terça-feira, 8 de maio de 2018

Angola | SE APRENDERMOS A VIVER SEM COMER, ACABAM OS… POBRES!


A Comissão Económica do Conselho de Ministros aprovou hoje, sob a orientação de João Lourenço, o Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza do quinquénio 2018-2022. Não vale a pena saber do que consta. Tal como os anteriores, não é para cumprir, portanto…

No dia 23 de Setembro de 2014, o governo a reafirmou, em Nova Iorque (EUA), o compromisso com o combate à pobreza e o desenvolvimento sustentável do país. Pela voz do vice-presidente, Manuel Vicente, que discursava na “Cimeira Mundial do Clima”, convocada pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Ban ki-moon, em véspera do início do debate geral da 69ª sessão da Assembleia Geral da ONU, todos recordaram o que já ouvem há vários anos.

Manuel Vicente disse que o compromisso para garantir o desenvolvimento sustentável está consagrado na Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo até 2025, aprovado em 2012, do qual se concebeu o Programa Nacional de Desenvolvimento 2013-2017.

Para o então vice-presidente, “o desenvolvimento inclusivo insta-nos a transformar as nossas necessidades, desafios e compromissos, para com as gerações actuais e futuras, na edificação de uma Economia cada vez mais sustentável e responsável”.

A consolidação da paz e da democracia, desenvolvimento humano e bem-estar dos angolanos, bem como a edificação de uma economia diversificada são os supostos actuais objectivos do programa de governação eleitoral do MPLA, partido no poder desde 1975, para os próximos cinco anos.

Consta também que com o MPLA e com João Lourenço no comando do país os anos passarão a ter 12 meses, que os rios passarão a nascer na… nascente e a correr para o mar e que Angola se situará em África. É bom ter estas certezas.

O Programa de Governo do MPLA para o período 2017-2022, baseado em quatro eixos – Angola da Inclusão, do Progresso e das Oportunidades; Angola Democrática e Socialmente Justa; Angola da Governação Moderna, Competente e Transparente; Angola Segura, Soberana e com protagonismo Internacional – foi apresentado como uma obra-prima do mestre quando, de facto, é mais a prima-do-mestre de obras.

Aliás, o programa mostra que o MPLA continua a pensar que somos todos matumbos. E se calhar até tem razão.

Na apresentação deste programa de venda de banha da cobra, o vice-presidente do MPLA, general, então ministro da Defesa, João Lourenço, disse que o foco para os próximos cinco anos de governação “continuará a ser o combate à fome e à pobreza e o aumento da qualidade de vida do povo angolano”.

Mas afinal há fome e pobreza em Angola, depois de quase 43 anos de governação do MPLA, de 38 anos de presidência de José Eduardo dos Santos, de 15 anos de paz total e de completa submissão dos partidos da suposta oposição? Estranho, não? É claro que a culpa é, continua a ser, dos colonialistas portugueses e dos angolanos que ainda não se renderam à tese oficial de que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA. É isso, não é senhor Presidente João Lourenço?

João Lourenço apontou objectivos “muito claros” a atingir entre 2017 e 2022, nos domínios político, económico e social, nomeadamente a consolidação da paz e da democracia, a preservação da unidade e coesão nacional, o reforço da cidadania e construção de uma sociedade cada vez mais inclusiva, a concretização da reforma e modernização do Estado, entre outras.

Apesar de serem objectivos repetidos até à exaustão ao longo dos anos e nunca cumpridos, há sempre quem acredite. No entanto, na óptica do MPLA/Estado, nem é importante acreditar. Importante é obedecer.

No domínio económico, João Lourenço apontou o desenvolvimento sustentável, com inclusão económica e social e redução das desigualdades, edificação de uma economia diversificada, competitiva, inclusiva e sustentável. Por muito que isso lhes custe, o MPLA está prometer fazer agora o que os portugueses já faziam em 1974. É obra.

No plano social, João Lourenço destaca a expansão do capital humano e a criação de oportunidades de emprego qualificado e remunerador para os angolanos. Boa! Isso significará que, nestes últimos 42 anos, o emprego não era qualificado nem remunerado? É mesmo isso. Mais ou menos ao estilo de peixe podre, fuba podre, panos ruins e porrada se refilarmos.

Garantir a soberania e integridade territorial de Angola e a segurança dos seus cidadãos, reforçar o papel de Angola no contexto internacional e regional e desenvolver de forma harmoniosa o território nacional, promovendo a descentralização e municipalização são outros dos objectivos referidos por um partido mentiroso que, bem vistas as coisas, só sabe untar o umbigo, estando-se nas tintas para os que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com… fome.

Nas medidas de política, o capítulo da estabilidade macroeconómica e sustentabilidade das finanças públicas dá destaque ao combate à inflação, ao alargamento, se necessário, da aplicação do regime de preços vigiados, em defesa dos consumidores, sobretudo das camadas mais vulneráveis. É preciso ter lata e não ter vergonha de, mais uma vez, pensar que todos nós somos matumbos de pai e mãe.
Orientar a política monetária, com medidas que permitam assegurar a variação da base monetária dentro dos níveis programados, a concessão de crédito pelos bancos aos sectores produtivos, em particular aos que promovam diversificação económica e a exportações, e a definição de uma nova política cambial, com base num regime de taxa de câmbio flexível controlada, visando alcançar equilíbrio no mercado cambial são algumas das estratégias constantes do programa. Deste programa como de qualquer outro, seja do MPLA, do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte ou do Partido Democrático da Guiné Equatorial.

No campo da promoção do desenvolvimento humano e bem-estar dos angolanos, o MPLA programou para os cidadãos a definição de uma Política Nacional da População, a valorização dos jovens e a sua inclusão na vida económica e social, a protecção dos grupos mais vulneráveis da população e a sua reintegração social e produtiva.

O partido no poder em Angola desde 1975, ano da independência do país, promete melhorar o bem-estar dos antigos combatentes e apoiar a reintegração socioeconómica de ex-militares, incrementar o nível do desenvolvimento humano dos angolanos, aumentando a esperança de vida à nascença e o seu acesso aos bens e serviços essenciais, melhorar e alargar o sistema de educação, bem como reduzir as assimetrias sociais e erradicar a fome.

No seu programa, o MPLA toma como condição necessária para a reforma do Estado, o aprofundamento do processo de desenvolvimento de Angola, sublinhando que tem consciência que “um dos factores fundamentais para o sucesso das nações é o bom funcionamento das instituições”.

“Podemos ter muito boas estratégias, muito boas políticas, mas se as instituições não funcionarem devidamente, tudo o resto fracassará”, lê-se no ponto relativo à garantia da reforma do Estado, boa governação e combate à corrupção.

