “as razões para a esquerda voltar à oposição”. É verdade, podem crer!
É claro que Pedro Santana Lopes,
nesta sua nova etapa como dirigente político populista e demagogo, precisa em
absoluto de manter o palco mediático que as TV e os jornais nunca se recusaram
a oferecer-lhe até agora. Todavia, quaisquer que sejam as razões que hoje nos
levem a criticar José Sócrates, será bom não esquecer que este, in illo
tempore, fez Santana Lopes num oito, obtendo para o PS a primeira maioria
absoluta. Mas é bem provável que António Costa nem precise de fazer outro tanto
se apanhar pela frente o chefe da “Aliança» - isto não ignorando as sucessivas
derrotas que PSL sofreu dentro do PPD-PSD, por exemplo face ao seu “amigo”
Durão Barroso e ao seu “inimigo” Rui Rio. Como diria o cego, a ver vamos se
Pedro Santana Lopes terá algum êxito como demagogo populista. É, aliás, uma
vocação que entronca a preceito nas suas primordiais convicções ideológicas de
juventude, quando era um activista de extrema-direita…
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*ARARA - 1. ORNITOLOGIA Ave da
família dos Psitacídeos, de bico muito curvo e forte que a auxilia quando
trepa; 2. BOTÂNICA Planta ornamental da família das Amarantáceas, cultivada em
Portugal;
3. FIGURATIVO Pateta, pessoa
ingénua, mentira, peta, patranha, galga, logro, mentirola, balela.
Escreve sem adopção das regras do
acordo ortográfico de 1990
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