sábado, 22 de dezembro de 2018

África: prognosticando o futuro?


Cabe aos africanos decidir as suas opções. E parece que este aspeto custa a ser aceite pelos “parceiros” económicos do continente.

Maria Paula Meneses | Público | opinião

Escrevo esta última coluna em Dakar, onde participo na XV assembleia do Codesria, Conselho para o Desenvolvimento das Ciências Sociais em África. Reunindo várias centenas de académicos africanos (e não só), este encontro, que se desenvolve num ambiente de grande riqueza intelectual, procura identificar alternativas à crise da globalização neoliberal no continente.

Os diagnósticos sociais, económicos e políticos, sem anunciar um futuro risonho, apontam a forma complexa como o continente é percebido internacionalmente. Assinalam igualmente a integração num sistema de economia-mundo, quais as implicações das várias opções presentes, e quais os conhecimentos e reflexões epistémicas que ajudam a pensar a globalização desde África. As várias abordagens convergem num elemento: cabe aos africanos decidir as opções para o seu futuro, um futuro que passa pelas opções sobre que uso dar, e como, aos recursos disponíveis. Esta discussão, largamente ignorada pelos principais mediaeuropeus, acontece num momento em que as principais potências financiadoras da “ajuda ao desenvolvimento” disputam o controlo desta “ajuda”.

Vista da perspetiva do G8, por exemplo, a entrada do continente no “mercado global” tem sido explicada como uma opção inapelável. Com efeito, o Plano de Ação do G8 para África, aprovado em 2002 na cimeira do Canadá, teve por objetivo apoiar o desenvolvimento integral do continente, estabelecendo parcerias guiadas em grande medida pelo Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares, MARP. Através do MARP procurou-se que as lideranças africanas responsabilizassem os seus pares pelo cumprimento de vários princípios de boa governação. Em contrapartida, os líderes do G8, de forma coletiva, comprometeram-se a aumentar o apoio a África através de várias modalidades, incluindo o alívio da dívida; o encorajar fluxos de capital privado; o apoio a infraestruturas e setores sociais, tais como acesso à educação, saúde e água; o apoio à paz e segurança, etc. Um elemento central desta relação entre os países africanos e o G8 era o princípio da responsabilidade e benefícios mútuos. Todavia, como Thabo Mbeki, antigo Presidente sul-africano, apontou em Dakar, esta relação desvaneceu-se, sem resultados concretos.

Todavia, são vários os países africanos que vêm pressionando no sentido de uma posição mais forte, global, sobre a repatriação de capitais. Como vários estudos revelam, uma parte significativa da fuga de capitais do continente para países considerados mais desenvolvidos ocorre através do desvio de receitas de recursos naturais, da ajuda externa e de empréstimos. Estes estudos sugerem que a repatriação de capitais poderá desempenhar um papel importante no financiamento do desenvolvimento de África. Várias iniciativas têm sido lançadas procurando promover a cooperação dos países do G8 e da União Africana sobre esta questão. Em particular, advogam um maior envolvimento dos governos dos países do G8 na aplicação da transparência no sistema bancário, na identificação de depósitos de fundos desviados e na ratificação e implementação de acordos contra fraude, corrupção e lavagem de dinheiro. Ou seja, a partir de uma estratégia mais transparente sobre o paradeiro de capitais, o continente africano pode, a partir dos seus recursos, avançar no caminho do desenvolvimento de forma autónoma.

Memória dum expansionismo embarcado no capitalismo financeiro transnacional


Martinho Júnior, Luanda 

No momento em que o presidente Trump diz que os Estados Unidos se vão retirar da Síria, após sucessivas invasões e guerras…

No momento em que na América Latina os componentes mais progressistas reafirmam na ALBA-TCP (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América — Tratado de Comércio dos Povos) a sua unidade…


Vale a pena recordar, doze anos depois, que foi em Cabo Verde que a NATO, em 2006, experimentou as operações especiais que levaram à dilatação do seu espaço de intervenção, como nunca antes se havia registado!

A NATO EM CABO VERDE, OU AS SUCESSIVAS MORTES DE AMÍLCAR CABRAL

“El África ofrece las características de ser un campo casi virgen para la invasión neocolonial. Se han producido cambios que, en alguna  medida, obligaron a los poderes neocoloniales a ceder sus antiguas prerrogativas de carácter absoluto. Pero, cuando los procesos se llevan a cabo ininterrumpidamente, al colonialismo sucede, sin violencia, un neocolonialismo de iguales efectos en cuanto a la dominación económica se refiere. Estados Unidos no tenía colonias en esta región y ahora lucha por penetrar en los antiguos cotos cerrados de sus socios. Se puede asegurar que África constituye, en los planes estratégicos del imperialismo norteamericano su reservorio a largo plazo; sus inversiones actuales sólo tienen importancia en la Unión Sudafricana y comienza su penetración en el Congo, Nigeria y otros países, donde se inicia una violenta competencia (con carácter pacífico hasta ahora) con otros poderes imperialistas”.

Curto extracto da Mensagem de Che Guevara aos povos do Mundo, através da Tricontinental.

