segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Portugal e o mundo. Paz, catrapaz… Trambolhão e catrapus vai acontecer no Brasil


Mais uma semana que começa. Alguns tiveram a sorte de parar no fim de semana, sábado e domingo. A maioria nem por isso. Parar é morrer, afirma o dito popular. Pois, mas o descanso merecido, depois de tantos dias de trabalho, é importante. 

Nos tempos que são de muito trabalho e pouco lazer vimos que o esclavagismo se assoma com novos e enganadores figurinos a que chamam competitividade, uma definição que na atualidade significa encher mais as contas bancárias a uns quantos enquanto a maioria se debate com salários de miséria. É a sociedade que vimos, é a sociedade que temos e a sociedade em que mal sobrevivemos.

O fascismo no Brasil avança. Existem milhões de fascistas no Brasil e negros que querem ser tratados pior que cães, assim como mulheres masoquistas e aduladoras do misógino Bolsonaro, o fascista “salvador”, o racista com sementes de ódio nos alforges e já algumas nas mãos a fazer a sementeira que reduzirá o Brasil a uma imensa plantação de fome, miséria, escravidão, porrada e morte. “Os povos são muito estúpidos”, bem disse Bernice.

Segue-se o Curto do Expresso, obra de hoje de Pedro Cordeiro. Tem muitas quentes e boas. Outras nem por isso. Vale o que vale, mas vale. Avance e leia. Adquira conhecimento. Do mal o menos. É o que há, é o que temos. Aqui. Boa semana… Será que consegue ter uma boa semana? Na atualidade as incógnitas são mais que muitas. Bom dia. (CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Paz fria

Pedro Cordeiro | Expresso

Bom dia e boa semana.

Dentro de dias os Estados Unidos da América vão anunciar à Rússia que abandonam o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário. Assinado em 1987 pelo Presidente americano Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, então líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o tratado proíbe todos os mísseis nucleares e não nucleares de curto e médio alcance, exceto os que são lançados do mar. Ao abrigo deste documento, ratificado em plena Guerra Fria, foram destruídos 2692 mísseis com alcances entre os 500 e os 5500 quilómetros. Agora, porém, o Presidente Donald Trump quer rasgar o tratado, conta “The New York Times”. Não quererá, explica a BBC, que os russos “andem a arranjar armas [enquanto] nós não podemos”.

O jornal explica que a administração Trump considera que os russos andam a violar o acordo desde pelo menos 2014 (acusação que não é nova e já foi feita na direção oposta) e disponibiliza uma análise do Departamento da Defesa sobre esta questão. Os americanos afirmam que o míssil de médio alcance russo Novator 9M729, que permitiria atacar países membros da NATO, é um exemplo de tais quebras do pacto.

Terá sido por recear suscitar uma corrida às armas que Barack Obama não denunciou o tratado, preocupação partilhada por vários países europeus, com a Alemanha à cabeça. Mas a decisão — que ainda não foi formalizada — também estará associada ao domínio crescente da China no Pacífico Ocidental. Trump abriu, ainda assim, a porta a uma renegociação deste ou de outro tratado: “Teremos de desenvolver armas dessas, a não ser que a Rússia venha ter connosco e a China venha ter connosco e todos venham ter connosco e digam: ‘vamos ser inteligentes e nenhum de nós vai desenvolver armas dessas’”.

A rescisão não é bem vista em Moscovo, tendo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo usado a palavra “chantagem” para qualificá-la. Sergei Ryabkov, citado pelo “Politico”, refere “um passo muito perigoso” num assunto “que tem importância para a segurança internacional e na esfera das armas nucleares e na manutenção da estabilidade estratégica”. O governante russo enquadra este gesto numa tendência “desajeitada e cruel” que deteta em Washington e promete “medidas de retaliação, incluindo o desenvolvimento de tecnologia militar”. Vladimir Putin espera satisfações do conselheiro de segurança nacional de Trump, o “falcão” John Bolton, que visita a Rússia esta semana. A verdade, contudo, é que há 11 anos foi o Presidente russo quem deplorou o tratado, reagindo à decisão de George W. Bush de abandonar outro documento similar, o Tratado Anti-Mísseis Balísticos.

Gorbachev, um dos signatários do tratado agora em causa, pensa que Trump está a cometer “um erro”. “Em nenhuma circunstância devemos rasgar os velhos acordos de desarmamento… em Washington não compreendem onde isso pode conduzir?”, interrogou o homem que ajudou a derrubar o comunismo na antiga URSS, em declarações à agência Interfax. Um porta-voz do Governo alemão também “lamentou” a decisão de Trump e pediu um debate na NATO. A única voz proeminente no concerto das nações a dar uma mão a Washington foi, como é hábito, o Reino Unido.

