domingo, 21 de outubro de 2018

Um relatório diferente

Manuel Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião

Com a presença do seu diretor-geral, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentou, no passado dia 16, em Lisboa, o seu relatório "Trabalho digno em Portugal 2008-2018: Da crise à recuperação". Trata-se de um relatório importante que merece ser debatido no plano nacional por organizações de trabalhadores e empresariais, por partidos políticos, pela academia e por organizações sociais e económicas.

Estamos habituados a relatórios e recomendações do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, da OCDE, da União Europeia que, em geral, seguem a cartilha neoliberal dominante. O trabalho da OIT é diferente por razões merecedoras de particular atenção.

A OIT é uma das instituições mais credíveis do sistema das Nações Unidas. Ela é por natureza conciliadora de interesses contraditórios, mas fortemente reformista. A OIT sofre hoje as influências perniciosas do domínio do poder financeiro e económico sobre o político, bem como as que decorrem da emergência de fascismos e de políticas ultraconservadoras. Mas a sua composição e estrutura de governação tripartidas, a sua cultura de valorização e dignificação do trabalho, de afirmação da igualdade, da justiça social, da paz e da democracia como pilares do desenvolvimento das sociedades humanas conseguem perspetivar, como noutros períodos históricos conturbados, sinais de esperança e caminhos alternativos.

O relatório - tal como as mensagens do diretor-geral, Guy Ryder, naquela apresentação - coloca em relevo na análise três campos fundamentais: i) o da sempre indispensável combinação de políticas económicas e sociais; ii) o da evolução do volume do emprego (e do desemprego), das suas características e qualidade, das políticas salariais, dos horários de trabalho e do papel da inspeção de trabalho; iii) o da importância e dinâmicas do diálogo social, com realce particular para o papel insubstituível da negociação coletiva.

O sumário executivo do relatório expressa, como uma das três características distintivas que emanam da observação feita sobre o "difícil processo de ajustamento", esta constatação: "a experiência portuguesa não corrobora a ideia de que é possível acelerar o ajustamento e recuperar rapidamente a competitividade internacional através da redução dos custos do trabalho e da flexibilização do mercado de trabalho". Tal afirmação surge solidamente sustentada em vários pontos do documento. Defende-se que a recuperação económica está muito dependente da pujança das exportações, da diminuição da dívida (embora de forma ténue) e do aumento do investimento. Realça-se, em vários planos e áreas, a importância de assegurar rendimentos aos trabalhadores no ativo, no desemprego ou na reforma, e de outras medidas que favoreçam a procura. São políticas necessárias para "impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto".

Na perspetiva da OIT, as políticas para o reforço da posição competitiva do nosso país devem, "ao mesmo tempo, garantir oportunidades para empregos seguros e bem remunerados para todas as pessoas, apoiadas por medidas de proteção social adequadas", e os esforços para "redução da dívida externa não devem comprometer o investimento público". É constatado o excesso de contratos temporários, a estagnação dos salários e o aumento das horas trabalhadas desde o início da imposição das políticas austeritárias, neste país que tem horários de trabalho excessivamente longos e uma proliferação vergonhosa de alugadores de mão de obra. Para a OIT, a conjugação destas realidades "muitas vezes significa mais trabalho por menos dinheiro". Talvez esta última constatação seja uma das justificações de em 2018 ser possível recuperarmos, ou até ultrapassarmos ligeiramente, o nível de riqueza que produzíamos em 2008, mas agora com menos 300 mil trabalhadores.

Não se perca a oportunidade de discutir estes temas aqui enunciados, de pôr em evidência que a flexibilidade que marca o atual mundo do trabalho não pode vir toda das relações de trabalho, de afirmar a necessidade de melhorar as qualificações dos trabalhadores e dos patrões, de melhorar a organização e gestão das empresas e dos serviços, de reforçar o investimento.

*Investigador e professor universitário

Bem-vindo ao inferno do G-20


Líderes mundiais lutam com um turbilhão de questões complexas e candentes quando se preparam para cimeira de 30 de Novembro

Pepe Escobar [*]

cimeira G-20 em Buenos Aires, em 30 de Novembro, poderia atear um incêndio mundial – talvez literalmente. Vamos começar com a guerra comercial EUA-China. Washington nem mesmo começará a discutir comércio com a China no G-20 a menos que Beijing proponha uma lista bastante pormenorizada de potenciais concessões.

A atitude dos negociadores chineses não é de todo negra. Alguma espécie de acordo poderia ser alcançada sobre um terço das exigências estado-unidenses. O debate sobre outro terço poderia seguir-se. Mas o último terço está absolutamente fora dos limites – devido a imperativos chineses de segurança nacional, tal como a recusa a permitir a abertura do mercado interno de computação cloud à competição estrangeira.

Beijing nomeou o vice-primeiro-ministro Liu He e o vice-presidente Wang Qishan para supervisionar todas as negociações com Washington. Eles enfrentam uma tarefa árdua: atravessar o limitado espaço de atenção do presidente Donald Trump.

Acima de tudo, Beijing exige um "responsável" ("point person") com autoridade para negociar em nome de Trump – considerando o congestionamento de mensagens mistas que emanam de Washington.

Agora compare isto com a mensagem vinda do instituto de investigação fantasticamente chamado Pensamento Xi Jinping sobre Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era, sob a alçada da Escola do Partido do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC): os EUA começaram a "fricção comercial" essencialmente "para perturbar o aperfeiçoamento industrial da China".

Este é o consenso no topo

E o choque está destinado a ficar pior. O vice-presidente Mike Pence acusou a China de "imiscuir-se na democracia americana", na "diplomacia da dívida", na "manipulação da divisa" e no "roubo de IPs". O ministro dos Negócios Estrangeiros em Beijing descartou tudo isto como "ridículo" .

É instrutivo prestar atenção ao que o ministro dos Estrangeiros Wang Yi disse ao Council on Foreign Relatlions – tão diplomaticamente quanto possível: "A China seguirá um caminho de desenvolvimento diferente das potências históricas". E a China não procurará hegemonia.

Do ponto de vista da Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, isso é irrelevante; a China tem sido falsamente acusada de competidora brutal e mesmo uma ameaça. O presidente Xi Jinping não se dobrará às exigências comerciais de Washington. Assim aguarda-se uma possível não-reunião entre Xi e Trump em Buenos Aires.

A ameaça de um primeiro ataque nuclear 

As coisas parecem mais hirsutas na frente russa. Apesar de toda a paciência taoísta do ministro dos Estrangeiros Sergy Lavrov, círculos diplomáticos em Moscovo estão exasperados pelas graves ameaças americanas – como a de a US Navy impor um bloqueio para restringir o comércio de energia russo. Ou pior: o ultimato de que a Rússia deve cessar de desenvolver um míssil que, segundo Washington, viola o Tratado Intermediate Range Nuclear Forces (INF), caso contrário o Pentágono o destruirá.

Isto é tão sério quanto parece – porque equivale a comprometer-se com um primeiro ataque nuclear dos EUA.

Em paralelo, o presidente da BP, Bob Dudley, disse na conferência Oil & Money em Londres que quaisquer sanções adicionais dos EUA contra companhias de energia russas de topo seriam desastrosas. "Se sanções fossem aplicadas à Rosneft ou à Gazprom ou à Lukoil como as que foram aplicadas à Rusal, virtualmente seriam encerrados os sistemas de energia da Europa, é algo de uma coisa extrema a acontecer", disse ele.

