quarta-feira, 20 de junho de 2018

Ainda se encarceram crianças, no século 21? (com vídeo)


Política anti-imigrantes dos EUA vai muito além. Em um ano, 38 mil foram presos, por serem estrangeiros. Um milhão de outros podem ser deportados. Crianças aprisionadas podem nunca mais encontrar os pais

Amanda Holpuch*, no The Guardian  | Outras Palavars | Tradução: Mauro Lopes

Um mês antes de Donald Trump promulgar uma política que permite a seu governo tirar milhares de crianças migrantes de seus pais, o presidente disse duas vezes a multidões, em seus comícios, que membros de gangues de imigrantes não eram pessoas. “Eles são animais”, afirmou em maio. No último fim de semana, surgiram vídeos e fotos  dos centros de detenção, semelhantes a gaiolas, onde crianças, separadas de seus pais, estão abrigadas.

O comentário de Trump foi dirigido a membros violentos da gangue MS-13 [uma gangue formada sobretudo por migrantes de origem salvadorenha Mara Salvatrucha’, uma combinação das palavras Mara (“gangue”), Salva (“Salvador”) e trucha (“malandros da rua”)]. Trump rejeitou a idéia de que estivesse falando sobre todos os imigrantes. Hoje, no entanto, na medida em que surgem críticas sobre um conjunto draconiano de políticas de imigração,ativistas e advogados especulam sobre até que ponto o presidente dos EUA e sua equipe estão dispostos a ir para impedir a entrada de imigrantes no país.

O exemplo mais extremo desta política é a prática da separação familiar, com mais de 1.600 crianças tiradas dos pais. Ativistas dizem que a prática ocorreu discretamente por meses, antes de o governo adotá-la como política em abril. “Isso vai totalmente contra o espírito com que este país foi fundado”, disse Janet Gwilym, uma advogada que representa crianças no estado de Washington. “Temos a responsabilidade moral de aceitá-los. É lei internacional aceitar refugiados; é o que são essas pessoas e, em vez disso, estamos apenas aumentando o trauma pelo qual elas estão passando. ”

Gwilym, diretora da filial de Seattle da Kids in Need of Defense – Kind [Crianças que Precisam de Defesa], um grupo de defesa de crianças imigrantes desacompanhadas dos pais, disse que crianças de 12 a 17 anos que estão no centros de detenção consolam crianças que, como elas, acabam de ser tiradas de seus pais.

Ela afirmou ainda que as crianças denunciam que as autoridades de imigração lhes dizem que elas vão ver seus pais novamente em poucos minutos, mas que ela ficam sem vê-los por meses.

Mesmo diante da generalizada condenação bipartidária [democrata e republicana] e das advertências de organizações médicas sobre as consequências de longo prazo que essas separações têm sobre as crianças, Trump e seu gabinete permaneceram firmes. “Os Estados Unidos não serão um campo de migrantes e não terão instalações com benefícios para refugiados. Não seremos”, disse Trump em um encontro com a imprensa na Casa Branca nesta segunda-feira (18).

Essa defesa estridente de Trump acontece na medida em que se aproximam as eleições de novembro e dois anos depois da tentativa fracassada do presidente norte-americano de cumprir sua promessa de campanha de expandir o muro fronteiriço entre o México e os Estados Unidos.

O Congresso não concedeu verbas a Trump para edificar novos trechos da muralha na fronteira, mas nesse ínterim, seu governo criou um muro invisível de políticas que os ativistas e advogados dizem que devem conter todos os tipos de imigração. A separação das crianças de seus pais é apenas a mais dramática de muitas medidas tomadas pela Casa Branca para combater a imigração ilegal nos Estados Unidos.

As pessoas afetadas por essas medidas incluem refugiados e adultos e crianças sem o green card, que também foram alvo de uma série de ações, como o cancelamento de um programa de refugiados para crianças que viajam de países perigosos do norte da América Central até os EUA.

Há histórias diárias de pessoas sem visto, mas residentes nos Estados Unidos há décadas e com filhos nascidos no país, sendo localizadas em seus locais de trabalho e forçadas a voltar para seus países de origem. Quando se trata de população sem visto que vive nos EUA, aos olhos da governo parece não haver mais nenhuma distinção entre criminosos violentos e pessoas que vivem discretamente há décadas, sem status legal. De outubro de 2016 a setembro de 2017, o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA prendeu cerca de 38 mil pessoas que não tinham condenações criminais – um aumento de 146% em relação ao ano anterior.

Da mesma forma que aplica a política de separação de famílias, o governo cancelou abruptamente um programa que fornecia suporte temporário para imigrantes sem documentação, conhecido como Dreamers (Sonhadores). Após o encerramento do Dreamers e de um programa do governo de socorro aos migrantes, chamado de Status Temporário de Proteção destinado a pessoas de seis países, 1.038.600 pessoas não estão mais protegidas da deportação, segundo dados do próprio governo.

A repressão política avançou em muitas frentes, mas a virada mais extraordinária ocorreu em abril, quando o governo Trump possibilitou a separação familiar, dizendo que haveria “tolerância zero” para as pessoas que cruzam a fronteira ilegalmente. Na fronteira, esses pais são considerados criminosos e separados de seus filhos, que não podem ser mantidos em centros de detenção para adultos.

A posição do governo, que inclui culpar os opositores do Partido Democrata e defender a separação das famílias com base em supostos motivos bíblicos, ignora os alertas das principais organizações de saúde e bem-estar infantil do país, incluindo a Associação Americana de Pediatria.

Os pais também estão sofrendo com a separação, disse Lee Gelernt, vice-diretor do Projeto de Direitos dos Imigrantes da ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis). Gelernt entrou com uma ação coletiva em março contra a prática de separação familiar do governo Trump, após se encontrar com uma mulher congolesa que não via sua filha de sete anos havia quatro meses. Ela e sua filha foram reunidas depois que Gelernt entrou com uma ação legal em seu nome. “Essa é uma política de imigração chocante, a que vemos no governo Trump;  francamente, venho fazendo esse trabalho há quase três décadas, e essa é a política de imigração mais terrível que já vi”, disse Gelernt.

