segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Brasil | Bolsonaro escancara: se eleito, volta a ditadura


Se havia ainda alguma máscara sobre o que representa o candidato presidencial Jair Bolsonaro, ela acaba de cair. Seu vídeo exibido em telões na Avenida Paulista neste domingo (21), na cidade de São Paulo, é mais uma prova contundente do quanto a democracia corre efetivo risco.

De acordo com o candidato da extrema direita, o jornal Folha de S. Paulo, que denunciou o gigantesco esquema de recursos financeiros injetados em sua campanha por empresários via "caixa dois" para disparar avalanches de notícias falsas, as chamadas fake news, vai pagar caro pelo que fez. "A Folha de S.Paulo é a maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo", afirmou Bolsonaro.

“Imprensa vendida, meus pêsames”. Sentenciou. Traduzindo: liberdade de imprensa, adeus!
Ao prometer, se eleito, fazer "uma limpeza nunca vista na história desse Brasil", varrendo "do mapa esses bandidos vermelhos do Brasil", o candidato da extrema-direita reafirmou também suas recorrentes ameaças à liberdade de organização partidária, de manifestação de pensamento e de opção política. Brandindo suas ideias totalitárias, Bolsonaro ameaçou pôr sob seu tacão todos os que se opuserem aos ditames da sua eventual governabilidade fascista.

“Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou (então) ou vão para fora ou vão para cadeia”.

Não há, em suas palavras, meio termo ou margens para se dizer que o país não estará, num hipotético governo bolsonarista, diante de um regime ditatorial. Ele anuncia, abertamente, que de nada valerão as garantias constitucionais sobre as liberdades de imprensa, de manifestação e de organização política.

O candidato fascista já havia dito, em outra ocasião, que seu governo acabaria com todos os ativismos do Brasil, quer dizer, criminalizaria os movimentos sociais.

Outro fato grave, nessa linha protofascista, é a fala do filho do candidato da extrema direita, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que ameaçou os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) caso eles decidam fazer algum tipo de questionamento à candidatura bolsonarista, chegando ao ponto de cogitar o fechamento da instituição. Tal o pai, tal o filho...

Não foi um fala fortuita, como ele tentou dizer ao justificar suas palavras. Há um encadeamento nesses pronunciamentos, formando uma equação que apresenta como denominador a destruição da Constituição, da qual o STF é o seu guardião.

Além da afronta à liberdade de imprensa, anunciado por Jair Bolsonaro na manifestação da Avenida Paulista, há na sua promessa de simplesmente atropelar o "Título II" da Carta Magna, o dos direitos e garantias fundamentais, no caso específico o seu "Capítulo V", artigo 17, que assegura a liberdade partidária.

São duas questões-chaves da democracia ameaçadas pelo clã protofascista; as liberdades de imprensa e de organização política, o direito à manifestação de pensamento.

Diante dessa gravíssima ameaça, agora reiterada com todas as letras, na reta de chegada da votação final das eleições presidenciais, não há como haver desculpas sobre escolher entre a democracia e o arbítrio. Forjou-se o clima propício para esse tipo de degeneração ética e política, mas o momento é de invocar as responsabilidades cívicas de todos os democratas e patriotas para evitar que o país caia nas garras desses algozes das liberdades conquistadas nas duras jornadas que construíram o caminho do progresso civilizatório no Brasil.

Grandes empresários, rentistas, banqueiros, dobram seus “investimentos” na campanha de Bolsonaro. Estão seduzidos pela ideia de que um governo autoritário, disposto a usar a violência contra o povo, irá assegurar seus fabulosos ganhos.

Alguns setores da sociedade e mesmo personalidades que têm o dever de estar na linha de defesa da democracia minimizam essas ameaças, tratando os próceres do bolsonarismo como cães vira-latas que latem e não mordem. Grande erro! 

Mas, como disse o poeta e músico, Arnaldo Antunes: mas, ainda há tempo. 

Mais do que nunca a realidade exige um posicionamento firme, sem vacilo, sobre os destinos do país que emergirá das urnas do dia 28. 

A encruzilhada nunca esteve tão nítida: democracia ou ditadura; soberania ou entreguismo; direitos ou escravidão.

A resposta a tão grave ameaça é trabalhar e votar pela vitória da chapa Haddad-Manuela; é agregar, reunir, por em movimento amplas forças em defesa da democracia!

Vermelho | Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Brasil | Campanha antipetista é a maior mentira em toda a história do Brasil


Vejo muita gente apoiando Fernando Haddad com certo constrangimento, sem admitir que foi enganada o tempo todo pela campanha antipetista da mídia e pela atuação desonesta, parcial e partidária da cúpula do Judiciário, em especial o Ministério Público e os pit bulls da Operação Lava Jato.

Outros – em número muito maior – permanecem imersos no mundo das trevas, das notícias falsas e da histeria antipetista, usadas como justificativa para o endosso à aventura fascista, à tomada do poder por uma gangue altamente perigosa.

A verdade é que a tal "roubalheira do PT" nunca existiu. A mídia confundiu, de propósito, doações de campanha com propinas, para criminalizar esse partido e a política no seu conjunto. A campanha de acusações contra o PT é a maior mentira em toda a história do Brasil.

A mídia caluniou e desmoralizou a maior empresa brasileira, a Petrobrás, sem qualquer base real, movida por interesses inconfessáveis, ligados à busca da privatização dessa companhia estatal e à entrega do pré-sal ao capital externo.

 O grande erro do PT foi ter utilizado caixa 2 em suas campanhas eleitorais, do mesmo modo que todos os demais partidos sempre fizeram, impunemente. Também a vigilância sobre os gestores (alguns deles, corruptos) da Petrobrás e sobre a atuação das empreiteiras deveria ter sido maior, como Haddad já mencionou durante a campanha. Lula deveria ter mantido as empreiteiras e os empresários em geral a uma saudável distância. 

Mas o PT não é nem nunca foi um partido corrupto. Os casos de enriquecimento ilícito no partido são raros, como parecem ter sido os do Antonio Palocci e do Delcídio do Amaral. 

Lula mora no mesmo apartamento em que sempre morou. Nem o sítio de Atibaia nem o apê do Guarujá são dele. Nada, absolutamente nada foi provado quanto a isso. Com o poder e a influência que o Lula tinha, se quisesse, poderia ter se tornado um bilionário de padrão internacional, mas não mudou em nada o seu estilo de vida, nem o seu patrimônio. José Genoino mora na mesma casa modesta onde sempre morou, no bairro do Butantã. Zé Dirceu foi condenado sem qualquer prova, pela teoria maluca do "domínio do fato". Nunca existiu "Mensalão", essa foi outra grande fraude midiática. 

As denúncias da Lava Jato contra integrantes do PT são, quase todas, espúrias, obtidas pelo uso deformado do instrumento da delação premiada. O prisioneiro, para se livrar, diz o que os seus inquisidores querem ouvir. E o que o juiz Sergio Moro e a turma da Lava Jato queriam e querem ouvir é só uma coisa: aquilo que vai ferrar com o PT. 

É pena ver que muita gente honesta se deixou enganar por essa grande farsa da Lava Jato. Sem essa palhaçada, não existiria o antipetismo na dimensão que alcançou. E não estaríamos sob o risco de ter um bandido fascista no Planalto e um novo regime militar instalado no país. 

Não é de hoje que as empresas de mídia e o Poder Judiciário agem como instrumento a serviço dos poderosos, das classes dominantes. Mas tem gente, mesmo entre os setores mais instruídos da sociedade brasileira, que resiste a entender verdades tão simples. Preferem acreditar nas mentiras, em calúnias incrivelmente inconsistentes, a maioria delas já amplamente desmontadas, em público, pelos defensores dos petistas injustamente condenados. 