Na frente dos BRICS, a Rússia e a Índia habilmente manobraram por conta própria e conseguiram esborrachar o planeamento geoestratégico dos EUA contra os três principais pólos de integração da Eurásia: Rússia, China e Irão.

O Quarteto – EUA, Japão, Austrália, Índia – fora concebido para tolher a China no Índico-Pacífico e em paralelo confinar a margem de manobra da Rússia. O Quartelo não está exactamente em excelente forma depois de a Índia ter decidido comprar sistemas anti-mísseis S-400 russos.

Além do acordo do S-400, companhias russas construirão seis reactores nucleares adicionais na Índia, a um custo de US$20 mil milhões cada um, ao longo da próxima década. A Rosneft assinou um acordo de 10 anos para vender à Índia 10 milhões de toneladas de petróleo por ano. E a Índia continuará a comprar petróleo do Irão, pagando por ele em rupias.

Na frente da UE, tudo gira em torno da Alemanha. Em Berlim há poucas ilusões acerca do futuro vacilante da UE. A economia alemã centrada na exportação está focada na Ásia. A Alemanha está a redobrar a solidificação de um modelo estilo asiático – algumas grandes empresas que são campeãs nacionais capazes de turbinar exportações. O mercado dos EUA – sob ventos protecionistas – agora é apenas uma reflexão tardia. 

Trópicos tóxicos 

E então há a tragédia brasileira. O presidente Maurício Macri arruinou a Argentina com um choque neoliberal. A nação é agora refém do FMI.

Um cenário possível é um G-20 no qual a Argentina aprenderá como tratar com um fascista a liderar seu vizinho próximo e parceiro comercial importante, o Brasil.

Antigo paraquedista, Jair Bolsonaro pode ser xenófobo e misógino, mas certamente não é nacionalista. O "Messias" tropical auto-apregoado saúda rotineiramente a bandeira dos EUA. Seu sucessor económico é um Chicago Boy que quer vender o país – para deleite dos "investidores" e peritos em "mercado" desde Nova York e Zurique até Rio e São Paulo.

Esqueçam a criação de empregos ou mesmo a tentativa de resolver imensos problemas sociais do Brasil: desigualdade social aguda, investimentos prementes em saúde e educação, insegurança urbana. A única "política" de Bolsonaro é armar a população no estilo Mad Max .

Para Bolsonaro tudo deveria estar sob o reino absoluto de um mercado "livre" Hobbesiano . Esqueçam acerca de qualquer possibilidade uma intervenção moderada do Estado nas complexas relações entre o Capital e o Trabalho.

Isto é o cume de um processo complexo desencadeado anos atrás no Brasil através de think tanks tais como a Atlas Network , cargas de dinheiro e, por último mas não menos importante, um tsunami evangélico/neo-pentescostalista.

Os pilares da carnificina brasileira são poderosos interesses do agro-business e da exploração mineral, os tóxicos media "de referência" brasileiros, evangélicos, um sector financeiro totalmente subserviente à Wall Street, a indústria de armas, o judiciário completamente politizado, a polícia, os serviços de inteligência e as forças armadas.

E as estrelas do espectáculo são naturalmente o conjunto Boi-Bíblia-Bala – com os seus montes de membros no Congresso – supervisionados pela Deusa do Mercado.

O neoliberalismo nunca ganha eleições no Brasil. Assim, o único meio de implementar "reformas" é através de um sub-Pinochet. Aguardem devastação social-ambiental generalizada, matança indiscriminada de líderes rurais e índios brasileiros, uma absoluta prosperidade para a indústria de armas, bancos a celebrarem o Natal toda semana, repressão cultural abissal, desnacionalização total da economia e trabalhadores e pensionistas a pagarem por todas estas "reformas". Chamem a isto negócios como de costume.

As tendências fascistas de Bolsonaro foram normalizadas não apenas pelos poderes do Brasil. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Jorge Faurie, qualificou-o como um político de "centro-direita".

Beijing e Moscovo – devido aos BRICS – e a UE em Bruxelas estão estarrecidos pelo afundamento do Brasil dentro deste turbilhão. A Rússia e a China contavam com um Brasil forte contribuindo para um mundo multipolar durante o período de Lula, o qual era uma importante força condutora do BRICS.

Para a UE, é difícil tolerar um fascista a liderar seu principal parceiro comercial na América Latina e o cerne do Mercosul. Para o Sul Global como um todo, a implosão do Brasil, um dos seus líderes, é uma tragédia absoluta.

Agora imagine Washington como um furioso compêndio de ameaças e sanções. Uma UE fracturada ao máximo – denunciando o não-liberalismo asiático enquanto impotente para combater a "ascensão dos deploráveis" em casa. Os BRICS em desordem, com dois num confronto grave com Washington, um fora do jogo e um em cima do muro – entre os quatro primeiros. A Casa de Saud a apodrecer a partir de dentro. O Irão nem mesmo na mesa do G-20. Hora de cantar  Que mundo maravilhoso . 

15/Outubro/2018

[*] Jornalista, brasileiro.

O original encontra-se em www.atimes.com/article/welcome-to-the-g-20-from-hell/ 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Bissau | Milhares de guineenses marcharam em protesto contra recenseamento eleitoral


A manifestação deste domingo (21.10) foi organizada por 22 partidos sem assento parlamentar e pelo PRS. Participantes pediram cumprimento da lei. Assembleia do Povo Unido vai pedir nulidade do processo eleitoral.

Milhares de guineenses marcharam, este domingo (21.10), em protesto contra o recenseamento eleitoral para as legislativas de 18 de novembro na Guiné-Bissau, na principal avenida da capital guineense.

O protesto foi organizado por 22 partidos sem assento parlamentar e pelo Partido de Renovação Social (PRS), segundo maior força partidária da Guiné-Bissau e que faz parte do atual Governo de consenso, a que juntou o movimento do Botche Candé, antigo ministro do Interior e atual conselheiro do Presidente do país, José Mário Vaz.

"Estamos a exigir que as coisas sejam claras para que possamos ter umas eleições livres, justas, transparentes e universalmente aceites", afirmou Orlando Viegas, vice-presidente do PRS, acrescentando que o que está a ser também exigido é a participação de todos no processo eleitoral. "Para que o recenseamento seja feito é só cumprir aquilo que está plasmado na lei", salientou.

Por sua vez, Nuno Nabian, presidente da APU-PDGB (Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau), exigiu um recenseamento que cumpra a lei eleitoral, salientando que sempre foram coerentes nas suas posições. "A APU está aqui para dizer ao Governo para cumprir com os preceitos da lei do recenseamento e da lei eleitoral", afirmou.

Nulidade do processo?

Questionado sobre se a APU vai pedir a nulidade do processo eleitoral, Nuno Nabian, que nas últimas presidenciais ficou em segundo lugar, disse que sim, porque o "processo não é credível". Para o presidente da APU, "os cartões eleitorais não têm fiabilidade" e, acrescenta, não se pode ir para eleições com cartões que qualquer um pode fabricar.

Braima Camará, que faz parte do grupo de dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e criou recentemente o Madem-G15, afirmou que o protesto tem como objetivo chamar "à responsabilidade as instituições e o Governo da Guiné-Bissau". "Estamos só a pedir justiça e cumprimento escrupuloso da lei da República, da lei do recenseamento e da lei eleitoral", disse.

