quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

GUINÉ-BISSAU | Partidos faltam à chamada do primeiro-ministro para formar Governo


Os cinco partidos com representação parlamentar demarcaram-se esta terça-feira da primeira reunião convocada por Artur Silva para discutir a formação de um Governo de consenso na base do Acordo de Conacri.

Augusto Olivais, do PAIGC, era apontado pela CEDEAO como a figura de consenso nas negociações decorridas em Conacri para resolver a crise política na Guiné-Bissau.  Mas o Presidente guineense, José Mário Vaz, nomeou Artur Silva como primeiro-ministro.

A própria CEDEAO considerou em comunicado emitido em Bissau, que a nomeação de um primeiro-ministro de consenso não foi respeitada. Exige o cumprimento do acordado em Conacri, tendo ainda afirmado que sem essas premissas não estarão reunidas as condições para que as próximas eleições legislativas sejam credíveis.

Esta terça-feira (06.02), com a ausência dos partidos à convocação do novo primeiro-ministro no palácio do Governo para discutir o futuro Executivo, Artur Silva teve de se deslocar às sedes partidárias para as auscultações. Não se sabe o que foi discutido ao certo com as formações políticas, uma vez que a agenda dos encontros não foi divulgada. E ainda não há qualquer data prevista para a formação do Executivo.

Um ponto de cada vez

Agnelo Regala, porta-voz do Coletivo dos Políticos Democráticos, que agrupa quatro das cinco formações partidárias com assento parlamentar, afirma que não se pode ir discutir com Artur Silva a formação de um Governo de consenso sem que se tenha respeitado a nomeação de um primeiro-ministro de consenso, que seria o ponto um do Acordo de Conacri, assinado em 2016.

"Por questões de coerência, nós dissemos ao primeiro-ministro indigitado que não poderíamos ir discutir o ponto dois, quando o ponto um ainda não estaria resolvido”, explica, em declarações à DW África.

Para Regala, "seria necessário resolver o problema do primeiro-ministro do consenso e em seguida discutir a formação de um Governo inclusivo, em função daquilo que está estabelecido no acordo”.

Artur Silva acredita na formação de um Executivo

Mesmo com as críticas de que foi alvo por aceitar assumir o cargo de primeiro-ministro, gerando contestação no seio das formações partidárias, Artur Silva ainda acredita que será capaz de formar um Governo dentro do espírito do Acordo de Conacri.

"Temos de aceitar as críticas, que são sempre bem-vindas”, sublinha.

"Vamos tentar formar um Governo com todos os partidos parlamentares e tentar sentar à mesma mesa para negociar a participação com os signatários do Acordo de Conacri na base do mesmo roteiro proposto pela CEDEAO”, diz o primeiro-ministro.

Executivo contará com 15 expulsos do PAIGC?

Apesar de o grupo dos quinze deputados expulsos do PAIGC ter acusado o novo primeiro-ministro de violar as leis do país, ao mandar retirar as forças de segurança da sede do PAIGC, permitindo a realização do congresso, Artur Silva garante que vai contar com o grupo no seu Governo.

Por sua vez, o porta-voz do Partido da Renovação Social afirma em declarações à DW África que se o seu partido receber convite para participar no Governo, a decisão terá que ser tomada na reunião da Comissão Política do partido.

"É regra do PRS alinhar-se ao cumprimento dos estatutos. Quando formos convidados para o Governo teremos que levar o nome à comissão política, que terá sempre a ultima palavra”, frisou Vítor Pereira.

O Presidente guineense, José Mário Vaz, nomeou, na semana passada, o ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, para o cargo de Primeiro-ministro. Artur Silva é o sexto chefe do Executivo nomeado pelo actual Presidente guineense no espaço de três anos, e terá como primeiro objetivo a preparação e realização de eleições legislativas nos próximos meses.

Braima Darame (Bissau) | Deutsche Welle

CEDEAO confirma sanções contra 19 individualidades guineenses


O procurador-geral da República da Guiné-Bissau é um dos nomes na lista de sancionados divulgada pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental. Sanções implicam impedimento de viagens e congelamento de bens.

Um comunicado assinado pelo departamento de comunicação da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), a que a Lusa teve acesso esta quarta-feira (07.02), indica que a organização sub-regional adota as sanções, que implicam o impedimento de viagem dos sancionados, bem como as respetivas famílias, congelamento dos seus bens financeiros e impedimento de participação nas atividades da comunidade.

