sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Moçambique | "Conto com o apoio de todos os membros da RENAMO", diz Elias Dhlakama


Irmão do falecido Afonso Dhlakama conta com os seus graus académicos e com a sua experiência militar na RENAMO e nas FADM para conseguir a liderança da RENAMO. E Elias reconhece que o seu apelido também é determinante.

De 15 a 17 de janeiro será escolhido na Gorongosa o novo líder da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique. Desde que Afonso Dhlakama faleceu a 3 de maio de 2018 o partido está a ser liderado pelo general Ossufo Momade. Com o aproximar da eleição no Congresso já se levantam nomes de possíveis candidatos e um dos mais apontados é o de Elias Dhlakama, irmão de Afonso. A DW África conversou com Elias Dhlakama:

DW África: Quer candidatar-se à presidência da RENAMO?

Elias Dhlakama (ED): Sim, vou candidatar-me.

DW África: E conta com o apoio de quem para entrar nesta corrida?

ED: Conto com o apoio de todos os membros da RENAMO, do Rovuma a Maputo.

DW África: Mesmo dos generais que têm longa carreira e uma participação ativa no partido?
ED: Eu disse que conto com o apoio de todos os membros da RENAMO.

DW África: Inclusive do atual líder interino, o senhor Ossufo Momade?

ED: Não, é muito provável que o Ossufo também participe na corrida.

DW África: E conta com o apoio dele?

ED: Isso é que eu não sei. Se nós conquistamos a mesma mulher é difícil que cada um apoie o outro a obter esta mulher que também quer.

DW África: Entretanto o senhor Elias não reúne todos os requisitos exigidos para participar nesta corrida. Acredita que a RENAMO possa rever os requisitos ou abrir algumas exceções?

ED: Não, não pode. Deve saber que a RENAMO foi um movimento político-militar. Eu sou guerrilheiro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) desde a luta pela democracia durante 16 anos. Significa que um dos requisitos importantes é ser guerrilheiro ou combatente da luta pela democracia. Os restantes requisitos são apenas vantagens.

DW África: Acha então que o partido vai abrir uma execeção para si?

ED: Não é uma exceção, é um direito.

DW África: E os outros requisitos tornar-se-ão inválidos?

ED: Exatamente. E também há um mal entendido, não significa que [é preciso ter] todos os requisitos nomeados: ser secretário-geral, chefe de departamento ou membro do Conselho Nacional... Não é que o individuo deve ter exercido todas essas funções, mas sim que tenha exercido uma das funções, isso deve ficar bem claro.

DW África: A sua provável candidatura é vista por alguns como um golpe contra a democracia no seio da RENAMO, são de opinião que se trataria de uma espécie de sucessão, algo de um partido dominado pela família Dhlakama?

ED: Não constitui a verdade, porque se assim fosse não se iria convocar um congresso. Logo após a morte do presidente Dhlakama teriam indicado o Elias Macacho Marceta Dhlakama para coordenador interino, mas não foi assim. Ossufo Momade não é irmão de Dhlakama e nem da família. Chegou o momento de se convocar um congresso, onde se vai votar, o líder da RENAMO vai sair de uma eleição e não de uma nomeação ou uma indicação. Ao ser por eleição nada terá a ver com a família Dhlakama.

DW África: Quais são os seu pontos fortes para esta corrida?

ED: Sou mais novo, académico. Sou licenciado em História, o que me permite conhecer o meu país, conheço a economia e cultura do nosso país, conheço as políticas do nosso país. E sou mestrado em ciências políticas, em governação e relações internacionais. Conheço as políticas partidárias e institucionais e muitas outras políticas que o país têm. Ainda pelo facto de ter estado nas Forças Armadas, conheço os dois lados, sei como funcionam as instituições do Estado, ninguém me vai enganar. E as relações internacionais vão me permitir as boas políticas externas para o partido RENAMO.

DW África: E em que medida o apelido Dhlakama pode ser determinante nesta sua intenção de se candidatar?

ED: Esta só pode ser uma vantagem.

DW África: E em relação ao eleitorado?

ED: Para o eleitorado talvez seja bem vindo, porque o nome de Dhlakama, de facto, é inesquecível.

DW África: E quanto aos guerrilheiros que provavelmente não terão tido muito contacto com o senhor Elias, também conta com o apoio deste grupo?

ED: Eu deixaria esta parte [de lado], porque estes são os homens que ainda estão no conflito, ainda é um grupo alvo. Não queria mexer com a sensibilidade deste grupo. Mas devo dizer que eles é que sabem, é política. Da parte da RENAMO não tenho nenhuma objeção.

DW África: Elias Dhlakama é praticamente desconhecido, o que provavelmente não poderá jogar muito a seu favor. Como pensa reverter isso?

ED: Eu sou muito conhecido e quem diz isso está a fazer um jogo sujo. Eu sou conhecido, primeiro, fui guerrilheiro da Resistência Nacional Moçambicana, combati um pouco por todo este país, com o fim da guerra fui comandante da oitava brigada, que compreendia as províncias de Gaza e Inhambane, sediada em Chokwé. E depois transferido para a zona norte, como chefe do Estado-Maior militar da região norte, que compreendia as províncias de Nampula, Cabo Delgado, Niassa, e Zambézia, porque militarmente a Zambézia era considerada zona norte. E mais tarde como oficial do departamento das operações do Estado-Maior general e nomeado também como comandante de reservistas de Moçambique. Agora, quem diz que eu não sou conhecido essa pessoa não está em Moçambique.

DW África: Vamos falar um pouco sobre a relação com o seu falecido irmão Afonso. Pela imprensa é sabido que não tinham o mesmo entendimento sobre a sua permanência no exército nacional. Ele defendia que devia sair porque estava a ser humilhado e o senhor Elias defendia que deveria continuar por uma questão de dever patriótico. Pode nos falar dos pontos de divergência e dos pontos em comum?

ED: Quem sabe se era estratégia? Nunca tivemos divergências. Já disse várias vezes que tivemos relações de irmãos e ele exercia o seu papel e eu o meu.

DW África: Há uma questão que ainda não está muito clara, enquanto oficial na reserva não pode candidatar-se a um cargo político de grande relevância, é isso?

ED: Não constitui verdade. O estatuto das Forças Armadas de Defesa e Segurança é claro... quem passa a reserva está livre de exercer qualquer função. Vou dar um exemplo, o ex-chefe do Estado-Maior general, o general Macaringue, hoje representa Moçambique politicamente na África do Sul, é embaixador de Moçambique na África do Sul. A maioria dos administradores dos distritos são militares na situação de reserva. Para dizer que não há nada que impede, o estatuto de militar das Forças Armadas de defesa de Moçambique nada impede. E sai por direito, por ter completado trinta anos de serviço e eu tenho mais de trinta já completei 38. Chegado a esse tempo fiz uma exposição para o ministro da Defesa Nacional para eu gozar este direito consagrado por ter cumprido o meu tempo de serviço.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

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