O processo eleitoral para as legislativas tem sido fortemente criticado também pela sociedade civil, que já pediu o adiamento das eleições.

Em causa está, essencialmente, o facto do recenseamento eleitoral não ter decorrido entre 23 de agosto e 23 de setembro, como previsto, devido a atrasos na chegada dos equipamentos para recenseamento biométrico. O recenseamento acabou por só ter início a 20 de setembro e deveria ter terminado este sábado (20.10). Mas a lei eleitoral prevê dois meses para o registo dos eleitores.

A marcha esteve inicialmente prevista para quinta-feira, mas foi adiada para hoje por causa da greve dos transportes de pessoas no país, que prejudicava a mobilização de apoiantes.

Agência Lusa | em Deutsche Welle

Direitos humanos em Moçambique abordados no festival de cinema Doclisboa


No filme "Pele de Luz", o realizador André Guiomar quis abordar a questão do albinismo. Já o documentário "Entre Eu e Deus", de Yara Costa, mostra como ainda é complexo ser muçulmano, também na sociedade moçambicana.

"Pele de Luz", filmado o ano passado, retrata pessoas com albinismo em Moçambique. O filme conta a história de duas irmãs albinas que, em Maputo, enfrentam ainda as crenças enraizadas na magia negra.

O realizador português André Guiomar passou os últimos quatro anos no país e aprendeu a entender a importância da fé, nomeadamente, o espaço da magia negra nos hábitos dos moçambicanos. "Para obter riqueza, muitas vezes tem que se matar um albino e usar os seus órgãos nesses rituais", começa por afirmar André Guiomar, acrescentando que a história do filme surge quando conheceu Anifa, que é a personagem principal. "A Anifa está envolvida no Parlamento Juvenil de Maputo e quando sai à noite é raptada e acaba por sobreviver a esse rapto e escapar. A polícia apanha a carrinha e a partir daí a minha ideia foi [perceber] como é que mentalmente se aguenta ou onde é que nós nos apoiamos para continuarmos sãos depois disso", conta.

Foi assim que se apercebeu da existência em Moçambique - tal acontece noutros países de África - de um preocupante problema de violação dos direitos humanos. No entanto, o filme que é exibido esta segunda-feira (22.10), em Lisboa, e que também estará em exibição em Moçambique, procura mostrar duas formas diferentes de lidar com o albinismo, como explica o realizador: "O filme acaba por ser ela [Anifa] e a irmã mais nova [Isa], que está numa crise mais complicada porque está numa idade mais frágil, e está a construir a sua identidade. Não encara da mesma maneira as diferenças que ela vê em si própria. Portanto, a Anifa, mais velha, vê positivamente ser diferente dos outros. Acha isso uma caraterística positiva, mas a Isa está ainda numa fase muito complicada de aceitação nesse sentido".

O realizador sublinha ainda que, na vida destas pessoas, a fé, a educação escolar e o apoio familiar são três pilares estruturais importantes. E acrescenta que não bastam as campanhas para combater os abusos contra os albinos.

Por sua vez, Yara Costa estreia no DocLisboa o seu documentário "Entre Eu e Deus", a primeira longa-metragem sobre Karen, uma adolescente muçulmana da Ilha de Moçambique.

Em entrevista à DW África, Yara Costa explica que ao aperceber-se de um "fenómeno relativamente recente associado à mudança na forma de vestir dos jovens, quis entender se este facto também "representava uma forma de pensar diferente e o que é que estava a acontecer com aquelas pessoas que estavam, de repente, a mudar as suas vestes e o seu comportamento". É assim que surge então a ideia de contar a história de Karen. "Porque  achei que ela, além de ter uma história e de ser um personagem fortíssimo, dá a cara a esse fenómeno que é uma coisa mais geral que está a acontecer, não só em Moçambique, mas também em vários países africanos onde existe a religião muçulmana", explica.

Islão vs Preconceito

Baseando-se na sua realidade islâmica, a realizadora moçambicana traz a público a temática do fundamentalismo religioso no mundo inteiro, alimentado, sobretudo, por jovens que procuram outras referências ou outra forma de estar na sociedade. Yara quis também "explorar um pouco o conflito que existe entre a geração mais jovem e a geração mais antiga que, apesar de religiosa, não está confortável e não se vê representada nesta nova forma de praticar a religião".

No filme, Yara Costa trata de apresentar a história sem fazer nenhum julgamento ou juízo de valor, mostrando quão complexo é hoje em dia ser muçulmano em Moçambique. Como explica à DW, "Entre Eu e Deus" pretende abordar o preconceito que existe em relação a estas pessoas. "[Existem] muitos estereótipos, o de achar que uma mulher faz isso porque tem um homem que a está a obrigar, porque são mulheres que não têm acesso à educação, porque são mulheres oprimidas; e o meu personagem ajuda a desmistificar um pouco essa ideia, que a faz identificar com algo que vai além das fronteiras da Ilha de Moçambique e do islão que ela conheceu. Queria mostrar esse lado também, o preconceito que ela sofre por ter feito essa escolha. Ela paga um preço muito alto por isso".

Confrontada com a necessidade de muito debate sobre o preconceito e a diferença retratados no filme, a realizadora considera que ainda "há muito desconhecimento e muita distância entre eu e o outro". Mais ainda em Moçambique, tal como no mundo inteiro, onde a religião islâmica é associada à violência, a atos terroristas. Face a esta visão, Yara Costa deixa a pergunta: "Todo o muçulmano é um potencial terrorista?".

"Entre Eu e Deus" é exibido no dia 28 de outubro, no Cinema de São Jorge, na reta final da décima sexta edição do Doclisboa, Festival Internacional de Cinema documental, que teve início a 18 de outubro e termina no dia 28.

João Carlos (Lisboa) | Deutsche | Welle

Moçambique | Detidos 104 indivíduos suspeitos que tentavam chegar a Cabo Delgado


A polícia da Tanzânia lançou operação contra indivíduos que tentam estabelecer bases radicais em Moçambique, onde dezenas de pessoas têm sido mortas, na sequência de ataques protagonizados por homens desconhecidos.

Desde outubro de 2017, registaram-se na província moçambicana de Cabo Delgado, perto da fronteira com a Tanzânia, cerca de quarenta ataques armados, que vitimaram mortalmente mais de 100 pessoas, a maior parte decapitadas.

Em declarações numa conferência de imprensa esta semana, em Dar es Salaam, na Tanzânia, o Inspetor Geral da Polícia, Simon Sirro, explicou que, nos últimos meses, as forças de segurança lançaram uma operação contra estes "criminosos, mas que alguns deles conseguiram fugir".

"Durante essa operação, alguns criminosos foram presos, alguns morreram e outros escaparam. Aqueles que escaparam estão a tentar atravessar a fronteira para Moçambique com o objetivo de estabelecerem lá uma base", disse Simon Sirro, acrescentando que esta informação foi confirmada à polícia pelos próprios indivíduos. "No interrogatório, eles disseram que iam lá [para Moçambique] para se juntarem a campos radicais".

"Eles escondem-se nas florestas, aprendem a usar armas de guerra como a AK47. É uma tendência que vem de países estrangeiros, não existe na Tanzânia", acrescentou.