Para quem acompanhou de perto a saga do movimento de libertação em África e a conhece pela prova de coragem e abnegação sem limites que deu exemplo, ou para quem a viveu em plena consciência e continua fiel às suas raízes, à sua nobre identidade, às suas amplas aspirações de ordem estratégica, reconhece hoje que os acontecimentos em África após o fim da descolonização e do “apartheid”, correram de feição para o neocolonialismo, para o imperialismo, não se tendo conseguido estabelecer o nexo de continuidade histórica e humana a que os líderes revolucionários de então se propunham.

O futuro de África por essa razão permanece adiado, com o Continente a viver à margem das grandes transformações que foram entretanto atingindo a Ásia, ou a América Latina, pasto dum subdesenvolvimento crónico afectando uma parte importante de sua população que está condenada a ocupar os últimos escalões dos Índices de Desenvolvimento Humano conforme os Relatórios anuais do PNUD.

Muitos daqueles que algum dia haviam participado na saga do movimento de libertação contra o colonialismo, apesar da modernidade das Organizações politicamente mais enriquecidas, acabaram também por soçobrar, desaparecendo fisicamente, escolhendo, ou sendo obrigados a escolher muitos deles, os caminhos contrários aos que antes com tanta coragem haviam trilhado, numa viragem de 180º que reduz ainda mais as possibilidades de Independência de muitas das jovens Nações.

A lógica de Brazzaville, a lógica da segunda coluna do Che em África, a lógica da libertação e do Não Alinhamento, não teve dirigentes para lhe dar continuidade, em nenhuma das ex-colónias Portuguesas e depois de 1985.

No final da Guerra Fria, sensivelmente a partir de 1992, as lógicas do capitalismo Globalizante impuseram-se sem alternativas, vestindo as cores geoestratégicas de cada Região em que se inseriam os diversos Estados libertados do colonialismo e do “apartheid”, mas sem remissão à mercê do neocolonialismo e de suas manipulações.

Cabo Verde, um arquipélago bordejando a costa Ocidental Africana à latitude do Senegal, com um território quase inóspito, mantendo durante a fase final do colonialismo, por muitas décadas, o espectro da fome, da miséria e da migração, tem tido depois de sua Independência muitas dificuldades em sair da situação de subdesenvolvimento que tem caracterizado o modo de vida do seu Povo.

Na escala dos Índices de Desenvolvimento Humano do PNUD de 2004, Cabo Verde ocupa a 105ª posição entre os Estados considerados de Desenvolvimento Humano Médio, acima de todas as outras ex-colónias Portuguesas, mas ainda muito longe do pelotão dos “mais desenvolvidos”.

Apesar da luta de libertação ter ocorrido à sua margem, no território da Guiné Bissau, as mais conscientes elites de Cabo Verde empenharam-se bravamente na refrega e o líder do movimento de vanguarda, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, tornou-se num quadro, num político e num estratega que por mérito próprio e de sua Organização se capacitou como um dos maiores expoentes da luta de libertação contra o colonialismo em África, na peugada de Che Guevara.

O colonialismo Português fez tudo para neutralizar o PAIGC, para além do combate militar directo pela posse do território da Guiné Bissau e, em consequência da existência de correntes minando por dentro a organização de vanguarda, exploradas por processos operativos subtis de inteligência, Amílcar Cabral, o líder carismático e um dos mais notáveis lutadores Africanos contra o colonialismo, é assassinado, em Janeiro de 1973, precisamente meses antes da Guiné Bissau se proclamar Independente.

 O seu legado filosófico, histórico e humano, a lógica que norteou a sua conduta humanística, estratégica e política, apesar da sua fecunda riqueza intelectual apesar da sua incomparável militância e do seu supremo sacrifício, não foi contudo aproveitado no post Independência, tanto na Guiné Bissau quanto em Cabo Verde: a sua dimensão de Africano parece ter passado ao lado de seus companheiros de luta, tanto na Guiné Bissau como em Cabo Verde.

Se foi antes da Independência da Guiné e Cabo Verde que Amílcar Cabral desapareceu fisicamente, o seu legado quantas vezes terá entretanto morrido, com a eclosão de tantos e tão manipulados acontecimentos?…

É muito difícil conjecturar o que seriam esses pequenos Países, se Amílcar Cabral continuasse vivo e desse continuidade à sua obra, tal como é difícil conjecturar como seria sua vida dedicada por inteiro aos Povos de Guiné Bissau, Cabo Verde e aos Povos Africanos duma maneira geral.

Amílcar Cabral foi uma personalidade que se aproximava de Che Guevara pela sua firmeza inquebrantável, pela sua entrega e completa devoção à luta, identificando-se por inteiro com os Povos mais sofridos do Planeta e isso apesar de divergir em relação ao conceito da necessidade do foco revolucionário.

Os movimentos de libertação que lutaram nas colónias Portuguesas geograficamente distantes entre si, tiveram uma filosofia e uma coerência contudo que muito contribuíram para o seu dinamismo durante o período de luta contra o colonialismo, mas após as Independências as conjunturas internas dos novos Países, assim como as conjunturas Regionais envolventes, a evolução que o capitalismo foi determinando para a Guerra Fria, foram ditando evoluções distintas de uns em relação aos outros, inclusive em relação aos casos originariamente comuns da Guiné Bissau e Cabo Verde.