Por ser uma enorme enciclopédia de mentiras, o programa do MPLA não foi totalmente divulgado. Consta que o mesmo promete que, nos próximos cinco anos, os rios passarão a nascer na nascente e a desaguar na foz, que cada ano terá 12 meses, que cada dia terá 24 horas…

A RÚSSIA OPÕE-SE A UMA GUERRA IRANO-ISRAELITA


Thierry Meyssan*

Enquanto os observadores maioritariamente tomam partido no conflito Russo-EUA e desejam a vitória do seu campo, Moscovo tenta apaziguar o Médio Oriente. Portanto, opõe-se a um ataque a Israel pelo Irão tal como se havia oposto a uma operação israelita contra o Irão, em 2008.

Israel disparou nove mísseis contra duas bases militares sírias na noite de 29 para 30 de Abril de 2018, causando grandes danos.

O que surpreende nesta operação, é que os radares russos não deram o alerta às autoridades sírias. Estas não puderam, pois, interceptar os projécteis israelitas.

Acontece que o ataque não visava alvos sírios, mas, sim alvos iranianos em bases sírias.

Em virtude de um tratado anterior à guerra, o Irão veio ajudar a Síria a partir do início da agressão estrangeira, em 2011. Sem essa ajuda, a Síria teria sido vencida, a República derrubada, e os Irmãos Muçulmanos colocados no Poder. No entanto, desde Setembro de 2015, a Síria é igualmente apoiada pela Rússia, cujo poder de fogo é muito superior. Foi a Força Aérea Russa que, por meio de bombas penetrantes, destruiu as fortificações subterrâneas construídas pela OTAN e pela Lafarge, permitindo ao Exército Árabe Sírio reconquistar o terreno perdido.

Hoje em dia, os objectivos dos Iranianos e dos Russos divergem.

O desacordo irano-russo

A Rússia pretende erradicar as organizações jiadistas e pacificar toda a região. A seguir, ela espera restabelecer o laço histórico entre a sua cultura ortodoxa e Damasco, original cidade do cristianismo, conforme a estratégia fixada no século XVIII por Catarina, a Grande.

O Irão é actualmente um país dividido entre três poderes distintos. De um lado os Guardiões da Revolução, do outro o Presidente Rohani, e por fim o Guia Khamenei, que arbitra os seus conflitos.

Os Guardiões da Revolução são uma unidade de elite, distinta do Exército regular. Obedecem ao Guia enquanto o Exército depende do Presidente da República Islâmica. Eles tentam libertar o Médio-Oriente do imperialismo anglo-saxónico. Asseguram a protecção dos xiitas por todo o mundo e, em troca, contam com eles para proteger o Irão. Eles estão, nomeadamente, colocados no Iémene, no Iraque, na Síria e no Líbano.

O Presidente Hassan Rohani procura tirar o seu país do isolamento diplomático suscitado pela Revolução do Imã Khomeini. Ele pretende desenvolver o comércio internacional e restabelecer o estatuto (status-br) de potência regional dominante, de que seu país dispunha na época do Xá.

O Aiatola Ali Khamenei, que está ideologicamente próximo dos Guardiões da Revolução, tenta manter o equilíbrio entre estes dois poderes e a unidade do país. É um papel tanto mais difícil quanto as tensões entre os dois grupos precedentes estão no seu paroxismo. O antigo Presidente Mahmoud Ahmadinejad (oriundo dos Guardiões da Revolução) e o seu antigo Vice-Presidente, Hamid Beghaie, foram declarados «maus muçulmanos» pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. O primeiro acaba de ser colocado em prisão domiciliar, enquanto o segundo foi condenado a 15 anos de prisão após um julgamento secreto.

Desde o assassinato de Jihad Moughniyah (filho de Imad Mughniyah, o chefe militar do Hezbolla libanês) e de oficiais dos Guardiões da Revolução, em Janeiro de 2015, na linha de demarcação sírio-israelita do Golã, tudo leva a pensar que o Irão tenta implantar bases militares no sul da Síria. Tratar-se-ia de planificar (planejar-br) um ataque coordenado a Israel a partir de Gaza, do Líbano e da Síria.

É este o projecto que Israel tenta prevenir e que, agora, a Rússia recusa caucionar.

A evolução das posições políticas

De um ponto de vista russo, Israel é um Estado internacionalmente reconhecido, no qual mais de um milhão de cidadãos são originários da antiga União Soviética. Ele tem o direito de se defender, independentemente da questão colocada pelo roubo de terras e do regime de apartheid actual.

Pelo contrário, de um ponto de vista iraniano, Israel não é um Estado, mas uma entidade ilegítima que ocupa a Palestina e oprime os seus habitantes históricos. É, pois, legítimo combatê-lo. Ao fazê-lo, a República Islâmica vai para lá da análise do seu fundador. Com efeito, para o Imã Khomeini Israel era apenas uma ferramenta das duas principais potências coloniais que são os Estados Unidos (o «Grande Satã») e o Reino Unido. No decurso dos últimos anos, o discurso iraniano sobre a Palestina tornou-se particularmente confuso, misturando argumentos políticos e religiosos, e recorrendo a estereótipos anti-semitas.

Desde há três anos, Israel pede, na maior gritaria, que a Rússia impeça o Irão de instalar bases militares a menos de 50 quilómetros da linha de demarcação.

No início, a Rússia fez notar que o Irão tinha ganho a guerra na Síria enquanto Israel a tinha perdido. Telavive não tinha portanto nada que exigir. Mas, chega-se agora ao possível fim da guerra e a posição russa mudou: está fora de questão deixar o Irão iniciar um novo conflito.

Foi exactamente a mesma atitude que havia levado a Rússia a bombardear os dois aeroportos alugados pelo Tsahal (FDI) na Geórgia, em 2008. Tratou-se, então, de prevenir um ataque a Teerão por Telavive. Salvo que o “laissez-faire”(deixar andar-ndT) opõe-se desta vez a uma iniciativa iraniana e já não israelita.

A posição síria

De um ponto de vista sírio, Israel é um inimigo que ocupa ilegalmente o Golã. No decurso da guerra, ele apoiou de facto os jiadistas e já bombardeou o país mais de uma centena de vezes.

Mesmo assim o projecto iraniano não é bem vindo. Com efeito, como Moscovo, Damasco não põe em causa a existência do Estado hebreu, apenas o seu tipo de regime que exclui os Palestinianos. Acima de tudo, a República Árabe Síria não busca o confronto com o seu vizinho, mas, sim a paz. Os Presidentes Hafez e Bashar al-Assad tentaram, ambos, negociá-la ---nomeadamente, em vão com o Presidente norte-americano Bill Clinton.

Por outro lado, todos sabem que o Exército israelita é apoiado sem reserva pelos Estados Unidos, que atacá-lo é atacar Washington. A Síria, que acaba de atravessar sete anos de agressão estrangeira e está, em grande parte, destruída, não poderia meter-se por essa via mesmo que o desejasse.

