sábado, 12 de maio de 2018

ELEIÇÕES TIMOR-LESTE | AMP lidera contagem com 48% dos votos e 36,16% contados


Díli, 12 mai (Lusa) - A Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) lidera a contagem dos votos nas legislativas de hoje em Timor-Leste, com 48,2%, à frente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), com 36,16% quando estão contados um terço dos votos.

Segundo dados oficiais do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), o Partido Democrático (PD) é o terceiro mais votado com 8,39% e a Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD) o quarto, com 6,62%.

Apenas estes quatro partidos estão, para já, acima da barreira de 4% dos votos necessários para conseguir eleger deputados.

Se estes resultados das legislativas antecipadas se mantivessem, a AMP teria 33 lugares e maioria absoluta no Parlamento Nacional (menos dois do que os 35 que os partidos que a compõem controlam no atual parlamento).

A Fretilin manteria os seus 23 lugares, o PD perderia dois lugares para cinco e a FDD estrear-se-ia com quatro lugares.

Os dados parciais são os únicos oficiais divulgados até às 00:00 hora local (16:00 em Lisboa), nove horas depois do fecho das urnas em Timor-Leste, não estando a contagem ainda fechada em qualquer dos municípios.

O STAE divulgou ainda os primeiros dados finais da votação na diáspora, em concreto os referentes aos três centros da Austrália - Darwin, Melbourne e Sydney - onde a Fretilin obteve o maior número de votos (441), à frente da AMP (314 votos).

No caso de Seul, na Coreia do Sul, a AMP venceu as eleições, obtendo 199 votos (54,82%), à frente da Fretilin que se ficou pelos 116 votos (31,96%).

O processo de contagem oficial é particularmente demorado já que obriga a vários passos de verificação.

Em contrapartida as redes sociais timorenses estão com contagens parciais mais avançadas, recorrendo a contagens dos fiscais dos partidos.

Ainda assim os valores difundidos pelos partidos não alteram a tendência de liderança da AMP.

ASP // HB

PORTUGAL | Hipocrisia orçamental


Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

Os escritos avivam a memória. Têm esse efeito extraordinário de nos tirar dos labirintos da ilusão. Do nevoeiro dos dias. E as datas que abaixo se enumeram são demolidoras. Para a forma como um país trata os seus velhos, os seus novos, as suas crianças. Estas têm cancro.

10 de abril. A história já tinha sido denunciada. Mas faltavam os testemunhos. As imagens. É o que o JN faz. Há crianças com cancro tratadas nos corredores do Hospital de S. João, corredores entupidos, lixo à porta dos elevadores. Toda a gente sabe, mas ninguém faz nada. "Condições miseráveis", diz o presidente do Hospital de S. João, que avança ter 22 milhões para a ala pediátrica, mas não os pode usar. Bloqueio das Finanças.

12 de abril. As Finanças, pela voz do ministro Mário Centeno, garantem que a obra na pediatria do S. João vai avançar. Faltam as datas. Que o ministro da Saúde haverá de pôr em cima da mesa cinco dias depois.

17 de abril. Adalberto Campos Fernandes, o ministro da Saúde, diz que a situação é "inaceitável" e que "não há mais tempo nem mais conversa que não seja autorizar a obra, lançar o procedimento e executá-lo no mais curto espaço de tempo". Em 15 dias, garantiu.

4 de maio. Passou quase um mês. Lembram-se? Há crianças com cancro a serem tratadas nos corredores. O lixo continua a acumular-se em frente aos elevadores. As janelas estão despidas de cortinas e de afetos. No dia seguinte, o Conselho de Administração do Hospital S. João vem dizer que tem feito melhorias que permitem aumentar o conforto de crianças e família, e afirma que haverá novas instalações no final de junho.

11 de maio. Conta o JN. Desmente Mário Centeno. Conta com base em fontes. Citando quem quis ser citado. A história diz que as Finanças estão a negociar alterações nos serviços de pediatria no Norte sem a presença tutelar do Ministério da Saúde. E que, nas últimas semanas, administradores de hospitais do Porto foram chamados para justamente responderem a questões sobre os serviços de pediatria.