A Amílcar Cabral perseguia-o a consciência absoluta da premente necessidade de justiça humana, social e política justiça para todos aqueles que ele ardentemente desejou libertar, mas a gestão de estados fragilizados, minados por velhas querelas, onde impera o subdesenvolvimento, é uma tarefa que não se compadece com a grandeza intelectual e humana de personalidades ao nível dum revolucionário como Amílcar Cabral e não se compadece quando as vanguardas são, ao fim e ao cabo, tão minguadas de quadros de forte consciência e personalidade, incapazes de criarem impactos favoráveis e mobilizadores nas sociedades em que se inserem.

Se a Guiné Bissau tem sofrido as vicissitudes de sua ausência, essa falta de paternidade que passa pela falta de consciência de muitos dos seus dirigentes, expressa por vezes em acontecimentos dramáticos, Cabo Verde tem navegado na pobreza e dependência, sem alternativas progressistas significativas visando alterar para melhor as condições de vida do seu Povo e isso apesar do empenho e carácter de alguns dos seus melhores filhos.

Cabo Verde começou a valer muito mais pelo contexto sociológico e pela sua forte identidade cultural, que não se deixou abater pela diáspora, do que pelo pendor revolucionário de suas gentes e, tanto o peso das comunidades migrantes , como a influência dos seus contactos, ditou a sorte do jovem Estado e a natureza da sua vida e do seu desenvolvimento.

Com mais de trinta anos de Independência, se durante a Guerra Fria as ilhas viveram um pouco à margem dos acontecimentos no Mundo, durante o processo de Globalização, Cabo Verde tem-se vindo a acomodar num espaço geoestratégico bem definido, em relação ao qual, durante várias décadas, se foram constituindo laços de sangue, laços de comunidade, laços sociais inultrapassáveis e interesses, na sequência das dependências históricas que estão longe de deixar de existir.

A sua insularidade Atlântica distingue Cabo Verde de África, como se seu Povo fosse um velho e original navegante com identidade própria e os seus laços afirmam Cabo Verde como uma “sentinela” geoestratégica duma Europa que também ela teima em não se assumir, presa aos expedientes históricos dos impérios coloniais, aos contenciosos advenientes da IIª Guerra Mundial e particularmente a uma Organização como  a  NATO, instrumento duma filosofia hegemónica servil à alta finança e aos seus projectos de domínio sobre o Mundo.

É no espaço físico geográfico dessa “sentinela” que a NATO escolheu precisamente o cenário para testar a sua Força de Intervenção Rápida (“NATO Reponse Force”), ao nível de mais duma vintena de unidades navais (algumas delas constituídas em autênticas plataformas estratégicas) e de 7.000 homens e para isso muito contribuíram o antigo guerrilheiro Pedro Pires, (actual Presidente de Cabo Verde), o PAICV (herdeiro histórico do movimento de libertação) e dirigentes ao nível do Primeiro Ministro de Cabo Verde,  expoente da nova geração de Governantes das ilhas.

O “Steadfast Jaguar 2006” não serviu apenas para testar a capacidade da “NATO Reponse Force”  fora dos limites tradicionais da NATO e, pela primeira vez, num País Africano: o exercício foi mais um elo na sucessão que o poder hegemónico vem dinamizando no eixo dum paralelo que vai das Caraíbas ao Afeganistão, bordejando uma estratégia de alargamento de influência das principais potências do sistema Norte Americano – Europeu.

O seu enquadramento foi perfeito na sucessão de exercícios como o “Partnership of the Americas” , realizado pelo SOUTHCOMMAND dos Estados Unidos, o “Joint Caribean Lion 2006”, sob comando Holandês, ou ainda o “Phoenix Express”, assim como conjunto de missões que as Marinhas de Guerra dos Estados Unidos e dos Países da NATO foram explorando no Atlântico e no Mediterrâneo, entre elas a visita do Emory S. Land à costa Ocidental Africana, em tempo oportuno para fazer avançar o reconhecimento subaquático em toda a profundidade dos vários campos de manobra e tendo em conta os teatros Regionais.

A sublinhar o enquadramento, foram utilizadas unidades navais similares, algumas delas pertencendo às mesmas classes de navios:

Por parte dos Estados Unidos utilizaram-se os navios de assalto anfíbios como o USS Bataan e o USS Saipan, utilizaram-se ainda porta aviões como o USS George Washington, como o navio comando USS Mount Whitney, que alberga o comando da 6ª Esquadra da Navy.

Por parte dos Europeus, navios como o Roterdan (da Holanda), ou o Castilla (de Espanha), unidades polivalentes que servem para desembarque e assalto.

Nunca as frotas de desembarque e assalto dos Estados Unidos, como dos Países Europeus da NATO, foram tão poderosos como hoje e isso é por si, um sinal de como este “modelo” de Globalização se instrumenta em meios militares, como uma forma “cirúrgica” e “persuasiva” de ampliar sua margem de manobra e de influência, impondo a “New World Order”.

