sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A DESCOLONIZAÇÃO MENTAL…


A DESCOLONIZAÇÃO MENTAL PASSA POR CONHECER A HISTÓRIA DO LADO DAQUELES QUE TENDO SIDO OPRIMIDOS, LUTARAM E LUTAM PELA LIBERTAÇÃO EM NOME DE TODA A HUMANIDADE!

Martinho Júnior | Luanda 

O Exercício ALCORA não acabou com o 25 de Abril de 1974!...

Não só a África do Sul continuou dentro de Angola, onde se encontrava desde 1968, como os governos do "ARCO DE GOVERNAÇÃO", surgidos em Portugal a partir do 25 de Novembro de 1975, se adaptaram à configuração de "combater o comunismo", obedientes ao "Le Cercle", com poderosos tentáculos na África Austral e tendo o general Frazier (o mesmo que assinou o Exercício ALCORA) disponível para os "Jogos Africanos" conforme o que em parte narra Jaime Nogueira Pinto!...

Mário Soares e Cavaco Silva foram dois dos expoentes desses "jogos" e não descansaram enquanto não acabaram com a República Popular de Angola, o Partido do Trabalho, a Segurança do Estado e por fim as FAPLA, a 31 de Maio de 1991, no Acordo de Bicesse!!...

Desenvolveram programas em direcção a Angola e África Austral e, depois do fim do "apartheid", transferiram para a inteligência económica e jurídica o potencial da influência ganha, sobretudo com a esteira do choque neoliberal de Savimbi!...

Durante os anos da terapia neoliberal, de 2002 a 2017, os vínculos criados foram de tal modo fortes, que estiveram por dentro dos expedientes de assimilação e dos estímulos da corrupção em Angola, procurando sempre extrair o máximo de rendimentos com isso (Portugal continua a ser um dos sorvedouros de capitais provenientes de Angola)!...

Comentário de Martinho Júnior sobre o que está na ordem do dia em Angola

Luanda, 24 de Setembro de 2018

Jerusalém, ocupação militar e falsidades


Para “justificar” controle da cidade, autoridades israelenses invocam suposto direito histórico. Inúmeras pesquisas sugerem que sequer este argumento tem base real

Sayid Marcos Tenório | Outras Palavras

Nos últimos anos, a Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura – Unesco –, a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança da ONU aprovaram Resoluções em que reafirmam o caráter de ocupante do regime de apartheid israelense nas cidades históricas palestinas. As resoluções reiteram também que Jerusalém não faz parte de Israel.

Jerusalém (Al-Quds), e as cidades de Hebrón (Al-Jalil), o lugar de falecimento e onde está enterrado o profeta Abrahão; e Belém (Bethlehem), a cidade santa onde nasceu o profeta Isa (Jesus), foram declaradas mais uma vez como parte integral da Palestina.

É vasta a comprovação histórica que afasta qualquer ligação das cidades palestinas com os atuais ocupantes israelenses, ou com os antigos, citados nos livros sagrados e livros de história, a maioria com narrativas falsificadas para beneficiar política e historicamente os ocupantes sionistas.

As sucessivas resoluções da Unesco representam a derrota da narrativa israelense de que aquelas cidades históricas da Palestina pertenceram a um chamado “povo de Israel” mencionado na Bíblia, mas que nenhuma relação guarda com os atuais ocupantes sionistas.

Israel sabe que, do ponto de vista do Direito Internacional, da Carta das Nações Unidas e das dezenas de Resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da ONU, Jerusalém não lhe pertence. Por isso insiste na falsa narrativa histórica, como forma de ludibriar a opinião pública mundial e seguir em frente com a ocupação e apartheid racista na Palestina.

Senão vejamos:

1) Jerusalém é parte integral da Palestina e seus vínculos são milenares. Judeus jamais dominaram Jerusalém por um tempo considerável. A insistência de Israel em tornar Jerusalém a “capital unificada” da ocupação sionista na Palestina viola o direito internacional e as diversas Resoluções da ONU. Como é possível que um punhado de colonizadores europeus, utilizando uma suposta razão religiosa, invada, saqueie, mate os verdadeiros donos da terra, utilizando como justificativa estarem ungidos pelo mandado divino? Há seis mil anos a terra pertence ao povo palestino.