Por conseguinte, Damasco, que aceitou deixar o Irão instalar bases no seu território, não irá para além disso.

O contexto irano-EUA

Assim como o fim possível da guerra provocou a crise actual, ela pesa no futuro do acordo dos 5 + 1. Os Estados Unidos não deverão, provavelmente, continuar a assumir-se como garantes dele.

Este acordo multilateral não é aquilo que se pensa. O texto, assinado a 14 de Julho de 2015, é exactamente idêntico ao negociado a 4 de Abril. Nos últimos meses, Washington e Teerão negociaram, frente a frente, cláusulas secretas bilaterais, da quais ninguém conhece o alcance.

No entanto, todos puderam constatar que desde a conclusão deste acordo secreto, as tropas norte-americanas e iranianas, presentes por todo o Médio-Oriente, jamais se confrontaram directamente.

A parte pública do acordo diz respeito a uma suspensão do programa nuclear iraniano durante, pelo menos, uma década; um levantamento das sanções internacionais contra o Irão; e um fortalecimento dos controles da AIEA. Este acordo é catastrófico para Teerão, o qual, por exemplo, foi forçado a fechar o seu programa de ensino de física nuclear. Mas, mesmo assim, ele assinou-o esperando o levantamento das sanções que lesam brutalmente a sua economia. Ora, estas sanções, pouco antes levantadas, foram logo restauradas sob um outro pretexto (o programa de mísseis). O nível de vida dos Iranianos continua a cair.

Contrariamente a uma ideia feita, a República Islâmica tinha parado, em 1988, de procurar dotar-se da bomba atómica porque o Imã Khomeini a havia convencido de que as armas de destruição maciça são contrárias ao Islão. No entanto, ela havia prosseguido a sua actividade nuclear civil e algumas pesquisas sobre aplicações militares tácticas. Hoje em dia, apenas aqueles que desejam seguir os passos do Xá ---quer dizer, o grupo do Presidente Rohani--- são susceptíveis de querer retomar o seu programa nuclear militar. Mas, eles não o farão tendo em conta as suas excelentes relações com Washington.

Uma reunião preparatória da Conferência Mundial de controlo do Tratado de Não Proliferação Nuclear realiza-se actualmente em Genebra. O Irão e a Rússia defendem aí uma moção visando declarar o Médio-Oriente «zona isenta de armas nucleares»; uma moção combatida por Israel, Arábia Saudita e pelos Ocidentais.

A ameaça exercida por Teerão a partir da Síria talvez deva ser compreendida como um meio de pressão, tendo em vista a manutenção das cláusulas secretas paralelas ao acordo dos 5 + 1.

Thierry Meyssan* | Voltaire.net.org

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

"Dia da Ira" convocado para inauguração de embaixada dos EUA em Jerusalém


Os palestinianos convocaram para a 14 de maio um 'Dia da Ira', para protestar contra a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém, anunciou hoje um membro da Organização para a Libertação da Palestiniana (OLP).

"A abertura da embaixada em Jerusalém é um desafio para a comunidade internacional e para as resoluções das Nações Unidas, e uma provocação para os sentimentos dos palestinianos", afirmou Ahmad Majdalani, membro do comité executivo da OLP, na rádio Voz da Palestina.

O fato de a mudança da embaixada dos Estados Unidos ser realizada a 14 de maio, quando se celebra o 70º aniversário da criação do Estado de Israel e na véspera da comemoração da "Nakba", "catástrofe" em árabe - que recorda a partida forçada de centenas de milhares de palestinianos em 1948 -, "é um insulto adicional", acrescentou o líder.

A transferência da embaixada, disse Majdalani, aprofunda a "injustiça histórica perpetrada contra o povo palestiniano", indicando ainda que os líderes palestinianos apelarão ao Tribunal Penal Internacional.

Em dezembro, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rompeu com o consenso internacional ao reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, cuja parte oriental foi ocupada pelos israelitas durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e posteriormente anexada em 1980, numa decisão não reconhecida pela comunidade internacional.

Depois que Trump anunciou a transferência da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém Oeste, a Guatemala e o Paraguai anunciaram idêntica decisão, sendo que ambos os países latino-americanos moverão suas respetivas delegações em maio.

Mesmo diante dos protestos da Palestina, que reivindica Jerusalém Leste como capital de um futuro Estado próprio, a República Checa também anunciou a abertura de um consulado honorário, em maio deste ano, em Jerusalém Oeste como a primeira fase para a deslocalização da sua embaixada.

As Honduras esperam ratificar uma moção parlamentar para mover a sua embaixada e da Roménia também mostrou a sua vontade em fazer o mesmo, embora a União Europeia repudie tais decisões dos seus membros.

Lusa | em Notícias ao Minuto | Foto: Reuters

A Itália dança sobre um vulcão


Presidente Mattarella quer dar última chance para formação de governo, dois meses depois das eleições. Mas um gabinete de transição seria até melhor do que as opções existentes, opina o correspondente Bernd Riegert.

Dois meses após as eleições parlamentares, nada anda na Itália. Os dois blocos populistas, o Movimento Cinco Estrelas e os conservadores de direita, bloqueiam-se mutuamente. Os social-democratas, que governaram até agora e encolheram drasticamente, recusam-se a colaborar e permanecem estáticos na oposição. Todas as tentativas de forjar alguma tipo de coalizão entre os antissistema, os radicais de direita e os moderados falharam. O presidente Sergio Mattarella constatou, frustrado, que seus esforços foram em vão, já que as partes não se aproximam e permanecem impassíveis.

O Movimento Cinco Estrelas agora pede novas eleições em junho. Já os radicais de direita preferem que se vote novamente no final do ano. Cada partido tem seu próprio cálculo sobre quando suas chances de ganhar uma maioria no Parlamento podem ser maiores. Mattarella não é a favor de novas eleições. Ele sente a frustração de muitos italianos, que dizem, não sem razão, que a próxima votação provavelmente produziria o mesmo resultado, ou seja, um bloqueio. Além disso, uma nova eleição é vista como desperdício de dinheiro. E dinheiro é coisa que o Estado italiano, endividado de forma irresponsável e elevada, realmente não quer desperdiçar.

Por essa razão, o presidente quer fazer uma tentativa final nesta segunda-feira (07/05) para forçar à mesa de negociações os vaidosos chefes dos dois grupos populistas, assim como dos social-democratas. Ainda se cogita formar uma aliança entre o Movimento Cinco Estrelas e os social-democratas, ou pelo menos partes desse partido em decadência. Outra possibilidade seria uma aliança entre o Movimento Cinco Estrelas e os nacionalistas de direita da Liga. Aí, porém, o ex-primeiro ministro e ainda grande líder dos conservadores, Silvio Berlusconi, teria que ser sacrificado. O empresário, de 81 anos, não está disposto a recuar.