Ao aceitar que seu território fosse palco dum exercício desta natureza, integrando um pacote tão vastos de exercícios com profundo significado militar, político e sócio cultural, Cabo Verde deixou de se identificar com aqueles Países que procuram estratégias alternativas, integradas e Não Alinhadas, como Cuba, Venezuela ou Bolívia, na América Latina, Países que procuram encontrar soluções geoestratégicas que escapem ao unilateralismo Norte Americano e da NATO, como a Rússia, a China, ou mesmo alguns Países Africanos que vêem na União Africana muito mais que uma forma integrada de pensar e agir África.

Ainda o exercício estava em curso, Cabo Verde foi (muito oportunamente) visitado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Filipe Pérez Roque, que veio convidar o Presidente Pedro Pires para a 14ª Cimeira do Movimento dos Não Alinhados, como que se Cuba Revolucionária estivesse precisamente a lembrar que a presença da NATO era por si uma fronteira, em relação à qual a “sentinela” Cabo Verde deveria séria e dignamente ter a possibilidade de optar.

Cuba Revolucionária, fiel à lógica de Brazzaville, do Não Alinhamento e dando sequência à epopeia do movimento de libertação, lembra também e dum modo muito diplomaticamente discreto, que todos os exercícios navais das Caraíbas ao Afeganistão, assim como todos os contenciosos militares e operativos dentro dessa vastíssima Região, são a prova de que a NATO está dilatada, muito para lá das suas fronteiras tradicionais e que suas ambições não se limitavam à quimérica defesa da Europa, segundo o pensamento típico anglo-saxónico.

Cuba Revolucionária lembra ainda que para a Espanha, tão singularmente presente no “Phoenix Express” quanto no“Steadfast Jaguar 2006”, tal como para Portugal, há uma alternativa para o pensamento estratégico anglo-saxão, na via dum Pacto Hispânico alargado à América Latina e a África, alternativa essa que nunca foi alguma vez explorada.

A NATO veio provar em Cabo Verde a sua vontade em atingir outras paragens, alargar a sua influência e servir os interesses que tutelam o “modelo” de Globalização que as elites financeiras do grande capital pretendem, em função da sobrevivência dos seus “lobbies” e interesses.

Não conseguiu esconder contudo o essencial: a vida não se compadece com um contínuo exercício musculado de poder e se as Nações e Povos do Sul, como pretendem estadistas como Hugo Chavez, conseguirem lutar por seus interesses e unidade, muita coisa se poderá alterar, inclusive no microcosmos que constitui o que é hoje a “sentinela” de Cabo Verde.

Intervenção de Julho de 2006

Martinho Júnior - Luanda

Imagens:
Logotipo da Jaguar Steadfast 2006 sobreposto em foto de momento de exercício em Cabo Verde
Logotipo da NATO Reponse Force;
Visita-constatação do então Presidente Pedro Pires, às manobras em curso em Julho de 2006;
Imagem aérea da pista do aeroporto do Sal, durante o exercício.

Portugal | Legalização da canábis, um debate sóbrio


Ricardo Paes Mamede | Diário de Notícias | opinião

O debate público em Portugal sobre a legalização da canábis é frequentemente tratado com displicência. Uns arrumam rapidamente o assunto como irrelevante; outros acusam os proponentes de usarem o tema como mera bandeira política. Tais atitudes fazem pouco sentido, por dois motivos. Primeiro, a discussão sobre o enquadramento legal da canábis está hoje em curso em vários pontos do mundo, não faltando bons motivos para tal. Segundo, Portugal tem bons motivos e está em boas condições para fazer esse caminho. Resta saber se há vontade.

Desde há algumas décadas que o consumo de canábis (haxixe e marijuana, nas suas formas mais comuns) deixou de ser olhado como um pecado ou um crime. Apesar de continuar ilegal em muitas partes do mundo, vários países optaram por descriminalizar o consumo e um número crescente de países - ou partes de países - tem optado por legalizá-lo, para fins medicinais e/ou recreativos. Canadá, Uruguai e vários estados dos EUA foram mais longe, decidindo legalizar não apenas o consumo, mas também a produção e a distribuição, sujeitando todo o ciclo económico da canábis a uma regulação específica por parte das autoridades públicas.

Portugal tem acompanhado algumas destas evoluções. No início do século o uso de drogas foi descriminalizado no nosso país (Lei n.º 30/2000), centrando a acção do Estado na redução de danos. Ao contrário do que os seus opositores então anunciaram, este novo regime jurídico não levou a um aumento descontrolado do consumo de estupefacientes, nem tornou Portugal num paraíso para o "turismo das drogas". Na verdade, os níveis de consumo mantiveram-se inalterados, sendo que Portugal apresenta hoje uma das taxas mais baixas de consumo de canábis a nível europeu.

Já este ano foi aprovada no Parlamento português a legalização do uso de canábis para efeitos medicinais (Lei n.º 33/2018), contando para tal com os votos favoráveis de todos os partidos, excepto o CDS (que se absteve). A nova lei atribuiu ao Infarmed a missão de regular e supervisionar todas as actividades relacionadas com a produção e venda do produto, incluindo autorizar a produção em Portugal, havendo já várias plantações em actividade e dezenas de projectos de investimento sob análise, atraídos pelas condições propícias à produção no território nacional.