Por causa disso o país vive neste pesadelo. É uma pena mesmo.

Igor Fuser* | Brasil 247

* Professor de relações internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC)

Há 20 anos na República Democrática do Congo – contínua desestabilização II


Martinho Júnior | Luanda 

1- Desde a Conferência de Berlim, quando a bacia do poderoso rio Congo foi por inteiro entregue ao rei Leopoldo, que o colonialismo belga instaurou, em nome do seu domínio, políticas de genocida repressão com um mínimo de investimento e um máximo de saque e desumanidade.

O próprio enredo tropical e equatorial das condições físico-geográficas do imenso país instalado no coração de África e no que o continente tem de mais rico (água interior, biodiversidade e riquezas minerais), é um manancial de fragilidades e vulnerabilidades para si, quando até seus limites são artifícios coloniais impostos pela conferência das potências colonizadoras e para todos os outros 11 territórios seus circunvizinhos, correspondentes a outros tantos estados.

Além das ingerências e manipulações das potências extracontinentais e de forma geral de interesses capitalistas financeiros transnacionais, juntam-se em espiral todas essas fragilidades e vulnerabilidades, pelo que as tensões, os conflitos e as guerras, assumem-se em caos, em terrorismo e em convulsões “irregulares”, bárbaras, de geometria variável e mobilizando sobretudo o tribalismo, numa constante ânsia competitiva de “dividir para melhor reinar”.

O próprio colonialismo belga recebeu aditivos para que isso fosse assim, com a criação dos microestados do Ruanda e do Burundi, no leste da bacia do Congo e dominando os Grandes Lagos, com enormes excedentes de população rural apta a abandonar suas terras nas “mil colinas” e a internar-se no Congo a oeste, em fluxos migratórios instáveis que exploraram os potenciais de caos e das guerras, a fim de conquistar espaço vital.

Na profundidade antropológica, o Congo não adquiriu novos padrões produtivos e de trabalho, ou se o fez foi de forma muito insipiente, resultando em insuperáveis traumatismos para as culturas tradicionais, sem que fosse possível estabelecer um patamar sócio-cultural capaz de arrancar o país da letargia e do subdesenvolvimento.

Em resultado disso, a massa de deserdados aumentou, perdendo os laços tradicionais e adquirindo comportamentos próprios duma marginalidade afectada por expedientes de sobrevivência informais, não produtivos e em constante expansão, a ponto de sua mancha alastrar para dentro de Angola como um tentacular polvo em busca da riqueza fácil e das ilusões inerentes à exploração dos diamantes aluviais do Cuango, do Cassai, do Cuanza, até ao miolo do país, afecando inexoravelmente a região central das grandes nascentes…

Um dos contágios sócio-políticos é o grupo do Protectorado Lunda-Tchokwe, que num frenesim humano como esse continua a buscar as suas oportunidades!...


2- Agora que a democracia representativa implica em eleições mediante cronogramas aprovados constitucionalmente, muitas das situações anómalas que se vêm arrastando desde o passado ganham fôlego ciclicamente (à aproximação das eleições, durante e imediatamente depois), repetindo-se a intensificação de tensões, num território com tantas etnicidades, com tantos interesses dissonantes mas concorrentes e com infraestruturas rarefeitas, o que inviabiliza as comunicações, as ligações e os enlaces, com todas as repercussões antropológicas.

É nesse labirinto que, década a década, têm também proliferado os mercenários como aves de arribação de mau agoiro, desde companhias de aviação que transportam tesouros, logística e armamento, a companhias privadas militarizadas que ciclicamente alugam seus préstimos a todo o tipo de guerras de usura e de rapina.

No Congo o caos está por conseguinte institucionalizado numa amálgama de subculturas e, para que haja mais intensidade nesse caos, as disputas provenientes do exterior fornecem a sua quota-parte de enredos, fazendo imperar a miséria, a degradação, a fome e os intermináveis conflitos larvares.

Desde há largas décadas que muitas áreas transfronteiriças estão prontas para serem utilizadas por santuários rebeldes, por aventureiros de toda a (des)ordem, ou vínculos sócio-políticos, económicos e financeiros distendidos a partir do exterior, a partir de outros continentes, mas com um trânsito garantido em alguns dos países circunvizinhos, como acontece por exemplo com os vínculos que se despregam desde capitais como Kigali, Kampala, ou Bangui…

As próprias sensibilidades sócio-políticas que afluem aos convulsivos processos eleitorais, reflectem esse emaranhado de redes potencialmente à beira de tensões, de caos, de crime e de guerra, pelo que se há país onde a paz é uma constante miragem e não consegue passar disso, o Congo tornou-se num exemplo de subdesenvolvimento crónico e paradigmático!...

Parte substancial dos circuitos que antes alimentaram clandestinamente com todo o tipo de armas e logística, a Iª Guerra Mundial Africana, têm alimentado hoje os que se propõem a alimentar caos e terrorismo na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, no Iraque, na Síria, ou no Iémen… os produtores de armas, as pistas e os portos de embarque têm sido sistematicamente os mesmos, apenas mudando alguns dos traficantes protagonistas (têm sido neutralizados traficantes concorrentes, como aconteceu com Victor Bout, um dos fornecedores das rebeliões congolesas e de Savimbi…).

As razões causais do caos de subdesenvolvimento crónico acumulam-se e a República Democrática do Congo continua a ser um dos constituintes da cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, arrastando consigo muitos dos seus circunvizinhos.


3- Lembrar o que ocorreu de forma mais intensa há 20 anos, sob os impactos do choque do capitalismo neoliberal, contribui hoje para o início de qualquer abordagem que se faça sobre o próximo pleito eleitoral na RDC, sabendo que as sensibilidades que chegam do exterior por via dos interesses financeiros transnacionais, estão “no terreno” jamais atraídas pelos “lindos olhos” dos autóctones, pelo contrário, estão ávidos de sua exploração desenfreada enquanto mão-de-obra barata, oprimida e convulsa, com acesso a matérias-primas cujo valor são os interesses desse mesmo domínio que fazem “eternamente” prevalecer.

Como Angola possui uma fronteira com o Congo de mais de 2000 quilómetros, todos os ambientes de crise larvar congolesa vão-se-lhe esbatendo, com agravantes provocados por migrações por dentro do continente, à medida que povos inteiros buscam espaço vital fugindo á expansão dos maiores desertos quentes da Terra, um fenómeno que agora se apresenta em perfeita osmose com a expansão do radicalismo islâmico wahabita e sunita até à África Austral.

Em afluentes como o Cuango e o Cassai, que nascem na região central das grandes nascentes em Angola, essa pressão humana, étnica, subdesenvolvida e religiosa opera prodígios sem qualquer hipótese de controlo apertado, até por que os vales desses rios, afluentes da bacia do Congo, estão coalhados do atractivo dos diamantes aluviais que também existem em vales contíguos de outros rios nacionais angolanos, como o caso do Cuanza.

O escândalo geológico dos dois países, a RDC e Angola, fazem deles uma autêntica “mina de Salomão”, implicando na urgente necessidade de luta comum contra o subdesenvolvimento, a única forma de algum vez se ultrapassar os tremendos equívocoa disseminados desde o passado!...

Aquilo que Savimbi explorou para financiar suas redes e suas acções, utilizam agora uma parte substancial das “redes”desse tipo de penetrações clandestinas, filtradas pelos serviços de inteligência de potências como as que compõem a NATO e seus aliados arábicos, que possuem importantes plataformas de suporte no tão vulnerável quão propiciamente hospitaleiro território congolês…

Em tempo de guerra, em Agosto de 1998, era ainda um balanço dessa natureza que estava sobre a mesa do discreto gabinete de apoio ao Chefe do Estado-Maior Geral das FAA e de então para cá, não existem praticamente alterações nas razões causais de fundo nas situações correntes entre a RDC e Angola.