2) Desde a Resolução nº 56, de 19 de agosto de 1948, até a Resolução 2334, de 23 de dezembro de 2016 – que não foi contestada pelos Estados Unidos, o status internacional de Jerusalém é o de cidade “Ocupada” pelas forças de Israel.

3) Jerusalém é um Patrimônio da Humanidade e a terra em cujo solo estão os restos mortais de milhares de profetas e lutadores por justiça. É a terra de Abraão, Moisés e Jesus. Cidade sagrada para as três principais religiões abraâmicas. Seus quatro bairros acolhem as comunidades cristã, muçulmana, judia e armênia, que habitavam há séculos a cidade de maneira pacífica e tolerante, até a chegada e ocupação dos sionistas.

A luta do povo palestino por sua autodeterminação e a manutenção de Jerusalém como cidade sagrada para todos os povos e capital da Palestina não é apenas uma questão de ordem política, mas de ordem religiosa e sagrada para todos os muçulmanos, sejam sunitas, xiitas ou sufis. A cidade é o terceiro lugar muçulmano mais sagrado, depois de Meca e Medina. Foi a primeira quibla, o ponto para o qual os muçulmanos se voltam nas cinco orações diárias. E para onde o profeta Mohamed fez a viagem noturna de Meca à mesquita sagrada de Al-Aqsa, de onde ascendeu ao paraíso, até a presença de Deus.

É igualmente sagrada para cristãos, onde está localizada a Igreja do Santo Sepulcro, local de crucificação e sepultamento de Jesus, e de sua ressureição ao terceiro dia de sua crucificação e morte, depois de ter sido acusado pela elite judaica de blasfêmia por se declarar Filho de Deus e sentenciado pelo procurador romano Poncio Pilatos.

Arqueólogos israelenses como Wanklestein e Yuni Mizrahi, e o professor da Universidade de Tel Aviv Rafael Greenberg, afirmam que não há absolutamente nenhuma prova histórica da dominação de judeus em Jerusalém no passado, a não ser os registros históricos do Antigo Testamento, de tradução muitas vezes duvidosa, sobre a deportação dos judeus da cidade e a sua peregrinação no deserto do Sinai. E vão mais além: não há absolutamente nenhuma prova histórica e arqueológica da existência do templo de Salomão no local onde Israel diz que se encontrava, ou sobre a vitória de Josué, filho de Nun, na guerra contra os cananeus.

É sabido que o profeta Moisés morreu no deserto sem conseguir chegar à Palestina e sem nunca ter ordenado a seus seguidores o massacre de outras tribos ou o roubo de suas terras, como fazem os israelenses atuais.

Informações arqueológicas têm sido falsificadas em benefício do ocupante. Mesmo depois de anos de buscas incessantes, Israel não tem como demonstrar nenhuma prova da posse da Cidade Santa pelos judeus no passado. Não se tem evidência de nenhum objeto onde esteja escrito “Bem-vindo ao palácio de Davi”, como tem afirmado a organização direitista Al-Aad, que desenvolveu pesquisas sobre o assunto ao custo de milhares de dólares, sem que as conclusões e provas tenham sido apresentadas até hoje.

A libertação da Palestina é o tema que tem a maior dimensão internacional, humanitária e civilizacional. É uma necessidade da afirmação e do cumprimento do Direito Internacional, da verdade e da justiça.

O povo palestino tem o direito legítimo, garantido pelas normas e leis internacionais, de resistir à Ocupação, ao apartheid e à limpeza ética, com todas as medidas e métodos. É um ato de autodefesa e uma expressão do direito natural de todos os povos à autodeterminação.

O respeito à justiça exige que se cumpra com o direito ao Estado palestino totalmente soberano e independente, com Jerusalém como sua capital ao longo das fronteiras de 4 de junho de 1967, com o retorno dos refugiados e deslocados de seus lares, dos quais eles foram expulsos.