As evoluções que têm sido registadas em Portugal e em vários outros países mostram que a canábis já não é vista como uma questão da esfera da justiça, mas antes de saúde individual e pública, e também como uma questão económica. Para tal contribui o facto de se tratar da substância não legal mais consumida em todo o mundo, facilitando o debate informado sobre os potenciais riscos e vantagens da sua legalização e regulação. A desdramatização do tema também beneficia do facto de estarem hoje bem estabelecidos na literatura médica os efeitos terapêuticos da canábis (alívio da dor crónica, redução da náusea em doentes em quimioterapia, entre outros).

A ênfase dada aos benefícios terapêuticos não ilude várias outras questões que se colocam neste debate. Do ponto de vista da saúde e da segurança pública, a canábis apresenta problemas que se assemelham aos do álcool e/ou do tabaco: o seu consumo aumenta a probabilidade de acidentes rodoviários, pode provocar problemas durante a gravidez, e prejudica a aprendizagem, a memória e a atenção, podendo ter efeitos negativos de longo prazo nos casos de consumo intenso na adolescência. Existe também evidência robusta sobre riscos acrescidos de desenvolvimento de esquizofrenia e outras psicoses, decorrentes do uso abusivo de canábis.

A questão que se coloca é: qual o enquadramento legal mais indicado? No caso do álcool e do tabaco, a opção na maioria dos países do mundo foi pela sua regulamentação (mais ou menos restritiva). O debate sobre a adopção do mesmo princípio para o caso da canábis envolve considerações ético-doutrinárias, médico-científicas e pragmáticas.

Ao nível doutrinário confrontam-se habitualmente posturas moralistas-autoritárias (que pressupõem que o Estado tem o direito e a obrigação de decidir pelos cidadãos o que devem e não devem fazer com as suas vidas) e posições individualistas (que defendem a soberania da escolha individual e a ilegitimidade do Estado em restringir a liberdade de acção de cada um). No entanto, entre o moralismo autoritário e o individualismo absoluto existe espaço para uma postura que combina o respeito pela liberdade individual com a responsabilidade colectiva. Nesta perspectiva, cabe ao Estado proporcionar informação, conhecimento e condições materiais para escolhas individuais conscientes, bem como prevenir eventuais implicações negativas dessas escolhas para o conjunto da sociedade. Esta tem sido a opção dos países que têm abandonado o proibicionismo.

No caso do Canadá, o governo de Justin Trudeau optou pela legalização da canábis, desde a sua produção até ao consumo, explicitando os objectivos dessa opção e estabelecendo um quadro regulatório claro e coerente com aqueles objectivos. O novo quadro legal visa reduzir o crime e a violência associados ao mercado negro, minimizar os efeitos perversos das substâncias adulteradas (um problema crescente nos últimos anos), reduzir os custos relacionados com a repressão e obter recursos adicionais através da taxação da produção e da venda do produto. A legalização foi acompanhada do agravamento das penas por venda ilegal (principalmente junto de menores) e por condução sob o efeito da substância. O governo decidiu ainda usar parte das receitas fiscais obtidas com a legalização para reforçar as campanhas de informação e sensibilização para um uso responsável de canábis, mas também do álcool, do tabaco e de outras drogas.

O exemplo canadiano merece atenção não apenas pela abordagem global à produção, distribuição e utilização da canábis, mas também pelo processo político envolvido. Pouco depois das eleições de Outubro de 2015, o primeiro-ministro Trudeau nomeou uma unidade de missão para analisar e propor diferentes vias para a legalização. Cerca de um ano depois essa equipa produziu um relatório com várias recomendações. O documento foi então disponibilizado para discussão alargada, tendo a proposta final de legislação sido colocada à votação três anos após o lançamento da iniciativa, num processo que se revelou aberto, ponderado e participado.

Portugal pode e deve olhar com atenção para este exemplo e seguir-lhe as pegadas. Apesar dos passos que já foram dados, a legislação actualmente em vigor não resolve os problemas relacionados com o mercado negro e a criminalidade organizada, os riscos associados a produtos adulterados, a perda de receita fiscal potencial, as importações desnecessárias e, acima de tudo, a uma abordagem pouco clara, incoerente e inconsequente sobre o consumo de canábis. Estamos em condições de dar um passo em frente neste debate. Assim haja vontade.

*Economista e professor do ISCTE-IUL

Porque falharam (desta vez) os "coletes amarelos" em Portugal


Poucas centenas de pessoas aderiram a um protesto que juntou muitos milhares nas redes sociais. O que falhou parece óbvio, explicam os organizadores. Mas os tempos estão de feição para novas tentativas

Quando os planos da realização televisiva se abrem, a realidade aumenta. Em plano fechado, vêm-se caras, ombros, olhos com raiva. Quando as câmaras mostram o contexto - por exemplo, a Praça do Marquês do Pombal, em Lisboa, com a sua estátua e as duas rotundas - vê-se melhor a situação. Trinta ou quarenta cidadãos, vestindo coletes amarelos, tentam cortar o trânsito. Uns sentam-se no chão, outros empurram a polícia, outros gritam "vergonha".

À volta desta manifestação, o dobro, ou o triplo, de polícias, de mãos dadas, observam o protesto que prometia "parar Portugal" mas não chegou a ter expressão, em nenhum dos 25 lugares escolhidos pela organização.