Num ambiente dessa natureza, qualquer movimento de repressão apenas será um paliativo transitório, ilusório e quantas vezes trazendo resultados ainda mais nocivos dos que por essa via se propõe alcançar!

Constate-se o quadro de há 20 anos…

Martinho Júnior - Luanda, 15 de Outubro de 2016

Imagens:
Mapa das riquezas minerais da RDC e a zona crítica do nordeste;
Aeroporto Internacional de Burgas, na Bulgária, um dos aeroportos onde têm sido feitos de há décadas (imediatamente após o fim do campo socialista europeu), muitos embarques de armas para todo o tipo de rebeldes e de terroristas, em África como no Médio Oriente;
Vista aérea do aeroporto de Kalemie, no leste da RDC, com um cargueiro IL-18 avariado na placa;
O mesmo IL-18, estacionado na placa do aeroporto de Kalemie, pertencente à AIR CESS, companhia do traficante de armas Victor Bout (já detido pelos Estados Unidos na Ásia, enquanto concorrente a sacrificar); o avião foi delapidado por rebeldes ruandeses;
Pequena aldeia de refugiados no leste da RDC, onde campeia a pior das misérias, da fome e da mais abominável marginalidade, discriminação e opressão.


CONGO – a constante instabilidade

“CNN” – 03 AGO 98

1) O Governo de KABILA, praticamente um ano após a sua chegada a KINSHASA, está sujeito a um teste de força, dando resposta à revolta de soldados de origem Ruandesa (tutsi), que integraram os efectivos da “ALIANÇA DAS FORÇAS DEMOCRÁTICAS DE LIBERTAÇÃO DO CONGO”, que o colocaram no poder.

A revolta parece estar na sequência da substituição do Ruandês JAMES KABARÉ, por CELESTIN KIFWA, no cargo de CHEFE DO ESTADO MAIOR DAS FORÇAS ARMADAS, após a visita a ANGOLA de KABILA.

Vários factores podem estar na origem da tomada dessa decisão, entre eles realçamos: o facto da UNITA ter capacidade de manobra clandestina e operativa, a partir de bases e apoios instalados em território da RDC, beneficiando de cumplicidades que ao que tudo indica, vão muito para além das ligações a efectivos e antigas Unidades de MOBUTU, isto é, existindo no quadro das próprias forças de KABILA provenientes do LESTE.

2) A nova situação em KINSHASA poderá influenciar pela negativa, nas relações entre a RDC e o RUANDA, havendo informações que a situação de revolta se estendeu a KISANGANI, BUKAVU e GOMA.

A consolidação do poder a OESTE, com a maior identificação em KINSHASA e em relação à situação corrente na fronteira com ANGOLA, pode querer significar uma diminuição da intensidade do relacionamento com os Países dos GRANDES LAGOS, a LESTE, com consequências aparentemente imprevisíveis a médio-longo prazos, se tivermos em conta as características artificiais das fronteiras.


3) KABILA parece não ter outra alternativa senão ir mudando as suas posições políticas a nível interno, de forma a tender estabelecer relações com políticos como TSHISEKEDI, ou mesmo KENGO WA DONDO, ao mesmo tempo que reforça a capacidade militar dos seus fieis, procurando que não haja grandes prejuízos no relacionamento com o LESTE que o apoiou no início da sua acção com vista ao derrube de MOBUTU, num jogo que apresenta bastantes dificuldades, mas que também pode trazer alguns benefícios, principalmente na interligação ao Governo Angolano e a melhores alternativas de saída para o mar, de forma a melhor enfrentar os problemas do interior.

Esse jogo acarreta provavelmente dificuldades de relacionamento com as grandes potências, apesar do pragmatismo das suas políticas, que terá tendência para atender fundamentalmente à necessidade de estabilidade, a fim de se poder chegar à exploração dos enormes recursos conjuntos de ANGOLA e da RDC e à sua evolução económica no sentido da modernidade e da globalidade, num plano que começará do litoral para o interior.

4) Em relação à zona dos diamantes, que envolve essencialmente as regiões de MALANGE e LUNDAS, em ANGOLA, mas com afectações importantes nos KASSAI OCIDENTAL e ORIENTAL da RDC, pode-se estar no início dum movimento comum entre os dois ESTADOS, de forma a melhor conseguir controlar a situação do tráfico, principalmente aquele que beneficia a UNITA e seus aliados, num e noutro lado da fronteira, incluindo as iniciativas de Empresas estrangeiras (de origem Portuguesa ou Sul-Africana), em relação às quais possam haver dúvidas.

Podemos citar o exemplo da Empresa “PETRA DIAMOND”, aparentemente ligada a interesses de gente que esteve ligada ao regime do “apartheid” na ÁFRICA DO SUL, isto é, necessariamente com ligações preferenciais à UNITA : recentemente a Firma “AFRICAN ALLIANCE”, com instalação no nº 613 de ANITA STREET, em MORELETA PARK, PRETÓRIA, uma “trading” pertencente a antigos operacionais que lutaram contra ANGOLA, deu indicações de ligações a ela.

A “AFRICAN ALLIANCE” é propriedade dos senhores:

GERHARD VAN RENSBURG, antigo Oficial de Infantaria que esteve nas primeiras campanhas das SADF contra ANGOLA, que utiliza os seguintes telefones – 07 082 566 7672 e 012 998 7800 / 09; consta que este Senhor seguia no avião interceptado há alguns meses em ANGOLA, como passageiro e a carga pertencia-lhe.

BEN SMITH, piloto da FORÇA AÉREA Sul Africana, que fez campanha contra ANGOLA, que utiliza o telefone 027 082 566 7673; tem ligação à “PETRA DIAMOND”.

GUSTAVO FOUCHÉ, piloto de jacto e ex-sócio da “AFRICAN ALLIANCE”, mestiço, que utiliza o telefone 027 082 440 1609, separou-se em data recente dessa “trading”.

Os dois ESTADOS devem fazer um esforço comum para encontrar emparceiramentos com entidades que não estiveram ligadas às campanhas de desestabilização contra ANGOLA, fundamentalmente ao nível de operadoras como a ODEBRECHT, Brasileira, ou Empresas da EUROPA DO LESTE (caso das Russas, que têm experiência do ramo no seu País), ou ainda operadoras dos EUA, pois essa é uma das formas de assegurar a malha de implantação e os mecanismos táctico-operativos de controlo, desalojando aqueles interesses que se verificarem poderem estar ligados, ou coligados aos processos de financiamento da UNITA e que são essenciais para a sobrevivência da sua Organização Armada.

05-08-1998 03:07.

O fascismo, sepulcro da democracia, faz 100 anos


Criado para combater o socialismo, o fascismo deve o seu nome a Mussolini, que o usou para descrever o estado de espírito do seu pequeno bando de criminosos

Alfredo Barroso | Jornal i | opinião

A invenção do fascismo, por Benito Mussolini, fará 100 anos daqui a poucos meses, no próximo dia 23 de Março de 1919. Foi na manhã desse domingo, numa sala de reuniões do Círculo dos Interesses Industriais e Comerciais de Milão, na Praça do Santo Sepulcro, que nasceu oficialmente o fascismo, perante uma assembleia de cerca de uma centena de antigos combatentes da Grande Guerra, de sindicalistas belicistas, de intelectuais futuristas, de alguns repórteres e outros tantos curiosos. Foi criado para “declarar guerra contra o socialismo, por se ter oposto ao nacionalismo”. Nessa altura, Mussolini chamava ao seu movimento Fasci di Combattimento. De facto, o termo fascismo foi inventado por Mussolini a partir do termo italiano fascio, oriundo do latim fascis, ou fasces no plural. Foi esse o termo que Mussolini criou para descrever o estado de espírito do seu pequeno bando de criminosos, ex-soldados nacionalistas, sindicalistas e futuristas que tinham sido a favor da guerra.