*Sayid Marcos Tenório é historiador e secretário-geral do Instituto Brasil-Palestina (IBRASPAL).

ATRACÇÃO GEOESTRATÉGICA

 

Martinho Júnior | Luanda

A prioridade na atenção conferida pela Rússia à Turquia, é uma força de atracção geoestratégica que concorrerá para fortalecer os programas em curso inseridos na nova Rota da Seda e contribuirá para a decadência dos Estados Unidos e da NATO no Médio Oriente e na Ásia Central, influindo na evolução da situação no miolo continental euro-asiático.

1- Depois das últimas reuniões, a tripartida entre a Rússia, a Turquia e o Irão (cimeira de Teherão de 9 de Setembro de 2018) e a bilateral entre a Rússia e a Turquia (cimeira de Sochi, a 17 de Setembro de 2018), dando sequência à Convenção sobre o Mar Cáspio, assinada na cidade cazaque de Aktau a 12 de Agosto de 2018 pela Rússia, o Irão, o Azerbeijão, o Turcomenistão e o Cazaquistão, continuam a ser dados passos que reforçam a geoestratégia impulsionadora da construção da nova Rota da Seda que se distende do Pacífico ao Atlântico e tem como pontos muito sensíveis as dinâmicas inscritas na Ásia Central e no Médio Oriente.

Em Sochi, na Rússia, conforme divulga a Rede Voltaire de 18 de Setembro corrente no artigo “A batalha de Idlib é adiada”(http://www.voltairenet.org/article203026.html), “Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdoğan assinaram, antes de tudo, acordos de cooperação económica a respeito da construção do gasoduto Turkish Stream e da central nuclear civil de Akkuyu, acordos particularmente bem-aceites por Ankara, cuja economia acaba de desmoronar brutalmente” face às fustigadoras medidas do aliado Estados Unidos sob a orientação da administração de Donald Trump.

Essa iniciativa contribui para o fortalecimento e sustentabilidade dos planos da nova Rota da Seda, tal como a Convenção sobre o Mar Cáspio, em duas regiões críticas para a sua construção, no Médio Oriente e na Ásia Central, o que significa que a manobra da atracção turca, ao se tornar prioritária e de primeira grandeza, neste momento subordina tudo o demais, inclusive o contencioso de Idlib na Síria e quaisquer outras abordagens sobre a Síria, atirando a coligação sob a égide dos Estados Unidos para um mero sinal periférico, desvalorizado e decadente.

A geoestratégia inscrita na nova Rota da Seda está já a esbater e a atirar para um segundo plano toda a confrontação militar no terreno, inclusive em relação às acções de Israel, do Reino Unido, da França e dos Estados Unidos, dentro ou fora da coligação com os árabes. sunitas e wahabitas.

O próprio “timing” da reunião bilateral de Sochi é disso esclarecedor: só depois da assinatura das iniciativas económicas geoestratégicas que socorrem a Turquia face às emergências impostas pelos Estados Unidos, se passou à discussão relativa às questões militares operacionais correntes sobre a Síria e Idlib:

“Será estabelecida, em 5 de Outubro, uma linha de demarcação entre a zona jihadista e o resto da Síria. Esta zona desmilitarizada estará sob a responsabilidade conjunta da Rússia e da Turquia. As tropas turcas deveriam recuar alguns quilómetros dentro da actual zona, de modo a deixar os sírios libertar a autoestrada que liga Damasco a Alepo.

Assim, a Rússia afasta a Turquia dos ocidentais, evita colocar o seu aliado sírio em perigo e continua a libertação de seu território sem ter de envolver-se em combates”…

2- O derrube do avião de reconhecimento IL-20, cujo carácter operacional se inscreve numa provocadora manobra de guerra psicológica por parte dos falcões israelitas, franceses e seus pares, eles próprios também periféricos que procuram obstruir a construção da nova Rota da Seda, é colocada pelo Presidente Putin, um notável estratega, precisamente no seu lugar, malgrado a radiografia contundente do Ministério da Defesa da Rússia sobre o incidente.