Não é politiquice. Nem zanga de comadres. Nem a régua que mede o poder de cada um. É um país gerido até ao limite da hipocrisia orçamental. Enquanto há crianças com cancro a serem tratadas no corredor.

P.S. A descentralização está também na atitude. A Região Norte está a bater o pé às intenções do Governo de decidir o que fazer com o que resta dos fundos comunitários do Portugal 2020 sem ouvir os autarcas. Os municípios rejeitam. Numa posição unânime e inédita. É que, se não for assim, qualquer dia estaria o poder central a nomear os presidentes das câmaras.

*Diretor-executivo

Portugal | Catarina Martins espera que Orçamento vá "mais além" do acordado em 2015


A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, disse, este sábado, esperar que o próximo Orçamento do Estado cumpra o acordado em 2015 e "que vá mais além, aproveitando o crescimento económico para responder a quem mais precisa".

Em declarações aos jornalistas à margem da conferência sobre "O envelhecimento em Portugal e a sociedade portuguesa no futuro", promovida pelo Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, em Ílhavo, Catarina Martins garantiu que "não há este ano nenhuma novidade em relação aos anos anteriores" e que o BE fará "como tem feito todos os anos, uma negociação setor a setor" do Orçamento do Estado para 2019.

Uma negociação que, disse, "é sempre complicada e tem sempre as suas dificuldades, para recuperar rendimentos do trabalho, salários e pensões, combater as desigualdades".
Segundo a líder do BE, o acordo firmado em 2015 "está escrito e tem medidas" e algumas "têm de ser implementadas no último Orçamento do Estado.

"Nós temos um caderno de encargos claro sobre várias medidas e estamos à espera que neste Orçamento do Estado se dê resposta a elas. O que assinámos em 2015 tem de ser cumprido. Para além disso, que ninguém põe em causa, temos feito todos os anos uma negociação para perceber onde é que se pode ir mais longe do que o acordado", afirmou.

A líder do Bloco salientou ainda que "o país não ficou parado e há outras questões a que é preciso responder" e que, com a economia a crescer, "há hoje disponibilidade para responder melhor a problemas que o país tem, onde 2,4 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza".

"Temos divergências que já eram conhecidas. O PS, BE e PCP têm posições diferentes sobre várias matérias, mas assinámos acordos que têm a base da negociação dos orçamentos do Estado a cada ano e é isso que temos feito. Este ano estamos para negociar o Orçamento, um trabalho que é difícil, mas que terá de ter a mesma disponibilidade dos anos anteriores dos vários partidos e do governo para ser possível", concluiu.

Jornal de Notícias | Foto: Paulo Novais/Lusa

PORTUGAL | PCP não assinará "de cruz" Orçamento do Estado para 2019


Jerónimo de Sousa garante que não há nenhuma maioria parlamentar nem nenhum acordo que garanta a aprovação do documento.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou hoje que o partido não assinará "de cruz" o Orçamento do Estado para 2019 e sublinhou que não há nenhuma maioria parlamentar nem nenhum acordo que garanta a aprovação do documento.

"A proposta [de Orçamento do Estado] é da responsabilidade do Governo minoritário do PS. Não há nenhuma maioria parlamentar nem nenhum acordo que garanta em abstrato a sua aprovação", referiu.

Falando em Viana do Castelo, durante uma assembleia da organização distrital do PCP, Jerónimo de Sousa adiantou que o partido não assinará "de cruz" o Orçamento.

"O PCP não desperdiçará nenhuma oportunidade para fazer avançar direitos e salários, é isso que temos feito. Mas não peçam ao PCP para assinar de cruz seja o que for", avisou.

Disse que o PCP "honrará a palavra dada", mas não está disponível para dar "uma palavra no escuro".

"Não podem pedir 'assinem lá de cruz' que depois a gente logo vê", sublinhou.