O programa deste movimento fascista era, como sublinha o historiador americano Robert O. Paxton no seu livro “The Anatomy of Fascism” (2004), uma mistura bizarra de patriotismo à “antigo combatente” e de experimentação social radical, assim uma espécie de “socialismo nacional”, anti-intelectual, antiburguês e anticapitalista. Mas a verdade é que os partidos fascistas, uma vez no poder, nada fizeram para concretizar as ameaças anticapitalistas. Pelo contrário, desencadearam acções de uma violência brutal contra tudo e todos os que representavam o tão odiado socialismo, por exemplo contra os jovens comunistas que encontravam nas ruas e que massacravam à pancada. Mais: uma vez no poder, os fascistas instituíram regimes de partido único, proibiram as greves, dissolveram os sindicatos independentes, baixaram o poder de compra dos trabalhadores e financiaram generosamente as indústrias de armamento, para regozijo dos empresários. Assim aconteceu na Itália fascista (1922-1945) e na Alemanha nazi (1933-1945), cópia do fascismo adaptada por Hitler, que iria ainda mais longe na exaltação do ódio, da violência e do racismo, no assassínio dos adversários e no holocausto dos judeus, em nome da pureza da raça e do orgulho nacional.

Convém perceber que o fascismo e o nazismo não brotaram espontaneamente – houve quem previsse a sua eclosão e explicasse a sua popularidade. Alexis de Tocqueville, por exemplo, durante a sua famosa visita aos Estados Unidos da América, em 1831, ficou muito perturbado pelo poder que tinha uma maioria, em democracia, de impor o conformismo através da pressão social, na ausência de uma elite social independente. E escreveu: “A espécie de opressão que ameaça os povos democráticos em nada se parece com tudo o que a antecedeu na história do mundo”. Mais: “Os antigos termos despotismo e tirania não são de modo algum aplicáveis. A coisa é nova, importa por isso defini-la, já que não consigo baptizá-la com um nome adequado.”

No início do séc. xx, em 1908, foi a vez de um engenheiro francês e filósofo social, Georges Sorel, criticar Karl Marx “por não ter colocado a si próprio a questão de saber o que aconteceria no caso de uma economia entrar em decadência; Marx nem sequer sonhou com a possibilidade de se produzir uma revolução tendo por ideal o retrocesso ou, até, o conservadorismo social”. O que o fascismo e o nazismo viriam a comprovar. Dois meses após a chegada de Hitler ao poder – sendo nomeado chanceler –, o grande escritor alemão Thomas Mann escreveu no seu diário, em 27 de Março de 1933, ter sido testemunha duma espécie de revolução ainda inédita, “sem ideias, contra a ideia, contra tudo o que há de mais elevado, de melhor e de vantajoso, contra a liberdade, a verdade e o direito”. Thomas Mann diz mais: que “a canalha” tomou conta do poder, no meio de um “inacreditável júbilo” por parte das massas populares.

Enquanto Mussolini era um antigo professor primário, escritor boémio assaz modesto, ex-orador e editorialista do órgão oficial do Partido Socialista Italiano, o “Avanti”, que ele mandou destruir por completo pelo seu bando de “camisas negras”, Hitler tinha sido um modesto cabo durante a Grande Guerra que se vangloriava de feitos que não cometera, além de ser um estudante de arte completamente falhado e frustrado que se tornou um demagogo exímio e temível, à frente dum bando de crápulas vestidos de camisas castanhas. Um e outro eram fanfarrões e brutais, com ambições de poder e de vingança incontroláveis. Faziam ameaças e mentiam sem vergonha, inflamavam as audiências populares e recrutavam os seus seguidores entre a “canalha”, para usar o termo empregado por Thomas Mann. Impressiona, aliás, como tantas pessoas cultas e civilizadas julgaram tratar-se apenas duma “horda de bárbaros” que teria vindo “armar tendas” e acampar por pouco tempo, em protesto, “no meio da nação”.

Tais pessoas despertaram tarde e a más horas para o horror que se seguiu. O que, de certa maneira, entronca no que terá sido a origem da expressão “nacional- -socialismo”, tanto quanto se sabe inventada pelo escritor nacionalista francês Maurice Barrès, em 1896, ao descrever o marquês de Morès, aristocrata e aventureiro, como “o primeiro nacional-socialista”. Após fracassar como criador de gado no Dakota do Norte, Morès regressou a Paris no princípio da década de 1890 e depressa organizou um bando de antissemitas musculados que se dedicaram a assaltar lojas e empresas de judeus. Influenciado pelo passado de criador de gado, decidiu recrutar os seus esbirros nos matadouros de Paris, atraindo-os com uma retórica em que misturava anticapitalismo e antissemitismo nacionalista. Os seus “esquadrões” vestiam- -se como os cowboys, de chapéu alto à Hopalong Cassidy, que o marquês de Morès descobrira no Faroeste. É muito provável que tal indumentária tenha estado na origem das camisas negras e castanhas que se tornaram uniformes dos fascistas e nazis. No início do caso Dreyfus, em França, Morès matou em duelo um oficial judeu muito popular, mas acabou por ser assassinado pelos seus próprios guias tuaregues em 1896, no Sara.

Ao observarmos, hoje, as atitudes e os discursos de políticos demagogos e populistas da extrema-direita – como Donald Trump (nos EUA), Rodrigo Duterte (nas Filipinas), Recep Erdogan (na Turquia) ou Jair Bolsonaro (no Brasil) –, é irresistível evocarmos as provocações e ameaças constantes de Hitler e Mussolini, o comportamento agressivo e fanfarrão de ambos, os seus discursos demagógicos e inflamados perante multidões acéfalas e fanatizadas que os aplaudiam e vitoriavam sem terem sequer a noção de que iriam ser as primeiras vítimas da loucura fascista e nazi que contaminou a Europa do Atlântico aos Urais, no período entre as duas guerras mundiais. A popularidade do fascismo e do nazismo, nesse tempo, não é novidade. E alimenta-se hoje da completa falta de conhecimento e memória histórica da generalidade dos povos que ainda vivem em democracia, mas parecem querer, em muitos casos, face às crises do capitalismo e das representações democráticas, deitar fora o bebé com a água do banho, isto é, deitar fora a democracia, menosprezando os malefícios do capitalismo selvagem e a necessidade de combater e derrotar as políticas neoliberais impostas por instituições internacionais – como o FMI, o BCE ou a União Europeia – aos governos dos países democráticos, cada vez mais impotentes e incapazes de reconquistar a sua soberania face ao poder sem limites da plutocracia e das empresas multinacionais.