A geostratégia para a construção da nova Rota da Seda exige que em paz as portas se mantenham sempre abertas para a integração de novos participantes nela, em função do seu notável poder de atracção enquanto espinha-dorsal para a economia euro-asiática do século XXI e, se a Turquia está neste momento na primeira linha das opções da manobra de atracção, Israel tem em aberto essa oportunidade, algo que em nome da paz geoestratégica vai confundir, mas também inibir, o carácter de suas intervenções militares e dos seus aliados.

Nesse sentido a provocação que levou ao derrube do avião de reconhecimento russo IL-20 e à morte de seus 15 ocupantes militares, teve da parte do estratega Putin a interpretação adequada, ainda que medidas de retaliação persuasivas e inibidoras desse tipo de provocações estejam necessariamente a ser tomadas.

A constante busca por um ambiente de paz que será sempre necessária para levar por diante a geoestratégia da construção da nova Rota da Seda, continua a ter ainda um preço elevado na Síria, mas as provocações, sendo um sinal de desespero, demonstram quanto os “estrategas” ocidentais e seus aliados, entre eles os falcões de Israel, não passam de rasantes pardais, face à visão de águia do Presidente Putin e daqueles que estão empenhados no universo mutipolar emergente.

A visão geoestratégica com largos horizontes civilizacionais ávidos de futuro, não se perturba com provocações que são elas próprias um desespero que remete para a barbárie do passado!

Haverá melhor forma de convencer a Turquia, na ânsia resoluta da construção dum universo multipolar, sobre a necessidade de ruptura com a NATO e seu contraditoriamente insustentável absurdo hegemónico e unipolar?

Martinho Júnior - Luanda, 24 de Setembro de 2018

Ilustrações:
Linhas de orientação geoestratégica da nova Rota da Seda;
Cimeira de Teherão a 9 de Setembro de 2018:
A Síria retalhada;
Mapa da região de Idlib;
Derrube do avião de reconhecimento russo IL-20 a 17 de Setembro de 2018.

Minhas intervenções de 2018 sobre a Síria:
DESAGREGAÇÃO SÍRIA PARA RETARDAR A VITÓRIA... – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/04/desagregacao-siria-para-retardar-vitoria.html;

IMPÉRIO DA HEGEMONIA UNIPOLAR ESTÁ A SOFRER REVESES GEOESTRATÉGICOS NO MÉDIO ORIENTE! – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/imperio-da-hegemonia-unipolar-esta.html:

ROJAVA, UMA EMBRULHADA À MEDIDA DOS ALUCINADOS LABIRINTOS DE TRUMP! – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/rojava-uma-embrulhada-medida-dos.html;



Algumas consultas:
A Nova Rota da Seda passará pela Síria – http://www.orientemidia.org/a-nova-rota-da-seda-passara-pela-siria/;
La iniciativa de la Franja y la Ruta requiere un ambiente pacífico y estable – https://mundo.sputniknews.com/economia/201705141069147786-china-foro-economico/;
La cumbre de Teherán: un paso más para el establecimiento de la paz en Siria – https://mundo.sputniknews.com/orientemedio/201809091081842427-cumbre-teheran-paso-para-establecimiento-paz-siria/;
A guerra contra a Síria, ou de como se falsifica a história – http://paginaglobal.blogspot.com/2018/03/a-guerra-contra-siria-ou-de-como-se.html;

Putin y Erdogan acuerdan crear una zona desmilitarizada cerca de Idlib – https://actualidad.rt.com/video/289510-putin-erdogan-crear-zona-desmilitarizada-idlib;

