Em reposição no PG “O Vale do Cuango”, de Martinho Júnior, decano do Página Global, afirma que “recordo esta
publicação que fiz em Janeiro de 2011”
- que aqui inserimos pela constante importância dos artigos do autor, amigo inolvidável
e constante companheiro que “alimenta” sobre Angola, África e resto do mundo a opinião
e análise na redação do PG.
O VALE DO CUANGO
O riquíssimo vale do Cuango, uma imensa mina a céu aberto, tem sido,
praticamente desde que foram definidas as fronteiras de Angola, uma das regiões
onde têm acontecido algumas das disputas mais acirradas e críticas em toda a
região, interligando-se (senão mesmo afectando simultaneamente) à situação
sócio-política e económica quer da RDC, quer de Angola. (1)
As fronteiras de Angola, fronteiras estimuladas sobretudo a partir do quadro da
Conferência Colonial de Berlim, de há 50 anos a esta parte e no geral foram
sempre disputadas, mas as coisas passaram-se de forma distinta no Cuango devido
à existência de diamantes aluviais, ao facto do rio possuir curso
internacional, por causa de ser um dos tributários da grande bacia do Congo e
ainda por causa do vale propiciar acesso à região central das grandes nascentes
em Angola, ou seja, uma conjuntura que tem-se tornado numa prolongada situação
de excepção com implicações profundas na vida dos dois países.
O cartel de diamantes, o intrincado “lobby” dos minerais e os poderes ligados
às elites e à hegemonia, tiveram sempre o vale do Cuango como uma referência
obrigatória, como se ali se espraiassem as “minas de Salomão” e não é por
acaso, que depois de tantos jogos africanos instrumentalizados pelas
manipulações das potências ocidentais e em particular dos Estados Unidos,
surjam num cínico corolário “experts” como Theresa Whelan, (Subscretária da
Defesa para África durante a última fase da Administração de George Bush) que
chegam à conclusão de que afinal em África existem zonas onde os poderes centrais
têm pouca capacidade de intervenção político-administrativa, num vazio que é
por vezes aproveitado para, ao mesmo tempo que se promove a deliquescência dos
vulneráveis estados africanos, se incentivarem rebeldes, etno nacionalismos,
tribalismos… e as explorações mais desenfreadas e vis dos mais diversos
minerais, sobretudo diamantes aluviais e coltan. (2)
As estratégias Norte Americanas em África, dirigidas para as regiões de
insuficiente cobertura política-administrativa, fazem hoje parte dos conceitos
absorvidos pelo AFRICOM e isso é um inquestionável sinal que nos obriga a
reflectir sobre esse tipo de fronteiras e sobre a natureza de estados como o
Uganda e o Ruanda, dominados por elites de feição subordinadas a esses
interesses extra continentais dispostos à manipulação histórica, à opressão, ao
desequilíbrio, às “estratégias de tensão” a que se habituaram e até às guerras
de rapina.
Os regimes do Uganda (Yoweri Museveni) e do Ruanda (Paul Kagame) têm sido
identificados como servis aos propósitos dos Estados Unidos e do AFRICOM,
enquanto plataformas de acção em direcção leste (Somália) e oeste
(particularmente a RDC, mas também com influência na situação transfronteiriça
em Angola).
A revolta da baixa do Cassange ocorreu há 50 anos na parte do curso do Cuango
imediatamente a sul do seu sulco se tornar fronteira internacional. (3)
O facto da Cotonang ter escolhido a região para as suas plantações de algodão
pode ter sido a fórmula ambígua para alguns capitais com proveniência
sintomática da Bélgica e de Portugal também serem aplicados no tráfico de
diamantes em plena década de 50, o que poderá ser um dos segredos que foi
enterrado pelo Estado Colonial de Salazar e Caetano e garantido com a finitude
da PIDE/DGS…
… Talvez no arquivo da Torre do Tombo se possam recolher algumas notícias em
relação a isso… mas o cartel sabe-o na perfeição e se porventura não o divulga,
é por que se mantém fiel a que “o segredo continue a ser a alma do negócio”: o
Cuango continua a ser uma inesgotável fonte de diamantes aluviais, num tom
amarelo-limão reconhecível em qualquer parte do mundo dedicado a esse tipo de
enredos, particularmente nas bolsas de diamantes de Antuérpia, Amsterdão, Nova
York, Londres e Tel Aviv…
O cartel de diamantes durante a IIª Guerra Mundial era de tal maneira poderoso
que negociava com os dois lados do “front” e era ao Congo e a Angola (vale do
Cuango incluído), que ia buscar alguns dos diamantes indispensáveis à indústria
do armamento das potências do Eixo, com destino especial à manufactura dos
canhões.