Julgamento

No início deste mês, a justiça moçambicana iniciou o julgamento contra cerca de 214 arguidos, suspeitos de estarem envolvidos nos ataques em Cabo Delgado. Destes, cerca de 50 são tanzanianos.
"Estes criminosos querem estabelecer uma base em Moçambique. Mas enganam-se porque temos boas relações com Moçambique e com os outros países vizinhos", disse Simon Sirro.

Segundo o Inspetor Geral da Polícia, os tanzanianos envolvidos, incluindo raparigas jovens, faziam parte de um grupo responsável por vários assassinatos de polícias e funcionários administrativos na província de Pwani, na Tanzânia, em 2016 e 2017. Não se sabe quais as motivações que levaram a estes crimes. Mas, após os assassinatos em Pwani, o presidente John Magufuli afirmou que: "Não há fé religiosa que ensine as pessoas a matar".

Reuters, AFP, rl | Deutsche Welle

Angola esclarece "equívocos" sobre repatriamento de congoleses ilegais no país


Ministro Pedro Sebastião frisa que não houve qualquer tipo de violência no repatriamento dos cidadãos da RDC e acusou o governo do país vizinho de "aproveitamento político". 380 mil migrantes já deixaram Angola.

O governo angolano entende que há um certo aproveitamento político da parte da República Democrática do Congo (RDC) em relação ao processo de repatriamento de cidadãos congoleses ilegais em Angola, envolvidos na exploração ilegal de diamantes. Um processo que tem sido conduzido no âmbito da Operação Transparência, levada a cabo pelo executivo angolano desde o dia 25 de setembro e que conduziu já à saída de cerca de 380.000 migrantes do país, a maioria da RDC.

Ao reagir às informações de que as autoridades congolesas pretendem também expulsar os angolanos ilegais naquele país, o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião afirmou que "se há angolanos a residir na RDC de forma ilegal, o governo congolês tem todo o direito de mandar de volta esses nossos angolanos, da mesma forma que o governo angolano e todo o governo que se preze, tem o direito de retirar todos aqueles que estejam a viver ilegalmente no seu território".

Pedro Sebastião está a coordenar a Operação Transparência e falava à imprensa, este sábado (20.10), durante uma visita a Dundo, no norte de Angola, fronteira com a RDCongo, e onde alguns congoleses se manifestavam à frente da Embaixada de Angola. 

Aproveitamento político

O ministro angolano disse ainda considerar que as "informações tendenciosas postas a circular a nível internacional" relativas ao repatriamento de milhares de congoleses, estão a "por em causa a imagem da República de Angola e podem prejudicar as relações de amizade e fraternidade que o Estado angolano pretende manter com os países vizinhos no seu todo, e em particular, a irmã RDC”, na qual partilha uma fronteira comum de mais de 200 quilómetros.

Aos jornalistas, Pedro Sebastião disse ainda que, para além das consequências que proveem da imigração ilegal, o que mais prejudica o território angolano é o garimpo de diamantes. Portanto, e de acordo com esta realidade, acrescentou, o governo tem estado a agir nestas duas realidades concretas. "Evidentemente que, em situações como estas há sempre algum aproveitamento político. Sabemos que dentro de muito pouco tempo, aqui ao lado, o país vai realizar eleições gerais e nós não gostaríamos muito sinceramente de ser envolvidos nas querelas internas do país. Ao que parece há um aproveitamento político em relação ao momento que se está a viver lá", frisou o governante.

A Operação Transparência, disse o governante, "não tem por base qualquer motivação ou sentimento xenófobo contra cidadãos de países vizinhos ou e qualquer outra nacionalidade". Visa apenas combater o tráfico de diamantes e imigração ilegal no país. Com esta operação, continua Pedro Sebastião, Angola "pretende somente repor a legalidade no que respeita a exploração e à comercialização de diamantes como uma das principais fontes de receitas do país".

Nos últimos dias, muitos congoleses acusaram as autoridades angolanas de brutalidade nas expulsões de Angola e o Governo da RDCongo manifestou "toda a indignação e o vivo protesto" ao Executivo angolano, não só pela violência como pela "perda de vidas humanas". Este sábado (20.10), Pedro Sebastião voltou a reiterar aos meios de comunicação nacionais e internacionais presentes que são "completamente falsas" as informações sobre alegados atos de violação dos direitos humanos e assassinatos de cidadãos da República Democrática do Congo que estão a ser repatriados do território angolano por não estarem legalizados.

Imagens descontextualizadas

"Não foram praticados quaisquer atos de violências por parte das autoridades policiais ou militares, suscetíveis de serem classificadas de violação dos direitos humanos contra os cidadãos da República Democrática do Congo, que têm vindo abandonar o território nacional ace às medidas tomadas, que levaram ao encerramento de mais 231 casas de compra e venda de diamantes, de 90 cooperativas, de mais de 380 mil cidadãos estrangeiros que abandonaram voluntariamente nosso território", explicou.

Quanto às imagens de violência contra supostos estrangeiros que estão a circular nas redes sociais, Pedro Sebastião esclarece que "tais imagens são descontextualizadas e não correspondem a realidades dos factos relacionados com esta Operação Transparência que eu coordeno. Não houve cidadãos estrangeiros ou nacionais molestados nem existiu qualquer apreensão de haveres pessoais”, afirmou o governante angolano, sublinhando que "são completamente falsas as afirmações referentes à massacres, sevícias ou violações praticadas pelas autoridades ou populares angolanos", concluiu o general.

Borralho Ndomba (Lunda-Norte) | Deutsche Welle

Angola | Em saudação à “Operação Transparência”


Em reposição no PG “O Vale do Cuango”, de Martinho Júnior, decano do Página Global, afirma que “recordo esta publicação que fiz em Janeiro de 2011” - que aqui inserimos pela constante importância dos artigos do autor, amigo inolvidável e constante companheiro que “alimenta” sobre Angola, África e resto do mundo a opinião e análise na redação do PG.

O VALE DO CUANGO

Martinho Júnior | Luanda

O riquíssimo vale do Cuango, uma imensa mina a céu aberto, tem sido, praticamente desde que foram definidas as fronteiras de Angola, uma das regiões onde têm acontecido algumas das disputas mais acirradas e críticas em toda a região, interligando-se (senão mesmo afectando simultaneamente) à situação sócio-política e económica quer da RDC, quer de Angola. (1)

As fronteiras de Angola, fronteiras estimuladas sobretudo a partir do quadro da Conferência Colonial de Berlim, de há 50 anos a esta parte e no geral foram sempre disputadas, mas as coisas passaram-se de forma distinta no Cuango devido à existência de diamantes aluviais, ao facto do rio possuir curso internacional, por causa de ser um dos tributários da grande bacia do Congo e ainda por causa do vale propiciar acesso à região central das grandes nascentes em Angola, ou seja, uma conjuntura que tem-se tornado numa prolongada situação de excepção com implicações profundas na vida dos dois países.