Esta versão portuguesa dos "coletes amarelos" nasceu nas redes sociais - e foi lá que começou a definhar. Ainda não eram 10 horas e já o fracasso levava os organizadores a declarar que "o povo é covarde", usando as teclas temerárias do WhatsApp. O resto das redes sociais ia gozando a situação com aquele sarcasmo habitual nestas situações. O trânsito está melhor, gracejavam uns. Outros partilhavam o vídeo de Idris, jogador de futebol do Boavista, que vestiu um colete amarelo para que os manifestantes o deixassem passar o cordão que o separava do treino da equipa, no Porto.

O desânimo dos organizadores

"Pá, o pessoal teve medo", conclui Maria João Oliveira, a motorista do Montijo que se tornou uma das (poucas) vozes do movimento que aceitaram dar a cara e falar aos jornalistas.

Maria João entrou na organização do protesto quando esta já estava em marcha, sendo adicionada como administradora do evento inicial pelo grupo do Bombarral. Acontece que, no fim-de-semana, o grupo desmobilizou e o evento - que contava com cerca de 50 mil adesões - acabou por ser eliminado, o que valeu ao Facebook acusações de censura. Foi a mesma Maria João que publicou um vídeo, no sábado, explicando que os manifestantes em causa nada tinham a ver com a extrema-direita ou especificamente com o PNR. Mas nessa altura já era do domínio público que havia movimentos infiltrados, ou que vários elementos da organização do protesto partilhavam nas suas páginas pessoais sites de movimentos extremistas, memes alusivos a Salazar ou ao tempo do fascismo. E essa terá sido uma das causas para afastar deste protesto quem genuinamente pensava juntar-se e manifestar-se pelo aumento do salário mínimo, pelo fim da corrupção na classe política, por mais justiça social.

Entre os diversos grupos de WhatsApp destaca-se o dos "coletes vermelhos", que ameaçavam nos últimos dias "entrar em ação no dia 22 se no dia 21 os coletes amarelos não vingarem", como parece ser o caso. E é aí que reina a maior desilusão. O grupo tem cerca de 50 membros, todos furiosos com o falhanço.

No Bombarral, onde tudo começou - como o DN tem vindo a reportar - o grupo acabou por se desmembrar, com a saída do principal mentor. Filipe Ferreira, o cavaleiro tauromáquico que decidiu criar o evento depois de pagar o IMI, saiu do grupo no domingo passado, acusado de ter prestado declarações ao DN.

Claques, nacionalistas e lesados do BES

No Porto, alguns dos manifestantes acreditam que é preciso continuar. "Vontade há, mas era preciso as autoridades baixarem a guarda. É muita polícia", disse ao DN Luís Pereira, um dos mais ativos a liderar a marcha com pouco mais de 100 pessoas que seguiu do nó de Francos, local inicial da concentração, até à Avenida dos Aliados, atravessando a cidade com a PSP a fazer uma caixa de segurança em volta do grupo. Luís tem experiência em "assumir um cortejo destes", já que integra a claque do Leixões. De resto, os cânticos futebolísticos ecoaram logo cedo e no grupo de coletes amarelos havia ainda, segundo Luís Pereira, elementos dos Super-Dragões e de claques do Boavista. "Quando os grupos das claques se unirem todos, ninguém vai parar este movimento", antevê.

Carminda Silva, já na idade de reforma, também fez o percurso a pé pelo Porto. Viajou de Esposende e resumiu de forma positiva a iniciativa. "Para primeiro dia foi muito bom", diz a mulher que "há cinco anos anda na luta". É uma das lesadas do BES e o primeiro motivo que aponta para ali estar é esse: "Fui roubada pelos banqueiros que têm uma vida de luxo à custa de quem trabalha." Não era a única vítima das falências de bancos a estar de colete amarelo. Manuel Sousa, 67 anos, saiu de casa "em Monção às quatro da manhã para estar no Porto com uma bandeira francesa na mão. Para quê? "Denunciar a corrupção e e exigir que me devolvam as minhas economias", explicou o emigrante, com 48 anos de vida em Paris, que é um dos lesados do BES e do BANIF.

Outro caso é o motorista de transportes internacionais Helder Rios, 41 anos. Viu em França a revolta dos 'gilets jaunes' e depois de ler no Facebook a iniciativa em Portugal aderiu com entusiasmo. No terreno esperava mais. "Podia estar melhor isto. Muitos não acreditavam que é possível. Em França, conseguiram", disse. Ao lado, vários jovens já começavam a entoar cânticos de cariz nacionalista enquanto agitavam bandeiras nacionais. "Portugal é nosso é há-de ser" era um dos slogans ouvidos, tal como "Portugal, Portugal" ou, numa variação curiosa, "O povo unido jamis será vencido".

O vírus da desinformação

Esta foi a primeira experiência - mas não será com certeza a última - de uma manifestação deste tipo. Quem a convocou, desta vez, terá concluído que é fácil fazer o mais difícil: criar a sensação de que vai acontecer e tem significado. As redes sociais já rivalizam com a televisão enquanto principal meio de acesso à informação dos portugueses. O Facebook (de longe o mais frequentado), o Twitter e o WhatsApp são, também, a própria mensagem. Este protesto que juntou poucas centenas de pessoas em todo o país, esta sexta-feira, 21, agregou mais de 50 mil pessoas "virtuais". Da mesma forma, a "informação" que os juntou é aquela que consegue mais impacto entre os milhões de utilizadores das redes: a que revolta, enraivece, indigna.