… O melhor aço alemão só podia ter estrias vincadas por diamantes e os
Oppenheimer tinham de pagar tributo às suas origens, em conformidade aliás com
a experiência financeira dos Rothschild…
O conhecimento desses factos segundo a investigadora e antropóloga Janine
Farrell-Roberts, é uma pedrada no charco da propaganda mil vezes difundida pelo
cartel, não só quando propaga o aliciante slogan (aliciante para as elites) que
“os diamantes são eternos”, mas quando mentem ao procurar difundir que os
diamantes são elementos que nada têm a ver com o sangue e em tudo têm a ver com
a paz, com o amor e com uma certa fidelidade que chega ao ponto de, pela via do
casamento, ser abençoada até por Deus… (4)
A Cotonang chegou ao vale do Cuango disposta a assumir as mesmas experiências
coloniais que haviam sido assumidas no Congo com o Rei Leopoldo, experiências
que eram transferidas para os colonialistas portugueses com quem não havia sido
difícil esse tipo de aprendizagem e comunicação.
O vale do Cuango era um excelente “vaso comunicante”, tanto do ponto de vista
do exercício do impacto dos poderes coloniais belgas e portugueses como do
ponto de vista natural, climático e físico-geográfico, um elemento comum de
referência e de identidade própria entre o Congo e a Angola colonizados e por
isso, a revolta dos camponeses em Cassange há 50 anos, bebeu também da
influência da independência do Congo e da interpretação popular (interpretação
filtrada pelo messianismo redentor de então e disseminada como mensagem para as
massas de iletrados e oprimidos) das ideias revolucionárias de Patrice Lummba.
Foi sintomático que em Angola, a corrente de revolta contra o colonialismo
tivesse chegado primeiro à baixa do Cassange do que ao resto do país, em especial Luanda e
norte (actuais Províncias do Bengo, Zaire e Uíge).
Foi também sintomático que essa revolta que culminou em massacre tenha vindo a
inspirar aqueles que se propuseram à luta de libertação, tanto pela via do
movimento, como pela via dos etno nacionalismos de feição neo colonial.
Essa lição aprendeu-a como é lógico o poder dominante exercido pelos Estados
Unidos arrastando os seus “parceiros” com implicações na região (Bélgica,
Portugal, o regime de Mobutu, o regime do “apartheid”… o cartel, os traficantes,
as bolsas de diamantes… ).
Para esse poder imenso, sempre houveram discretas práticas de conspiração e os
obstáculos foram sendo varridos sempre que se desenhavam nos horizontes
sócio-políticos, em manipulações selectivas por vezes sangrentas, traumatizantes
e evidentes desde a independência do Congo há 50 anos…
Patrice Lumumba foi rapidamente eliminado, Pierre Mulele seria um pouco mais
difícil de atrair, mas por fim acabou também por ser eliminado e, para que tudo
corresse de acordo com as conveniências, lá estavam Tshombé, Kasavubu, Adoula e
Mobutu, sobretudo Mobutu, ele próprio sob influência directa dum dos elementos
operacionais mais fortes do cartel e da CIA: Maurice Tempelsman. (5)
Aristocracia financeira mundial, diamantes e elites locais sempre foram tendo
em África seus pontos comuns de “entendimento e ligação”, interiorizados por
décadas de neo colonialismo, à imagem e semelhança do que vem acontecendo de há
200 anos a esta parte no outro lado do Atlântico, na América Latina…
A luta de libertação em Angola aliada ao internacionalismo revolucionário
cubano que o próprio Che se encarregou de fazer chegar a África em 1965 saiu
vitoriosa e, no rescaldo da independência de Angola dez anos mais tarde, outro
acontecimento marcou pela positiva a vida no vale do Cuango: os militares do
ELNA, que haviam experimentado a manipulação de Kissinger e da CIA bem como a
derrota de Quifangondo, estavam dispostos a, pela via do COMIRA, vir a integrar
um a um as fileiras das FAPLA, num fluxo inverso ao seguido anos antes por
Daniel Chipenda, que culminara na constituição do Batalhão Búfalo das SADF. (6)
Foi a partir de suas bases em
Tembo Aluma e Kassango Lunda, no lado do Congo e na margem
direita do Cuango internacional, que os contactos foram feitos com os oficiais
da DISA e estimulada a integração.