Gelernt afirmou ainda que os pais detidos com quem ele fala têm medo de perguntar demais aos agentes de imigração sobre seus filhos, por receio de suas crianças sofrerem retaliação. O líder da ACLU relatou que uma família disse a ele que desde que eles se reencontraram, o filho de quatro anos pergunta repetidamente se o governo vai tirá-lo do covívio familiar novamente.

Os processos legais por iniciativa ACLU buscam reunir as famílias que foram separadas e impedir que outras famílias sejam separadas no futuro. Conforme os casos caminham nos tribunais, os impactos da separação das famílias são agravados pela falta de uma infraestrutura mínima para apoiar a política de Trump. O governo tem um sistema tão caótico que os defensores dos filhos estão fazendo buscas desesperadas para localizar os pais.

“O que estamos descobrindo é que não há nenhum mecanismo, nenhuma política para comunicar ou mesmo encontrar os pais enquanto a criança estiver separada”, disse Megan McKenna, diretora sênior de comunicações e mobilização da Kind. Ela afirma que quando os pais e filhos foram separados, cada um deles recebeu o número de seu processo individual ao qual sua mãe, pai, filha ou filho não tiveram acesso. Imaginando que esses números fossem sequenciais, os defensores da Kind começaram a procurar no sistema de rastreamento de casos, na esperança de que isso os levasse aos pais que eles estavam procurando.

“É como um jogo: talvez o número da criança termine em cinco, então o número do adulto pode terminar em seis”, disse Megan. “Você coloca isso no sistema e vê se dá certo. Mas poderia ser o contrário.  Ou tenta outra lógica”. Essa tática funcionou em alguns casos, mas não em número suficiente para ser uma solução. Ela disse que outros problemas incluem o fato de as crianças em muitos casos não saberem por que sua familia estava fugindo, o que poderia afetar o resultado de seu caso de imigração.

Outro desafio é o fato de os advogados não saberem o que pais separados das crianças querem para seus filhos. Por exemplo, se um pai ou mãe é deportado, ele pode querer que seu filho seja devolvido ao país de origem com ele. Ou pode haver tanto perigo em seu país de origem que eles prefeririam que a criança ficasse com autoridades de imigração nos EUA. E mesmo que as preferências dos pais fossem conhecidas, não há um procedimento claro para reunir os pais, especialmente se um deles já tiver sido deportado.

Megan disse que a Kind estava defendendo uma criança de dois anos que foi separada de seu pai em março último. O pai foi deportado em abril, mas até 12 de junho a menina ainda estava sob a custódia do governo dos EUA.

“As conseqüências em termos de sofrimento humano não podem ser subestimadas”, disse Megan. “As crianças estão sendo tirados de seus pais.”

*Amanda Holpuch - Repórter do The Guardian sediada em Nova York

EUA | País rico, população pobre


Sendo a maior economia do mundo, os EUA tem um dos níveis de pobreza e desigualdade mais elevados entre os países da OCDE, mas mais de um quarto dos 2208 bilionários do mundo.

André Levy | AbrilAbril | opinião

O relator especial das Nações Unidas Philip Alston irá apresentar ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, a 21 de Junho, um relatório sobre a situação de pobreza extrema e direitos humanos nos EUA.

Nele descreve um país de enormes disparidades, onde numa das sociedades mais ricas do mundo existem 40 milhões de pessoas abaixo do limiar de pobreza 1, incluindo 18,5 milhões em pobreza extrema e 5,3 milhões em «condições de pobreza absoluta de Terceiro Mundo». 
Sendo a maior economia do mundo, os EUA tem um dos níveis de pobreza e desigualdade mais elevados entre os países da OCDE, mas mais de um quarto dos 2208 bilionários do mundo.

Segundo um relatório do Centro sobre Pobreza e Desigualdade da Universidade de Stanford, entre dez dos países ocidentais mais ricos do mundo, situa-se em último em termos de redes de segurança e desigualdade de rendimento e riqueza. Os EUA tem também uma das menores taxas de mobilidade social intergeracional entre países ricos, um contraste marcante face à promessa do Sonho Americano. 

Quase uma em cada três famílias trabalhadoras têm dificuldades em aceder às necessidades básicas. O número de trabalhadores que precisam de subsídio para comprar comida tem vindo a subir, de 20% em 1989 para 32% em 2015. A situação nacional é espelhada na Walmart, cadeia de hipermercados e a número um na Fortune Global 500, a maior empresa mundial em termos de rendimento: muitos dos seus trabalhadores precisam de assistência alimentar mesmo trabalhando a tempo inteiro.

Refira-se ainda que esta companhia, a maior empregadora privada nos EUA e no mundo (com um total de 2,3 milhões de trabalhadores), foi também das judicialmente obrigadas a pagar mais dinheiro aos seus trabalhadores após roubo de salários e outros atropelos laborais: desde 2000, um total de 1,4 mil milhões de dólares. 

Um relatório da Reserva Federal dos EUA, publicado no início de Junho, indica que mais de um quinto das famílias nos EUA não consegue pagar todas as suas despesas mensais; que um quarto das famílias não procura cuidados médicos por não os poder pagar; e que 40% não seria capaz de enfrentar uma despesa inesperada de 400 dólares.

Isto é, milhões de famílias não conseguem poupar. Enquanto 40% têm rendimentos familiares abaixo dos 40 mil dólares anuais, metade dos CEO das maiores empresas ganham mais do que isso por dia.

Enquantos os salários executivos têm crescido celestialmente, a valor real do salário mínimo federal (7,25 dólares por hora), ajustado para a inflação, é 67% do seu valor máximo em 1968.