O cartel de diamantes, o intrincado “lobby” dos minerais e os poderes ligados às elites e à hegemonia, tiveram sempre o vale do Cuango como uma referência obrigatória, como se ali se espraiassem as “minas de Salomão” e não é por acaso, que depois de tantos jogos africanos instrumentalizados pelas manipulações das potências ocidentais e em particular dos Estados Unidos, surjam num cínico corolário “experts” como Theresa Whelan, (Subscretária da Defesa para África durante a última fase da Administração de George Bush) que chegam à conclusão de que afinal em África existem zonas onde os poderes centrais têm pouca capacidade de intervenção político-administrativa, num vazio que é por vezes aproveitado para, ao mesmo tempo que se promove a deliquescência dos vulneráveis estados africanos, se incentivarem rebeldes, etno nacionalismos, tribalismos… e as explorações mais desenfreadas e vis dos mais diversos minerais, sobretudo diamantes aluviais e coltan. (2)

As estratégias Norte Americanas em África, dirigidas para as regiões de insuficiente cobertura política-administrativa, fazem hoje parte dos conceitos absorvidos pelo AFRICOM e isso é um inquestionável sinal que nos obriga a reflectir sobre esse tipo de fronteiras e sobre a natureza de estados como o Uganda e o Ruanda, dominados por elites de feição subordinadas a esses interesses extra continentais dispostos à manipulação histórica, à opressão, ao desequilíbrio, às “estratégias de tensão” a que se habituaram e até às guerras de rapina.

Os regimes do Uganda (Yoweri Museveni) e do Ruanda (Paul Kagame) têm sido identificados como servis aos propósitos dos Estados Unidos e do AFRICOM, enquanto plataformas de acção em direcção leste (Somália) e oeste (particularmente a RDC, mas também com influência na situação transfronteiriça em Angola).

A revolta da baixa do Cassange ocorreu há 50 anos na parte do curso do Cuango imediatamente a sul do seu sulco se tornar fronteira internacional. (3)

O facto da Cotonang ter escolhido a região para as suas plantações de algodão pode ter sido a fórmula ambígua para alguns capitais com proveniência sintomática da Bélgica e de Portugal também serem aplicados no tráfico de diamantes em plena década de 50, o que poderá ser um dos segredos que foi enterrado pelo Estado Colonial de Salazar e Caetano e garantido com a finitude da PIDE/DGS…

… Talvez no arquivo da Torre do Tombo se possam recolher algumas notícias em relação a isso… mas o cartel sabe-o na perfeição e se porventura não o divulga, é por que se mantém fiel a que “o segredo continue a ser a alma do negócio”: o Cuango continua a ser uma inesgotável fonte de diamantes aluviais, num tom amarelo-limão reconhecível em qualquer parte do mundo dedicado a esse tipo de enredos, particularmente nas bolsas de diamantes de Antuérpia, Amsterdão, Nova York, Londres e Tel Aviv…

O cartel de diamantes durante a IIª Guerra Mundial era de tal maneira poderoso que negociava com os dois lados do “front” e era ao Congo e a Angola (vale do Cuango incluído), que ia buscar alguns dos diamantes indispensáveis à indústria do armamento das potências do Eixo, com destino especial à manufactura dos canhões.

… O melhor aço alemão só podia ter estrias vincadas por diamantes e os Oppenheimer tinham de pagar tributo às suas origens, em conformidade aliás com a experiência financeira dos Rothschild…

O conhecimento desses factos segundo a investigadora e antropóloga Janine Farrell-Roberts, é uma pedrada no charco da propaganda mil vezes difundida pelo cartel, não só quando propaga o aliciante slogan (aliciante para as elites) que “os diamantes são eternos”, mas quando mentem ao procurar difundir que os diamantes são elementos que nada têm a ver com o sangue e em tudo têm a ver com a paz, com o amor e com uma certa fidelidade que chega ao ponto de, pela via do casamento, ser abençoada até por Deus… (4)

A Cotonang chegou ao vale do Cuango disposta a assumir as mesmas experiências coloniais que haviam sido assumidas no Congo com o Rei Leopoldo, experiências que eram transferidas para os colonialistas portugueses com quem não havia sido difícil esse tipo de aprendizagem e comunicação.

O vale do Cuango era um excelente “vaso comunicante”, tanto do ponto de vista do exercício do impacto dos poderes coloniais belgas e portugueses como do ponto de vista natural, climático e físico-geográfico, um elemento comum de referência e de identidade própria entre o Congo e a Angola colonizados e por isso, a revolta dos camponeses em Cassange há 50 anos, bebeu também da influência da independência do Congo e da interpretação popular (interpretação filtrada pelo messianismo redentor de então e disseminada como mensagem para as massas de iletrados e oprimidos) das ideias revolucionárias de Patrice Lummba.

Foi sintomático que em Angola, a corrente de revolta contra o colonialismo tivesse chegado primeiro à baixa do Cassange do que ao resto do país, em especial Luanda e norte (actuais Províncias do Bengo, Zaire e Uíge).

Foi também sintomático que essa revolta que culminou em massacre tenha vindo a inspirar aqueles que se propuseram à luta de libertação, tanto pela via do movimento, como pela via dos etno nacionalismos de feição neo colonial.

Essa lição aprendeu-a como é lógico o poder dominante exercido pelos Estados Unidos arrastando os seus “parceiros” com implicações na região (Bélgica, Portugal, o regime de Mobutu, o regime do “apartheid”… o cartel, os traficantes, as bolsas de diamantes… ).

Para esse poder imenso, sempre houveram discretas práticas de conspiração e os obstáculos foram sendo varridos sempre que se desenhavam nos horizontes sócio-políticos, em manipulações selectivas por vezes sangrentas, traumatizantes e evidentes desde a independência do Congo há 50 anos…

Patrice Lumumba foi rapidamente eliminado, Pierre Mulele seria um pouco mais difícil de atrair, mas por fim acabou também por ser eliminado e, para que tudo corresse de acordo com as conveniências, lá estavam Tshombé, Kasavubu, Adoula e Mobutu, sobretudo Mobutu, ele próprio sob influência directa dum dos elementos operacionais mais fortes do cartel e da CIA: Maurice Tempelsman. (5)

Aristocracia financeira mundial, diamantes e elites locais sempre foram tendo em África seus pontos comuns de “entendimento e ligação”, interiorizados por décadas de neo colonialismo, à imagem e semelhança do que vem acontecendo de há 200 anos a esta parte no outro lado do Atlântico, na América Latina…

A luta de libertação em Angola aliada ao internacionalismo revolucionário cubano que o próprio Che se encarregou de fazer chegar a África em 1965 saiu vitoriosa e, no rescaldo da independência de Angola dez anos mais tarde, outro acontecimento marcou pela positiva a vida no vale do Cuango: os militares do ELNA, que haviam experimentado a manipulação de Kissinger e da CIA bem como a derrota de Quifangondo, estavam dispostos a, pela via do COMIRA, vir a integrar um a um as fileiras das FAPLA, num fluxo inverso ao seguido anos antes por Daniel Chipenda, que culminara na constituição do Batalhão Búfalo das SADF. (6)

Foi a partir de suas bases em Tembo Aluma e Kassango Lunda, no lado do Congo e na margem direita do Cuango internacional, que os contactos foram feitos com os oficiais da DISA e estimulada a integração.

Pela primeira vez no longo percurso em busca da paz pela via da ausência de tiros, Angola experimentou êxito e deu o primeiro passo.

A vida no vale do Cuango continuou a ser entretanto uma vida de fronteira, à disposição dos interesses que surgiam com fluência na região.

O comércio de fronteira foi estimulado a partir de Kinshasa, com traficantes israelitas, portugueses, belgas, zairenses e até angolanos que afluíam no engodo dos diamantes aluviais do Cuango.