A batalha de Idlib é adiada – (http://www.voltairenet.org/article203026.html);
A batalha de Idleb que Washington, Paris & Londres querem impedir –  https://www.resistir.info/moriente/idlib_27ago18.html;
As reivindicações ocidentais sobre a Síria – http://www.voltairenet.org/article203003.html;
Declaração de Princípios para o Pequeno Grupo da Síria – http://www.voltairenet.org/article202994.html;
Ejército sirio descubre pruebas de apoyo israelí a terroristas – http://www.hispantv.com/noticias/siria/364514/israel-apoyo-terroristas-extremistas-golan; 
Fragata francesa dispara mísseis a partir do Mediterrâneo – https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2018091712231166-misseis-fragata-franca/;
La 'teoría del todo' sobre el derribo del Il-20 ruso en las costas sirias – https://mundo.sputniknews.com/blogs/201809211082147964-sobre-derribo-avion-ruso-en-siria/;
Israel provocou de forma consciente situação perigosa no céu sobre Síria, opina analista – https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2018092412282907-israel-siria-il-20-especialista-culpa-aviao-russo/;
Rússia: novos dados indicam claramente que Israel é culpado por derrubada do avião Il-20 – https://br.sputniknews.com/russia/2018092412286062-russia-siria-il-20-defesa/;
Síria com S-300 russos deixará caças israelenses só espiando – https://br.sputniknews.com/charges/2018092412284278-siria-cacas-israel-abate-il20/.

Quando a NATO conjuga a guerra com os negócios


De altos cargos associados à guerra e aos interesses militares transitaram para bem sucedidas empresas privadas – e nesta qualidade desempenham agora funções no Centro de Excelência da NATO.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Que a NATO é uma aliança guerreira global não é novidade para ninguém; nem mesmo – e sobretudo – para aqueles que continuam a jurar que não passa de uma inocente organização defensiva. Mas a NATO dá fortes sinais de estar a transformar-se também numa motivadora frente de grandes negócios onde os interesses público e privado esbatem lucrativamente as suas fronteiras. Um exemplo? Chama-se Cooperative Cyber Defence Centre of Excellence (CCDCOE), com a tradução oficial portuguesa de Centro de Excelência para a Ciberdefesa Cooperativa e funciona a partir de Tallin, capital da Estónia.

O CCDCOE é «uma base avançada de negócios», garante-se à boca cheia nos meios do business onde se aliam os interesses militares e civis que têm a morte dos outros como recompensador modo de vida. Também é usual qualificar este Centro de Excelência como «uma antena» que conecta a mais paranóica das obsessões actuais dos que gerem «o nosso modo de vida» – a cibersegurança – com as potencialidades inesgotáveis de negócio que tal actividade representa a todos os níveis e em todos os azimutes.

A chefia desta estrutura foi entregue a um homem da casa, o coronel Jaak Tarien, ex-comandante da Força Aérea da Estónia. Ao seu lado tem um poderoso e galáctico Conselho Consultivo, no qual se destaca o general na reserva e ex-director da CIA, David Petraeus, que os seus admiradores não hesitam em qualificar como o «militar do século» na sequência das mortíferas operações que comandou no Iraque, no Afeganistão, e a que deve acrescentar-se o papel que desempenhou na destruição da Líbia enquanto chefe daquela agência de espionagem.

Outro membro do Conselho Consultivo é Koen Gisjbers, antigo ministro da Defesa da Holanda.

Duas estrelas brilhantes

Qualquer deles tem o perfil mais que recomendável para esta missão público-privada. De altos cargos associados à guerra e aos interesses militares transitaram para bem sucedidas empresas privadas – e nesta qualidade desempenham agora funções no Centro de Excelência da NATO.

Depois da sua polémica demissão, baseada, de facto, na confissão segundo a qual, como director da CIA, sabia do envolvimento da al-Qaida no atentado de Benghazi em 11 de Setembro de 2012 que vitimou o embaixador norte-americano e outros compatriotas, David Petraeus surge em Tallin no papel de presidente do poderoso fundo de investimento privado KKR (Kohlberg Kravis Roberts)1.