Os sancionados são: Braima Camará, Rui Dia de Sousa, Soares Sambu, Abel da Silva Gomes, Manuel Nascimento Lopes, Eduardo Mamadu Balde, Maria Aurora Abissa Sano, todos deputados expulsos do PAIGC.

O castigo também foi aplicado à Florentino Mendes Pereira, secretário-geral do Partido da Renovação Social (PRS), Orlando Mendes Viegas, vice-presidente do mesmo partido e ministro das Pescas no Governo demissionário, Certório Biote, líder do grupo parlamentar do PRS, e Domingos Quade, dirigente da mesma formação política. Ainda do PRS são alvo de sanções Carlitos Barai e Domingos Malu, atual e ex-ministro da Saúde Pública.

Também constam da lista o ex-procurador-geral da República António Sedja Man e o atual titular daquele órgão, Bacari Biai, o ministro do Interior do Governo demissionário, Botche Cande, Herson Gougjabi Vaz, filho do Presidente guineense, e os também ministros do Comércio, Victor Madinga, e do Turismo, Fernando Vaz.

Apelo a outras organizações

A proposta de sanções foi avançada por Faure Gnassimbé, chefe do Estado do Togo e presidente em exercício da CEDEAO, mas foi adotada pelos restantes dirigentes da comunidade, que pedem às outras organizações que apoiem a sua aplicação.

O apelo foi dirigido às Nações Unidas, União Africana (UA), Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), União Europeia (UE) e Organização Internacional da Francofonia. 

O comunicado informa ainda que um comité de seguimento, constituído pelo Togo, Guiné-Conacri e a comissão da CEDEAO irá seguir a aplicação das sanções e se reserva o direito de atualizar a lista de pessoas que poderão ser alvo de sanções na Guiné-Bissau, conforme o evoluir da situação política.

Agência Lusa, ms | Deutsche Welle

PORTUGAL | A Padaria de Carlos Silva


Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

Pode dizer-se que todos os sindicatos têm espinhos e que todas as organizações devem crescer entre a areia na engrenagem, sem meter muita água. É verdade que a ausência de unidade sindical pode virar vários bicos aos pregos mas daí a travestismos vai um grande e pouco folgado passo. Porque vai à dignidade, ao valor do trabalho, porque vai à vida das pessoas. Quem vir, ouvir ou ler as declarações deste último mês de Carlos Silva, secretário-geral da UGT, tem todas as razões para duvidar dos sentidos. Desde logo, do sentido da própria central sindical, ainda antes de marcar os seus exames pessoais de percepção.

A propósito das alterações à Lei do Trabalho, Carlos Silva defende um serviço de cirurgia tão minucioso que se confunde com alta relojoaria sem horas extraordinárias ou com um qualquer representante do patronato a contas com relógio de ponto. Entre críticas à falta de Concertação Social no debate sobre o salário mínimo, entre a sátira das "batatinhas" que a UGT não dará aos patrões enquanto estes se quiserem entender com outros, entre o fel contra o demónio da "Esquerda radical" que agita como outros acenaram com a vinda do Diabo, Carlos Silva é mais o reflexo de Teodora Cardoso ou a ilustração lusitana de Schauble do que o espelho dos trabalhadores que diz defender. A tese do bloco operatório. Horas extraordinárias, as que se vivem na UGT.

Antes das reflexões sobre cirurgia, logo após ser recebido pelo presidente da República, Carlos Silva afirmou que irá pedir uma reunião à Administração da Autoeuropa e que será apresentada uma proposta de acordo de empresa. Certamente não contraditória com o temor reverencial demonstrado, dias atrás, nas jornadas parlamentares do CDS em Setúbal: "Era importante que os trabalhadores ficassem cientes de que ou há estabilidade interna na empresa ou corremos o risco dos alemães perderem a paciência". Ao lado de António Saraiva, presidente da CIP, o secretário-geral da UGT não deixou de sacar do papão alemão para demonstrar como os novos horários da fábrica de Palmela podem deslocalizar o trabalho para países periféricos. Sobre as razões dos trabalhadores, nada, manipulados que estão por "agitadores profissionais". Sobre as exigências patronais, só recomendações sobre o cuidado que há que ter ao dobrar a espinha.