Uma das lutas laborais nos EUA tem sido precisamente a subida deste salário mínimo para 15 dólares/hora, e discute-se a ideia de um salário máximo. Refira-se ainda, embora representem metade da força de trabalho, as mulheres correspondem a dois terços dos trabalhadores a receber salário mínimo.

A situação de pobreza é particularmente grave entre as crianças, com um número crescente de pais solteiros a auferir baixos salários: entre 1995 e 2012, houve um aumento de 748% [sic] no número de crianças de mães solteiras a viver com menos de 2 dólares por dia.

Em 2016, 18% das crianças nos EUA viviam na pobreza. Destas, 36% eram hispânicas, 31% brancas e 24% negras. Em 2017, 21% dos sem-abrigo era crianças. A taxa de mortalidade infantil (5,8 mortes em cada mil nascimentos) é quase 50% acima da média da OCDE (3.9).

O relatório de Alston refere-se também as limitações dos direitos políticos, mencionado as elevadas taxas de abstenção (cerca de 45% nas eleições presidenciais de 2016), o acesso privilegiado dos mais ricos a lugares de representação política, mas também o elevado número de pessoas que nem estão registadas como eleitores (apenas 64% da população está registada).

Sublinha ainda como mais de 6,1 milhões de ex-presidiários que não podem votar, uma subida tremenda nos potenciais eleitores excluídos por condenação criminal face aos 1,2 milhões em 1976, atingindo em particular os negros (1 em 13), por contraste com os não-negros (1 em 56).

Note-se ainda que os EUA tem a maior taxa de encarceramento prisional do mundo. Aliás, 31 dos 50 estados tem taxas de encarceramento mais elevadas que qualquer outro país do mundo.

Os EUA lidera ainda na dimensão da sua população prisional feminina: com apenas 4% das mulheres mundialmente, possui cerca de 30% da população feminina encarcerada no mundo. O relatório fala no sistema judicial como efectivamente um sistema que reforça o ciclo de pobreza, enquanto gera rendimento para financiar o próprio sistema (e as associadas economias das prisões e fianças sistema prisional).

E refere-se à criminalização da pobreza: «a punição e encarceramento dos pobres é uma resposta distintamente americana à pobreza no século XXI. Os trabalhadores que não podem pagar as suas dívidas, os que não podem aceder a serviços privados de liberdade condicional, as minorias alvejadas por violações de tráfico, os sem-abrigo, doentes mentais, mais que não podem pagar abono familiar e muitos outros são encarcerados. Encarceramento massivo é usado para tornar os problemas sociais temporariamente invisíveis e criar a miragem de que algo foi feito.»

Embora a presente situação, descrita no relatório, seja fruto de um processo que antecedeu a actual administração Trump, este não deixa de assinalar o corte fiscal de 1,7 biliões de dólares (de Dezembro de 2017), «beneficiando os ricos e agravando a desigualdade», e sublinhar que «as políticas seguidas no último ano parecem deliberadamente desenhadas para retirar protecções básicas aos mais pobres, punir os sem emprego e mesmo tornar os cuidados médicos mais básicos um privilégio a ser ganho em vez de um direito».

O relatório certamente cairá sobre ouvidos moucos na Casa Branca. Afinal, a Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Nikki Haley, tem sido uma grande  crítica do Conselho de Direitos Humanos das NU. Em Junho de 2017, Haley chegou mesmo a ameaçar retirar os EUA de novo do Conselho, caso não fosse retirada da agenda a persistente condenação de Israel. 

1 - Os EUA têm uma população estimada de 325 milhões (2017), o terceiro país mais populoso do mundo após a China e Índia.

Foto: Newsweek

Duas mil crianças separadas dos pais à entrada nos EUA em apenas seis meses


"Tolerância Zero" da Administração Trump em relação à imigração ilegal tem consequências dramáticas: neste momento há 11 mil menores estrangeiros em lares americanos.

Quase duas mil crianças foram separadas das suas famílias na fronteira dos Estados Unidos com o México num período de seis semanas (de 19 de abril a 31 de maio) devido à política de endurecimento do combate à entrada ilegal no país.

Os números foram fornecidos pelo Departamento de Segurança Nacional à agência Associated Press (AP) e mostram que entre 1 de outubro de 2017 e 31 de maio de 2018 pelo menos 2700 crianças foram separadas dos pais à entrada nos EUA. Nas últimas seis semanas desse período, 1995 crianças foram separadas de 1940 adultos - e isto só contando os casos em que os adultos foram enviados para a prisão (existem também separações nos postos de entrada legal nos EUA).

Isto significa que, em média, 48 crianças por dia foram afastadas das suas famílias e enviadas para lares de acolhimento ou mesmo centros de detenção. Os adultos foram detidos - devido a possível conduta criminosa ou ilegalidades no processo de imigração - e as crianças entregues à custódia das autoridades. A idade das crianças não foi tida em conta.

Alguns especialistas consideram que estas separações fazem parte de uma estratégia política da Administração de Donald Trump e são uma das "medidas extraordinárias" que o presidente decidiu tomar para combater a imigração no país. Não há nenhuma lei que diga que as famílias que entram no país sem papéis devam ser separadas, mas como desde 7 de maio todos os adultos que entram ilegalmente nos EUA são considerados criminosos e por isso devem ser detidos, a separação acaba por ser inevitável. Não é possível levar as crianças para uma prisão federal. Ron Vitiello, do Serviço de Fronteiras, afirmou à MSNBC que cerca de 1500 pessoas são detidas diariamente por entrarem ilegalmente nos EUA.