Mudou de organismo, mas tal não aconteceu em relação a alguns dos parceiros de negócio. Se, no caso da Líbia, silenciou o envolvimento da al-Qaida no atentado porque o grupo terrorista era aliado da NATO na operação para destruir o país, na Síria mantiveram-se os laços com a mesma organização criminosa. O KKR, sob a direcção de Petraeus, foi um facilitador fundamental na chamada Operação Madeira de Sicómoro autorizada por Barack Obama e que consistiu numa das maiores canalizações de financiamento e armamento da história destinada a grupos terroristas – al-Qaida e Estado Islâmico incluídos. Ora a título público, como na Líbia, ora a título privado, como na Síria, o general David Petraeus manteve-se fiel ao objectivo de destruir nações através da guerra e de agressões externas conduzidas por mercenários ditos «fundamentalistas islâmicos» – e sempre do lado dos interesses defendidos pela NATO. Não pode, portanto, ser mais recomendável o seu know-how para o Centro de Excelência de Tallin. Onde Petraeus pode agora expandir o seu negócio de cibersegurança através da Europa, via NATO, recorrendo às empresas Optiv e Darktrace, subsidiárias do KKR.

Os feitos do ex-ministro da Defesa holandês não serão tão sonantes, mas afirmam-se prometedores.

Koen Gisjbers acumula o lugar no Conselho Consultivo no Centro de Excelência da NATO com o de consultor privado do Ministério holandês da Defesa, que já dirigiu, e ainda com as posições de «ciberconsultor» das empresas Cyber4Board e a britânica CyNation.

Já este ano, o ex-ministro holandês da Defesa juntou-se ainda ao Conselho Consultivo da CybExer Technologies, sociedade com sede na Estónia que vende acções de formação em cibersegurança a empresas privadas e governos de países membros da NATO.

Para que o funcionamento seja mais sinergético, a CybExer e o Centro de Excelência da NATO em Tallin partilham alguns altos quadros, transformando-se assim em mais um exemplo das soluções público-privadas.

Portugal não perde o comboio

Uma vez que o CCDCOE e a sua estrutura prestam serviços aos governos de países da NATO, é importante saber que o executivo de Portugal não foi apanhado desprevenido.

Sob palavras entusiásticas e lúcidas advertências do ministro da Defesa, Dr. Azeredo Lopes, Portugal tornou-se membro do Centro de Excelência de Tallin no dia 24 de Abril deste ano. «Lidamos com ciberameaças diariamente», alertou o ministro. «Ameaças e ataques que são cada vez mais sofisticados e potencialmente mais perigosos, adensando um ambiente de ameaça complexo que encontra na guerra híbrida a sua dimensão mais espectacular», insistiu o Dr. Azeredo Lopes.

O ministro português demonstrou, deste modo, estar à altura das exigências, a todos os níveis, não se esquecendo de enfatizar como a guerra «é espectacular» e o seu carácter «híbrido», tal como é híbrida a função do Centro de Excelência da NATO em Tallin.

O acto de adesão de Portugal, aliás, tem o cuidado de lembrar que já em 2016, na Cimeira de Varsóvia, a NATO declarara o ciberespaço «como um novo domínio operacional, tão relevante como o ar, a terra e o mar».

Faltou enunciar um quinto domínio operacional: o dos negócios. Omissão assisada, pois sabe-se como o segredo é a alma dos ditos: em Tallin como em qualquer outro lugar, sobretudo se for com ambição «de excelência».

1.Henri Kravis e o seu primo George Roberts dirigem a firma Kohlberg Kravis Roberts (KKR) desde 1987, quando Jerome Kohlberg, Jr. se afastou da empresa acusando os seus parceiros de enriquecerem à custa dos investidores. Kravis é um conhecido apoiante e financiador do partido Republicano e das candidaturas de George W. Bush, George H. W. Bush e John McCain. Contribuiu com um milhão de dólares para a festa de inauguração presidencial de Donald Trump. É um dos administradores do poderoso Council on Foreign Relations (CFR) instituição especializada na política externa dos EUA, que conta entre os seus 4900 membros numerosos políticos, secretários de Estado, directores da CIA, banqueiros, advogados, proprietários de meios de comunicação e professores.

Imagem: Imagem do Locked Shields 2018, o maior e mais avançado exercício de cibersegurança do mundo, organizado pelo Cyber Defence Centre of Excellence (CCDCOE) desde 2010 com o objectivo de treinar especialistas encarregados de proteger diariamente os sistemas nacionais de IT. CréditosFonte: Cyber Defence Centre of Excellence (CCDCOE)

ISTO ESTÁ A SER FEITO PELO ELITISMO, EM NOME DA CIVILIZAÇÃO!...