Quando um dos patrões da "Padaria Portuguesa" defendeu a tese de que o "espírito de equipa vale muito mais do que o salário base", entre outras pérolas do século XIX sobre a flexibilização da contratação, despedimento, pagamento acrescido das horas extraordinárias e a prisão das 40 horas de jornada laboral, caíram bolos-reis no lixo mais o Carmo e a Trindade. O que pensará Carlos Silva da "Padaria Portuguesa"? Herman José eternizou com propriedade a expressão "Eu é mais bolos", expressão maior do personagem José Severino. Afinal é sindicável.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

* Músico e jurista

CONTRA A LÍNGUA DE CAMÕES


O sol vai alto e a lua paira por outras paragens. Vai para o meio-dia em Portugal. Trazemos o Curto do Expresso espremido pelo editor de sociedade lá do burgo balsemista-bilderbergzinho. Sem muito mais considerações alertamos para o título e outros prováveis termos aplicados em inglês. É de perguntar o que têm estes sujeitos da escrita contra a língua de Camões. Há os que os apelidam com uma alcunha em que até rimam com Camões: cagões. Siga para o texto do Curto que não é nada curto. Mesmo assim ficamos a saber umas “coisas” por via do Expresso. É como aquele que aprende a ser humanista lendo literatura desumana. Faz sentido. (CT | PG)

#WhiteWednesdays

Rui Gustavo | Expresso Curto

Hoje é quarta-feira e a 5280 quilómetros de Lisboa há uma revolução a acontecer: como em todas quartas-feiras dos últimos meses, milhares de mulheres iranianas saem para a rua de hijab branco para protestar contra o uso obrigatório (por mulheres, claro) do lenço naquela república islâmica. Algumas, não se sabe exatamente quantas, vão mais longe e numa coreografia estudada tiram o lenço da cabeça, penduram-no num pau, sobem para uma caixa de eletricidade e deixam-se filmar, de cabelo ao vento.

Os filmes podem ser vistos na página do Facebook My Stealty Freedom ou no twitter que tem o mesmo título deste curto.

À hora que recebe este curto (mais três e meia em Teerão), cinco mulheres já se tinham filmado sem lenço, em protesto. Os filmes estão aqui.“O meu pai é um mártir da guerra. Ele não era contra as pessoas, não deixem que o seu martírio tenha ocorrido em vão”, escreveu uma. “As autoridades dizem que somos drogadas e malucas. Quero declarar que estou de perfeita saúde”, disse outra.

Em dezembro, numa white wednsday (quarta-feira branca) como a de hoje Vida Movahed, de 31 anos, tirou o hijab branco, ergueu-o como uma bandeira e aguentou firme durante 45 minutos até ser presa pela polícia. Passou um mês na cadeia com a filha de 20 meses e tornou-se um símbolo desta luta em que até participam mulheres que querem continuar a usar o lenço, mas que estão contra a sua obrigatoriedade, e homens solidários com a luta.

Desde 1979 e da revolução islâmica que é crime uma mulher andar na rua de cabeça descoberta e os protestos das quartas-feiras já levaram à prisão de 29 mulheres. A pena são dois meses de cadeia ou uma multa incomportável para as famílias de rendimento médio.

O movimento começou em 2017 pelas mãos da jornalista iraniana Masih Alinejad, que vive exilada nos Estados Unidos desde 2009. Numa entrevista ao Huffington Post conta que não percebia porque é que os irmãos rapazes podiam ir nadar, andar de cavalo ou vestiram-se como quisessem. Quando entrou para a faculdade, fez uma newsletter com umas colegas com mais ao menos estas questões e foi presa pela primeira vez.

Ainda no Irão fez vídeos de si própria a conduzir sem véu, lançando a discussão se o interior de um carro era um espaço privado, como uma casa.Tem 700 mil seguidores nas redes sociais e já percebeu que a revolução pode passar por aqui, pela internet. O regime do moderado Hassan Rohani (não é piada, é mesmo moderado para os padrões iranianos) tem reagido com repressão e desdém, desvalorizando os protestos.