Se a última tentativa falhar, o presidente italiano poderia estabelecer um governo de transição de "tecnocratas", que então aprovaria o orçamento para 2019 e prepararia uma nova eleição para o início do próximo ano. No entanto, também os "tecnocratas" teriam que se submeter a uma moção de confiança de um Parlamento totalmente dividido. Também é possível que o primeiro-ministro em exercício, Paolo Gentiloni, simplesmente continue liderando o governo de forma interina. Sem uma maioria parlamentar, no entanto, vai ser muito difícil aprovar um orçamento.

A Itália só pode se dar o luxo de todo esse circo político porque a economia italiana está indo relativamente bem, num período de leve crescimento, os mercados financeiros se deixam influenciar pouco pelas tramas de coalizão em Roma e as taxas de juros para o refinanciamento da enorme dívida pública são suportavelmente baixas. Para os mercados e para a estabilidade da zona do euro, da qual a Itália é um membro-chave, seria melhor que um governo de transição assumisse o comando. Seria mais estável e confiável do que qualquer coisa que pudesse ser costurada a partir dos populistas, à direita ou à esquerda, na Itália no momento. Se, em algum momento, os populistas eurocéticos assumirem o governo na Itália, o clima relaxado pode rapidamente mudar.

Se os mercados retirarem a confiança de um Luigi Di Maio, do Movimento Cinco Estrelas, ou de um Matteo Salvini, da Liga, o país pode rapidamente entrar em dificuldades financeiras, dívidas não poderiam mais ser refinanciadas e o fundo de resgate do euro teria que intervir. A incerteza é agravada pela perspectiva de que o Banco Central Europeu vai, algum dia, elevar as taxas de juros, o que automaticamente elevaria também o custo dos títulos do governo italiano. As consequências de uma Itália enfraquecida e politicamente instável podem ser fatais. A UE teria que resgatar a Itália com centenas de bilhões de euros. O resgate da Grécia teria sido apenas um leve exercício de aquecimento.

A Itália dança politicamente sobre um vulcão virtual que se comporta como o verdadeiro Vesúvio: ele ainda silencia, mas pode entrar em erupção a qualquer momento.

Bernd Riegert (md) | Deutsche Welle | opinião

Foto: O líder do Movimento Cinco Estrelas, Luigi Di Maio, fala após consulta com o presidente

Protesto na Eurovisão: "Zero Pontos para Israel", pede campanha contra o apartheid


Netta Barzilai, representante de Israel, é a grande favorita para vencer a edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção. Mas a campanha global Boicote, Desinvestimento e Sanções pede que sejam atribuídos zero pontos ao tema.

"Toy", de Netta Barzilai, representante de Israel, é, segundo as casas de apostas online, a canção favorita para vencer a edição de 2018 do Festival Eurovisão da Canção, que se realiza pela primeira vez em Lisboa. Mas há quem lute pelo contrário.

À porta do Eurovision Village, espaço criado no Terreiro do Paço, um pequeno grupo de pessoas tem distribuído panfletos que pedem ao público que não vote no tema israelita. "Acabar com a ocupação e o apartheid israelita na Palestina. Dá zero ponto à música de Israel na televotação", pode ler-se na frente da folha.

"A Eurovisão vai começar em Lisboa. "'Zero Pontos para Israel na competição musical da Eurovisão' é uma campanha anual que se opõe à ocupação e ao apartheid. Esta campanha não poderá ter fim até que o Estado de Israel deixe de violar o Direito Internacional impunemente", explicam os promotores do protesto.

A canção de Israel, tal como explicou Netta Barzila ao SAPO Mag, tem "uma mensagem importante - o despertar do poder feminino e da justiça social". Para o movimento Boycott, Divestment, Sanctions (BDS), a israelita "participa igualmente nos esforços de Israel limpar a sua imagem internacionalmente". "[A Canção] enquadra-se numa contínua tentativa israelita de branquear a opressão do povo palestiniano através de uma campanha de marketing de políticas de 'igualdade'. Ignora, também, a falta de condições das mulheres de Gaza que se encontram em prisões a céu aberto", acrescenta a BDS.

A campanha insere-se na iniciativa global de Boicote, Desinvestimento e Sanções.

Tiago David | Sapo Mag

PORTUGAL HOJE | O dia em que o Festival Eurovisão da Canção começa mesmo


Esta terça-feira é transmitida, a partir do Altice Arena, a primeira semifinal da competição que decorre pela primeira vez em Portugal, com 19 canções a concurso. Segue-se a segunda semifinal na quinta-feira e a final no sábado, em que dez dos apurados irão disputar a vitória com O Jardim de Isaura e Cláudia Pascoal.

A Eurovisão já tomou conta do Parque das Nações, em Lisboa, há mais de uma semana, com restrições no trânsito e um número considerável de seguranças, polícias, voluntários, jornalistas e outros profissionais a tornar complicado encontrar, na área que circunda aquele que um dia foi o Pavilhão Atlântico, alguém sem uma credencial ao pescoço.

A zona vai até para lá do Pavilhão de Portugal, onde, por debaixo da pala de Álvaro Siza, fica a entrada da ampla área de imprensa, e inclui o restaurante La Rúcula, que tem um menu especial para as delegações dos países concorrentes, os media e os fãs acreditados. Mas é esta terça-feira, a partir das 20h, que a competição arranca, com a realização da primeira semifinal do festival. 

A apresentar a cerimónia estarão Daniela Ruah, Sílvia Alberto, Filomena Cautela e Catarina Furtado e há 19 países a disputarem um lugar na final que se realizará no próximo sábado. Desse conjunto de concorrentes, dez serão escolhidos por votação que junta os pontos dados pelo júri e pelos habitantes de cada país que actua (Portugal, tal como o Reino Unido e Espanha, terá direito de voto nesta semifinal). Esses dez países irão defrontar, na final de sábado, os vencedores da segunda semifinal, que decorre na quinta-feira, os cinco grandes da Eurovisão (França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Itália) e o vencedor do ano passado – que, neste caso, é Portugal, representado por O Jardim, de Isaura e Cláudia Pascoal. 

Da semifinal desta noite fazem parte três das cinco canções favoritas à vitória. O site Eurovision World, que analisa as probabilidades dos serviços de apostas, mostra a israelita Netta Barzilai e a sua Toy, o hino de emancipação feminina, no topo, seguida de Elina Nechayeva e a sua La Forza, da Estónia, com Eleni Foureira, que vai cantar Fuego pelo Chipre, em quarto lugar na lista de favoritos. 