O renascimento do perigo fascista, ao cabo de quase duas décadas do séc. xxi, é hoje uma evidência tão grande como o foi há cem anos, a partir do início da década de 1920. O regresso do fascismo, tanto sob antigas como sob novas formas, está hoje na ordem do dia. Tal como a generalização de novas ditaduras autoritárias como as que, no século passado, se foram implantando “à boleia” dos regimes fascistas – foi esse o caso em Portugal, encostado ao regime fascista de Francisco Franco, em Espanha. É verdade que há diferenças entre um e outras. As ditaduras autoritárias governam em regime de partido único com o apoio de forças conservadoras já existentes, como as forças armadas, a(s) igreja(s) e os interesses económicos e financeiros organizados, procurando desmobilizar e neutralizar a opinião pública recorrendo, nomeadamente, à polícia política e à censura. Quanto aos regimes fascistas, utilizam o partido único não para neutralizar, mas sim para mobilizar as massas populares através do entusiasmo e da efervescência permanentes, organizando encenações políticas gigantescas para as atrair e manipular, moldando-as constantemente através da propaganda. Enquanto as ditaduras autoritárias – como a de Salazar e Caetano – “cozinhavam” o povo em “lume brando”, os regimes fascistas optaram por submetê-lo a altas temperaturas, no grande caldeirão das guerras mais cruéis e devastadoras, como as do séc. xx.

Portugal parece estar ainda longe de todos esses perigos, apesar do entusiasmo que suscita, em alguns sectores da direita portuguesa (sobretudo a extraparlamentar, mas não só), a expectativa de vitória do candidato fascista Jair Bolsonaro no Brasil. É certo, todavia, que a demagogia populista tem sido a antecâmara de todos os movimentos e partidos da “extrema-direita pós-fascista” (como agora está na moda classificá-los), e não faltam alguns sinais algo inquietantes dessa demagogia populista nas franjas do PPD-PSD e no coração do CDS--PP. Mas o mito da tradicional brandura dos nossos costumes continua activo e, por cá, a direita ainda só conseguiu eleger Presidente da República um político demagogo e populista soft, perito em afectos e selfies, além de moderadamente conservador e temente a Deus. De facto, Marcelo Rebelo de Sousa é oriundo da “versão mole” do Estado Novo, protagonizada por Caetano, assim uma espécie de caldo verde do antigo regime, que até chegou a usar a farda verde e castanha da Mocidade Portuguesa, mas já nem queria ouvir falar dela, não o fossem qualificar de fascista. Nada mau para a democracia portuguesa, atendendo a que o Presidente anterior a Marcelo, também de direita e do PPD-PSD, era tão rígido como um pau de vassoura e tão autoritário como a “múmia paralítica” do Agildo Ribeiro, mas sem a sineta para o calar porque, realmente, ele falava bastante pouco.

Cem anos depois da sua invenção, numa sala de reuniões com janelas para a Praça do Santo Sepulcro, em Milão, o fascismo volta a ser uma séria ameaça na Europa, na América Latina e – surpresa das surpresas, que não seria surpresa alguma para Alexis de Tocqueville – nos Estados Unidos da América. Oxalá não venha a ser outra vez um Santo Sepulcro da democracia, como na primeira metade do séc. xx. Mas, olhando em redor, confesso não estar nada optimista quanto ao que poderá suceder.

Na fotomontagem: Salazar com fascistas em Portugal e Mussolini em Itália, a fazerem a saudação fascista.

Portugal | Tancos ou a maluquinha de Arroios


João Gonçalves* | Jornal de Notícias | opinião

Em plena 1.a República, André Brun escreveu uma comédia de costumes intitulada "A maluquinha de Arroios". Na verdade, era uma comédia de enganos que, até hoje, é representada um pouco por todo o lado. A história é escorreita e previsível. Um comerciante levemente amoral, "o Esteves do bacalhau", arrendou uma casa num prédio que também possuía em Arroios, Lisboa, a uma mulher deslumbrante com uma mãe dada a chiliques românticos e um pai devasso e rapace. A trama gira à volta de equívocos, meias-verdades, mentiras, personagens amalucadas ou crédulas, diálogos truculentos e, no fim, acaba tudo em bem. Salvo nesta última parte, a tragicomédia de Tancos, com as devidas adaptações, podia perfeitamente ser uma declinação político-teatral da "Maluquinha". Tem, até agora, três actos, cada um com várias partes. O primeiro é um alegado furto de material de guerra dos paióis de Tancos. É mais um prólogo, uma vez que não se sabe ao certo o que aconteceu naquela noite de Verão de 2017. O segundo acto começou na Chamusca, com uma chamada anónima para a PJM, a informar que o material estava lá. E não só estava lá - incompleto como se veio a saber numa das partes do acto - como ainda tinha o bónus de uma caixa, que não pertencia ao furto, e a que uma das personagens da história (que desapareceria no terceiro acto) atribuiu a dimensão de cerca de uns 30 cm de comprimento, medidos entre as suas duas mãos numa divertida conferência de imprensa. O terceiro acto, respigado do prólogo inconclusivo, é marcado pela entrada em cena da PJ civil que, sem querer saber do prólogo e do primeiro acto, deteve as personagens da PJM por causa da parte da Chamusca e apesar do evento principal, acerca do qual aparentemente nenhuma personagem sabe nada. O terceiro acto ainda teve como desfecho duas demissões, uma civil e a outra militar, e um pronunciamento presidencial de carácter filosófico: só sabe que nada sabe, mesmo andando há mais de ano à espera de tudo saber. Não vale a pena estar a encaixar as personagens de Brun nesta pilhéria político-militar. Até porque uma delas já afirmou publicamente que um dia se saberá a história toda e o papel que cada um desempenhou nela. Como quem deixa a "deixa": "- razão tinha aquele grande filósofo que dizia, "em amor ninguém deve fingir aquilo que não é"; - quem foi que disse isso? Foi Plínio, o moço? ; - Não. Foi o Joaquim, o criado de mesa".

*Jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

Professores e funcionários com salários em atraso em Timor-Leste


Díli, 22 out (Lusa) - Professores portugueses, bem como docentes e funcionários timorenses destacados nas escolas de referência em Timor-Leste estão sem receber, respetivamente, os complementos salariais e os salários desde pelo menos julho, disseram à Lusa vários docentes.

O atraso de pagamentos abrange um período em que os salários e componentes salariais, como as restantes despesas do Estado timorense, estavam em regime de duodécimos, o que obrigaria ao seu pagamento mensal.

Este novo atraso foi confirmado num email que a coordenadora portuguesa do projeto Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), Lina Vicente, enviou na semana passada aos docentes portugueses e a que Lusa teve acesso, onde manifesta preocupação pelo atraso.

"Temos envidado esforços no sentido de informar os responsáveis máximos do Ministério da Educação, Juventude e Desporto sobre os transtornos pessoais que esta situação causa", escreveu.

"A justificação obtida é que os constrangimentos são de ordem burocrática, o sistema de pagamento está fechado", refere ainda.

Lina Vicente explica que todos os pagamentos, "de julho a outubro foram processados, tendo sido cumpridos todos os prazos" no que concerne ao projeto, e que a coordenação continua a recorrer a vias "formais e informais de comunicação" para que o "problema seja resolvido o mais brevemente possível".

A justificação de "constrangimentos de ordem burocrática" e que o "sistema de pagamento está fechado" é a mais recente para um problema que se arrasta há vários anos, com os professores e funcionários dos CAFE a esperarem sempre vários meses pelos salários e componentes salariais.

O email justifica o atraso, neste caso, com o suposto fecho do sistema de pagamentos do Ministério das Finanças. Uma referência a problemas de reconciliação na introdução dos dados do Orçamento Geral do Estado de 2018 e que este mês condicionaram alguns dos pagamentos.

Presente nas capitais dos 13 municípios timorenses, envolvendo cerca de 80 docentes estagiários de Timor-Leste, 130 professores portugueses e mais de sete mil alunos, o projeto das escolas de referência (CAFE) é o elemento mais importante do programa de apoio ao ensino do português em Timor-Leste.