No Botswana os deuses estão mesmo loucos!

Martinho Júnior | Luanda
  
1- Há minorias em África, que sendo duma incomensurável riqueza antropológica para toda a humanidade, estão sujeitas a todo o tipo de pressionantes manipulações de carácter fascista, colonial e neocolonial!...

De entre essas minorias estão os povos bosquímanos, os mais antigos povos autóctones da África Austral, com culturas adaptadas aos espaços ardentes do Kalahári e suas periferias, onde nenhum outro povo se instalou, onde foi garantido o seu refúgio-habitat e onde a amenização é garantida pelo “motor a dois tempos” em que se rege tropicalmente o Cubango (Okawango) que, nascido na região central das grandes nascentes em Angol, se espalha num enorme delta interior que ocupa a parte norte do Botswana.

É essa a “casa” dos bosquímanos, cuja nomadização acompanha os regimes dos fluxos de água a norte (ao longo do Cubango para dentro do território de Angola) e os pequenos e secretos reservatórios no interior do Kalahári, bem no miolo central do território do Botswana, a sul.

Essa nomadização é também feita pelos grandes herbívoros: durante a estação das chuvas eles penetram a sul no delta do Cubango e, quando chega o cacimbo, eles deslocam-se ao longo do rio em direcção norte, para dentro do Cuando Cubango.

Sem o Kalahari para as suas nomadizações, os bosquímanos estão a ser integrados nas pequenas reservas naturais e atraídos à sedentarização nas imediações das “lodges” turísticas, como espécie rara de museu animando as paisagens que dão lucro aos promotores de tão original ecoturismo, numa altura em que esse tipo de iniciativas complementam a instalação dos “superiores interesses” do cartel!

O crescimento dos interesses nos diamantes intercala-se com a promissora indústria do turismo, em grande parte virado para os endinheirados do mundo em busca de retiros exóticos.

O Central Kalahari Game Reserve surgiu no miolo central do Botswana, ocupando a maior parte do espaço de nomadização dos bosquímanos porém, desde que começou a ser considerado um território rico em kimberlites diamantíferas nos anos 80 do século XX, as áreas de exclusão para a exploração de diamantes começaram a surgir e, com elas, as nomadizações dos bosquímanos dentro do habitat que constitui sua “casa”, estão a chegar ao fim…

2- A PIDE/DGS utilizou os bosquímanos com a criação dos Flechas pelo inspector Óscar Cardoso na segunda metade dos anos 60 do século XX e, no âmbito da esteira do Exercício ALCORA, eles continuaram a ser utilizados pelo "apartheid" na sua famigerada"border war", servindo desde logo no Batalhão 31 integrado nas Forças Territoriais do Sudoeste Africano durante a Operação Savana, na tentativa de tomar Luanda a 11 de Novembro de 1975!...

A manipulação foi de tal ordem que os bosquímanos não deram pela mudança das bandeiras, nem pela ordem ideológica e doutrinária da internacional fascista em África, que disseminava tribalismo e “bantustões”…

Hoje, por causa da exploração de diamantes, numa altura em que esgotados os recursos na África do Sul o cartel passa-se, “com armas e bagagens”, para o paralelo do Bostwana, os bosquímanos estão a ser confinados, sedentarizados à força, tendo sido retirados do imenso Kalahári os reservatórios de água que permitiam um melhor habitat para as deambulações no seu ambiente natural!...

Dum patamar sócio-político e institucional, com o fim do “apartheid” os mesmos interesses passaram do estado para a economia e exercem-na com o mesmo sinal elitista e exclusivista de sempre, inclusive no que diz respeito à gestão da vida em relação ao património natural comum, onde se inscreve a cultura em vias de extinção dos bosquímanos.