Pela primeira vez no longo percurso em busca da paz pela via da ausência de
tiros, Angola experimentou êxito e deu o primeiro passo.
A vida no vale do Cuango continuou a ser entretanto uma vida de fronteira, à
disposição dos interesses que surgiam com fluência na região.
O comércio de fronteira foi estimulado a partir de Kinshasa, com traficantes
israelitas, portugueses, belgas, zairenses e até angolanos que afluíam no
engodo dos diamantes aluviais do Cuango.
No processo 105/83 alguns desses traficantes foram sendo identificados, entre
eles o já falecido José Basílio Alves Pereira, angolano nascido em Malange que
tinha residência na cidade do Porto, em Portugal e entre outras coisas fazia do
Zaire sua plataforma de actividades.
Ele havia sido um comerciante interessado na logística da FNLA e depois da
integração duma parte do efectivo do ELNA nas FAPLA, havia continuado com os
“negócios de fronteira”…
O próprio círculo de poder de Mobutu, tirando partido de gente como João Nunes
Seti Yale, um luso-zairense disponível que fazia parte da elite no poder em
Kinshasa, manteve preponderância sobre o tráfico na direcção do Cuango
internacional. (7)
A guerra no sul do Continente evoluiu e o movimento de libertação, a partir da
histórica batalha de Cuito Cuanavale, conseguiu que a luta contra o “apartheid”
saísse vitoriosa.
Savimbi, que havia estruturado a sua organização com o apoio do regime do
“apartheid” pela via das Operações Silwer e Disa junto à fronteira sul
encostado à faixa do Carpivi e ao norte do Botswana, ficava sem retaguarda, mas
a CIA e o cartel de diamantes, influenciando Mobutu, atraíram-no à montagem dum
novo dispositivo, desta vez utilizando o território do Zaire, explorando aliás
o “êxito deep inside” que fora a relativa neutralização daqueles que no quadro
de Segurança do Estado em Angola, eram dos elementos mais conhecedores do
enredo internacional e das estratégias dos diamantes de fronteira, incluindo as
que eram montadas na via do Cuango internacional.
Foi muito importante esse esforço das grandes manipulações para a causa do
império e do cartel e a sincronização de esforços com a utilização de Mobutu e
de Savimbi contava com o curriculum histórico deste último:
- No momento de combater o colonialismo, Savimbi atirou-se para os braços dos
portugueses no âmbito da Operação Madeira…
- No momento de combater o “apartheid”, Savimbi aliou-se a ele, (Operações
Silwer e Disa), com o fito possível de tornar Angola num “bantustão” da periferia
norte sul africana… à imagem e semelhança do que era o regime de Mobutu…
- No momento propício à paz, Savimbi partia para uma nova guerra com os olhos
no poder em Luanda, uma guerra que pela natureza das suas acções, se
identificava com a rapina a que estava sujeito o continente de há várias
centenas de anos a esta parte…
Savimbi aceitara uma vez mais ser instrumentalizado pelos grandes interesses
ocidentais extra continentais e pelo cartel dos diamantes e o vale do Cuango
ligado estrategicamente ao vale do Cuanza, constituiria o eixo da implantação
de sua organização, das estruturas que criou, da disseminação de sua força
militar e mineira e da sua vontade de conquista do poder pela via das armas a
partir do Andulo, onde instalou seu quartel general em plena região central das
grandes nascentes. (8)
No rio Cuango, inclusive no curso internacional, em 1999 era o seguinte o
inventário das minas aluviais dos “diamantes de sangue” de Savimbi, antes da
preparação da ofensiva das FAA:
“MARROCOS” - Latitude - 06º 01’
05’’ SUL .