Além destes nomes, em concurso nesta semifinal estão também a azeri Aisel, o islandês Ari Ólafsson, o albanês Eugent Bushpepa, a belga Sennek, a lituana Ieva Zasimauskaite, o bielorrusso Alekseev, os macedónios Eye Cue, a croata Franka, o austríaco César Sampson, a grega Yianna Terzi, a finlandesa Saara Alto, o arménio radicado na Rússia Sevak Khanagyan, os suíços Zibbz, o irlandês Ryan O’Shaughnessy, o checo Mikolas Josef, que caiu durante os ensaios a fazer um salto mortal que em princípio será repetido nesta cerimónia, e por fim o quinteto búlgaro Equinox.

Aos milhares de jornalistas acreditados vindos de todo o mundo, e a quem não é permitido entrar no recinto com, entre outros, animais, álcool, drogas, martelos, bolas de golfe, fita adesiva, very-lights, escadotes, armas de fogo, algemas ou “qualquer material que possa ter uma conotação com opiniões políticas ou religiosas”, foi distribuído um saco de pano oficial do festival. Este contém, entre outras coisas, os discos Desfado, de Ana Moura, Mundo, de Mariza, e um EP de oito temas dos Beatbombers – todos artistas que vão actuar na final –, um azulejo em faiança do século XIX, guias de Lisboa, um cartão para uma viagem turística de autocarro e um carregador para 15 dispositivos electrónicos em simultâneo com uma ilustração da artista Cristiana Couceiro. A reconhecer a ligação entre o festival e a cultura queer, no campo das informações úteis da aplicação de telemóvel para a imprensa acreditada existe uma lista de espaços LGBT-friendly em Lisboa.

Paralelamente ao festival continua até 12 de Maio o Eurovision Village, o espaço de entrada livre no Terreiro do Paço, com a transmissão em directo em ecrãs gigantes das semifinais e da final, bem como com actuações dos concorrentes ao vivo (esta terça-feira cantam os representantes da Austrália, Rússia, Áustria e Roménia). Também decorrem outros concertos. Na quarta-feira, sob a batuta do maestro Pedro Amaral, a Orquestra Metropolitana de Lisboa actua com o Coro Voces Caelestes, enquanto na sexta-feira tocam os Orelha Negra e a rapper Capicua. Antes da final, no sábado, é a vez de Symphony, a cantora da Suazilândia que venceu este ano a primeira edição do AfriMusic, o festival da canção africano, e Ruslana, a cantora ucraniana que ganhou a Eurovisão em 2004, actuarem no palco do Eurovision Village.

Rodrigo Nogueira | Público

Foto: A israelita Netta Barzilai durante os ensaios REUTERS/RAFAEL MARCHANTE

PORTUGAL | Estudo aponta subestimação do limiar da pobreza, fixado em 439 euros


São necessários 738 euros por mês para “viver com dignidade”

As conclusões são do estudo «Rendimento Adequado em Portugal (raP) – Quanto é necessário para uma pessoa viver com dignidade em Portugal?», que resulta de uma parceria entre várias universidades, entre as quais a de Lisboa e a Católica, e a Rede Europeia Anti-Pobreza.

De acordo com o estudo, um indivíduo em idade activa (entre os 18 e os 64 anos) a viver sozinho precisa de 783 euros para viver com dignidade, enquanto se for um casal, o valor sobe para 1299 euros.

No caso de um casal com um filho menor, este deveria receber 1796 euros por mês, enquanto uma família monoparental necessita de 1374 euros. Tratando-se de um casal com dois filhos menores, o valor mensal aumenta para 2271 euros.

Um indivíduo com mais de 65 anos deveria ganhar 634 euros por mês para ter uma vida digna, enquanto um casal da mesma faixa etária deveria auferir 1007 euros mensais.

O valor definido como limiar da pobreza em Portugal é de 439 euros mensais este ano. Em 2014, o valor era de 422 euros.

O estudo teve, primeiramente, em consideração o mês de Dezembro de 2014 como mês de referência dos orçamentos construídos, para depois os actualizar a preços de Abril de 2017.

«Estes resultados sugerem que o uso deste limiar de pobreza subestima a medição da incidência da pobreza em Portugal, se considerarmos, como referência para este cálculo, o valor do rendimento necessário para obter um nível de vida digno», lê-se nas conclusões do estudo.

Em declarações à agência Lusa, o coordenador do trabalho de investigação admitiu que o conjunto de investigadores já esperava que os valores do raP fossem superiores ao que é o limiar de pobreza do Eurostat, o valor usado para «tudo o que são medidas de avaliação políticas ou actualização políticas».

«Há uma clara subestimação dos valores da pobreza e há uma subestimação também dos valores, dos mínimos sociais que estão fixados, do salário mínimo, dos mínimos sociais da protecção social», apontou José Pereirinha.

O responsável admitiu que a investigação não fez cálculos para descobrir o número real de pobres em Portugal porque se entendeu ser mais importante «comparar os limiares de pobreza com este valor de rendimento adequado», mostrando que os valores actuais são baixos.

Por outro lado, o investigador salientou que o estudo traz outra importante conclusão: a de que «as crianças têm um custo superior àquilo que se convenciona habitualmente» nas escalas de equivalência, ou seja, o peso que as crianças têm no cálculo das prestações sociais que dependem da composição familiar.

“Quando o RSI [rendimento social de inserção] é determinado em função do número de adultos equivalentes no agregado, faz-se isso usando a escala da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico]», exemplificou José Pereirinha.

Acrescenta ainda que a investigação revelou que as escalas de equivalência demonstradas neste estudo são diferentes das da OCDE porque «têm um custo implícito que é superior àquele que as escalas da OCDE estão a admitir».

AbrilAbril | Com Agência Lusa

BlackRock | QUEM MANDA NA SOMBRA


Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

É uma pedra no sapato do Banco de Portugal. A empresa de investimentos BlackRock faz parte de um consórcio da mais alta finança mundial que ameaça boicotar o país por conta da transferência de 2000 milhões de euros de dívida que vinha do antigo BES e que passou do Novo Banco para o "banco mau". Mas, como relata o jornalista Paulo Pena em dois artigos recentes no "Público", esta não é a única ligação do BlackRock ao banco de Ricardo Salgado e à economia portuguesa.

A BlackRock comprou quase 5% do BES apenas seis meses antes da sua resolução. Essas ações foram depois misteriosamente vendidas quando já não tinham qualquer valor. Porquê e a quem? Ninguém sabe, nem mesmo o Governo da altura ou os supervisores.

Para além do BES, a BlackRock é ainda acionista de 14 outras empresas, da EDP ao BCP, passando pela Jerónimo Martins, detendo quase 2000 milhões de euros de ações de empresas cotadas em Portugal.