Jerónimo de Sousa reagia à entrevista do líder do PS, hoje publicada no DN, em que António Costa admite que sem Orçamento para 2019 a queda do Governo "é inevitável".
O secretário-geral do PCP criticou estas referências ao orçamento para 2019 numa altura em que ainda se está "a meses" de se conhecer a proposta, críticas que estendeu ao Presidente da República.

"Há poucos dias, ouvimos o Presidente da República pronunciar-se pela viabilização do Orçamento com um determinismo que surpreende. Segundo o seu raciocínio, o que importa é que ele seja aprovado, não interessa como, nem com que conteúdo nem que ele não exista", referiu o líder do PCP.

Lusa | em TSF | Foto: Mário Cruz/Lusa

CAMPEÃO 2017/18 | FC Porto cumpre último objetivo da época – 88 pontos


Dragões atingem 88 pontos em 34 jornadas, igualando o recorde do Benfica

O FC Porto venceu este sábado o Vitória de Guimarães, no Estádio D. Afonso Henriques por 0-1. O resultado permite a equipa de Sérgio Conceição alcançar 88 pontos, igualando um recorde que pertencia ao Benfica.

O defesa Marcano marcou o único golo da partida, na sequência de um cabeceamento na grande área aos 69 minutos.

Mas a partida foi bastante equilibrada, sobretudo na primeira parte. A equipa da cidade berço até teve a primeira grande oportunidade do jogo. À passagem do primeiro quarto de hora, Rafael Martins isolado falha por pouco o golo. Aos 38 minutos, foi a vez de Wakaso desperdiçar com apenas o guardião Vaná pela frente.

A partir daí, os campeões nacionais aumentaram a pressão. Ainda antes do intervalo, Gonçalo Paciência que foi titular, num gesto à ponta-de-lança remata por cima.

As equipas foram para o intervalo empatadas a zero.

A segunda parte começa com uma oportunidade para os portistas, com o vimaranense Miguel a defender um remate intenso de Maxi Pereira, aos 51 minutos. Três minutos depois, um cruzamento de Alex Telles encontra a cabeça de Herrera, que fica a centímetros do golo.

Foi logo depois que Marcano inaugura o marcador. O defesa espanhol aplica um golpe de cabeça, na sequência de um cruzamento de Alex Telles

Este foi o principal lance de um jogo onde o FC Porto quis cumprir o último objetivo da época: alcançar os 88 pontos. Assim, os dragões sob comando de Sérgio Conceição igualam o recorde de pontos em 34 jornadas, que pertencia ao Benfica.

A TSF vai acompanhar a festa portista nos Aliados, com início marcado para as 21 horas.

Guilherme de Sousa | TSF | Foto: Fábio Poço/Global Imagens

Macron: o “mito” desmascara-se e derrete


Na França, até o velho jornalismo já zomba do presidente que dizia ser “apolítico”. Crescem as greves e a esquerda autêntica. Mas ainda falta muito para romper consenso conservador

Eduardo Febbro, no Página|12 | Tradução: IHU | em Outras Palavras

O humor com o qual o matutino Libération celebra o primeiro ano da presidência de Emmanuel Macron é um espelho do que todas as pesquisas de opinião refletem: “A direita tem, por fim, seu presidente”. O homem que em um momento disse “sou socialista” (2014) e que depois postulou à presidência com uma proposta “nem de esquerda, nem de direita” ou “ao mesmo tempo”, seja “de esquerda e de direita”, se afirmou como um dirigente percebido como de direita. O ritmo acelerado das reformas e seu corte liberal lhe valeram o qualificativo de “presidente dos ricos”, ao qual se acrescentou a outra sentença pronunciada pelo ex-presidente François Hollande, de quem Macron foi ministro de Finanças: “o presidente dos muito ricos”.

Tudo muito paradoxal nesta história política. Primeiro porque o próprio Macron é uma criação dos socialistas, depois porque seu “ao mesmo tempo” não resistiu ao exame da realidade. Uma pesquisa realizada pelo Cevipof (Centro de Pesquisas políticas da Universidade de Ciências políticas), junto à consultora Ipsos-Sopra Steria e Le Monde, oferece uma densa radiografia sobre o mandatário: 70% o veem como um “presidente de direita”, 55% dos franceses sentem que estes 365 dias de mandato foram “negativos”, ao passo que 45% o julgam positivo. Todos os indicadores o retratam como um Chefe do Estado pouco social.