- Longitude - 16º 35’ 01’’ LESTE .
CUANGO - Latitude - 06º 18’
41’’ SUL .
- Longitude - 16º 42’ 18’’ LESTE .
BONGOLO - Latitude - 06º 35’
54’’ SUL .
- Longitude - 16º 46’ 03’’ LESTE .
BOTOMUNA ( RDC ) - Latitude - 06º 33’
54’’ SUL .
- Longitude - 16º 51’ 56’’ LESTE .
KITANGU - Latitude - 06º 58’
57’’ SUL .
- Longitude - 16º 54’ 54’’ LESTE .
MASSAU - Latitude - 07º 13’
58’’ SUL .
- Longitude - 16º 54’ 50’’ LESTE .
“QUIBALA” - Latitude - 07º 18’
21’’ SUL .
- Longitude - 17º 01’ 32’’ LESTE .
No Cuanza, imediatamente a sul, eram estas algumas das minas que estavam à
disposição de Savimbi (imediatamente antes da Operação Restauro):
CHIMBAMBA - Latitude - 10º 41 58'' SUL .
- Longitude - 16º 39' 57''
LESTE .
SONGUE - Latitude - 10º 44' 54'' SUL .
- Longitude - 16º 44' 57''
LESTE .
CASSUMA - Latitude - 10º 47’
56’’ SUL .
- Longitude - 16º 35’ 58’’ LESTE .
“SALVATERRA” - Latitude - 10º 48’
49’’ SUL .
- Longitude - 16º 53’ 22’’ LESTE .
“SANTOMA” - Latitude - 10º 51’
02’’ SUL .
- Longitude - 17º 10’ 03’’ LESTE .
DANDO - Latitude - 11º 14' 29'' SUL .
- Longitude - 17º 25' 12''
LESTE .
TCHOMBO - Latitude - 11º 41’
49’’ SUL .
- Longitude - 17º 29’ 56’’ LESTE .
GONDE - Latitude - 12º 02' 37'' SUL .
- Longitude - 17º 39' 41''
LESTE .
CUÍME - Latitude - 12º 17' 00'' SUL .
- Longitude - 17º 46' 47''
LESTE .
CHÍMUE - Latitude - 13º 15' 22'' SUL .
- Longitude - 17º 25' 57''
LESTE .
Esse inventário foi muito proveitoso: as unidades militares e a “polícia
mineira” de Savimbi, em posições defensivas tinham de estar perto dessas minas
e, quando as FAA iniciaram a ofensiva, os objectivos militares estavam em
grande parte identificados.
Pelo conhecimento das minas aluviais da “guerra dos diamantes de sangue” em
Angola, foram desmantelados os dispositivos militares de Savimbi!...
Com a ascensão de Laurent Kabila ao poder, o cartel de diamantes avisado por
Maurice Tempelsman e pela CIA, procurou envolver-se directamente no vale do Cuango
e antes de obter resultados manobrou com o Consórcio America Mineral Fields que
tinha como figura principal Jean-Raymond Boulle. (9)
A corporação estava registada na cidade de Hope, Arkansas, a cidade onde o
Presidente Bill Clinton havia nascido, um estado que possui diamantes…
até aí chegavam as influências do “lobby” dos minerais e da “Rhodes
Scholarship” por dentro dos nervos sensitivos do aparelho dos Democratas dos
Estados Unidos…
O vale do Cuango, 50 anos depois do massacre da baixa do Cassange, ainda não
tem garantida a tranquilidade, o equilíbrio, a segurança e a justiça social que
são factores-chave dos princípios que advêm do sentido de vida próprio do
movimento de libertação em África.
Alguns dos que combateram Savimbi, com o acesso ao conhecimento que adquiriram
durante a “guerra dos diamantes de sangue”, constituíram consórcios que operam
na área dos diamantes aluviais do Cuango onde passaram a ser preponderantes e
onde exercem até a repressão privada, num universo humano em constante mutação,
cuja fluidez mexe até à região central das grandes nascentes.
O Cuango continua a ser uma via porosa para o tráfico de diamantes, como ainda,
no rescaldo da finitude dos dispositivos de Savimbi, uma via porosa para as
migrações clandestinas que penetram em Angola a partir de outros pontos do
continente africano e da República Democrática do Congo.
