Inês Cardoso* | Jornal de Notícias
| opinião
Helena fala com a cautela das
terras pequenas em que tudo se sabe e os temas difíceis acabam tantas vezes
evitados. Helena fala com uma tranquilidade quase estranha perante a tragédia
que ganhou espaço para Borba nas televisões, habituada que está a alternativas
escassas.
"Se as pedreiras fecham,
morremos de fome. Se não fecham, morremos em acidentes como o da estrada."
R. fala com mais medo, é normal que além do apelido esconda o nome. Acaba de regressar da zona espanhola deLa
Rioja , onde a Guardia Civil tem desmantelado sucessivas redes
de trabalhadores portugueses explorados por portugueses. R. foi com a promessa
de um bom salário e voltou com apenas 140 euros. Mesmo assim, o pai arriscou e
partiu com os mesmos patrões. E R. confessa a dúvida sobre se um dia voltará a
fazer o mesmo. "Se não tivesse outra hipótese não sei."
As duas reportagens estão no JN e na "Notícias Magazine" de ontem. São exemplos de um Portugal que é pequeno mas ainda assim tão cheio de diferentes países dentro. De um interior que não é um lugar definido pela distância, mas um imenso território de esquecimento, de falta de oportunidades, que se rende aos empregos possíveis mesmo quando são arriscados, ou mal pagos, ou oferecidos em condições e falhas que escapam ao que a lei teoriza e a fiscalização deveria evitar.
Em Borba os serviços públicos falharam, como falham sempre que deixam populações desprotegidas. Falharam os ministérios da Economia e do Ambiente. Falharam as autarquias. Mas não é sério Rui Rio ou Assunção Cristas virem a correr criticar o que o Estado devia ter feito mas não fez. Os dois partidos que lideram estavam no Governo quando, em 2014, se escreveu preto no branco sobre o risco de uma estrada que acabou mesmo por ruir.
O Estado falha todos os dias. E nós falhamos sempre que não o dissermos e não colocarmos mais exigência aos serviços públicos.
R. fala com mais medo, é normal que além do apelido esconda o nome. Acaba de regressar da zona espanhola de
As duas reportagens estão no JN e na "Notícias Magazine" de ontem. São exemplos de um Portugal que é pequeno mas ainda assim tão cheio de diferentes países dentro. De um interior que não é um lugar definido pela distância, mas um imenso território de esquecimento, de falta de oportunidades, que se rende aos empregos possíveis mesmo quando são arriscados, ou mal pagos, ou oferecidos em condições e falhas que escapam ao que a lei teoriza e a fiscalização deveria evitar.
Em Borba os serviços públicos falharam, como falham sempre que deixam populações desprotegidas. Falharam os ministérios da Economia e do Ambiente. Falharam as autarquias. Mas não é sério Rui Rio ou Assunção Cristas virem a correr criticar o que o Estado devia ter feito mas não fez. Os dois partidos que lideram estavam no Governo quando, em 2014, se escreveu preto no branco sobre o risco de uma estrada que acabou mesmo por ruir.
O Estado falha todos os dias. E nós falhamos sempre que não o dissermos e não colocarmos mais exigência aos serviços públicos.
*Diretora-adjunta
Na foto: Pedreira de Borba. Ao certo não se sabe exatamente quantos vítimas pereceram no desmoronamento da estrada abandonada por todos e que era uma ratoeira para os transeuntes, para os automobilistas.
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