Nas páginas anónimas que lideram, semana após semana, os rankings de partilhas no Facebook, a corrupção, o crime e a injustiça são quotidianos. Longe dos olhares de muitos - jornalistas, políticos, analistas - ali se criam e crescem grupos fechados que multiplicam a raiva, o desespero, o cinismo. "Estado=ladrão" é o resumo deste programa político crescente, numa faixa usada por dois dos protestantes dos "coletes amarelos". Basta ler o que lá está, na página do protesto: mensagens anti-elite, anti-imigração, anti-política.

Muitas destas crenças são falsas. As "mordomias" dos deputados, por exemplo, que se baseiam na convicção de que os parlamentares portugueses são dos mais bem pagos da Europa, é facilmente contrariada pela realidade: os salários dos deputados portugueses são muito mais baixos (em alguns casos menos de metade...) do que em França, Chipre, Alemanha, Finlândia, Bélgica, Itália, Irlanda, Áustria, Holanda, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e Reino Unido.

No início, uma das reivindicações do movimento era o cancelamento do Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular, da ONU, assinado em Marraquexe por António Costa, no início de dezembro. Para Portugal, os refugiados são um problema tão grave como, por exemplo, o número de praticantes de saltos de esqui. Durante a crise que abalou a Europa, chegaram ao país menos de 1700 migrantes. Quase metade saiu, entretanto, do país.

Mas a forma como estas convicções alastram é conhecida. Surgem associadas à ideia de que vivemos num "sistema" dominado por "corruptos", gerido por "ladrões". O tema é "popular", garante gostos e partilhas, torna-se "viral", como agora se diz para comparar a difusão destas mensagens políticas com uma epidemia de gripe.

Há um fundo de verdade neste mundo de desinformação, como é regra. Há um descontentamento óbvio, mesmo que não seja o que os criadores deste protesto apresentam. O IVA da eletricidade é muito alto, de facto. A pobreza, a desigualdade, a precariedade laboral, existem. O debate político é codificado e muitos dos seus protagonistas parecem ignorar a forma como são avaliados pelos cidadãos. A "polarização" - a forma como se tornam irredutíveis as crenças - está no seu auge.

E depois há a rapidez. Os coletes amarelos de França podem ter começado com a criação de um grupo no Facebook criado por um emigrante português. Da mesma forma, vários dos manifestantes franceses participaram na organização do protesto português - lançando ideias no Facebook e no WhatsApp. O mundo virtual é uma aldeia. E não será por acaso que surgem, por toda a Europa, no Brasil, nos EUA, nas Filipinas e em tantos outros lugares, movimentos "populistas", líderes autoritários, projetos nacionalistas.

Paulo Pena com David Mandim e Paula Sofia Luz | Diário de Notícias

Fim de semana está aí. Saiba o que pode ver à borla em Lisboa e no Porto


Veja as borlas culturais que pode aproveitar por estes dias na Grande Lisboa e no Grande Porto.

É Natal, é Natal, e borlas ninguém leva a mal.

Com o dia 25 de dezembro a aproximar-se, o melhor mesmo é tirar um tempinho da sempre difícil tarefa de comprar presentes e aproveitar para descontrair com programas amigos da carteira.

O Natal domina todas as atenções em Lisboa e no Porto. Felizmente o Natal também pode ser sinónimo de diversidade e há mesmo atividades para todos os gostos e todas as idades à sua espera.

Descubra o que pode aproveitar nestes dias 22 e 23 de dezembro, na Grande Lisboa e no Grande Porto.

Grande Lisboa

Coro das Nações no Aeroporto

O Natal em Lisboa também se celebra no aeroporto internacional Humberto Delgado. Nesta época de reencontros, o Coro das Nações recebe quem chega, e despede-se de quem parte, com um repertório alargado. Este sábado, pelas 19h, poderemos ouvir o coro no Átrio das Chegadas do Aeroporto.

É Xmas Time no Time Ou Market

O mercado da Ribeira ganhou nova vida com a aposta da Time Out. Por altura do Natal, há que ser fiel à época. O desafio é simples: Se gosta de aproveitar o espírito natalício e costuma deixar tudo para a última hora... este evento é uma oportunidade. Poucos dias antes do Natal, várias marcas nacionais juntam-se neste evento que conta ainda com uma mesa criativa para fazer projetos com o Mundo de Sofia.

Há gospel na Igreja dos Navegantes

A igreja da Nossa Senhora dos Navegantes recebe a música dos Gospel Collective, uma animada forma de prestar tributo a esta época natalícia. O concerto está marcado para este domingo, para as 21h30. Mais detalhes aqui.

Wonderland Lisboa

Até dia 1 de janeiro, o Parque Eduardo VII conta com Wonderland Lisboa. Há roda gigante, ringues de gelo, decorações e 'all things Christmas' para descobrir, com o Natal a dizer "Presente" bem no coração da capital.