O chefe da Unidade do Sistema Integrado de Informação e Gestão Financeira (USIIGF) do Ministério das Finanças, Joanico Pinto, explicou à Lusa que o problema - que hoje ficou completamente resolvido - teve que ver com a reconciliação que foi necessária aplicar entre os dados referentes ao Orçamento Geral do Estado de 2018, que só começou a vigorar a partir deste mês e os dados de receitas e despesas aplicados, sob o regime duodecimal, desde 01 de janeiro a 30 de setembro.

Ainda que essa justificação possa aplicar-se no caso do mês de outubro - sendo que os salários e componentes salariais só seriam processados normalmente no final do mês - a mesma não justifica os atrasos nos pagamentos entre junho e setembro.

Especialmente, como notaram vários docentes ouvidos pela Lusa, pelo facto de se aplicar desde o início do ano o regime duodecimal o que obriga, necessariamente, os Ministérios a processar todas as despesas mensalmente.

O projeto tem sido afetado todos os anos por vários problemas, tendo as aulas começado mais tarde, tanto este ano, como no ano passado, também por atrasos de Portugal no envio dos professores.

Recorde-se que protocolo com base no qual os professores são enviados para Timor-Leste prevê que além do salário pago por Portugal, cada um dos professores receba do Governo timorense 1.000 dólares por mês como ajudas de custo, a que se somam mais 100 dólares por cada ano trabalhado no país.

Professores em Díli recebem um complemento adicional de 600 dólares para casa e os que estão nos distritos estão em casas disponibilizadas pelas autoridades timorenses.

ASP // MIM

Governo timorense resolve problemas que estavam a condicionar pagamentos do executivo


Díli, 22 out (Lusa) - O Governo timorense conseguiu resolver hoje os problemas finais de reconciliação encontrados na introdução dos dados do Orçamento Geral do Estado de 2018 e que este mês condicionaram alguns dos pagamentos, disse à Lusa fonte do executivo.

"O sistema está novamente totalmente apto a funcionar com o Orçamento Geral do Estado de 2018. Todas as linhas ministeriais podem começar a processar pagamentos a partir de hoje", disse chefe da Unidade do Sistema Integrado de Informação e Gestão Financeira (USIIGF), Joanico Pinto em declarações à Lusa.

Durante as últimas semanas várias divisões de ministérios e algumas instituições do sistema público timorense têm sentido dificuldades em processar pagamentos, o que condicionou a ação do Estado.

O problema, explicou Joanico Pinto, teve que ver com a reconciliação que foi necessária aplicar entre os dados referentes ao Orçamento Geral do Estado de 2018, que só começou a vigorar a partir deste mês e os dados de receitas e despesas aplicados, sob o regime duodecimal, desde 01 de janeiro a 30 de setembro.

Um processo dificultado porque obrigou igualmente a ajustar as categorias orçamentais de acordo com a orgânica do VIII Governo constitucional - em funções há quatro meses.

"Há Ministérios que estavam juntos e se separaram, outros que se uniram e outros que desapareceram e isso tudo teve que ser ajustado no sistema", explicou.

Joanico Pinto disse que esse é um dos problemas que levou à suspensão do funcionamento do Portal da Transparência, gerido pelo Ministério das Finanças, e onde se detalham em quase 'real time' receitas e gastos públicos.

"O problema não foi com o sistema em si, mas com a reconciliação dos dados. O sistema tem estado aberto desde 08 de outubro e as instituições onde não houve problemas puderam processar pagamentos", disse.

Questionado sobre que percentagem do Estado foi afetado, Pinto disse que era difícil quantificar já que havia algumas divisões a funcionar e outras não, dentro de cada Ministério.

"Fomos lidando caso a caso. Com energia, tempo e foco, resolvemos a situação", explicou.
O Portal da Transparência continuava, a meio da manhã de hoje, indisponível.

Na prática trata-se de reconciliar os valores de gastos das Dotações Orçamentais Temporárias (DOT) do regime duodecimal com os gastos que cada Ministério tem de acordo com o Orçamento Geral do Estado 2018.

A situação política em Timor-Leste, que levou à dissolução do Parlamento e a eleições antecipadas, tem condicionado significativamente as finanças públicas - e por consequência a economia do país.

Timor-Leste viveu em duodécimos deste janeiro e o Orçamento Geral do Estado para 2018 só foi aprovado pelo Governo e parlamento em setembro e promulgado no final do mês pelo Presidente da República.

O Orçamento tem o valor de 1.279,6 milhões de dólares (cerca de 1.100 milhões de euros) e engloba todas as receitas e despesas do Estado e da Segurança Social de Timor-Leste entre 01 de janeiro e 31 de dezembro de 2018.

A expectativa do Governo é de conseguir executar cerca de 700 milhões de dólares no último trimestre do ano.

As dotações orçamentais para este ano incluem 200,25 milhões de dólares para salários e vencimentos, 354 milhões para bens e serviços, 324,2 milhões para transferências públicas, 5,11 milhões para capital menor e 393,75 milhões para capital de desenvolvimento.

O total das despesas dos serviços sem autonomia administrativa e financeira e dos órgãos autónomos sem receitas próprias é de 830,54 milhões de dólares.

Nos cofres do Estado devem entrar 188,8 milhões de dólares de receitas não petrolíferas.
A diferença, 982,5 milhões de dólares, corresponde a levantamentos que terão que ser feitos do Fundo Petrolífero, dos quais 550,4 milhões são do Rendimento Sustentável Estimado e o restante são levantamentos adicionais.

ASP // MIM

Triste povo brasileiro


"Os adeptos de Bolsonaro lembram muito os bebês, pois estes captam as emoções humanas muito antes de entenderem a fala".

Paulo Metri [*]

Tenho recebido conselho de amigos e familiares para não escrever sobre política no momento atual. O pedido é inusitado, pois cansei de fazer críticas, por exemplo, às decisões de FHC, quando ele era presidente e nunca me aconselharam nada parecido. Tento, a seguir, somente trazer lógica para o imenso nonsense atual. Para tranquilizar meus amigos, não tenho gana de criticar Bolsonaro, até porque as críticas às suas falas são obviedades ululantes. Qualquer uma delas fere a ética e o senso de humanidade.

Contudo, a questão estarrecedora, ligada a tudo isto, se prende às seguintes perguntas cruciais:

1) A maioria dos brasileiros, que dão votos válidos a Bolsonaro, aprova o estupro de mulheres (sem entrarmos no mérito de considerarem-nas bonitas ou feias)?

2) Esta maioria é também composta de racistas?

3) Nossa sociedade, representada por sua maioria, aprova a homofobia?

4) Os brasileiros reconhecem a inferioridade da mulher em relação ao homem?

5) Os conflitos na sociedade podem ser resolvidos através do uso de armas?

Além de inúmeras outras agressões a princípios humanísticos. Enfim, por que a reação da população tem sido de apoio às declarações de Bolsonaro?

Soltas no meio destas barbáries, as desgraças econômicas, principalmente para os mais carentes, declaradas por assessores do Bolsonaro, como o término do 13º salário, a alíquota comum de imposto de renda de 20% para todos os salários, as privatizações, a reforma da previdência, a permanência sem modificação da PEC da morte e da reforma trabalhista etc, ajudam a compor o quadro de horror, um verdadeiro inferno dantesco com todos os seus círculos.

Falando o que todo mundo já sabe, Bolsonaro é fascista, despreparado e, graças a assessores, neoliberal. Mas, tem uma inteligência voltada para a conquista de votos inegável. Seus adeptos querem chavões, imagens e posicionamentos radicais. Eles lembram muito os bebês, pois estes captam as emoções humanas muito antes de entenderem a fala.

Será que o brasileiro precisa passar por uma experiência fascista, que será necessariamente traumática, para poder adquirir anticorpos contra o fascismo? Os Le Pen não convencem os franceses sobre a atratividade de teses fascistas. Hitler proporcionou uma experiência nefasta para espécie humana, muito bem assimilada pelo europeu e mesmo por povos distantes da Europa com capacidade de discernir.