Após a separação, as crianças e jovens com menos de 18 anos passam a ser denominadas pelas autoridades dos EUA como "menores estrangeiros não acompanhadas por adultos" e ficam à guarda do Gabinete de Reinstalação de Refugiados (Office of Refugee Resettlement - ORR, dependente do Departamento de Saúde e Serviços Humanos). Os lares da ORR estão com uma taxa de ocupação de 95%, acolhendo neste momento cerca de 11 mil crianças. De acordo com um artigo do The New York Times, o Departamento de Saúde já reservou 1218 camas adicionais para as crianças migrantes, algumas delas em bases militares.

Em Brownsville, no Texas, um antigo supermercado Walmart foi convertido em abrigo para quase 1700 jovens imigrantes dos 10 aos 17 anos. Em média, as crianças ficam neste local durante 52 dias, até serem encontrados familiares nos EUA que os possam receber ou serem enviados para lares com melhores condições. Os jornalistas que tiveram autorização para visitar o local esta semana constataram que o abrigo já está sobrelotado e relatam que os jovens só têm autorização para estar duas horas por dia ao ar livre (três horas ao fim de semana). Sentem-se como "animais dentro de uma jaula", disse um dos funcionários do abrigo.

Também esta semana, a Administração anunciou que vai instalar um acampamento para 450 crianças em Tornillo, no Texas.

O Departamento de Saúde "está legalmente obrigado a providenciar abrigo e cuidado a todos os menores sem acompanhamento de adultos referenciados pelo Departamento de Segurança Nacional e trabalha em estreita ligação com o DSN na segurança e na proteção das crianças e da comunidade", afirmou um porta-voz. A situação é particularmente problemática na região de Rio Grande Valley, no Sul do Texas.

A verdade é que, apesar de algumas histórias terminarem bem, dificilmente todas famílias serão reunidas. Não existe uma estratégia das Serviços de Fronteiras e Imigração dos EUA com vista à reunião das famílias de migrantes e até mesmo a comunicação entre pais e filhos é difícil, uma vez que os detidos não têm acesso a telefones.

Maria João Caetano | Diário de Notícias

EUA abandonam Conselho de Direitos Humanos da ONU


"Viés crónico anti-Israel" de organismo "hipócrita" é o motivo apontado pela Administração Trump para mais uma ruptura dos EUA com o multilateralismo.

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, e a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, anunciaram esta terça-feira que o país abandona o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Haley, que em 2017 já tinha acusado o conselho de ter um "viés crónico anti-Israel", afirmou esta noite que o organismo é "hipócrita". Ao mesmo tempo, anunciou que a saída norte-americana "não é uma diminuição do empenho [dos EUA] em relação aos direitos humanos".

Os EUA ameaçavam há muito sair se este órgão não fosse renovado, acusando o organismo composto por 47 membros sediado em Genebra de ser anti-israelita. As negociações com Washington sobre estas reformas falharam, o que sugeria que a Administração Trump estaria já a preparar a sua saída.

O abandono do Conselho de Direitos Humanos da ONU significa mais um corte entre a Administração Trump e acordos multilaterais - o Presidente dos EUA já tinha retirado o país do Acordo de Paris sobre o clima e do acordo nuclear com o Irão.

A decisão surge também numa altura que os EUA têm sido alvo de intensas críticas devido à política de “tolerância zero” relativamente aos imigrantes não-documentados que entram em território norte-americano, o que significa que milhares de famílias têm sido separadas na fronteira com o México.

Zeid Ra'ad al-Hussein, alto comissário para os Direitos Humanos da ONU, classificou na sessão de segunda-feira em Genebra esta política como “inconcebível” e exigiu que Washington ponha um ponto final na mesma.

Esta tarde, e instado a proferir uma primeira reacção às notícias da iminente retirada dos EUA, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, limitou-se a dizer que “o secretário-geral [António Guterres] acredita na arquitectura dos direitos humanos da ONU e na participação activa de todos os Estados.”

Quando o Conselho de Direitos Humanos foi criado, em 2006, o Presidente George W. Bush, evitou-o. Sob a presidência de Barack Obama, os EUA foram eleitos para o órgão por um máximo de dois mandatos consecutivos de três anos. Depois de um ano fora do organismo, os EUA foram eleitos para o terceiro mandato, que vai a meio.

No ano passado, Haley disse que Washington estava a rever a sua presença e pediu uma reforma para eliminar “o preconceito crónico anti-Israel”. O conselho tem uma alínea permanente na sua agenda para violações que se suspeitem tenham sido cometidas por Israel na Palestina. Os EUA pretendiam retirar este ponto.

Reuters | em Público

Portugal | Ó Evaristo, tens cá Visto?


Mariana Mortágua | Jornal de Notícias | opinião

O ministro Siza Vieira saiu em defesa dos vistos gold, usando o mesmo argumento que Paulo Portas repetia à exaustão, a "atração de investimento estrangeiro". Mas se já em 2013 a resposta era poucochinha e falaciosa, hoje é quase uma provocação.

Houvesse uma pinga de sentido crítico e o Governo teria de responder por este investimento, pelas suas origens e pelos seus fins. E o ministro Siza Vieira teria de explicar exatamente porque é que este regime obsceno é "positivo" para o país.

Tempos houve em que era possível mentir e dizer que os vistos gold iriam criar emprego. Hoje sabemos que, dos 5876 vistos atribuídos, só nove foram pela criação de postos de trabalho e que 95% se deveram à compra de imóveis. Mais, sabemos que, como o limite mínimo para atribuição do visto dourado é meio milhão de euros, muitas agências inflacionaram os preços das casas de luxo, compradas à distância por magnatas chineses, brasileiros, russos ou angolanos. Sabemos que este movimento é parte da espiral especulativa em curso nos mercados imobiliários de Lisboa e Porto. Em suma, sabemos que os vistos gold não atraíram investimento produtivo, não criaram emprego, não acrescentaram nada ao país a não ser um mercado de luxo que está a contribuir para deixar milhares de pessoas sem casa que possam pagar.