Segundo a mesma pesquisa, 78% dos entrevistados opinam que naquilo que diz respeito à diminuição das desigualdades e o poder aquisitivo, a política do Executivo vai na direção incorreta. O qualificativo de “presidente dos ricos” também fica refletido na opinião majoritária: 76% estimam que sua política “beneficia as classes mais acomodadas”.

Ao longo deste ano transcorrido, o macronismo executou uma sinfonia de reformas de caráter pouco social: retocou o imposto aplicado às grandes fortunas (ISF) e, entre outras modificações, deixou fora dos gravames as ações da bolsa, recalculou e rebaixou o imposto dos lucros do capital, suprimiu um imposto pago pelas fortunas que se instalavam no estrangeiro, instaurado por Nicolas Sarkozy, em 2011, para lutar contra a evasão fiscal (a exit tax), diminuiu várias ajudas sociais, aumentou o imposto aos aposentados, flexibilizou, mediante decretos, o mercado de trabalho (com isso aprofundou a reforma da lei trabalhista realizada por François Hollande), reforçou os poderes do Ministério do Interior em detrimento do Judiciário, lançou uma reforma da Companhia Nacional de Ferrovias (SCNF), que acarretou em greves, modificou o funcionamento das universidades e fortificou a política migratória da França.

Tudo isto sem consentir na mínima negociação com os sindicatos. “O hemisfério esquerdo do presidente ainda dorme: somente o outro funciona plenamente”, escreve o semanário Le Nouvel Observateur. Para muitos analistas, a ação do presidente não é senão a exata aplicação do programa do Medef, o organismo que reúne o patronato francês. Com um presidente “nem de esquerda, nem de direita”, seus sonhos se tornaram realidade: cortaram as cargas sociais, facilitaram as demissões, empreendeu-se uma cruzada contra o déficit orçamentário, iniciou-se uma cura de emagrecimento dos funcionários do setor público e, globalmente, se desenhou uma política para fazer da França um refúgio atrativo para os capitais. O prêmio veio da revista Forbes. Em sua primeira página, com uma foto de Macron com pose de feliz ganhador da loteria, a Forbes intitulou: Leader of the Free Markets (Líder dos Mercados Livres). O macronismo tem irmandades evidentes com o macrismo na Argentina. Conforme o escreve o portal Mediapart: “o governo instalado por Emmanuel Macron encarna o caráter poroso entre as grandes esferas do Estado e os interesses dos grupos privados”.

O maior êxito da retórica “nem de esquerda, nem de direita”, que se traduz pela simpática definição de “extremo centro”, radica em que Emmanuel Macron aspirou quase tudo o que estava na direita e também na chamada “esquerda de governo”, entenda-se como a socialdemocracia do Partido Socialista. O PS busca a si mesmo entre um montão de espelhos fragmentados e a parte da direita moderada, que antes votava pelo partido do ex-presidente Nicolás Sarkozy, os Republicanos, não restou outro remédio a não ser ir disputar o território com a também convulsionada extrema-direita da Frente Nacional. Em boa medida, seus eleitores se ampararam sob o guarda-sol macronista e o mesmo fizeram os socialistas. Com o qual Macron reina no espaço do “ao mesmo tempo”, ou seja, pela antiga esquerda e direita de governo.

Esta configuração deixou no cenário a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon como principal frente opositora (França Insubmissa). Essa esquerda radical não conta, no momento, com a possibilidade de se tornar uma força de governo. Mélenchon mobilizou muita gente na rua contra a reforma trabalhista, por exemplo, sem ter sido capaz de fazer o Executivo cambalear. Emmanuel Macron acabou encarnando, um ano depois, uma espécie de direita liberal de corte autoritário. A decomposição do socialismo e dos conservadores dos republicanos facilitaram seu passeio anual como presidente.