O facto de pouca gente conhecer a BlackRock por cá, ou saber precisamente o que faz, ajuda a perceber porque lhe chamam o gigante da Banca-sombra. Não é um banco, nem está obrigado às regras de regulação e supervisão do sistema bancário. Mas gere, sozinho, 5,2 milhões de milhões de euros, ou seja, 26 vezes o PIB português. Seja por sua conta ou por conta da gestão de dinheiro de clientes, a BlackRock detém participações em 17 mil das maiores empresas mundiais. De acordo com esta investigação, as três maiores empresas de gestão de ativos - grupo que a BlackRock integra -, detém a maioria das ações de nada menos que 88% das 500 maiores empresas americanas, cotadas no índice S&P500.

O que está em causa, portanto, é a concentração da propriedade dos mais importantes setores da economia mundial, da farmacêutica à energia, nas mãos de meia dúzia de empresas que não são bancos, nem gigantes industriais multinacionais, são sombra. A globalização financeira, feita em nome da livre concorrência e comércio, é responsável pela criação de um oligopólio à escala mundial que escapa às regras de regulação bancária e a qualquer limite à concentração económica.

Não há portas fechadas para quem controla, sozinho, riqueza equivalente ao dobro do produto do Reino Unido. O artigo de Paulo Pena descreve as várias reuniões do principal administrador da BlackRock com chefes de Governo e reguladores e os milhões gastos em lóbi na União Europeia. Refere ainda a coincidência espantosa em que o vice-presidente da Comissão Europeia anuncia um gigantesco plano privado de pensões a nível europeu apenas seis meses depois da BlackRock o ter pedido publicamente.

A pedra no sapato do Banco de Portugal é, afinal, uma gigantesca potência da sombra. Um poder nascido de um sistema que, apesar de todas as promessas e mentiras, foi criado para ser obscuro. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que foi desenhado à imagem e ao serviço desta e de outras BlackRocks. A curta viagem de Durão Barroso da presidência da Comissão Europeia para a da Goldman Sachs não nos deixa esquecer isso.

*Deputada do BE

Nota PG, da Wikipédia:
A BlackRock, Inc é uma empresa americana, sendo a maior em gestão de ativos no mundo, sediada em Nova York. Opera principalmente em ativos e gestão de riscos. BlackRock é o maior sistema banca sombra no mundo. (…)Os clientes são governos, empresas, fundações e milhões de indivíduos que poupam para a aposentadoria, educação dos filhos e uma vida melhor. Wikipédia

PORTUGAL | Greve: Federação de Médicos acusa ministro de "cinismo político"


O presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) acusou hoje o ministro da Saúde de "cinismo político puro" por afirmar que compreende as reivindicações dos médicos, mas que não se pode resolver tudo de uma vez.

João Proença sublinhou que o ministro da Saúde "não faz nada porque objetivamente não quer fazer nada".

"Quem está no poder exerce-o como facto ou então não se pode desculpar com mais nada", disse João Proença em declarações aos jornalistas junto às consultas externas do hospital São José,em Lisboa, no primeiro de três dias de greve nacional de médicos.

O dirigente da FNAM comentava declarações de segunda-feira do ministro Adalberto Campos Fernandes que disse que respeitava os sindicatos e a greve, mas acrescentou que "se os profissionais têm razão na maior parte das coisas que pedem" cabe ao Governo governar, sendo que não se pode resolver tudo ao mesmo tempo e o SNS tem que perdurar "por mais 10, 15 ou 20 anos e em boas condições".

Por seu lado, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) acusou o ministro da Saúde de "fugir da realidade" e das negociações com os sindicatos.

"O que queremos dizer ao Dr. Adalberto é: por favor não seja Centeno", afirmou Roque da Cunha, numa alusão a Mário Centeno, ministro das Finanças.

O presidente da Federação Nacional dos Médicos comentou ainda as declarações do Presidente da República sobre a greve dos médicos, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito na segunda-feira que a paralisação faz parte da "legalidade da vida democrática".

"É normal ouvir isso por parte de um constitucionalista. Era melhor que 44 anos após o 25 de Abril não se pudesse dizer que não se pode fazer greve, mas que há limitações à situação de greve, há", disse João Proença.

O dirigente da FNAM referiu-se a casos de internos de medicina geral e familiar que "foram obrigados a fazer trabalho para boicotar a greve, nomeadamente em Lisboa e no Algarve".

Os médicos iniciaram hoje às 00:00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela "defesa do Serviço Nacional de Saúde".

A reivindicação essencial para esta greve de três dias é "a defesa do SNS" e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação -- o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.

Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma.

Para hoje à tarde, a FNAM agendou uma concentração em frente do Ministério da Saúde, em Lisboa.

A paralisação nacional de três dias, que termina às 24:00 de quinta-feira, deve afetar sobretudo consultas e cirurgias programadas, estando contudo garantidos serviços mínimos, como as urgências, tratamentos de quimioterapia, radioterapia, transplante, diálise, imuno-hemoterapia, cuidados paliativos em internamento.

Lusa | em Notícias ao Minuto

Portugal | POBREZA, A QUANTO OBRIGAS!


O abraço à pobreza está hoje aqui em baixo no Expresso Curto que podem ler a seguir, João Silvestre é o carinhoso que procura desmontar a confusão que representam os dados fabricados pelo INE e divulgados pela Lusa – que já publicámos e a que damos surra. 

Os comuns mortais e não doutos são a maioria dos portugueses mas o INE divulga algo tão elaborado e cheio de perlimpimpins que concorre para a baralhação. Já o dissemos aqui no PG. O melhor é os portugueses irem todos para a universidade para entenderem certas manias desses doutos estatísticos que, tudo indica, não chamam os bois pelos nomes. A pobreza é a pobreza e a miséria é muito mais grave que a pobreza – sabe quem a viveu ou vive. Ser da classe média é uma treta muito inconstante, insegura. Porque hoje até pode considerar-se assim e para o mês que vem já não. Ser rico é fácil de diagnosticar e fazer valer nas estatísticas porque existem poucos. Há é os que por via de vigarices até parecem ricos. Muitos vindos dos partidos do famigerado Bloco Central, apesar de só uns quantos estarem a contas com a justiça… Qual justiça?! E a tal corrupção dos tais colarinhos brancos? E os lobies sacadores que todos pagam nessa chulice? E... Avancemos.

As contas feitas por essa tal de estatística são o que são. Ora digam lá o que adianta “aumentar” reformas em mais 10 ou 20 euros mensais, o que é que isso pesa na estatística? Alguma coisa? Pois então perguntem aos que “beneficiaram” desses “aumentos” e logo verão que a pobreza se mantém e em alguns casos até se agravou. Tudo porque existem políticos, a maioria, que se estão nas tintas apesar de não o declararem. Antes pelo contrário. Criam a ilusão de que foi um grande “aumento”. Charlatães.