Mas o problema não está apenas naquilo para que os vistos gold não servem. O problema está no verdadeiro propósito deste regime, que é vender a cidadania europeia a milionários.

Um regime que trafica cidadanias é uma porta aberta para corruptos e criminosos à procura de forma de branquear o seu dinheiro. Procurados pela Interpol, magnatas envolvidos na Lava Jato e oligarquia angolana, os vistos gold servem a todos e não são seletivos. Além disso, tal como alerta o Consórcio Global Anticorrupção, o julgamento de 11 dirigentes da administração pública (incluindo o ex-ministro do PSD Miguel Macedo) por tráfico de influências associado à atribuição de vistos gold, mostra como estes regimes podem corromper governos.

O que sobra sempre da discussão sobre os vistos gold é a certeza da inversão de valores que faz com que se aceite acriticamente que a cidadania é uma coisa que se vende e não um direito. E que nem importa se são especuladores ou corruptos, se o investimento serve o país ou não, desde que o dinheiro continue a entrar.

Ao contrário do que afirma Siza Vieira, não há nada de positivo a apontar ao regime dos vistos gold. Quanto mais não seja, é estranho que ao ministro não pareça perversa a ideia de um país que vende vistos dourados numa Europa que deixa milhões a morrer às suas portas.

*Deputada do BE

Mundial 2018 | RONALDO 1 – MARROCOS 0


Fernando Santos, na foto, deve estar a perguntar: "Mas o que é isto? Onde estão os meus selecionados? Quem são aqueles gajos desatinados, desajeitados, que vestiram o equipamento da seleção nacional e andam a correr atrás da bola e às vezes nem isso?

Desastrados, é o mínimo que podemos considerar a equipa portuguesa no encontro com Marrocos, principalmente na segunda parte do jogo. Os segundos 45 minutos foram uma autêntica vergonha e de equipa aquilo quase nada tem. Valeu Ronaldo, que goleou Marrocos logo nos primeiros minutos do primeiro tempo.

Vimos na realidade uma equipa a lutar pela vitória, Marrocos. Foi injusto para eles não terem vencido a disputa. Mereciam. Se lá tivessem um Ronaldo davam uma cabazada à equipa que passou a maior parte do tempo aos papéis e que levou um banho de bola que é para ver se aprendem, Portugal.

Assim, Portugal nem merece passar aos oitavos do Mundial 2018. Ronaldo merece mas não pode jogar sozinho, precisa de uma equipa de que faça parte, não a atual com os selecionados que se fartaram de falhar passes a dois metros e quanto mais distantes mais falharam. Os senhores jogadores estavam como baratas tontas a disputar com uma equipa que lutou soberanamente pela vitória e nem ao menos conseguiram um empate. Injusto. Muito injusto.

Falta o resto. A seguir vem aí o Irão. Era desejável que não fosse só Ronaldo a golear o adversário mas também outros da equipa. Ao menos que tentem golear e acertem nos passes, e corram, e comam a relva, e joguem para vencer, como se Cristiano Ronaldo não estivesse em campo…

Pode ser que sim, mas pelo visto hoje não dá para acreditar. (MM | PG)

Fernando Santos irritado com exibição. "Inexplicável. Estávamos sem confiança"

No final do jogo, o selecionador nacional mostrou o seu desagrado com a exibição da equipa. Portugal venceu Marrocos pela margem mínima.

Fernando Santos não gostou da exibição de Portugal, no encontro com Marrocos, apesar da vitória pela margem mínima.

No final do jogo, o selecionador mostrou o seu desagradado. "Sofremos mas era importante ganhar. Temos de falar. Entrámos bem no jogo, mas depois perdemos o controlo e sem bola, tem de se correr. É inexplicável. Eu tentei dizer isso aos jogadores ao intervalo, parecia que faltava confiança", disse o selecionador.

Cristiano Ronaldo marcou o único golo do jogo aos quatro minutos, tendo sido nomeado o homem do jogo pela FIFA.

TSF | Foto: © Paulo Novais/Lusa

Mundial2018 | Portugal X Marrocos hoje às 13 horas


Sabemos o que vai ser o almoço em Portugal, como não pode deixar de ser será futebol, o mundial na Rússia. Ignoramos qual será a sobremesa. Se será doce ou amarga. Vitória ou derrota. Talvez agridoce para corresponder ao empate. 

Prognósticos só no final do jogo. Lá estaremos, frente ao monitor, a sofrer e com ataques de gáudio e explosões de alegria. Venha o que vier não recusaremos o “cozinhado”. Boa sorte, gana e saber, rapaziada. Vamos lá, cambada!


Da TSF retiramos a lauda sobre o tema. Se não podem ver na TV já sabem que o melhor em áudio, na rádio, é a TSF. Sem tirar nem pôr. Bolas, foi e é a rádio que mudou e muda a rádio. Já esteve mais quase perfeita mas os tempos são de cifrões e feita de nova escola de jornalismo muito dependente dos interesses dos donos das notícias, da informação e etc. nesses “terrenos”. Vá na TSF se não pode ver naquele ecrã habitualmente manhoso e super-mágico a manipular. Aos atentos isso dificilmente acontece, essa tal “manipulação”. Bola. (PG)

Direto. Equipas entram em campo para aquecimento. João Mário no 11

Fernando Santos fez apenas uma alteração para o encontro, trocando Bruno Fernandes por João Mário no meio-campo da seleção.

11 de Portugal: Rui Patrício; Cédric, Pepe, José Fonte, Raphael Guerreiro; William, Moutinho, Bernardo Silva, João Mário; Guedes e Ronaldo

11 de Marrocos: Munir; Dirar, Benatia, Da Costa, Achraf; Belhanda, El Ahmadi, Boussoufa; Harit, Boutaïb e Ziyech.
A Seleção nacional defronta esta quarta-feira (13h) Marrocos, no segundo jogo da fase de grupos do campeonato do mundo. No primeiro encontro, os campeões europeus empataram (3-3) com a "favorita" Espanha.