Pergunta pertinente, numa altura em que foram criados no Sudeste de Angola, em função do jogo de interesses elitista e exclusivistas, os Parques Nacionais que integram o KAZA TFCA:

O QUE ESTAMOS E VAMOS FAZER EM ANGOLA COM ELES NO CUANDO CUBANGO, NO CUNENE E NO NAMIBE?

Martinho Júnior - Luanda, 18 de Setembro de 2018

Todas as ilustrações foram recolhidas do Survival International

Alguns suportes:
Botswana government lies exposed as diamond mine opens on Bushman land – http://www.survivalinternational.org/news/10410
Botswana, Kalahari Bushmen evicted to make space for diamond mining – https://www.lifegate.com/people/news/botswana-kalahari-bushmen
Diamond miners exploit land of the Bushmen – https://www.theguardian.com/world/2003/feb/20/rorycarroll


ARTIGO-MANIFESTO DO SURVIVAL

Existem 100.000 Bosquímanos em Botsuana, Namíbia, África do Sul e Angola. Eles são indígenas da África do Sul e têm habitado a região por dezenas de milhares de anos.

Na região central de Botsuana encontra-se a Reserva de Caça do Kalahari Central, uma reserva criada para proteger o território tradicional dos 5.000 Bosquímanos Gana, Gwi e Tsila (e seus vizinhos os Bakgalagadi), e a caça da qual dependem para sua sobrevivência.

No início da década de ’80, foram descobertos diamantes na reserva. Logo depois, oficiais do governo entraram na reserva para notificar os Bosquímanos, que lá viviam, que eles teriam que deixar a área por causa dos diamantes encontrados.

Em três grandes despejos, em 1997, 2002 e 2005, praticamente todos os Bosquímanos foram expulsos. Suas casas e seu poço de água foram destruídos, sua escola e posto de saúde foram fechados, e as pessoas foram ameaçadas e transportadas em caminhões.


Os Bosquímanos agora vivem em campos de reassentamento fora da reserva. Raramente conseguem caçar, e são presos e espancados quando o fazem; eles são dependentes das subvenções do governo. Agora, sofrem com o alcoolismo, o tédio, a depressão e doenças como a tuberculose e o HIV/AIDS.

A menos que eles possam retornar às suas terras ancestrais, suas sociedades originais e modo de vida serão destruídos, e muitos deles morrerão.

Embora os Bosquímanos tenham ganhado o direito na justiça de voltar às suas terras em 2006, o governo tem feito todo o possível para impossibilitar o seu retorno, inclusive proibindo-os de acessar um poço de água que utilizavam antes de serem despejados. Sem ele, os Bosquímanos dificilmente encontram água suficiente para sobreviver em suas terras.

Os Bosquímanos entraram com um novo processo judicial contra o governo em uma tentativa de ganhar acesso ao seu poço. Uma audiência foi realizada em junho de 2010, mas o juiz indeferiu o pedido dos Bosquímanos.

Ao mesmo tempo que o governo impede os Bosquímanos de terem acesso à água, ele tem perfurado novos poços para os animais selvagens e permitiu a empresa Wilderness Safaris de construir um alojamento turístico na reserva.

O Kalahari Plains Camp foi inaugurado depois que a Wilderness Safaris firmou um contrato de arrendamento com o governo. No entanto, o contrato não fez provisões para os direitos dos Bosquímanos em cujas terras ancestrais o alojamento foi construído, nem foram consultados sobre o empreendimento.

Enquanto os Bosquímanos dificilmente encontram água suficiente para sobreviver em suas terras, os hóspedes podem saborear cocktails na piscina do alojamento.


Além disso, o governo:

tem recusado a emissão de licenças para caçar nas suas terras (apesar da decisão do Supremo Tribunal de Botsuana que a sua recusa de emitir autorizações era ilegal),

prendeu mais de 50 Bosquímanos por caçar para alimentar suas famílias,

tem impedido os Bosquímanos de trazer seus pequenos rebanhos de cabras de volta para a reserva.

Sua política é claramente para intimidar e assustar os Bosquímanos em permanecer nos campos de reassentamento, e tornar impossível a vida dos que voltaram à sua terra ancestral.

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