Entre um cheirinho a anos 30 e uma pitada de Guerra Fria, assim vai o mundo. Mas, para pormos as coisas no lugar, estamos melhor do que nunca. Por muito que tenhamos dificuldade em reconhecê-lo.

NOTÍCIAS DE CÁ

Em Portugal continua-se a escandir o orçamento de Estado e a recente remodelação governamental. O “Observador” analisa os desafios que esperam João Galamba, novo secretário de Estado da Energia, que passam em grande medida por assuntos em que o seu antecessor, Jorge Seguro Sanches, enfrentou os interesses de grandes firmas como a EDP. Outra dor de cabeça será a nomeação de um administrador da ERSE (entidade reguladora do sector): como explicam no Expresso a Rosa Pedroso Lima e a Mariana Lima Cunha, a esquerda vai ajudar a chumbar o nome proposto pelo PS, um deputado da sua própria bancada.

Já quanto ao último orçamento da legislatura, soube-se este fim de semana que o PSD vai votar contra e o BE a favor. Já era sabido que o PAN vai dar luz verde ao documento, como o PS, e que o CDS o chumbará. O PCP ainda não anunciou formalmente o seu sentido de voto, mas a insistência na hashtag #marcasdopcp nas redes sociais, a reivindicar a autoria de muitos melhoramentos ao OE, faz adivinhar um “sim”. No Expresso, Ricardo costa traça o balanço da legislatura. Já Bruxelas quer mais consolidação.

Sobre remodelação e orçamento, vale a pena revisitar as duas-edições-duas (uma ordinária, outra extra) do podcast de política do Expresso, a Comissão Política, emitidos. Os mesmos assuntos foram ontem analisados no Governo Sombra, que gosto sempre de ouvir.

O que não desaparece (e ainda bem, até esclarecimento cabal) é o caso de Tancos. Azeredo Lopes e Rovisco Duarte já não moram cá, mas Marcelo Rebelo de Sousa está em todo o lado. O Presidente voltou a falar deste tema, para jurar desconhecimento do alegado encobrimento ao roubo das armas e exigir “toda a verdade, doa a quem doer”. A edição semanal do Expresso de anteontem chama o assunto à manchete e revela na íntegra o memorando secreto que compromete o ex-ministro da Defesa. No “Público”, Vicente Jorge Silva defende que o primeiro-ministro não pode mascarar as responsabilidades políticas evidentes que há em tudo isto.

O ex-Presidente Cavaco Silva lança na quarta-feira “Quinta-feira e Outros dias: Da Coligação à Geringonça”, segunda parte de um livro que escreveu após sair de Belém. O “Público” pré-publica um capítulo sobre a nomeação de Joana Marques Vidal para procuradora-geral da República. Mas a obra promete tiradas sobre a demissão “irrevogável” de Paulo Portas em 2013 e o nascimento da hoje trivializada mas um dia insólita solução de governo encabeçada por António Costa.

O “Diário de Notícias” deixou de existir em papel há meses, mas não deixou de merecer ser lido. Hoje recomendo uma investigaçãosobre notícias falsas na Internet criadas em Portugal e uma análise sobre a sua relação com o populismo.

Na frente desportiva, o fim de semana foi de Taça de Portugal e os três grandes saíram-se bem. O Sporting bateu o Loures por 2-1 no sábado, o Benfica deu três secos ao Sertanense e o Porto fez o dobro disso com o Vila Real. Os relatos são da Tribuna Expresso. Seguem-se as taças europeias. Na Liga dos Campeões, os azuis e brancos vão a Moscovo, quarta-feira, defrontar o Lokomotiv. Na véspera as águias visitam o Ajax em Amesterdão. Na quinta-feira os leões jogam em casa com os londrinos do Arsenal.

NOTÍCIAS DE LÁ

A campanha das presidenciais brasileiras entra na reta final, com Jair Bolsonaro a consolidar a vantagem nos estudos de opinião (59%-41%) sobre o adversário Fernando Haddad. Tem-se discutido se o candidato favorito a ocupar o Palácio do Planalto é fascista e, a esse respeito, gostaria de aconselhar este trabalho da Ana França e da Sofia Miguel Rosa, no Expresso. O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso — que, para surpresa de muitos, não quis optar entre os dois finalistas — sente um aroma a fascismo em declarações recentes de um dos filhos de Bolsonaro (Eduardo, eleito deputado na primeira volta) sobre encerrar o Supremo Tribunal Federal. Já o pai desmente ter tal intenção. Nem este caso nem a difusão de mensagens anti-PT na aplicação WhatsApp, que gerou um pedido de impugnação da candidatura de Bolsonaro vindo de Haddad e Ciro Gomes (terceiro classificado na primeira volta), parecem travar a marcha do capitão jubilado rumo aos píncaros da política brasileira. A disputa polarizada levou o recatado escritor Raduan Nassar, prémio Camões em 2016, a tomar posição.