Esta será a segunda vez que Portugal encontra Marrocos, numa fase final de um Mundial. Foi no México'86, também na fase de grupos, e nesse dia Portugal saiu derrotado por 1-3.

O encontro realiza-se na capital russa, no Estádio de Luzhniki. Nas bancadas, segundo avança o enviado especial a Moscovo, João Ricardo Pateiro, deverão estar cerca de 1200 adeptos portugueses. A assistir ao jogo, na tribuna presidencial, estará o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

TSF

Depois do Sebastião e da sova em Alcácer Quibir temos o Cristiano Ronaldo


Ai, ai, hoje há jogo da seleção de Portugal com Marrocos, no Mundial disputado na Rússia. Num aparte apetece perguntar: “Os russos comem criancinhas?” Não? Alguma vez comeram criancinhas? Não? Então que raio de trouxas eram esses mais velhos de outros tempos que deixaram que o salazarismo e a igreja lhes enfiassem isso na cachimónia? Não era só o analfabetismo, desculpem lá. Para acreditar nessa e em muitas outras patranhas é preciso ser muito burro (salvem-se os quadrúpedes porque isto é para os bípedes). É assim que a modos de como hoje: o Correio da Manha e outros igualmente manhosos publicam patranhas, assim como políticos e outros da desinformação, e há bípedes que acreditam piamente. Deve de lhes cheirar a palha. É o que deve acontecer. E é doença? Pois, adiante.

E o Sebastião, aquele imberbe, otário, doentiamente devoto e manipulado pela igreja e outros bandidos da época, lá foi para a batalha em Marrocos e desapareceu. Foi um ar que lhe deu. Depois gramámos com os sacanas do Reino de Castela por 60 anos até os escorraçarmos e linchar os traidores portugueses que colaboravam com os ocupantes. Há sempre sacanas desses em todos os lugares. Nos tempos atuais vimos imensos. E estão bem na vida, os larápios. Só que agora vendem o país à pátria do cifrão. São traidores de alto gabarito nomeados com pompa e circunstância, engravatados e de colarinhos alvos. Mais ou menos bem falantes e muito mentirosos. Tinham de ser. Têm de ser…

Omessa. Vamos lá ao Expresso Curto de hoje porque desta retórica já chega. E é mesmo no Curto que temos o Sebastião imberbe que foi rei da treta porque era a igreja quem desgovernava o povo e o país e se governava (um tal cardeal Henrique). Por Marrocos ser hoje o adversário de Portugal vimos no Expresso a referência ao Sebastião e à batalha de Alcácer Quibir. Nessa batalha as tropas de Portugal levaram porrada de três em pipa. E hoje, no retângulo relvado em que 22 gajos vão andar a correr e a pontapear a bola? Nunca se sabe. Pois. E, se perdermos por uma cabazada, será que vão desaparecer jogadores? Talvez. Para depois aparecerem em Limojes – como diz a prosa de Manuela Goucha Soares. Ora vá ler AQUI depois desta entradinha:

“Sabe mesmo onde morreu o rei D. Sebastião? Em Limoges ou Marrocos

Foi em Marrocos que desapareceu o rei de Portugal e o país perdeu a independência durante 60 anos. No dia em que a seleção das quinas joga com a equipa marroquina no Mundial de Futebol, o Expresso conversou com investigadores que defendem que o jovem rei D. Sebastião sobreviveu a Alcácer Quibir e morreu em França perto dos 80 anos”.

O Expresso Curto a seguir. Para encurtar. Bom dia e boas festas aos jogadores. Por quantos irá vencer o Ronaldo a equipa de Marrocos? (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Hoje há jogo, por isso...

Vou tentar ser rápida nesta habitual vista de olhos pela atualidade de cá e de lá fora. O dia vai dividir-se em antes e depois das 13h, hora do Portugal-Marrocos, com o Presidente Marcelo a assistir in loco, duas horas depois de ser recebido no Kremlin pelo seu homólogo Vladimir Putin (“Assalto ao Kremlin”, não é assim que se chama o hino da seleção?) Não sei se o PR foi a Moscovo ver o jogo e, já agora, encontra-se com Putin, ou se já tinha agendada a visita a Putin e aproveitou e vê o jogo, mas isso também não interessa. Os outros, como nós, aqui na Impresa, fomos convidados a juntar-nos no auditório para partilhar em comum a emoção do jogo (a Altice deu "folga" aos funcionários para ver o jogo). No café da esquina o dono comprou uma televisão para agarrar os comensais.

Muito tempo vai demorar a hora de almoço por este país fora! Esqueçam, hoje não é dia de trabalhar. Até à 1h há de falar-se das perspetivas do jogo (e Fernando Santos já preveniu que Portugal tem de jogar melhor) e depois das 3 do que se jogou… Espera-se que o extra-terrestre Ronaldo surja outra vez em campo, mas vá lá… os outros também têm de dar uma ajuda. E… pronto, não digo mais. Vamos ao que interessa.

1.Tudo (ou quase tudo) que lhe pode interessar sobre o jogo está aqui (mais bola e mais pressão, em suma). Se quer relembrar a conferência de imprensa do Fernando Santos, veja aqui e a do selecionador marroquino, Hervé Renard, aqui – atenção, terrestres, foi ele que lembrou que Portugal ganhou o Europeu sem o capitão! (Também pode ler histórias curiosas do Ronaldo, se é que não as conhece já). Isto é a literatura básica. Se ainda quiser ter um cheirinho de ambiente, espreite aqui. Acho que já fica com uma boa panorâmica.