Ou mesmo aumentarem o salário mínimo nacional em valores iguais de 10 ou 20 euros. Nem dá para pagar o título de transporte!

Para combater a pobreza a sério, com ganas, tem de existir um teto salarial para os que ganham mundos e fundos – uns realmente doutores e honestos, outros compradores de canudos universitários e afins (vigaristas). Nas reformas devem ser reduzidos ganhos estrambólicos, exagerados. Um teto para o máximo de certas reformas é urgente. A tocar a todos. E no privado essas reformas milionárias devem ser “mordidas” a sério pelo fisco, revertendo o resultado da “mordidela” para a Segurança Social. “Morder” mesmo a sério. O que não acontece.

Na prática a pobreza em Portugal é enorme. Muitos escondem-na o mais que podem e “armam-se” em classe média desafogada. Mas é só “ares” disso. Mais cedo que tarde acabam por mostrar que andam com uma mão atrás e outra è frente, como é dito popularmente.

E pronto, assim se vê que “isto” mudou muito pouco e em imensos casos nada mudou ou até se agravou. O INE faz contas, estatísticas. Divulga a “coisa” para o baralhado, avesso ao “pão, pão, queijo, queijo”. O que é uma merda muito grande. Uma douta merda.

Em baixo, no Curto, João Silvestre torna a “coisa” mais simples. Um pouco de mais fácil perceção. Boa vontade. O que não vimos é a tal “coisa” preto no branco a contabilizar a miséria, a pobreza, os remediados ou sustentáveis, a tal classe média (a quem deve sobrar valores no final do mês) os ricos, os muito ricos ou imoralmente ricos. Ora publiquem lá estes números assim (ou ainda mais entendiveis) e vamos ver a chocante realidade do país, a injustiça social que abunda. Evidentemente que não vale vigarizar nos números – algo em que muitos ‘dótores’ são peritos. Pobres de espírito. E temos de aturar isto? Pobreza, a quanto obrigas.

Vá para o Curto. Vale a pena, e a alma não é pequena. Bom dia e boas festas aos animais simpáticos que passarem por vós. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

9,510132

João Silvestre | Expresso

Bom dia,

9,510132. Um número. Seis casas decimais. Corresponde ao rácio entre os rendimentos médios dos 10% de famílias de maior e menor rendimento em Portugal. É um simples quociente, uma operação matemática básica, que tem, no entanto, uma interpretação bastante imediata. As famílias mais ricas ganham em média – e as médias, já se sabem, são o que são – quase dez vez o que ganham as mais pobres.

O número é retirado do Rendimento e Condições de Vidaontem publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O mesmo relatório que revelou existirem em Portugal 24% de pessoas em risco de pobreza. Praticamente um em cada quatro portugueses tem um rendimento inferior abaixo de 60% da mediana do rendimento, ou seja, ganham menos de 5443 euros anuais (ou 445 mês). Os dados revelam, apesar de tudo, uma diminuição de 2,4 pontos percentuais na taxa do risco de pobreza num ano em que a ‘fasquia’ até subiu porque o rendimento aumentou. Ainda que a intensidade da pobreza tenha aumentado ligeiramente.

Há, apesar desta realidade, algumas noticias mais animadoras. É que a desigualdade na repartição do rendimento tem vindo a diminuir. O índice de Gini caiu pelo terceiro ano consecutivo, o rácio entre o percentil 90 de rendimento e o percentil 10 também tem vindo a descer para valores na ordem dos 10 e o próprio rácio dos 10% mais ricos versus 10% mais pobres é o mais baixo desde pelo menos 2004.

Há diferenças? Sim, claro. E são enormes. As famílias do ‘andar’ de 10% de cima ganham €44991 por ano. As do ‘rés-do-chão’ ficam-se por €4836. Mas a diferença já foi maior. Estes números remetem-nos para a discussão sobre a desigualdade que o economista francês Thomas Piketty trouxe para a ribalta em 2013 com o seu famoso Capital no Seculo XXI. A este respeito, é sempre bom recordar a entrevista que deu ao Jorge Nascimento Rodrigues nas páginas do Expresso em 2013 e também, mais recentemente, a entrevista do Nobel Angus Deaton, sobre o mesmo tema.

Embora nada tenha a ver diretamente com estes dados do INE, que olham para a sociedade portuguesa como um todo, surgiram ontem várias outras notícias sobre rendimentos e salários. Nestes casos, sobre valores acima da média. Apenas dois exemplos. O Observador listava os gestores mais bem pagos em Portugal e destaca o facto de haver 14 com valores acima de um milhão de euros no último ano. O Jornal de Negócios dava conta dos vencimentos do conselho de auditoria do banco de Portugal. De valores mais modestos que os gestores de topo, é certo, mas superiores à realidade de milhões de famílias portuguesas.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro 

Não são doze como os Hércules, mas oito os ‘trabalhos’ que a MEO se compromete a fazer, perante a Autoridade da Concorrência (AdC), para poder comprar a TVI, como contaram a Anabela Campos e o João Vieira Pereira no Expresso Diário de ontem: “Os ‘remédios’ são oito e a apresentação formal dos mesmos foi entregue pela equipa de advogados da Altice Portugal na semana passada. Uma resposta ao facto de a AdC ter avançado com a operação para investigação aprofundada no passado dia 15 de fevereiro. Os concorrentes da MEO e da TVI têm até ao dia 21 de maio para comentar as propostas”

O Comandante Nacional da Proteção Civil demitiu-se ontem à noite em divergência com o Governo, segundo notícia avançada pela RTP e confirmada oficialmente pelo gabinete de Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna. António Paixão estava no cargo há apenas cinco meses e será substituído por Duarte Costa, um militar do exército.

O Movimento para o Interior já fechou as 24 medidas para dinamizar o interior que serão apresentadas ao Presidente da República e ao Primeiro-ministro dentro de duas semanas. Já agora, aproveite para recordar o texto que o Expresso publicou no último sábado sobre o tema onde vários economistas, como Augusto Mateus ou José Pedro Pontes, davam conta de várias dúvidas sobre a eficácia de algumas destas medidas.

O Presidente da República, na entrevista ao Público que hoje continua, diz que não demitirá o Governo caso haja outra tragédia com os incêndios de 2017 mas não se recandidatará.

O ano 2017 começou bem para o BCP que viu os seus lucros disparar para 85,6 milhões. Mas, feitas as contas, os bancos portugueses levam muitos anos acumulados de problemas. Segundo múmeros avançados por Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), o capital consumido pela banca entre 2008 e 2017, incluindo os instrumentos convertíveis (as CoCo´s), somou 31,5 mil milhões. O mesmo Faria de Oliveira aproveitou o encontro com jornalistas para dizer que taxas negativas no crédito são uma irracionalidade económica.