Milhões de aventureiros de todas as origens, mas acima de tudo provenientes de
África enquanto continente marginalizado, desprotegido e miserável, concorrem
para chegar a Angola e às “minas de Salomão” como as do Cuango.
É necessário que os estados implicados na Região e muito particularmente Angola
e a RDC, promovam conhecimentos e iniciativas comuns em relação a essa jóia
emblemática que constitui o vale do Cuango, tributário como o Cassai do 2º
pulmão do planeta, a extensa bacia do Congo, o Amazonas de África.
Em África o Congo tornar-se-á ainda mais importante e decisivo do que é ao
longo deste século, pois os desertos quentes imensos que cobrem uma parte
colossal do continente estão em fase de aumentar a sua superfície.
Por outro lado os países da África Austral esgotaram potencialidades de energia
eléctrica e em alguns casos de água, pelo que será à barragem de Inga que irão
buscar uma parte das carências e a água, poussui-a em abundância a imensa bacia
do Congo.
Este é um dos enormes desafios para a independência dos dois países, Congo e
Angola e para a vontade expressa de desenvolvimento sustentável nas Regiões
Central e Austral do continente, desafios que devem passar por necessárias
capacidades de equilíbrio e integração, ao contrário do que bastas vezes tem
acontecido, inclusive após a assinatura do Acordo de Luena, no seguimento da
morte de Savimbi, (conforme exposições e relatos muito críticos e com bastante
fundamentação de activistas de direitos humanos, entre eles Rafael Marques).
(10)
A libertação da pátria angolana obriga a tirar-se partido da ausência de tiros
para realizar todas as legítimas ambições do movimento de libertação em prol de
todo o Povo Angolano e dos Povos das duas Regiões: lógica de equilíbrio e de
harmonia social, justiça social, desenvolvimento sustentável, educação, saúde,
democracia cidadã participativa, socialismo e paz!
Até que ponto os seguidores de Patrice Lumumba, de Pierre Mulele, de Laurent
Kabila, do Che, de Agostinho Neto, de Oliver Tambo serão capazes de se
inspirarem no movimento de libertação e no internacionalismo revolucionário de
Cuba para se conseguir resgatar decididamente África, pela via duma cultura de
paz, do subdesenvolvimento crónico a que ainda está sujeita?
Aventureiros como Jaime Nogueira Pinto, (um órfão do fascismo ao serviço da CIA
e sempre tocado pelo carbono puro e o marfim), são capazes de tudo para
contrariar a perseguição dos objectivos maiores da Pátria Angolana, até de
serem “vira casacas” (sê-lo-ão?) para satisfazerem cobiças antigas que
provavelmente lhes “estão no sangue”… e não deixam de ter Angola na mira, pois
sabem que aqui estão as “minas de Salomão” e o que não conseguiram pela força
das armas, talvez consigam com a força dos negócios, especialmente aqueles
conformes a todo o tipo de “Jogos Africanos”… (11)
Há que forjar capacidade de contrariar o destino que o capitalismo herdeiro da
Revolução Industrial tem determinado para África: o destino dum corpo inerte
onde cada abutre tem vindo depenicar o seu pedaço!
Martinho Júnior - 4 de Janeiro de 2011
Notas:
Livros consultados e que recomendo a investigadores:
- Les gemmocraties – Fançois Misser et Olivier Vallée - "Sur le continent
africain, les sociétés minières font appel aux mercenaires, les Etats
s'associent à des aventuriers et les pauvres cèdent au mirage des pierres
précieuses... L'incrustation d'une économie du diamant brut dans ces pays
ravagés par la misère, les conflits et la corruption accélère l'irruption
d'acteurs qui empruntent aux mafias internationales, aux intérêts
géopolitiques, et au recyclage de l'argent sale, leurs marchés, leurs méthodes
et leurs ambitions. Un livre qui à travers les guerres secrètes du diamant
explore le façonnage de nouveaux pouvoirs africains." - http://www.franceculture.com/oeuvre-les-gemmocraties-l-%C3%A9conomie-politique-du-diamant-africain-de-fran%C3%A7ois-misser-et-olivier-vall%C3%A9
- Mercenaires SA - Philippe Chapleau e François Misser - Since the beginning of
the decade, there has been a spectacular increase in mercenary operations in
all continents. This trend is the result of a sizeable growth in available
manpower, following the end of the Cold War and of apartheid. Simultaneously,
the collapse of a number of states, in Africa and also elsewhere, has caused a
virtual explosion in demand for mercenary expertise, either from political
leaders, or from organisations, from corporations, charities or, in some cases,
the mafia, which want to work ¬ at any price - in these zones of high
instability.