O Procurador-Geral, Mohammad Jafar Montazeri, descreveu as quartas-feiras brancas como “infantis” e argumenta que são instigados pelos fenómenos das redes sociais. Mas e se mais e mais mulheres decidirem desafiar a lei? O regime vai prender toda a gente? Nos Estados Unidos a luta dos negros por direitos iguais começou a ser ganha no dia em que uma mulher cansada se recusou a ceder o lugar num autocarro a um homem branco. A luta é obviamente simbólica.

Apesar de terem mais direitos do que em muitos países islâmicos, as iranianas ainda são cidadãos de segunda no país. No final de 2016, para justificar uma fatwa que as proibia de andarem de bicicleta em locais públicos, Ali Khamenei, líder espiritual do país, argumentava que o único papel das mulheres era “ficar em casa e cuidar dos filhos”. E só muito recentemente o valor da indemnização por morte de uma mulher num acidente automóvel foi igualado ao da morte de um homem. Noutro tipo de acidentes, a vida de um homem continua a valer mais.

Persepolis, o livro de BD autobiográfico da iraniana Marjane Satrapi; ou o filme “Uma Separação”, de Asghar Farhadi, são dois bons documentos sobre a vida no Irão de hoje. Os artigos de opinião de Daniel Oliveira e Paula Cosme Pinto são boas reflexões.

OUTRAS NOTÍCIAS

A 43 quilómetros de Lisboa, na Baixa da Banheira, soube-se que há mais de seis mil mulheres vítimas de mutilação genital em Portugal. A maior parte foi vítima do “fanado” no país de origem da comunidade em que estão inseridas, a Guiné, mas como o Expresso constatou ontem numa reportagem de Carolina Reis e Tiago Miranda, já há casos desta prática em Portugal. Está a acontecer agora. “Se não fizermos de maneira diferente, estima-se que, até 2030, 54 milhões de raparigas e mulheres possam vir a ser mutiladas”, sublinhou a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, antes da visita a uma escola da Moita no dia internacional contra a mutilação genital feminina.

Um sismo de grau 6,4 atingiu esta noite a ilha de Taiwan. Já quatro mortos e mais de 200 desaparecidos. É natural que este número negro suba durante o dia de hoje.

Notícia realmente importante: Sporting e Porto disputam hoje no Estádio do Dragão a primeira mão da meia-final da Taça de Portugal. O jogo vai ter noventa minutos, mais ao menos o mesmo tempo que as televisões dedicaram ao pré, ao discurso, e ao debate que se seguiu ao discurso de Bruno de Carvalho, o ainda presidente do Sporting que exigiu 75 por cento de aprovação dos sócios na alteração aos estatutos que vão ser discutidos na próxima Assembleia Geral. Só hoje se vai saber se a tempestade desencadeada por Bruno de Carvalho terá algum efeito na equipa de Jorge Jesus que não conta com o goleador Bas Dost e vai arriscar jogar com o prodígio Gelson, recém-recuperado de uma lesão. O FC Porto, líder do campeonato, também tem baixas: Danilo, patrão do meio-campo e Marcano, líder da defesa, estão magoados. Ainda assim, é seguro dizer que vão jogar onze contra onze. O Diogo Pombo explica melhor.

A vaga de frio intenso (para os padrões portugueses) vai continuar hoje prolonga-se até amanhã. E o fim do frio não é bem uma boa notícia: de acordo com o Diário de Notícias de hoje, a chuva vai substituir o frio. Lisboa e Porto abriram as estações de metro para os sem-abrigo e para uma nova (velha) discussão: Quantos são? Cerca de oito mil. Porque é que estão na rua? A maior parte por problemas mentais agravados por problemas de álcool ou droga. É possível acabar ou pelo menos diminuir este flagelo, como deseja o Presidente Marcelo? Não sei.

Hoje há mais um protesto dos alunos do Liceu Camões contra as condições em que estudam. Exigem obras no degradado edifício onde ainda ontem o escritor António Lobo Antunes revelou ter sido vítima de abusos sexuais por parte de um professor de Religião e Moral.

Ainda no DN: um "abaixo-assinado pede demissão da comissão de trabalhadores" da Autoeuropa. O documento já foi subscrito por 200 trabalhadores e é mais um capítulo da guerra entre sindicato e CT. O presidente Fernando Gonçalves é acusado de falta de eficácia na negociação com a administração para o trabalho aos sábados.