No processo 105/83 alguns desses traficantes foram sendo identificados, entre eles o já falecido José Basílio Alves Pereira, angolano nascido em Malange que tinha residência na cidade do Porto, em Portugal e entre outras coisas fazia do Zaire sua plataforma de actividades.

Ele havia sido um comerciante interessado na logística da FNLA e depois da integração duma parte do efectivo do ELNA nas FAPLA, havia continuado com os “negócios de fronteira”…

O próprio círculo de poder de Mobutu, tirando partido de gente como João Nunes Seti Yale, um luso-zairense disponível que fazia parte da elite no poder em Kinshasa, manteve preponderância sobre o tráfico na direcção do Cuango internacional. (7)

A guerra no sul do Continente evoluiu e o movimento de libertação, a partir da histórica batalha de Cuito Cuanavale, conseguiu que a luta contra o “apartheid” saísse vitoriosa.

Savimbi, que havia estruturado a sua organização com o apoio do regime do “apartheid” pela via das Operações Silwer e Disa junto à fronteira sul encostado à faixa do Carpivi e ao norte do Botswana, ficava sem retaguarda, mas a CIA e o cartel de diamantes, influenciando Mobutu, atraíram-no à montagem dum novo dispositivo, desta vez utilizando o território do Zaire, explorando aliás o “êxito deep inside” que fora a relativa neutralização daqueles que no quadro de Segurança do Estado em Angola, eram dos elementos mais conhecedores do enredo internacional e das estratégias dos diamantes de fronteira, incluindo as que eram montadas na via do Cuango internacional.

Foi muito importante esse esforço das grandes manipulações para a causa do império e do cartel e a sincronização de esforços com a utilização de Mobutu e de Savimbi contava com o curriculum histórico deste último:

- No momento de combater o colonialismo, Savimbi atirou-se para os braços dos portugueses no âmbito da Operação Madeira…

- No momento de combater o “apartheid”, Savimbi aliou-se a ele, (Operações Silwer e Disa), com o fito possível de tornar Angola num “bantustão” da periferia norte sul africana… à imagem e semelhança do que era o regime de Mobutu…

- No momento propício à paz, Savimbi partia para uma nova guerra com os olhos no poder em Luanda, uma guerra que pela natureza das suas acções, se identificava com a rapina a que estava sujeito o continente de há várias centenas de anos a esta parte…

Savimbi aceitara uma vez mais ser instrumentalizado pelos grandes interesses ocidentais extra continentais e pelo cartel dos diamantes e o vale do Cuango ligado estrategicamente ao vale do Cuanza, constituiria o eixo da implantação de sua organização, das estruturas que criou, da disseminação de sua força militar e mineira e da sua vontade de conquista do poder pela via das armas a partir do Andulo, onde instalou seu quartel general em plena região central das grandes nascentes. (8)

No rio Cuango, inclusive no curso internacional, em 1999 era o seguinte o inventário das minas aluviais dos “diamantes de sangue” de Savimbi, antes da preparação da ofensiva das FAA:

“MARROCOS” - Latitude - 06º 01’ 05’’ SUL .
 - Longitude - 16º 35’ 01’’ LESTE .

CUANGO - Latitude - 06º 18’ 41’’ SUL .
 - Longitude - 16º 42’ 18’’ LESTE .

BONGOLO - Latitude - 06º 35’ 54’’ SUL .
 - Longitude - 16º 46’ 03’’ LESTE .

BOTOMUNA ( RDC ) - Latitude - 06º 33’ 54’’ SUL .
 - Longitude - 16º 51’ 56’’ LESTE .

KITANGU  - Latitude - 06º 58’ 57’’ SUL .
 - Longitude - 16º 54’ 54’’ LESTE .

MASSAU - Latitude - 07º 13’ 58’’ SUL .
 - Longitude - 16º 54’ 50’’ LESTE .

“QUIBALA” - Latitude - 07º 18’ 21’’ SUL .
 - Longitude - 17º 01’ 32’’ LESTE .

No Cuanza, imediatamente a sul, eram estas algumas das minas que estavam à disposição de Savimbi (imediatamente antes da Operação Restauro):

CHIMBAMBA - Latitude     - 10º 41 58'' SUL .
- Longitude  - 16º 39' 57'' LESTE .

SONGUE - Latitude     - 10º 44' 54'' SUL .
- Longitude  - 16º 44' 57'' LESTE .

CASSUMA - Latitude - 10º 47’ 56’’ SUL .
- Longitude - 16º 35’ 58’’ LESTE .

“SALVATERRA” - Latitude - 10º 48’ 49’’ SUL .
 - Longitude - 16º 53’ 22’’ LESTE .

“SANTOMA” - Latitude - 10º 51’ 02’’ SUL .
 - Longitude - 17º 10’ 03’’ LESTE .

DANDO - Latitude     - 11º 14' 29'' SUL .
- Longitude  - 17º 25' 12'' LESTE .

TCHOMBO - Latitude - 11º 41’ 49’’ SUL .
- Longitude - 17º 29’ 56’’ LESTE .

GONDE - Latitude     - 12º 02' 37'' SUL .
- Longitude  - 17º 39' 41'' LESTE .

CUÍME - Latitude     - 12º 17' 00'' SUL .
- Longitude  - 17º 46' 47'' LESTE .

CHÍMUE - Latitude     - 13º 15' 22'' SUL .
- Longitude  - 17º 25' 57'' LESTE .

Esse inventário foi muito proveitoso: as unidades militares e a “polícia mineira” de Savimbi, em posições defensivas tinham de estar perto dessas minas e, quando as FAA iniciaram a ofensiva, os objectivos militares estavam em grande parte identificados.

Pelo conhecimento das minas aluviais da “guerra dos diamantes de sangue” em Angola, foram desmantelados os dispositivos militares de Savimbi!...

Com a ascensão de Laurent Kabila ao poder, o cartel de diamantes avisado por Maurice Tempelsman e pela CIA, procurou envolver-se directamente no vale do Cuango e antes de obter resultados manobrou com o Consórcio America Mineral Fields que tinha como figura principal Jean-Raymond Boulle.  (9)

A corporação estava registada na cidade de Hope, Arkansas, a cidade onde o Presidente Bill Clinton havia nascido, um estado que possui diamantes…  até aí chegavam as influências do “lobby” dos minerais e da “Rhodes Scholarship” por dentro dos nervos sensitivos do aparelho dos Democratas dos Estados Unidos…

O vale do Cuango, 50 anos depois do massacre da baixa do Cassange, ainda não tem garantida a tranquilidade, o equilíbrio, a segurança e a justiça social que são factores-chave dos princípios que advêm do sentido de vida próprio do movimento de libertação em África.

Alguns dos que combateram Savimbi, com o acesso ao conhecimento que adquiriram durante a “guerra dos diamantes de sangue”, constituíram consórcios que operam na área dos diamantes aluviais do Cuango onde passaram a ser preponderantes e onde exercem até a repressão privada, num universo humano em constante mutação, cuja fluidez mexe até à região central das grandes nascentes.

O Cuango continua a ser uma via porosa para o tráfico de diamantes, como ainda, no rescaldo da finitude dos dispositivos de Savimbi, uma via porosa para as migrações clandestinas que penetram em Angola a partir de outros pontos do continente africano e da República Democrática do Congo.

