Ana Alexandra Gonçalves* | opinião
Angela Merkel, considerada agora
como liderando o grupo de grandes arautos da Europa democrática, anunciou o seu
abandono do seu partido, CDU.
Ainda não tendo abandonado quer o
partido, quer o próprio cargo de chanceler que, ao que tudo indica, é mesmo para
levar até ao fim, já há quem lamente a saída da maior figura democrata da
Europa recente.
Para a construção dessa imagem
muito tem contribuído uma inacreditável falta de memória ou, uma incapacidade
de relacionar as decisões tomadas, sobretudo na esfera económica, e um
afastamento cada vez mais notório dos cidadãos relativamente aos políticos e
aos partidos convencionais.
Merkel e o seu governo, liderando
uma Europa que continua a ser acéfala, humilharam Estados-membros da UE,
empurrando-os ainda mais para a miséria, depois de anos e anos a despejarem
nesses mercados o que se produzia na Alemanha, dando um forte contributo para o
endividamento dos países que mais tarde viriam a ser alvo da humilhação.
Ora, neste contexto considerar a
chanceler alemã como o melhor exemplo de democrata é simplesmente desonesto. A
sua acção política, que contou com a participação central do inefável Schäuble,
deu uma forte machadada no projecto europeu de democracia, ou alguém pode
esperar que esse projecto subsista quando não existiu o mínimo de coesão?
De resto, muitos almejaram uma
Europa como antídoto contra as divisões e contra as ideologias mais nefastas.
Merkel, ao contrário do que por aí dizem, não protegeu a Europa dessas
investidas anti-democráticas, bem pelo contrário, ao humilhar, ao desprezar e
ao cuspir em cima de alguns Estados-membros deu um forte contributo para o
enfraquecimento do próprio projecto europeu.
*Ana Alexandra Gonçalves |
Triunfo da Razão
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