Ativista angolano diz que não
basta abrir inquéritos a gestão dos filhos do ex-Presidente José Eduardo dos
Santos - é preciso fazer mais. Mas jurista alerta que é preciso respeitar a lei
na "cruzada contra a corrupção".
A empresária Isabel dos Santos,
filha do ex-Presidente de Angola, ainda não compareceu na Procuradoria-Geral da
República (PGR) para prestar esclarecimentos sobre um processo de que é alvo.
Em fevereiro deste ano, Carlos
Saturnino, presidente do Conselho de Administração da petrolífera estatal
Sonangol, acusou Isabel dos Santos de autorizar uma transferência de 38 milhões
de dólares para o exterior do país, após a sua exoneração da petrolífera. A PGR
abriu um inquérito. No entanto, a empresária nega a acusação e avançou com
um processo de difamação contra Saturnino.
De lá para cá, nunca mais se
ouviu falar sobre a gestão de Isabel dos Santos na Sonangol, principal fonte de
receitas do Estado angolano.
Benedito Jeremias, um dos ativistas
do processo dos 15+2, lembra, no entanto, que é preciso esclarecer o caso:
"Isabel dos Santos deve responder pelos crimes de que é acusada",
afirma.
Rol de denúncias contra filhos
do ex-Presidente
Já indiciado pelos crimes de
associação criminosa, falsificação, tráfico de influências, burla, peculato e
branqueamento de capitais está José Filomeno dos Santos, ex-gestor do Fundo
Soberano de Angola. "Zenú" dos Santos está, atualmente, em
prisão preventiva no Hospital Prisão de São Paulo, em Luanda.
Além de Isabel dos Santos e
"Zenú", houve ainda outros filhos do antigo chefe de Estado angolano
que foram alvo de denúncias, depois de o pai abandonar o cargo e João Lourenço
tomar posse como Presidente, em setembro de 2017.
Em janeiro, a administração da
Televisão Pública de Angola (TPA) denunciou que os contratos com empresas de
Welwitschea "Tchizé" dos Santos e José Paulino dos Santos
"Coreon Du" para a gestão do canal 2 tiveram um "caráter abusivo",
e o Governo de João Lourenço ordenou a sua rescisão. O Estado pagaria
anualmente às empresas dos filhos do ex-Presidente angolano mais de 14,8
milhões de euros, segundo a administração da TPA, que considerou os
contratos "altamente
danosos".
Mais uma vez, o ativista Benedito
Jeremias pede à PGR para agir, para que tanto "Tchizé" dos
Santos como "Coreon Du" se possam "defender das acusações que
foram feitas pela direção da TPA e pelos órgãos judiciais." Entende, por
outro lado, que a luta contra a impunidade e a corrupção não pode ficar por
aqui.
"Se tivermos um poder
judicial que aja por si só, deve investigar também os atos do Presidente da
República, a própria Assembleia Nacional e o poder judicial", diz. "Teremos,
na verdade, um país a caminhar a passos largos para alcançarmos o
desenvolvimento e bem-estar dos cidadãos, a que todos nos comprometemos."
"Cruzada" deve obedecer
à lei
Por sua vez, o jurista Fernando
Canando lembra que, enquanto os processos não transitarem em julgado, quer os cidadãos
acusados formalmente, quer os que estão só a ser investigados pela PGR, na
chamada "cruzada contra a corrupção", gozam de presunção de
inocência.
"Estas pessoas gozam do
princípio de inocência não podendo elas ser culpabilizadas, sem que a culpa seja
decretada em tribunal", recorda.
O jurista diz também que há
outros direitos e garantias que devem ser observados: "O Ministério
Público deve fazer um trabalho apurado de recolha dos elementos probatórios
para que assim possam aplicar alguma medida de coação processual, porque se
deve ter em atenção que os indiciados têm direitos civis, económicos, sociais,
políticos e até culturais e devem ser respeitados por qualquer autoridade."
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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