Milhões de aventureiros de todas as origens, mas acima de tudo provenientes de África enquanto continente marginalizado, desprotegido e miserável, concorrem para chegar a Angola e às “minas de Salomão” como as do Cuango.

É necessário que os estados implicados na Região e muito particularmente Angola e a RDC, promovam conhecimentos e iniciativas comuns em relação a essa jóia emblemática que constitui o vale do Cuango, tributário como o Cassai do 2º pulmão do planeta, a extensa bacia do Congo, o Amazonas de África.

Em África o Congo tornar-se-á ainda mais importante e decisivo do que é ao longo deste século, pois os desertos quentes imensos que cobrem uma parte colossal do continente estão em fase de aumentar a sua superfície.

Por outro lado os países da África Austral esgotaram potencialidades de energia eléctrica e em alguns casos de água, pelo que será à barragem de Inga que irão buscar uma parte das carências e a água, poussui-a em abundância a imensa bacia do Congo.

Este é um dos enormes desafios para a independência dos dois países, Congo e Angola e para a vontade expressa de desenvolvimento sustentável nas Regiões Central e Austral do continente, desafios que devem passar por necessárias capacidades de equilíbrio e integração, ao contrário do que bastas vezes tem acontecido, inclusive após a assinatura do Acordo de Luena, no seguimento da morte de Savimbi, (conforme exposições e relatos muito críticos e com bastante fundamentação de activistas de direitos humanos, entre eles Rafael Marques). (10)

A libertação da pátria angolana obriga a tirar-se partido da ausência de tiros para realizar todas as legítimas ambições do movimento de libertação em prol de todo o Povo Angolano e dos Povos das duas Regiões: lógica de equilíbrio e de harmonia social, justiça social, desenvolvimento sustentável, educação, saúde, democracia cidadã participativa, socialismo e paz!

Até que ponto os seguidores de Patrice Lumumba, de Pierre Mulele, de Laurent Kabila, do Che, de Agostinho Neto, de Oliver Tambo serão capazes de se inspirarem no movimento de libertação e no internacionalismo revolucionário de Cuba para se conseguir resgatar decididamente África, pela via duma cultura de paz, do subdesenvolvimento crónico a que ainda está sujeita?

Aventureiros como Jaime Nogueira Pinto, (um órfão do fascismo ao serviço da CIA e sempre tocado pelo carbono puro e o marfim), são capazes de tudo para contrariar a perseguição dos objectivos maiores da Pátria Angolana, até de serem “vira casacas” (sê-lo-ão?) para satisfazerem cobiças antigas que provavelmente lhes “estão no sangue”… e não deixam de ter Angola na mira, pois sabem que aqui estão as “minas de Salomão” e o que não conseguiram pela força das armas, talvez consigam com a força dos negócios, especialmente aqueles conformes a todo o tipo de “Jogos Africanos”… (11)

Há que forjar capacidade de contrariar o destino que o capitalismo herdeiro da Revolução Industrial tem determinado para África: o destino dum corpo inerte onde cada abutre tem vindo depenicar o seu pedaço!

Martinho Júnior - 4 de Janeiro de 2011

Notas:
- (1) – Recursos naturais – Embaixada de Angola na Grécia - http://www.angolanembassy.gr/Portugues/RECURSOS.htm ; Ao longo do século XVI, inúmeras vagas de povos irromperam por Angola – http://livrochicoronho.blogspot.com/2010/07/ao-longo-do-seculo-xvi-inumeras-vagas.html ; Sanções contra Savimbi – vale do Cuango – ANGOP – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2000/3/16/,8b9088dd-8e0f-4386-9cd0-af7129a4c67b.html ; Diamonds in África – Aluvial exploration & Mining – Angola – http://www.minelinks.com/alluvial/diamondGeology59.html
- (2) – Pentagon Africa Policy Chief Whelan Describes U.S. Objectives for Africa Command – http://www.africom.mil/getArticle.asp?art=1663 ; Africa Command: Opportunity for Enhanced Engagement or the Militarization of U.S.-Africa Relations? – http://www.internationalrelations.house.gov/110/whe080207.htm ; Africa’s ungoverned states . a new treat paradigm – https://outerdnn.outer.jhuapl.edu/VIDEOS/121905/121905_WhelanNotes.pdf ; Áreas sem governação em Angola e Moçambique preocupam EUA – ANGONOTÍCIAS – http://angonoticias.com/full_headlines_.php?id=10077 ; A importância do AFRICOM no contexto actual da segurança e defesa africana – http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/AFRICOM.pdf ; A cimeira da NATO em Lisboa honrou o espírito de Kissinger – http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/cimeira-da-nato-em-lisboa-honrou-o.html
- (3) – A revolta da Baixa do Cassange – http://cc3413.wordpress.com/2010/01/09/a-revolta-da-baixa-do-cassange/ ; Angola 1961 – da baixa do Cassange a Nambuangongo – António Lopes Pires Nunes – http://petrinus.com.sapo.pt/sublevacao.htm ; http://petrinus.com.sapo.pt/cassange.htm ; Ministro da Administração do Território visita local do futuro memorial dos mártires da Baixa de Cassanje – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2011/0/1/Ministro-Administracao-Territorio-visita-local-futuro-memorial-dos-martires-Baixa-Cassanje,59022c0e-bf52-4b75-ad5c-daeac9256ff7.html
- (4) – Janine Farrell-Roberts – http://www.sparkle.plus.com/index-frame.html ; http://www.sparkle.plus.com/samples.html ; The desestabilization of África – http://www.rense.com/general10/destabilization.htm ; Basta de matanzas y saqueo en el Congo – http://www.inshuti.org/extracto.htm
- (5) – Tempelsman’s man in Kinshasa emends Lumumba story – Susan Mazur – http://www.suzanmazur.com/?p=131 ; Covert action in Africa: a smoking gun in Washington DC – Congresswoman Cynthia McKinney – http://muhammadfarms.com/covert_action_in_africa.htm ; Proxy wars in central Africa – Keith Harmon Snow – http://www.allthingspass.com/uploads/html-106PROXYWARSCENTRALAFRICA%5BATP%5D.htm : Patrice Lumumba – 50 anos depois do seu assassinato – Página Um – Martinho Júnior – http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/patrice-lumumba-50-anos-depois-do-seu.html ; Life and death in the Congo – Thomas M. Callaghy – CFR – http://www.foreignaffairs.com/articles/57250/thomas-m-callaghy/life-and-death-in-the-congo?page=show