Estes dois eixos opositores só lhe fazem cócegas. Macron foi um camaleão implacável. Realiza seu grande projeto eleitoral que consiste em “reformar a fundo” a França, sem se preocupar pela condição estrutural que, antes, dava tantas dores de cabeça a seus predecessores: a negociação com os atores sociais. A greve dos ferroviários persiste (está em seu segundo mês), muitas universidades continuam ocupadas, os aposentados denunciam o sacrifício de seu poder aquisitivo e, dias atrás, o presidente do grupo Air France renunciou porque foi incapaz de colocar fim à greve da companhia.

Emmanuel Macron encaminhou a negociação em grande parte por conta da fraqueza dos opositores tradicionais e da perda de eficácia do movimento sindical. Na realidade, seus adversários tradicionais se destruíram antes de poder enfrentá-lo. O PS se decompôs muito antes da eleição presidencial e a direita viveu um martírio semelhante. Só a esquerda radical prospera, embora, no momento, ainda não consiga ir além de seus territórios cativos. Os analistas franceses acordaram recentemente da letargia. Durante muitos meses, perguntaram-se o que era exatamente o macronismo. Não há mais mistério. É um habilidoso sedutor que irrompeu em um castelo para o pintar secretamente com as cores do mobiliário liberal.

O golpe de Trump ao acordo do Irão expõe o banditismo dos EUA


Strategic Culture Foundation

A decisão do presidente Donald Trump de romper o acordo nuclear internacional com o Irão foi destinada a isolar Teerão.

Mas de uma só tacada ele fez o oposto. Os Estados Unidos são vistos como uma potência global em que não se pode confiar, que não pode ser tolerada mais tempo. Na verdade, uma tirania desestabilizadora que dispõe o mundo para a guerra. Em suma, um bandido global.

Ironicamente, a retirada de Trump do acordo está a fazer dos EUA uma autoridade isolada e diminuída. Uma fraude cujas pretensões de liderança global nada são excepto uma vigarice para adiar a inevitável emergência de um mundo multipolar. Quanto mais cedo emergir uma ordem mundial mais democrática da tirania hegemónica dos EUA mais cedo virá a paz mundial.

Houve repúdio quase unânime à decisão de Trump de explodir o acordo de 2015 negociado internacionalmente. O Irão, a União Europeia, a Rússia, a China e as Nações Unidas clamaram todos para que o Joint Comprehensive Plan of Action fosse honrado.

A caricatura de Trump do JCPOS como um fracasso está em contraste gritante com o resto do mundo. O acordo nuclear com o Irão é encarado como um grande feito do multilateralismo e da diplomacia.

Em troca da restrição ao seu programa de armas nucleares, o mundo concordou em levantar décadas de sanções impostas ao Irão. Todos os relatórios do observador nuclear da ONU, a Agência Internacional de Energia Atómica, indicam que o Irão está a cumprir plenamente a sua parte do acordo para restringir o armamento nuclear.

As bombásticas e ridículos afirmações de Trump de que o Irão está secretamente a violar o JCPOA não resistem ao escrutínio. Só Israel, a qual é um estado pária com armas nucleares, e a Arábia Saudita, parecem concordar com a administração Trump. Todas as outras partes do acordo contestam categoricamente aquela afirmação. O JCPOA estava a funcionar perfeitamente bem em termos de o Irão aderir às restrições sobre o desenvolvimento de armas nucleares.

A parte do JCPOA que não estava a funcionar era devida ao facto de os EUA continuarem a impor sanções sobre o Irão e, à força de ameaças tácitas, entravar as outras potências mundiais na implementação de sanções de alívio ao Irão. A Rússia e a China estenderam relações comerciais com o Irão desde a assinatura do JCPOA, em Julho de 2015, mas os pretendidos laços comerciais da União Europeia com o Irão foram até agora entravados pelas ambíguas e pérfidas relações dos EUA com Teerão.

