Mariana Mortágua | Jornal de Notícias
| opinião
A Galp Energia e a ENI desistiram
do projeto de exploração de petróleo ao largo de Aljezur. Apesar da conivência
do atual Governo - que tentou reverter a providência cautelar ganha pelos
movimentos sociais - a persistência destes, em conjunto com as autarquias, foi
mais forte.
Recordemos o que estava em causa. A exploração e
prospeção de petróleo em Aljezur implicava fazer furos até 3km de profundidade
na orla costeira, com graves riscos ambientais. Do ponto de vista financeiro, a
concessão garantia à Galp e à ENI todos os lucros do petróleo encontrado em
solo português. Do ponto de vista ambiental, o desejável mesmo é que ele não
seja encontrado. Para combater as alterações climáticas, será preciso garantir
que o planeta não consuma 80% das reservas de combustíveis fósseis
identificadas. Acrescentar novas reservas sem levar estes limites em conta
seria, para além de irresponsável, absolutamente incoerente com o discurso do
Governo, que diz querer ter um país "carbono zero" até 2050.
A aposta no petróleo é errada no
presente e está condenada no futuro. Para atingir os seus objetivos ambientais,
o país precisa de valorizar os recursos naturais e investir em alternativas
energéticas. Isso mesmo tem sido defendido pelas associações ambientalistas,
pelos movimentos sociais e municípios que, numa genuína preocupação com o
território, sempre rejeitaram este projeto.
A oposição popular ao furo de
Aljezur ficou bem expressa no âmbito duas consultas públicas. Em 2016, o
projeto foi rejeitado por 42 mil pessoas e, um ano depois, todos os municípios
atingidos reiteram essa mesma oposição.
Em janeiro de 2017, em
Washington, a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, dava as boas-vindas ao
investimento americano em exploração de petróleo em Portugal. Aqui ,
segundo a ministra, não havia movimentos "contra este tipo de exploração
porque estamos a fazer a coisa silenciosamente".
A ministra enganou-se. Os
movimentos existiam e, em conjunto, conseguiram travar a exploração de petróleo
ao largo de Aljezur que, para além de um crime ambiental, era também um mau
negócio. Agora falta aprovar uma lei pelo clima, que impeça novas concessões e
cumpra a exigência de sobrevivência para o planeta: deixar o combustível fóssil
no solo.
*Deputada do BE
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