Resta saber como o brasileiro chegou ao ponto de absorver Bolsonaro tão facilmente. Proponho como causa um coquetel composto da mídia irresponsável, representante do capital, de uma Justiça injusta, dos Congressistas canalhas, de membros do Executivo corruptos, de uma corrente fanática dos protestantes, de militares saudosos da ditadura, além de outros atores menores da sociedade. Todos "culpados" do crime de ganância, pois queriam riqueza e poder, em total detrimento da sociedade, quando foram atropelados ou atraídos por um "outsider", com ideais não menos perversos.

Finalizando, o povo brasileiro é triste porque, sendo facilmente manipulável, por principalmente não existir uma mídia comprometida com a informação e o esclarecimento (com pouquíssimas exceções), ele consegue votar contra seus próprios interesses. Ou seja, consegue votar em quem lhe fará sofrer profundamente.

Tenho recebido conselho de amigos e familiares para não escrever sobre política no momento atual. O pedido é inusitado, pois cansei de fazer críticas, por exemplo, às decisões de FHC, quando ele era presidente e nunca me aconselharam nada parecido. Tento, a seguir, somente trazer lógica para o imenso nonsense atual. Para tranquilizar meus amigos, não tenho gana de criticar Bolsonaro, até porque as críticas às suas falas são obviedades ululantes. Qualquer uma delas fere a ética e o senso de humanidade. 

19/Outubro/2018

Ver também: 

[*] Conselheiro do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro 

O original encontra-se em www.correiocidadania.com.br/2-uncategorised/13526-triste-povo-brasileiro 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Portugal e o mundo. Paz, catrapaz… Trambolhão e catrapus vai acontecer no Brasil


Mais uma semana que começa. Alguns tiveram a sorte de parar no fim de semana, sábado e domingo. A maioria nem por isso. Parar é morrer, afirma o dito popular. Pois, mas o descanso merecido, depois de tantos dias de trabalho, é importante. 

Nos tempos que são de muito trabalho e pouco lazer vimos que o esclavagismo se assoma com novos e enganadores figurinos a que chamam competitividade, uma definição que na atualidade significa encher mais as contas bancárias a uns quantos enquanto a maioria se debate com salários de miséria. É a sociedade que vimos, é a sociedade que temos e a sociedade em que mal sobrevivemos.

O fascismo no Brasil avança. Existem milhões de fascistas no Brasil e negros que querem ser tratados pior que cães, assim como mulheres masoquistas e aduladoras do misógino Bolsonaro, o fascista “salvador”, o racista com sementes de ódio nos alforges e já algumas nas mãos a fazer a sementeira que reduzirá o Brasil a uma imensa plantação de fome, miséria, escravidão, porrada e morte. “Os povos são muito estúpidos”, bem disse Bernice.

Segue-se o Curto do Expresso, obra de hoje de Pedro Cordeiro. Tem muitas quentes e boas. Outras nem por isso. Vale o que vale, mas vale. Avance e leia. Adquira conhecimento. Do mal o menos. É o que há, é o que temos. Aqui. Boa semana… Será que consegue ter uma boa semana? Na atualidade as incógnitas são mais que muitas. Bom dia. (CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Paz fria

Pedro Cordeiro | Expresso

Bom dia e boa semana.

Dentro de dias os Estados Unidos da América vão anunciar à Rússia que abandonam o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário. Assinado em 1987 pelo Presidente americano Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, então líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o tratado proíbe todos os mísseis nucleares e não nucleares de curto e médio alcance, exceto os que são lançados do mar. Ao abrigo deste documento, ratificado em plena Guerra Fria, foram destruídos 2692 mísseis com alcances entre os 500 e os 5500 quilómetros. Agora, porém, o Presidente Donald Trump quer rasgar o tratado, conta “The New York Times”. Não quererá, explica a BBC, que os russos “andem a arranjar armas [enquanto] nós não podemos”.

O jornal explica que a administração Trump considera que os russos andam a violar o acordo desde pelo menos 2014 (acusação que não é nova e já foi feita na direção oposta) e disponibiliza uma análise do Departamento da Defesa sobre esta questão. Os americanos afirmam que o míssil de médio alcance russo Novator 9M729, que permitiria atacar países membros da NATO, é um exemplo de tais quebras do pacto.

Terá sido por recear suscitar uma corrida às armas que Barack Obama não denunciou o tratado, preocupação partilhada por vários países europeus, com a Alemanha à cabeça. Mas a decisão — que ainda não foi formalizada — também estará associada ao domínio crescente da China no Pacífico Ocidental. Trump abriu, ainda assim, a porta a uma renegociação deste ou de outro tratado: “Teremos de desenvolver armas dessas, a não ser que a Rússia venha ter connosco e a China venha ter connosco e todos venham ter connosco e digam: ‘vamos ser inteligentes e nenhum de nós vai desenvolver armas dessas’”.

A rescisão não é bem vista em Moscovo, tendo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo usado a palavra “chantagem” para qualificá-la. Sergei Ryabkov, citado pelo “Politico”, refere “um passo muito perigoso” num assunto “que tem importância para a segurança internacional e na esfera das armas nucleares e na manutenção da estabilidade estratégica”. O governante russo enquadra este gesto numa tendência “desajeitada e cruel” que deteta em Washington e promete “medidas de retaliação, incluindo o desenvolvimento de tecnologia militar”. Vladimir Putin espera satisfações do conselheiro de segurança nacional de Trump, o “falcão” John Bolton, que visita a Rússia esta semana. A verdade, contudo, é que há 11 anos foi o Presidente russo quem deplorou o tratado, reagindo à decisão de George W. Bush de abandonar outro documento similar, o Tratado Anti-Mísseis Balísticos.

Gorbachev, um dos signatários do tratado agora em causa, pensa que Trump está a cometer “um erro”. “Em nenhuma circunstância devemos rasgar os velhos acordos de desarmamento… em Washington não compreendem onde isso pode conduzir?”, interrogou o homem que ajudou a derrubar o comunismo na antiga URSS, em declarações à agência Interfax. Um porta-voz do Governo alemão também “lamentou” a decisão de Trump e pediu um debate na NATO. A única voz proeminente no concerto das nações a dar uma mão a Washington foi, como é hábito, o Reino Unido.

Entre um cheirinho a anos 30 e uma pitada de Guerra Fria, assim vai o mundo. Mas, para pormos as coisas no lugar, estamos melhor do que nunca. Por muito que tenhamos dificuldade em reconhecê-lo.

NOTÍCIAS DE CÁ

Em Portugal continua-se a escandir o orçamento de Estado e a recente remodelação governamental. O “Observador” analisa os desafios que esperam João Galamba, novo secretário de Estado da Energia, que passam em grande medida por assuntos em que o seu antecessor, Jorge Seguro Sanches, enfrentou os interesses de grandes firmas como a EDP. Outra dor de cabeça será a nomeação de um administrador da ERSE (entidade reguladora do sector): como explicam no Expresso a Rosa Pedroso Lima e a Mariana Lima Cunha, a esquerda vai ajudar a chumbar o nome proposto pelo PS, um deputado da sua própria bancada.

Já quanto ao último orçamento da legislatura, soube-se este fim de semana que o PSD vai votar contra e o BE a favor. Já era sabido que o PAN vai dar luz verde ao documento, como o PS, e que o CDS o chumbará. O PCP ainda não anunciou formalmente o seu sentido de voto, mas a insistência na hashtag #marcasdopcp nas redes sociais, a reivindicar a autoria de muitos melhoramentos ao OE, faz adivinhar um “sim”. No Expresso, Ricardo costa traça o balanço da legislatura. Já Bruxelas quer mais consolidação.