No Record, o presidente da Liga de Clubes, Pedro Proença, garante que não pode "permitir estes desvarios". Está a falar das guerras entre os diretores de comunicação dos três grandes.

Na Alemanha, acabou de se saber esta manhã que foi alcançado um acordo de Governo entre a CDU de Merkel e o SPD de Schulz.

O bilionário Elon Musk, o homem da Tesla, lançou o foguete mais poderoso do mundo, o Falcon Heavy, ao som de David Bowie. O vídeo do lançamento pode ser visto aqui. É a primeira vez que uma empresa privada constrói e lança um foguete reutilizável. A bordo seguiu um Tesla vermelho-cereja. Um bom artigo do Observador explica tudo.

Correio da Manhã garante que a crise bolsista dos Estados Unidos e dos mercados asiáticos teve consequências em Portugal, provocando perdas de "dois mil milhões em dois dias".

FRASES

"O professor apalpou-me os joelhos e subiu pelos calções", António Lobo Antunes, num encontro com alunos do Liceu Camões, onde estudou.

"É uma triste coincidência, mas o número é real. Foram 112 pessoas. Não se pode negar. E 112 deveria ser o número de pedido de socorro", Dina Duarte, da associação de vítimas dos incêndios do Pedrógão, explicando porque decidiram fazer um vídeo divulgado pelo Expresso a criticar a falta de socorro às vítimas.

"Vou meter a carne toda no assador", Jorge Jesus, citando o clássico Quinito e dando a entender que vai apostar em Gelson para o clássico de hoje contra o Porto

"Não posso permitir estes desvarios", Pedro Proença e os novos enfant-terribles do futebol.

O QUE EU ANDO A LER

“Maigret e o seu morto”, Georges Simenon

Antes dos policiais nórdicos, negros e pesados como um fiorde, o belga Georges Simenon fez do comissário Maigret um herói improvável: gordo, velho, com queda para a bebida e a piada fácil (foi interpretado por Ron Atkinson – Mr Bean – numa série da ITV - , resolve crimes entre copos e chulos, em bares sórdidos de Paris. Escrito em 1948 é o 29º livro com Maigret e é talvez um dos melhores da série. O comissário recebe um telefonema de um homem que se diz perseguido e segue a sua pista até o encontrar já morto. Ao contrário do também belga Poirot, mais do que descobrir quem matou, a Maigret interessa saber porquê. As motivações. Que não mudaram muito desde os anos 40. “Adoro ler Simenon. Faz-me lembrar Tchékhov”, admitiu William Faulkner. Calo-me aqui.

Alves & Companhia, de Eça de Queirós

Novela para ser lida “numa noite” e o efeito “durar uma semana”, Alves & Companhia também se lê numa tarde de praia e o efeito pode durar, na verdade, 93 anos. Terá sido planeado e escrito em 1877 mas só foi publicado em 1925, já depois da morte do autor e do seu filho ter descoberto o manuscrito original “numa mala de ferro”. Longe do fôlego de os Maias, é um dos livros mais bem humorados que já li do maior génio da nossa prosa e era suposto pertencer a uma série de novelas que nunca chegaram a ver a luz do dia ou a ser encontrados numa qualquer arca do mestre. Li a edição do Expresso, com um prefácio delicioso de Filomena Mónica e confirmei que o pecado não é necessariamente sinónimo de castigo.

O QUE EU ANDO A VER

“Três cartazes à beira da estrada”, de Martin McDonagh

Filmaço dominado pela grande Frances McDormand, conta a história de uma mãe desesperada com a falta de resultados da investigação à brutal morte da filha e decide alugar três cartazes numa estrada perdida para picar a polícia com mensagens, vá, pouco simpáticas. O filme não é um policial clássico mas antes um drama cómico sobre as aparentes burrices que fazemos em situações desesperadas. Mesmo sem ter visto todos os outros filmes, aposto neste para o Óscar do melhor filme (estou a falar literalmente, concorri a um fantasy da Academia) e em Frances McDormand para repetir a vitória conquistada em 1997 com Fargo. Só não percebo como é que Martin McDonagh nem sequer é nomeado para o melhor realizador, mas tenho a certeza que depois de lerem este protesto, o pessoal da Academy of Motion Picture Arts and Sciences não mais repetirá o erro.

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