Irmão do falecido Afonso Dhlakama
conta com os seus graus académicos e com a sua experiência militar na RENAMO e
nas FADM para conseguir a liderança da RENAMO. E Elias reconhece que o seu
apelido também é determinante.
De 15 a 17 de janeiro será
escolhido na Gorongosa o novo líder da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique. Desde
que Afonso Dhlakama faleceu a 3 de maio de 2018 o partido está a ser
liderado pelo general Ossufo Momade. Com o aproximar da eleição no
Congresso já se levantam nomes de possíveis candidatos e um dos mais apontados
é o de Elias Dhlakama, irmão de Afonso. A DW África conversou com Elias
Dhlakama:
DW África: Quer candidatar-se à
presidência da RENAMO?
Elias Dhlakama (ED): Sim,
vou candidatar-me.
DW África: E conta com o apoio de
quem para entrar nesta corrida?
ED: Conto com o apoio de
todos os membros da RENAMO, do Rovuma a Maputo.
DW África: Mesmo dos generais que
têm longa carreira e uma participação ativa no partido?
ED: Eu disse que conto com o
apoio de todos os membros da RENAMO.
DW África: Inclusive do atual
líder interino, o senhor Ossufo Momade?
ED: Não, é muito provável
que o Ossufo também participe na corrida.
DW África: E conta com o apoio
dele?
ED: Isso é que eu não sei.
Se nós conquistamos a mesma mulher é difícil que cada um apoie o outro a
obter esta mulher que também quer.
DW África: Entretanto o senhor
Elias não reúne todos os requisitos exigidos para participar nesta corrida. Acredita
que a RENAMO possa rever os requisitos ou abrir algumas exceções?
ED: Não, não pode. Deve
saber que a RENAMO foi um movimento político-militar. Eu sou guerrilheiro da
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) desde a luta pela democracia durante
16 anos. Significa que um dos requisitos importantes é ser guerrilheiro ou
combatente da luta pela democracia. Os restantes requisitos são apenas
vantagens.
DW África: Acha então que o
partido vai abrir uma execeção para si?
ED: Não é uma exceção, é um
direito.
DW África: E os outros requisitos
tornar-se-ão inválidos?
ED: Exatamente. E também há
um mal entendido, não significa que [é preciso ter] todos os requisitos
nomeados: ser secretário-geral, chefe de departamento ou membro do Conselho
Nacional... Não é que o individuo deve ter exercido todas essas funções, mas
sim que tenha exercido uma das funções, isso deve ficar bem claro.
DW África: A sua provável
candidatura é vista por alguns como um golpe contra a democracia no seio da
RENAMO, são de opinião que se trataria de uma espécie de sucessão, algo de um
partido dominado pela família Dhlakama?
ED: Não constitui a verdade,
porque se assim fosse não se iria convocar um congresso. Logo após a morte do
presidente Dhlakama teriam indicado o Elias Macacho Marceta Dhlakama para
coordenador interino, mas não foi assim. Ossufo Momade não é irmão de Dhlakama e
nem da família. Chegou o momento de se convocar um congresso, onde se vai
votar, o líder da RENAMO vai sair de uma eleição e não de uma nomeação ou uma
indicação. Ao ser por eleição nada terá a ver com a família Dhlakama.
DW África: Quais são os seu pontos
fortes para esta corrida?
ED: Sou mais novo,
académico. Sou licenciado em História, o que me permite conhecer o meu país,
conheço a economia e cultura do nosso país, conheço as políticas do nosso país.
E sou mestrado em ciências políticas, em governação e relações internacionais.
Conheço as políticas partidárias e institucionais e muitas outras políticas que
o país têm. Ainda pelo facto de ter estado nas Forças Armadas, conheço os dois
lados, sei como funcionam as instituições do Estado, ninguém me vai enganar. E
as relações internacionais vão me permitir as boas políticas externas para o
partido RENAMO.
DW África: E em que medida o
apelido Dhlakama pode ser determinante nesta sua intenção de se candidatar?
ED: Esta só pode ser uma
vantagem.
DW África: E em relação ao
eleitorado?
ED: Para o eleitorado talvez
seja bem vindo, porque o nome de Dhlakama, de facto, é inesquecível.
DW África: E quanto aos
guerrilheiros que provavelmente não terão tido muito contacto com o senhor
Elias, também conta com o apoio deste grupo?
ED: Eu deixaria esta
parte [de lado], porque estes são os homens que ainda estão no conflito, ainda
é um grupo alvo. Não queria mexer com a sensibilidade deste grupo. Mas devo
dizer que eles é que sabem, é política. Da parte da RENAMO não tenho nenhuma
objeção.
DW África: Elias Dhlakama é
praticamente desconhecido, o que provavelmente não poderá jogar muito a seu
favor. Como pensa reverter isso?
ED: Eu sou muito conhecido e
quem diz isso está a fazer um jogo sujo. Eu sou conhecido, primeiro, fui
guerrilheiro da Resistência Nacional Moçambicana, combati um pouco por todo
este país, com o fim da guerra fui comandante da oitava brigada, que
compreendia as províncias de Gaza e Inhambane, sediada em Chokwé. E depois
transferido para a zona norte, como chefe do Estado-Maior militar da
região norte, que compreendia as províncias de Nampula, Cabo Delgado,
Niassa, e Zambézia, porque militarmente a Zambézia era considerada zona norte.
E mais tarde como oficial do departamento das operações do Estado-Maior general
e nomeado também como comandante de reservistas de Moçambique. Agora, quem diz
que eu não sou conhecido essa pessoa não está em Moçambique.
DW África: Vamos falar um pouco
sobre a relação com o seu falecido irmão Afonso. Pela imprensa é sabido que não
tinham o mesmo entendimento sobre a sua permanência no exército nacional. Ele
defendia que devia sair porque estava a ser humilhado e o senhor Elias defendia
que deveria continuar por uma questão de dever patriótico. Pode nos falar dos
pontos de divergência e dos pontos em comum?
ED: Quem sabe se era
estratégia? Nunca tivemos divergências. Já disse várias vezes que tivemos
relações de irmãos e ele exercia o seu papel e eu o meu.
DW África: Há uma questão que
ainda não está muito clara, enquanto oficial na reserva não pode candidatar-se
a um cargo político de grande relevância, é isso?
ED: Não constitui verdade. O
estatuto das Forças Armadas de Defesa e Segurança é claro... quem
passa a reserva está livre de exercer qualquer função. Vou dar um exemplo, o
ex-chefe do Estado-Maior general, o general Macaringue, hoje representa
Moçambique politicamente na África do Sul, é embaixador de Moçambique na África
do Sul. A maioria dos administradores dos distritos são militares na situação
de reserva. Para dizer que não há nada que impede, o estatuto de militar das
Forças Armadas de defesa de Moçambique nada impede. E sai por direito, por ter
completado trinta anos de serviço e eu tenho mais de trinta já completei 38.
Chegado a esse tempo fiz uma exposição para o ministro da Defesa Nacional para
eu gozar este direito consagrado por ter cumprido o meu tempo de serviço.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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