Bem menos rápida é a marcha do ‘Brexit’, atolado nas negociações com a UE e a esbarrar na fronteira da Irlanda. A primeira-ministra Theresa May vai hoje ao Parlamento assegurar que 95% do trabalho está feito, noticia “The Guardian”. Já “The Daily Telegraph” acha que os 5% que faltam podem custar o cargo à governante conservadora. Entretanto, sábado, mais de meio milhão de pessoas desfilaram por Londres a exigir novo referendo à saída da UE, conta “The Independent”.

O assassínio com requintes de malvadez de Jamal Khashoggi continua a indignar o mundo, que exige a verdade ao regime do príncipe Mohammed bin Salman, com a Turquia a liderar as reivindicações. Riade já assumiu a morte do jornalista crítico do poder — que explica como um erro infeliz — e até o aliado Donald Trump já mudou de tom, dizendo-se agora “enganado” pelos sauditas.

Por fim, um vídeo repugnante: em pleno avião, um passageiro da Ryanair lança um chorrilho de insultos racistas sobre uma senhora com dificuldade em andar, dizendo não querê-la no lugar ao seu lado. A vítima deste ato vil nunca perde a compostura. Em vez de fazer como num anúncio pertinente de há anos ou de, como defenderam outros viajantes, expulsar o grunho do voo, a companhia aérea mudou a senhora de lugar. Shame on you.

MANCHETES DE HOJE

Jornal de Notícias: Casas de pobres da Igreja pagam imposto de luxo

Público: Tempestade Bolsonaro varre as ruas do Brasil

i: Carlos Carreiras “Sinto que não tenho capacidades para ser primeiro-ministro...”

Diário de Notícias: IGAI contra nova lei que permite a seguranças apalpar ao fazer a revista

Correio da Manhã: FC Porto antecipa 165 milhões em receitas

Negócios: Santa Casa já pagou mas ainda não entrou no Montepio

O Jornal Económico: “Podemos pagar mais dois mil milhões ao FMI ainda este ano” [diz o secretário de Estado Adjunto e das Finanças]

A Bola: Manuel Fernandes “Não vejo muito futebol, prefiro ler, fazer pilates e lutar boxe”
Record: Sousa Sintra “Jesus não voltou por um fio”

O Jogo: Yuran “O FC Porto vai ganhar”

O QUE ANDO A OUVIR

Dose dupla de música em português, ontem à noite, por efeito do furacão Leslie. No Coliseu, os 25 anos da Ala dos Namorados, com convidados como Shout, Carlão e João Gil. Agradável desfile de canções quase sempre encantadoras, com Nuno Guerreiro em forma, ainda que a voz não atinja alguns agudos de outrora. Vão ao Porto a 9 de novembro.

Mas a maravilha da noite estava reservada para a Altice Arena, onde os Tribalistas deram um show de antologia. Com produção cuidadíssima, entre vestes deslumbrantes, projeção vídeo e encenação; sem pejo em cantar por cima de um pequeno problema técnico na fase inicial da atuação; e com as vozes de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown a declinar o repertório coletivo e alguns pedaços do individual, o concerto foi do melhor a que tenho assistido. Amanhã é no Coliseu da Invicta, quem tiver oportunidade que não perca!

ONDE ANDO A MERGULHAR

Na instalação Over Flow, de Tadashi Kawamata, que está até 1 de abril de 2019 no MAAT, em Belém. A proposta é submergirmo-nos no mar, o nosso, o de todos, aquele que todos ajudamos a matar, aquele de que tanto precisamos para viver. Esteticamente fascinante, eticamente interrogante, depois não digam que não avisei.

E por aqui termino, recordando que o Expresso e a SIC online estão sempre a atualizar a informação e que pode contar com o resumo do dia, às 18h, no Expresso Diário. Aproveite para ler o que lhe tiver escapado da edição semanal, nomeadamente a grande reportagem sobre os meninos sem infância da ilha Terceira, levados dos Açores pelos militares americanos da base das Lajes e separados de suas famílias. Poderão recuperar o passado? Desejo-vos, caros leitores, um presente feliz e um futuro melhor.

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