Em matéria de queixas, revela o Relatório de Supervisão Comportamental do Banco de Portugal, o ‘campeão’ é o banco CTT. O mesmo Banco de Portugal que recuperou 4000 notas dos incêndios, no valor de 115 mil euros, e que em 2017, escreveu ontem o Expresso Diário, cortou para metade o ritmo de compras de dívida pública portuguesa.

Notícias rápidas:

- o défice orçamental piorou no primeiro trimestre, segundo um relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental revelado pelo Negócios

- Carlos Silva foi ontem ouvido em Lisboa no âmbito do processo Fizz e disse que lhe pediram emprego para o ex-procurador Orlando Figueira, um dos arguidos

- a onda de demarcações e ruturas com José Sócrates continuou ontem nas páginas do Diário de Notícias. Fernanda Câncio, jornalista do diário e ex-namorada de Sócrates, deixou-lhe violentas críticas e chamou-lhe mentiroso com todas as letras

- para gáudio dos muitos portugueses que estão já de olhos postos no pontapé de saída do Mundial de Futebol, a lesão de Cristiano Ronaldo não é grave. E o craque vai de certeza estar na lista de convocados que Fernando Santos revela no dia 17 de maio

- três hospitais do Grande Porto com milhares de horas em dívida a enfermeiros

- começa hoje uma greve de três dias dos médicos, numa semana em que 44 personalidades defendem uma nova lei de bases da saúde

Manchetes dos jornais: ”Incêndios: Marcelo não se recandidata se falhar tudo outra vez” (Público); “Prédios devolutos: IMI a triplicar para mais de 8000 proprietários”(DN); “Governo muda regras e prejudica milhares de professores”(JN); “Burlão das rosas saca 270 mil a médica” (Correio da Manhã); “Operação Fizz: Justiça decide hoje se vai haver confrontação direta entre ex-vice do BCP e ex-procurador Orlando Figueira”(i); “Analistas criticam preço da oferta pelo BPI” (Jornal de Negócios); “Marta Soares quebra o silêncio”(Record); “Nápoles oferece o dobro por Patrício”(A Bola); “Diretor-geral do FCP: «Fundamental é segurar o Sérgio»”(Jogo)

Lá fora 

Vladimir Putin tomou posse para um quarto mandato que, escreve o correspondente do New York Times em Moscovo, mais parece uma coroação.

Do outro lado do Atlântico, Oliver North foi anunciado como o próximo presidente da National Rifle Association (NRA), o poderoso lóbi das armas. Para quem não sabe ou não se lembra, North foi um dos envolvidos no escândalo Irão-contra, durante a presidência Reagan nos anos 80, relacionado com a utilização de dinheiro da venda de armas ao Irão para apoiar os rebeldes na Nicarágua.

A propósito de Irão, numa altura em que estamos a horas de Donald Trump anunciar a decisão sobre o acordo nuclear, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, pede que os EUA não abandonem o acordo.

O inventor e milionário dinamarquês Peter Madsen não vai recorrer da condenação a prisão perpétua por homicídio e violação da jornalista Kim Wall. Madsen aceita o veredito de culpado daqueles crimes e apenas pretende questionar a sentençaque é rara naquele país.

O grande negócio do dia de ontem foi firmado entre a Nestlé e a Starbucks. A gigante suíça acordou pagar 7,15 mil milhões de dólares (6000 milhões de euros) pelos direitos de vender produtos da Starbucks fora dos EUA.

O presidente italiano defendeu um governo neutro para liderar o país até final do ano por considerar impossível haver uma solução política dois meses depois das eleições de 4 de março.

FRASES

“A água devia ser mais cara em algumas zonas para recuperar custos”, João Nuno Mendes, Presidente da Águas de Portugal

“Mentiu ao país, ao seu partido, aos correligionários, aos camaradas, aos amigos. E mentiu tanto e tão bem que conseguiu que muita gente séria não só acreditasse nele como o defendesse, em privado e em público, como alguém que consideravam perseguido e alvo de campanhas de notícias falsas, boatos e assassinato de caráter (que, de resto, para ajudar a mentira a ser segura e atingir profundidade, existiram mesmo)”, Fernanda Câncio, Jornalista e ex-namorada de Sócrates sobre o ex-primeiro ministro

O QUE ANDO A LER

A História é sempre útil para ajudar a compreender o presente. Mesmo um presente onde Donald Trump é presidente dos EUA. “Peddling Protectionism: Smoot-Hawley and the Great Depression” é um pequeno livro de Douglas Irwing, professor do Dartmouth College nos EUA, sobre o protecionismo comercial e, em particular, sobre um dos seus casos mais conhecidos: a legislação Smoot-Hawley de 1930.

Irwin é considerado um dos grandes especialistas em política comercial norte-americana e o seu olhar sobre os anos 30 do século XX, em plena Grande Depressão, pode ajudar a perceber as consequências da guerra comercial de Trump. Este livro não tem a dimensão do colosso “Clashing over Commerce: A History of U.S. Trade Policy", que percorre toda a história da política comercial dos EUA, mas é uma leitura fundamental nestes tempos em que o protecionismo está na moda na Casa Branca. Irwin conta como o Smoot-Hawley Act, da autoria do senador Reed Smoot e do congressista Willis C. Hawley, foi aprovado e discute qual o seu verdadeiro papel na Depressão. Não terá sido tão grave como muitos acreditam, mas também não foi inócuo. Longe disso. As importações dos EUA caíram cerca de 40% e um quarto foi resultado do Smoot-Hawley.

“Como instituição, o Congresso era enviesado a favor de direitos alfandegários elevados por causa da assimetria da influência política entre aqueles que defendem a redução das importações e os que são a favor de importações sem restrições”, escreve Irwin. Embora não partilhe da ideia, excessivamente simplista, de que o Smoot-Hawley foi a causa da Grande Depressão – até porque o PIB dos EUA já estava a perder gás antes da sua entrada em vigor – não tem dúvidas que teve consequências: “ O consenso entre os economistas é que o Smoot-Hawley não causou a Depressão. O efeito das taxas aduaneiras foi relativamente pequeno em comparação com as forças contraccionistas que funcionaram através do sistema monetário e financeiro. (…) Porque as exportações caíram mais do que as importações, o comércio como um todo tornou a Depressão pior, ainda que apenas num ligeiro grau”.

Já agora, vale a pena reler a entrevista de Douglas Irwin ao Jorge Nascimento Rodrigues nas páginas no Expresso em março (link para assinantes).

Este Curto fica por aqui. Mas continue connosco. Temos informação em tempo real no Expresso online e os principais temas do dia às 18 horas, no Expresso Diário. Tenha uma excelente terça-feira.

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