"Tolerância Zero" da
Administração Trump em relação à imigração ilegal tem consequências dramáticas:
neste momento há 11 mil menores estrangeiros em lares americanos.
Quase duas mil crianças foram
separadas das suas famílias na fronteira dos Estados Unidos com o México num
período de seis semanas (de 19 de abril a 31 de maio) devido à política de
endurecimento do combate à entrada ilegal no país.
Os números foram fornecidos pelo
Departamento de Segurança Nacional à agência Associated
Press (AP) e mostram que entre 1 de outubro de 2017 e 31 de maio de
2018 pelo menos 2700 crianças foram separadas dos pais à entrada nos EUA. Nas
últimas seis semanas desse período, 1995 crianças foram separadas de 1940
adultos - e isto só contando os casos em que os adultos foram enviados para a
prisão (existem também separações nos postos de entrada legal nos EUA).
Isto significa que, em média, 48
crianças por dia foram afastadas das suas famílias e enviadas para lares de
acolhimento ou mesmo centros de detenção. Os adultos foram detidos - devido a
possível conduta criminosa ou ilegalidades no processo de imigração - e as
crianças entregues à custódia das autoridades. A idade das crianças não foi tida
em conta.
Alguns especialistas consideram
que estas separações fazem parte de uma estratégia política da Administração de
Donald Trump e são uma das "medidas extraordinárias" que o presidente
decidiu tomar para combater a imigração no país. Não há nenhuma lei que diga
que as famílias que entram no país sem papéis devam ser separadas, mas como
desde 7 de maio todos os adultos que entram ilegalmente nos EUA são
considerados criminosos e por isso devem ser detidos, a separação acaba por ser
inevitável. Não é possível levar as crianças para uma prisão federal. Ron
Vitiello, do Serviço de Fronteiras, afirmou à MSNBC que cerca de 1500 pessoas
são detidas diariamente por entrarem ilegalmente nos EUA.
Após a separação, as crianças e
jovens com menos de 18 anos passam a ser denominadas pelas autoridades dos EUA
como "menores estrangeiros não acompanhadas por adultos" e ficam à
guarda do Gabinete de Reinstalação de Refugiados (Office of Refugee
Resettlement - ORR, dependente do Departamento de Saúde e Serviços Humanos). Os
lares da ORR estão com uma taxa de ocupação de 95%, acolhendo neste momento
cerca de 11 mil crianças. De acordo com um artigo do The New York Times, o Departamento de Saúde já reservou
1218 camas adicionais para as crianças migrantes, algumas delas em bases
militares.
Em Brownsville, no Texas, um antigo supermercado Walmart foi convertido em abrigo para
quase 1700 jovens imigrantes dos 10 aos 17 anos. Em média, as crianças ficam
neste local durante 52 dias, até serem encontrados familiares nos EUA que os
possam receber ou serem enviados para lares com melhores condições. Os
jornalistas que tiveram autorização para visitar o local esta semana
constataram que o abrigo já está sobrelotado e relatam que os jovens só têm
autorização para estar duas horas por dia ao ar livre (três horas ao fim de
semana). Sentem-se como "animais dentro de uma jaula", disse um dos funcionários do abrigo.
Também esta semana, a Administração anunciou que vai instalar um acampamento
para 450 crianças em Tornillo, no Texas.
O Departamento de Saúde
"está legalmente obrigado a providenciar abrigo e cuidado a todos os
menores sem acompanhamento de adultos referenciados pelo Departamento de
Segurança Nacional e trabalha em estreita ligação com o DSN na segurança e na
proteção das crianças e da comunidade", afirmou um porta-voz. A situação é
particularmente problemática na região de Rio Grande Valley, no Sul do Texas.
A verdade é que, apesar de
algumas histórias terminarem bem, dificilmente todas famílias serão reunidas.
Não existe uma estratégia das Serviços de Fronteiras e Imigração dos EUA com
vista à reunião das famílias de migrantes e até mesmo a comunicação entre pais
e filhos é difícil, uma vez que os detidos não têm acesso a telefones.
Maria João Caetano | Diário de
Notícias
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