- (6) – Quifangondo – Página Um – Martinho Júnior – http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/quifangondo.html ; O primeiro passo para a Reconciliação Nacional em Angola – Página Um – Martinho Júnior – http://pagina--um.blogspot.com/2010/12/o-primeiro-passo-para-reconciliacao.html ; Buffalo Batlion - http://flecha.co.uk/  ; Operation Savannah – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Savannah_(Angola) ; 32 battalion – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/32_Battalion_(South_Africa) ; The silent war – Peter Stiff – http://www.galago.co.za/CAT1_A_b.htm
- (7) – Mobutu’s men live the high life in SA – Business Times – http://www.btimes.co.za/97/0525/news/news1.htm ; Peu à peu, Seti Yale redevient maître de ses biens spoliés à travers le pays – DigitalCongoNet – http://www.digitalcongo.net/article/56848 ; The wite legion: nercenaires in Zaíre – Archive – Jane’s – http://www.janes.com/articles/Janes-Intelligence-Review-97/THE-WHITE-LEGION-MERCENARIES-IN-ZAIRE.html ; Seti Yale, Baramoto Kpama et Kengo wa Dondo désavoués ŕ propos du projet de coup d’Etat – DigitalCongoNet – http://www.digitalcongo.net/article/14657
- (8) – Conflict Diamonds – ONU – http://www.un.org/peace/africa/Diamond.html ; Um whisky que ficou por beber – Escrita em dia – http://blogda-se.blogspot.com/2006/01/um-whisky-que-ficou-por-beber.html ;
- (9) – America Mineral Fields welcomes UN report – Mining Weekly – http://www.miningweekly.com/article/america-mineral-fields-welcomes-un-report-2003-10-31 ; Angola Diamond Mining and War – http://www1.american.edu/ted/ice/angola.htm ; David takes on Golliath of diamonds – http://secure.financialmail.co.za/97/0704/upfront/mine.htm ; Jean-Raymond Boulle – Wikipedia –
- (10) – Revista anual da indústria dos diamantes – 2005 – Paceweb – http://www.pacweb.org/Documents/annual-reviews-diamonds/Angola-AR2005-prot.pdf ; Operação Kissonde - Rafael Marques – http://www.cuango.net/ ; Angola´s deadly diamonds – http://www.wilsoncenter.org/events/docs/ADDMarq.pdf ; Sociedade Mineira do Cuango – http://angola-luanda-pitigrili.com/who%E2%80%99s-who/s/sociedade-mineira-do-cuango ; Lei 16/94 (Legislação Mineira) - http://www.endiama.co.ao/pdfs/Lei16_94.pdf
- (11) – Angola: Jaime Nogueira Pinto autografa último livro em Luanda – Expresso – http://aeiou.expresso.pt/angola-jaime-nogueira-pinto-autografa-ultimo-livro-em-luanda=f517490 ; Jaime Nogueira Pinto no teatro africano da Guerra Fria – Ípsilon – Público – Teresa de Sousa – http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=219199; Portugal – O fascismo – a PIDE e os Tribunais Plenários – http://www.blog.comunidades.net/pide/index.php?op=arquivo&idtopico=157651 ; A estratégia de tensão – O terrorismo não identificado da NATO – Sílvia Catori – Daniele Ganser – http://www.odiario.info/?p=1924

Livros consultados e que recomendo a investigadores:

- Les gemmocraties – Fançois Misser et Olivier Vallée - "Sur le continent africain, les sociétés minières font appel aux mercenaires, les Etats s'associent à des aventuriers et les pauvres cèdent au mirage des pierres précieuses... L'incrustation d'une économie du diamant brut dans ces pays ravagés par la misère, les conflits et la corruption accélère l'irruption d'acteurs qui empruntent aux mafias internationales, aux intérêts géopolitiques, et au recyclage de l'argent sale, leurs marchés, leurs méthodes et leurs ambitions. Un livre qui à travers les guerres secrètes du diamant explore le façonnage de nouveaux pouvoirs africains." - http://www.franceculture.com/oeuvre-les-gemmocraties-l-%C3%A9conomie-politique-du-diamant-africain-de-fran%C3%A7ois-misser-et-olivier-vall%C3%A9

- Mercenaires SA - Philippe Chapleau e François Misser - Since the beginning of the decade, there has been a spectacular increase in mercenary operations in all continents. This trend is the result of a sizeable growth in available manpower, following the end of the Cold War and of apartheid. Simultaneously, the collapse of a number of states, in Africa and also elsewhere, has caused a virtual explosion in demand for mercenary expertise, either from political leaders, or from organisations, from corporations, charities or, in some cases, the mafia, which want to work ¬ at any price - in these zones of high instability.
In this insecure world, which is undergoing considerable change, today's soldiers of fortune have little in common with the 'dogs of war' of the 1960s. Private war empires have been built; they hold contracts with states or corporations and act as the spearhead of future multisector empires. Moreover, these security companies sometimes have the blessing of the military establishments of NATO member states. The failure of NATO, and the complicity of some member states, worries UN officials. Who will control these new 'condottiere' and these 'soldiers of the future', for whom individual and collective security is only a business opportunity? This book describes the stakes and the challenges of conflicts in the age of the globalisation - http://www.africa-asia-confidential.com/book-review/id/7/Mercenaires-SA
- The silent war – Peter Stiff - This amazing book tells not only the story of South Africa’s special forces, it has also been described as the most important and frank history of South Africa itself during the apartheid years. It is also the most illuminating book on special forces published anywhere. Not only does Stiff deal with military operations but he also explains the political dynamics that prompted them. It is wide ranging and covers the first counter-insurgency operations in Namibia in 1966, a commando raid on Dare-es-Salaam, the Fox Street Siege, South Africa’s intervention into Angola in 1975 and subsequent pull-out, the rise of insurgency in Moçambique, South Africa’s reentry into Angola, strikes against SWAPO bases in Zambia, the training and assistance to UNITA, the fight against ZANLA and ZIPRA in Rhodesia (now Zimbabwe) and how the Recces staffed Rhodesia’s ‘D’ Squadron SAS, the fall of Rhodesia, how the SAS and Selous Scouts were reformed as Recce units in South Africa, the selection and training of special forces, the raid against the ANC at Matola in Moçambique, South African assistance to RENAMO and Recce operations in Moçambique, Lesotho, Cabinda, Botswana and Zambia. It also deals in detail with the final days of apartheid South Africa and explains how close the country was to a right-wing coup d’etat. - http://www.galago.co.za/CAT1_A_b.htm

- Jogos Africanos – Jaime Nogueira Pinto – Posted by atrida em Sábado, Janeiro 3, 2009 – Não gosto de julgar carácteres, mesmo quando a aparência que se dá é propicia a esse julgamento. Jaime Nogueira Pinto é uma de entre várias pessoas que, neste país, fizeram uma inflexão mais ou menos grande das suas convicções e do seu posicionamento ideológico. Publica agora “Jogos Africanos”, relato das suas experiências no continente negro, desde os tempos da defesa do Império até à actualidade como empresário, passando pela colaboração com a CIA. Em entrevista concedida ao suplemento Ípsilon (19/12) , do jornal Público, é grande o contraste entre os detalhes que dá das suas ligações com a CIA face às respostas telegráficas sobre o período em que estava a defender o Império Português. Mais penoso ainda é, perante a insidiosa pergunta da jornalista – «Foi uma saída [a ida para a África do Sul após o 25 de Abril] completamente aventurosa, como a que muitos da sua geração, e pelas razões contrárias, fizeram para França…» -, a sua resposta: «Era um pouco mais longe.» É como se a fuga ao dever de lutar pela Pátria fosse equiparável à fuga de quem cumpriu o seu dever e tem abandonar o terreno perante a ofensiva abrilina. À questão, essa bem colocada, «Hoje, curiosamente, é um homem bem visto pelo regime de Luanda», JNP afirma: «Tenho amigos mas também tenho inimigos.» Ponto. A parte mais interessante da entrevista é quando JNP afirma que há bons e maus em todos os campos (La Palisse não diria melhor), o que é uma forma como qualquer outra de relativizar tomadas de posição que, no mínimo, carecem de coerência.

Enfim, jogos. Africanos.

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