In this insecure world, which is
undergoing considerable change, today's soldiers of fortune have little in
common with the 'dogs of war' of the 1960s. Private war empires have been
built; they hold contracts with states or corporations and act as the spearhead
of future multisector empires. Moreover, these security companies sometimes
have the blessing of the military establishments of NATO member states. The
failure of NATO, and the complicity of some member states, worries UN
officials. Who will control these new 'condottiere' and these 'soldiers of the
future', for whom individual and collective security is only a business
opportunity? This book describes the stakes and the challenges of conflicts in
the age of the globalisation - http://www.africa-asia-confidential.com/book-review/id/7/Mercenaires-SA
- The silent war – Peter Stiff -
This amazing book tells not only the story of South Africa’s special forces, it
has also been described as the most important and frank history of South Africa
itself during the apartheid years. It is also the most illuminating book on
special forces published anywhere. Not only does Stiff deal with military
operations but he also explains the political dynamics that prompted them. It
is wide ranging and covers the first counter-insurgency operations in Namibia
in 1966, a
commando raid on Dare-es-Salaam, the Fox Street Siege, South Africa’s
intervention into Angola in 1975 and subsequent pull-out, the rise of
insurgency in Moçambique, South Africa’s reentry into Angola, strikes against
SWAPO bases in Zambia, the training and assistance to UNITA, the fight against ZANLA
and ZIPRA in Rhodesia (now Zimbabwe) and how the Recces staffed Rhodesia’s ‘D’
Squadron SAS, the fall of Rhodesia, how the SAS and Selous Scouts were reformed
as Recce units in South Africa, the selection and training of special forces,
the raid against the ANC at Matola in Moçambique, South African assistance to
RENAMO and Recce operations in Moçambique, Lesotho, Cabinda, Botswana and
Zambia. It also deals in detail with the final days of apartheid South Africa
and explains how close the country was to a right-wing coup d’etat. - http://www.galago.co.za/CAT1_A_b.htm
- Jogos Africanos – Jaime
Nogueira Pinto – Posted by atrida em Sábado, Janeiro 3, 2009 – Não gosto de
julgar carácteres, mesmo quando a aparência que se dá é propicia a esse
julgamento. Jaime Nogueira Pinto é uma de entre várias pessoas que, neste país,
fizeram uma inflexão mais ou menos grande das suas convicções e do seu
posicionamento ideológico. Publica agora “Jogos Africanos”, relato das suas
experiências no continente negro, desde os tempos da defesa do Império até à
actualidade como empresário, passando pela colaboração com a CIA. Em entrevista
concedida ao suplemento Ípsilon (19/12) , do jornal Público, é grande o contraste
entre os detalhes que dá das suas ligações com a CIA face às respostas
telegráficas sobre o período em que estava a defender o Império Português. Mais
penoso ainda é, perante a insidiosa pergunta da jornalista – «Foi uma saída [a
ida para a África do Sul após o 25 de Abril] completamente aventurosa, como a
que muitos da sua geração, e pelas razões contrárias, fizeram para França…» -,
a sua resposta: «Era um pouco mais longe.» É como se a fuga ao dever de lutar
pela Pátria fosse equiparável à fuga de quem cumpriu o seu dever e tem
abandonar o terreno perante a ofensiva abrilina. À questão, essa bem colocada,
«Hoje, curiosamente, é um homem bem visto pelo regime de Luanda», JNP afirma:
«Tenho amigos mas também tenho inimigos.» Ponto. A parte mais interessante da
entrevista é quando JNP afirma que há bons e maus em todos os campos (La Palisse não diria melhor),
o que é uma forma como qualquer outra de relativizar tomadas de posição que, no
mínimo, carecem de coerência.
Enfim, jogos. Africanos.