2.O resto são muuuuuitas opiniões (umas com graçolas assim e outras assado) do que pode ser e ainda não é. Ah, é verdade, esquecia-me. Talvez seja engraçado também lembrar que há 32 anos que Portugal não jogava com Marrocos e… perdeu por 3-1. Não foi bonito de ver e quem se lembra (pelo menos de ouvir contar) diz que foi “uma grande balda”. Hoje seria impossível. Ao menos isso. Leia, que é ilustrativo. Foram os tempos do caso Saltillo, contado por Álvaro Magalhães. E se quiser ir mesmo mais atrás, pode até recordar-se que El-rei D. Sebastião andou por terras marroquinas. E também perdeu. A si próprio e ao país. Demorámos 60 anos a sair do atoleiro.

Não sei se já podemos largar o tema, creio que sim. O leitor agora fica por conta própria e pode vestir a camisola. O dia ainda agora começou e aposto que já sabe tudo sobre o ambiente em Marrocos e na Rússia, e que engraçado que é ver uma criança marroquina a dizer que torce por Portugal e uns portugueses que dizem que andam muito divertidos a cantar por ali, na Rússia, com o Praça Vermelha em pano de fundo. Espetáculo! (E não vou falar mais de futebol, e menos ainda do Sporting).

OUTRAS NOTÍCIAS

Esta é a última: um incêndio de grandes proporções destrói fábrica em Viseu. Já e verão, voltou o calor.

De cá, primeiro. Governo e Bloco de Esquerda ao mais alto nível encontraram-se ontem (António Costa versus Catarina Martins) para começar a discutir temas do Orçamento de Estado. Demorou duas horas e meia e obrigou Costa a cancelar parte da agenda

Hoje é dia de debate quinzenal e o tema são os fundos europeus, Portugal 2030. Na segunda parte, o debate será preparatório do Conselho Europeu de 28 e 29 de junho e versará exclusivamente sobre migrações. É bom saber o que pensa o Governo, parceiros e oposição sobre este tema que se arrisca a incendiar a Europa, mas já lá vamos. Esta quarta-feira é o Dia Mundial do Refugiado e os especialistas dizem que Portugal devia aprender com os erros da Europa. Em 2017 concedeu cerca de 700 estatutos, mas recusou muitos. Ao todo, no mundo, o número de refugiados anda a rasar os 70 milhões.

Mas tenho dúvidas que o PM consiga circunscrever o tema do debate. Com o acordo da concertação social sobre as relações laborais, a greve dos professores e o esboço de propostas do PS sobre a reforma da saúde em cima da mesa, é pouco crível que os deputados fiquem só a discutir os milhões que vêm (ou não) para aqui. Vamos por partes.

Concertação social: o acordo foi assinado na segunda-feira por António Costa, que não deixou dúvidas que era para valer, apesar das discordâncias dos parceiros. Aqui pode ler o que muda no Código de Trabalho e aqui o que divide os três partidos-parceiros sobre o assunto. O PM foi claro, o acordo é para valer, e na sua coluna de opinião, o bloquista-senador Francisco Louçã voltou a insistir na tónica: “O Governo pretende um conflito com a esquerda”. Já é a segunda vez no espaço de duas semanas e sobre assuntos diversos em que Louçã carrega nesta tecla. Porque será? Santana Lopes também repetiu na SIC (pela segunda vez em 15 dias) que “cheira a Bloco central”. Carlos César repete: o eleitorado dos parceiros e do partido socialista preferem a atual solução governativa.

Greve dos professores: na segunda-feira, Mário Nogueira desafiava o Governo a encontrar uma escola onde se tenham realizado reuniões de avaliação (“uma agulha no palheiro”) e protestou contra a tentativa de imposição de serviços mínimos nas reuniões : “é um atentado à democracia”, disse. As greves estão para durar: há um pré-aviso entregue até 13 de julho, e previsão de greve para 14 de Setembro, o primeiro dia de aulas, e durante toda a semana que termina a 5 de Outubro. Os pais começam a reclamar, ressuscitando lutas antigas.

O orçamento, como se sabe, tem de se ser apresentado até dia 15 deste mês. Ontem houve outra reunião e nada deu. Foram cinco horas a partir pedra e a conclusão foi constituir um colégio arbitral para analisar a necessidade ou não de serviços mínimos. Mas só a partir de julho. A informação é da Fenprof.

Nas jornadas parlamentares do PSD também se falou deste assunto: Rui Rio diz que o país não está em condições para contar com o tempo todo aos professores. Quanto às jornadas parlamentares propriamente ditas, que terminaram ontem, Rio falou para muitas cadeiras vazias. A análise do Filipe Santos Costa: uma orquestra desafinada.

Saúde: Maria de Belém apresentou ontem o esboço do projeto do PS sobre a Lei de Bases na Saúde, três dias antes apenas de um debate marcado pelo Bloco para discutir o assunto e que tem, juntamente com o PCP, opiniões muito diferentes sobre o assunto. É um tema que divide os parceiros. O ministro vai esta manhã à comissão Parlamentar de Saúde.

Na frente económica, a notícia são os pormenores do que já se sabia: que a compra da TVI pela Altice foi chumbada pela Autoridade da Concorrência: custaria 100 milhões aos consumidores. A Anabela Campos esmiuça as razões.

Notícias diversas mas interessantes: o Ministério Público continua no encalço dos negócios de Manuel Pinho, desta vez são as casas que vendeu; PS e PSD – qual é o mais amigo da natalidade? Estão ambas no Expresso Diário de ontem. Quanto ao mistério do desaparecimento dos quatro dedos cortados na estátua de D. José no Terreiro do Paço vem no Observador.