O resultado líquido é que o acordo internacional até agora falhou em provocar a plena normalização de relações com o Irão devido às ameaças latentes dos EUA de impor outra vez sanções a Teerão e a qualquer outra nação que faça negócios com aquele país.

Trump agora trouxe à superfície aquelas ameaças latentes. A retirada esta semana do acordo nuclear foi acompanhada por advertências de Washington de que serão impostas sanções secundárias a nações europeias e outras se estas continuarem a realizar acordos legítimos de investimento com o Irão.

Os sinais intimidatórios da administração Trump abalaram em particular os supostos aliados europeus. Advertências de Washington de que companhias europeias devem por fim a planos de investimento com o Irão são encaradas como intimidação inaceitável.

As repercussões da violação unilateral por Trump de um tratado acordado internacionalmente são altamente perigosas no curto prazo. Agora mesmo, após a decisão de sair do acordo viu-se uma intensificação de ataques aéreos israelenses à Síria e a forças aliadas iranianas naquele país. Trump está a pressionar o volátil Médio Oriente a uma guerra total.

Mas um resultado indirecto positivo é que potências europeias estão a ser confrontadas com uma escolha crucial. Seguirão elas o impetuoso presidente dos EUA e o seu antagonismo irracional e temerário em relação ao Irão, ou decidirão que já basta?

A chamada política do America First de Trump mostrou que os aliados europeus e os seus interesses são, francamente, nulidades nos seus cálculos. Quer nas suas decisões sobre comércio, sobre acordo climático de Paris ou a política do Médio Oriente, o presidente americano mostra apenas desprezo pelo multilateralismo.

Os líderes europeus estão a dizer que o acordo nuclear do Irão deve ser obedecido. Naturalmente, eles têm enormes interesses comerciais em que o acordo seja mantido.

Trump não está a isolar o Irão. Através do seu temerário e ignorante desrespeito pelo multilateralismo, Trump está a minar a posição americana no mundo.

A ironia é que Trump rasga um acordo nuclear em funcionamento com o Irão enquanto também mostra buscar um acordo de desnuclearização com a Coreia do Norte. Ninguém pode tomar a palavra de Washington como tendo algum valor depois disso. O vandalismo de Trump do acordo do Irão é irracional.

A arrogante rejeição de Washington dos parceiros europeus em relação ao JCPOA pode ter um benefício inesperado. Já é tempo de a União Europeia questionar toda a assim chamada "parceria trans-Atlântica" com os EUA. Este relacionamento não trouxe nada excepto perturbações económicas e de segurança para a Europa com as guerras conduzidas pelos EUA no Médio Oriente e a hostilidade em relação ao parceiro natural da Europa, a Rússia.

O mundo está fundamentalmente a comutar da ordem conduzida pelos EUA que vigorava desde a Segunda Guerra Mundial. A mudança para um mundo multipolar está a caminho com a ascensão da China, Rússia e Eurásia e fontes alternativas de poder económico, político e cultural.

O comportamento temerário e repreensível dos EUA quanto ao direito internacional, ao multilateralismo e à diplomacia – todos os quais projectam-se na Rússia, China e outros – é, ou deveria ser, um momento divisor de águas para o mundo todo reconhecer que tal conduta perigosa é intolerável e inaceitável.

Ou há um acordo multilateral ou não há. Ou há um mundo multilateral tal como imaginado por nações democráticas, ou há uma brutal hegemonia de ambições unipolares. Esta última alternativa não é a do cumprimento de leis. Ela está baseada no princípio brutal da "lei do mais forte". O mundo não pode permitir uma tal hegemonia pelo bem da paz e da sobrevivência.

O comportamento banditesco de Trump em relação ao acordo nuclear multilateral, tal como com muitos outros acordos internacionais, é um momento da verdade para outras nações. Aceitarão estas em última análise a atitude belicista ou erguer-se-ão para abraçar o mundo multipolar que acena, o único caminho correcto para o mundo evoluir?

As potências europeias em particular enfrentam um momento da verdade. 

11/Maio/2018

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... 

Este editorial encontra-se em http://resistir.info/ 

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