Sobre remodelação e orçamento, vale a pena revisitar as duas-edições-duas (uma ordinária, outra extra) do podcast de política do Expresso, a Comissão Política, emitidos. Os mesmos assuntos foram ontem analisados no Governo Sombra, que gosto sempre de ouvir.

O que não desaparece (e ainda bem, até esclarecimento cabal) é o caso de Tancos. Azeredo Lopes e Rovisco Duarte já não moram cá, mas Marcelo Rebelo de Sousa está em todo o lado. O Presidente voltou a falar deste tema, para jurar desconhecimento do alegado encobrimento ao roubo das armas e exigir “toda a verdade, doa a quem doer”. A edição semanal do Expresso de anteontem chama o assunto à manchete e revela na íntegra o memorando secreto que compromete o ex-ministro da Defesa. No “Público”, Vicente Jorge Silva defende que o primeiro-ministro não pode mascarar as responsabilidades políticas evidentes que há em tudo isto.

O ex-Presidente Cavaco Silva lança na quarta-feira “Quinta-feira e Outros dias: Da Coligação à Geringonça”, segunda parte de um livro que escreveu após sair de Belém. O “Público” pré-publica um capítulo sobre a nomeação de Joana Marques Vidal para procuradora-geral da República. Mas a obra promete tiradas sobre a demissão “irrevogável” de Paulo Portas em 2013 e o nascimento da hoje trivializada mas um dia insólita solução de governo encabeçada por António Costa.

O “Diário de Notícias” deixou de existir em papel há meses, mas não deixou de merecer ser lido. Hoje recomendo uma investigaçãosobre notícias falsas na Internet criadas em Portugal e uma análise sobre a sua relação com o populismo.

Na frente desportiva, o fim de semana foi de Taça de Portugal e os três grandes saíram-se bem. O Sporting bateu o Loures por 2-1 no sábado, o Benfica deu três secos ao Sertanense e o Porto fez o dobro disso com o Vila Real. Os relatos são da Tribuna Expresso. Seguem-se as taças europeias. Na Liga dos Campeões, os azuis e brancos vão a Moscovo, quarta-feira, defrontar o Lokomotiv. Na véspera as águias visitam o Ajax em Amesterdão. Na quinta-feira os leões jogam em casa com os londrinos do Arsenal.

NOTÍCIAS DE LÁ

A campanha das presidenciais brasileiras entra na reta final, com Jair Bolsonaro a consolidar a vantagem nos estudos de opinião (59%-41%) sobre o adversário Fernando Haddad. Tem-se discutido se o candidato favorito a ocupar o Palácio do Planalto é fascista e, a esse respeito, gostaria de aconselhar este trabalho da Ana França e da Sofia Miguel Rosa, no Expresso. O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso — que, para surpresa de muitos, não quis optar entre os dois finalistas — sente um aroma a fascismo em declarações recentes de um dos filhos de Bolsonaro (Eduardo, eleito deputado na primeira volta) sobre encerrar o Supremo Tribunal Federal. Já o pai desmente ter tal intenção. Nem este caso nem a difusão de mensagens anti-PT na aplicação WhatsApp, que gerou um pedido de impugnação da candidatura de Bolsonaro vindo de Haddad e Ciro Gomes (terceiro classificado na primeira volta), parecem travar a marcha do capitão jubilado rumo aos píncaros da política brasileira. A disputa polarizada levou o recatado escritor Raduan Nassar, prémio Camões em 2016, a tomar posição.

Bem menos rápida é a marcha do ‘Brexit’, atolado nas negociações com a UE e a esbarrar na fronteira da Irlanda. A primeira-ministra Theresa May vai hoje ao Parlamento assegurar que 95% do trabalho está feito, noticia “The Guardian”. Já “The Daily Telegraph” acha que os 5% que faltam podem custar o cargo à governante conservadora. Entretanto, sábado, mais de meio milhão de pessoas desfilaram por Londres a exigir novo referendo à saída da UE, conta “The Independent”.

O assassínio com requintes de malvadez de Jamal Khashoggi continua a indignar o mundo, que exige a verdade ao regime do príncipe Mohammed bin Salman, com a Turquia a liderar as reivindicações. Riade já assumiu a morte do jornalista crítico do poder — que explica como um erro infeliz — e até o aliado Donald Trump já mudou de tom, dizendo-se agora “enganado” pelos sauditas.

Por fim, um vídeo repugnante: em pleno avião, um passageiro da Ryanair lança um chorrilho de insultos racistas sobre uma senhora com dificuldade em andar, dizendo não querê-la no lugar ao seu lado. A vítima deste ato vil nunca perde a compostura. Em vez de fazer como num anúncio pertinente de há anos ou de, como defenderam outros viajantes, expulsar o grunho do voo, a companhia aérea mudou a senhora de lugar. Shame on you.

MANCHETES DE HOJE

Jornal de Notícias: Casas de pobres da Igreja pagam imposto de luxo

Público: Tempestade Bolsonaro varre as ruas do Brasil

i: Carlos Carreiras “Sinto que não tenho capacidades para ser primeiro-ministro...”

Diário de Notícias: IGAI contra nova lei que permite a seguranças apalpar ao fazer a revista

Correio da Manhã: FC Porto antecipa 165 milhões em receitas

Negócios: Santa Casa já pagou mas ainda não entrou no Montepio

O Jornal Económico: “Podemos pagar mais dois mil milhões ao FMI ainda este ano” [diz o secretário de Estado Adjunto e das Finanças]

A Bola: Manuel Fernandes “Não vejo muito futebol, prefiro ler, fazer pilates e lutar boxe”
Record: Sousa Sintra “Jesus não voltou por um fio”

O Jogo: Yuran “O FC Porto vai ganhar”

O QUE ANDO A OUVIR

Dose dupla de música em português, ontem à noite, por efeito do furacão Leslie. No Coliseu, os 25 anos da Ala dos Namorados, com convidados como Shout, Carlão e João Gil. Agradável desfile de canções quase sempre encantadoras, com Nuno Guerreiro em forma, ainda que a voz não atinja alguns agudos de outrora. Vão ao Porto a 9 de novembro.

Mas a maravilha da noite estava reservada para a Altice Arena, onde os Tribalistas deram um show de antologia. Com produção cuidadíssima, entre vestes deslumbrantes, projeção vídeo e encenação; sem pejo em cantar por cima de um pequeno problema técnico na fase inicial da atuação; e com as vozes de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown a declinar o repertório coletivo e alguns pedaços do individual, o concerto foi do melhor a que tenho assistido. Amanhã é no Coliseu da Invicta, quem tiver oportunidade que não perca!

ONDE ANDO A MERGULHAR

Na instalação Over Flow, de Tadashi Kawamata, que está até 1 de abril de 2019 no MAAT, em Belém. A proposta é submergirmo-nos no mar, o nosso, o de todos, aquele que todos ajudamos a matar, aquele de que tanto precisamos para viver. Esteticamente fascinante, eticamente interrogante, depois não digam que não avisei.

E por aqui termino, recordando que o Expresso e a SIC online estão sempre a atualizar a informação e que pode contar com o resumo do dia, às 18h, no Expresso Diário. Aproveite para ler o que lhe tiver escapado da edição semanal, nomeadamente a grande reportagem sobre os meninos sem infância da ilha Terceira, levados dos Açores pelos militares americanos da base das Lajes e separados de suas famílias. Poderão recuperar o passado? Desejo-vos, caros leitores, um presente feliz e um futuro melhor.

Mais lidas da semana