LÁ FORA

EUA. Vem de lá a notícia que nos surpreendeu a todos (embora, pensando bem, não seja assim tão surpreendente): o país retira-se do Conselho de Direitos Humanos da ONU (aqui). O cantinho do Trump vai-se alargando: é o escândalo das crianças separadas dos pais (2000 já! Veja as fotos e os vídeos) na fronteira com o México, a guerra comercial que estalou com a China (e consequente abalo em Wall Streetafundando os mercados), o último tweet do Presidente americano a criticar a chanceler Merkel sobre a política de imigração (e a resposta em tom grosso do presidente da Comissão, que disse que Trump “não governa a Europa”), as divergências que alarmam já a NATO a um mês da sua cimeira, e, e, e …

NOTA: a política de Trump sobre a imigração foi a única coisa que nestes últimos tempos conseguiu reunir toda a classe política (e sociedade civil) do CDS ao BE: os seus líderes vão estar presentes amanhã numa inédita manifestação de protesto.

ALEMANHA-FRANÇA. Angela Merkel (que, a propósito, não está assim tão tremida, venceu mais um round, “Renasceu das cinzas”) e Emanuel Macron reuniram-se em Paris para falar da eurozona e encontraram um terreno mínimo de acordo (também aqui) sobre a reforma da dita, nomeadamente a criação de um orçamento para a zona - mas é tudo moderado, calma! Ouça este podcast e perceba porque Macron está a ficar isolado. Se quiser ler o texto completo da declaração final está aqui. Isto leva-me a revisitar as propostas de António Costa, pela mão do site Opendemocracy.net).

EUROPA. O encontro abordou também o problema maior da imigração, realizando-se dias depois da crise do Aquarius, o barco carregado de imigrantes que a Itália recusou acolher e aportou em Valencia. O problema é sério em toda a Europa, sobretudo porque se olharmos para os números se verifica que caíram drasticamente (44% em 2017 em relação a 2016) – consulte o Relatório europeu ou o seu resumo. Quanto ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, quer estabelecer centros de imigrantes fora da Europa. Chame-lhe o que quiser.

A situação é grave, tendo em vista que, por exemplo, em França, de acordo com as sondagens, a maioria da população (56%) foi contra o acolhimento em terras francesas dos imigrantes do Aquarius (metade dos 630 quer ir para França). Na Alemanha são 90% os que querem mais expulsões de clandestinos. Apesar disso e também para dar alguma ajuda a Merkel, Macron aceitou receber os imigrantes que estão na Alemanha e que entraram por França.

Por estas e outras razões, deixo-lhe aqui os links para três artigos sobre o tema: é ou não uma crise de, por e para políticos? (Rui Tavares); a política europeia tout court sobre o tema(Paulo Rangel); e o novo eixo do mal (Amílcar Correia). Há uma crise de perceção na Europa e só um cego não a vê. Mas é assim que se propaga o nacionalismo, o populismo e outros “ismos” – senão, leia este discurso de Viktor Órban, o primeiro-ministro húngaro e descubra por que este tipo de raciocínio é tão apelativo. Cúmulo: foi dito numa cerimónia em memória do grande europeu que foi o chanceler alemão Helmut Kohl.

ESPANHA. Afinal, Pedro Sanchez quer ficar no Governo até 2020 (ver-se-á se consegue) e faz operação de charme na Moncloa (onde antes havia o Rico há agora uma Turca) – não se preocupe estamos a falar de cães e da obsessão dos líderes políticos em os mostrar. O Politico encontrou quatro pontos em que Sanchez copia Trudeau, o primeiro-ministro do Canadá (nós portugueses entendemo-lo melhor).

Do lado do PP, a luta é feroz pelos despojos de Rajoy. O partido está dividido ao meio com a entrada em cena das duas dirigentes, Maria Dolores de Cospedal (ex-ministra) e Soraya Sáenz de Santamaria (a vice-presidente), ambas criações do antigo líder. O Jorge Almeida Fernandes chama-lhe as duas generalas(mas porque será que quando as mulheres se afirmam em mundo de homens têm patente militar?) Há mais quatro candidatos ao cargo, todos homens. A ver quem ganha.

FRASES

"Vai ser uma final para nós, uma batalha importante. Vamos dar a vida em campo", Nadir Dirar, jogador de Marrocos

"Sabemos das nossas capacidades e trabalhamos para um só objetivo, que é honrar a camisola e o país", Pepe. jogador de Portugal

"Não há pozinho mágico, Portugal tem capacidade para fazer melhor", Fernando Santos

"A função do PSD é empurrar o Governo para a irresponsabilidade? Não, isso é função do PCP e do BE. Nós (...) temos outra, que é a de obrigar o Governo a falar verdade", Rui Rio, nas jornadas parlamentares

"Não é um acordo ótimo, mas é um acordo bom", Carlos Silva, líder da UGT, ao I, sobre a concertação social.

O QUE ANDO A LER

Não é para fazer propaganda à casa – mas por acaso já passou os olhos pela coleção sobre Jerusalém, A Biografia de Simon Sebag Montefiore, que o Expresso está a editar em pequenos livrinhos há seis semanas? Pois devia, porque a história da cidade sagrada das religiões monoteístas, que por três vezes foi arrasada e três vezes ressuscitou, merece que lhe dedique alguma atenção. Como foi que se decidiu criar uma inóspita cidade no meio do deserto, os nomes que teve, as mãos porque passou (e as invasões que sofreu), os massacres de que foi vítima? Tudo é objeto de estudo, com uma descrição tão abundante de pormenores que não custa a transportar-nos para esse mundo de outrora que ainda revive. A História da Humanidade está recheada de desumanidade. Os livros, que no conjunto são um grosso tomo, são um mimo de saber e cultura (com um pequeno senão - a tradução é tão fraca que me pergunto se algum português reviu o texto). Se conseguir ultrapassar isso, garanto-lhe, vale muito a pena.

E por hoje é tudo. Eu queria escrever pouco e não consegui. Está liberto para voltar ao futebol, se assim o entender.

Tenha um Bom Dia… e que a vitória nos sorria!

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