A Cidade de Filipa Oliveira Antunes 

Na Fnac do Cascais Shopping há uma mostra de sketches realizados por Filipa Oliveira Antunes por descobrir, com o desenho a ser "uma ferramenta de expressão mas sobretudo de conhecimento e de entendimento do lugar". A exposição está patente até ao dia 23 de janeiro. Mais detalhes aqui.

Grande Porto

Flashback

O Flashback é um evento de entrada livre que vai animar as tardes de sábado na zona da Baixa o Porto durante todo o mês de dezembro. A música é um 'mimo' do passado, remontando às décadas de 70, 80 e 90. Diferentes DJ têm estado a dar um colorido diferente à época natalícia. Este sábado, no Jardim da Cordoaria, será o DJ Tiago Sousa a dar música à Baixa.

Ver o Natal da Invicta do alto da Torre

Esta sugestão não é à borla para toda a gente, apenas para menores até 10 anos de idade. Mas se tiver a oportunidade é de aproveitar. É que de 14 a 30 de dezembro, a Torre dos Clérigos volta a ter visitas noturnas. Será uma oportunidade especial para ver as luzes da cidade do alto de um dos ex-libris do Porto.

Dominguinhos no MAR Shopping

O MAR Shopping continua a dar-nos Dominguinhos, manhãs de domingos com animação a pensar na pequenada. Este último domingo antes do Natal conta com Atelier de Artes Plásticas. É gratuito mas será necessário fazer a inscrição. Saiba mais aqui.

Concertos de Natal à Porta

A música vai soar à porta de vários edifícios emblemáticos da cidade durante dezembro. Aos sábados com o coro PopUp - Vozes Portáteis e aos domingos com espetáculos de canto lírico pela companhia Ópera de Bolso. Num e noutro caso, com um repertório dedicado aos clássicos de Natal.  Este sábado, dia 22 de dezembro, pelas 15h30, a música vai soar no Varandim da Torre dos Clérigos.

Portobello... Porto Belo

Todos os sábados,o histórico e mundialmente conhecido mercado londrino de Portobello tem uma versão a pensar no 'relax' na Invicta. Eis o Porto Bello, que conta com bancas variadas. As compras terão de ser pagas com o esforço da carteira, o passeio nem por isso.

Onde - Praça Carlos Alberto

Quando - Todos os sábados, entre as 10h e as 19h

30 anos de Rock in Rio

Muito antes de chegar a Portugal, o Rock in Rio era já um evento ímpar do lado de lá do Oceano Atlântico. Ao longo de três décadas, muitas estrelas passaram pelo palco e muitos momentos ficaram registados em fotografias. São precisamente essas fotografias, captadas pelos mais diversos fotógrafos, que se pode descobrir até dai 10 de janeiro na Fnac do Norte Shopping.

Bom fim de semana e boas ofertas culturais! Feliz Natal!

Notícias ao Minuto

F. C. PORTO | Conceição descobre 'esteio' do sucesso em trio defensivo - com Top 10


Jornal O Jogo lembra que entre o plantel portista há um lote de três atletas que tem feito a diferença no Dragão.

O FC Porto de Sérgio Conceição continua a impressionar... no que em termos de resultados diz respeito. Os azuis e brancos arriscam terminam o natal com um cabaz de 15 vitórias consecutivas e em muito se deve ao seu setor mais recuado.

Como lembra este sábado o jornal O Jogo, apesar da ascensão de vários atletas, Conceição tem com base um trio de atletas que tem cumprido de forma eficaz. Falamos de Alex Telles, Casillas e Felipe.

O lateral esquerdo tem estado em destaque no lado esquerdo da formação azul e branca, fez sempre os 90 minutos nos 13 encontros na Liga e o facto de não ter grande concorrêcia para a posição faz dele imprescindível.

Por outro lado, Casillas tem sido uma autêntica parede... de minutos jogados. O espanhol é rei e senhor da baliza do Dragão, soma 13 partidas como titular na Liga, perfazendo um total de 1170 minutos jogados, assumindo apenas 8 golos sofridos.

Por fim, Felipe. O central chegou tarde à Europa mas impôs-se como 'xerife' da defesa do FC Porto com grande eficácia. Esta tempora, soma 2160 minutos de jogo nas várias competições e é o elemento mais utilizado por Sérgio Conceição.

Se na defesa impressionam estes atletas, também na frente de ataque há destaques. Brahimi tem sido um perfeito abre-latas nos jogos mais complicados e Marega parece ter descoberto (ainda mais profusamente) a sua veia goleadora.

Será o FC Porto capaz de terminar o ano na liderança da Liga? Por agora tudo indica que sim, mas até ao final do ano tudo pode mudar.

Notícias ao Minuto | Foto Reuters

S. L. BENFICA | "Há muito campeonato pela frente e é possível recuperar"


Em declarações ao jornal O Jogo, Alfa Semedo, médio das águias, faz um balanço da experiência do regresso à Luz.

Alfa Semedo, jogador recrutado esta temporada pelo Benfica, fez este sábado, em entrevista ao jornal O Jogo, uma espécie de balanço sobre a presente época.

Assumindo que o clube está um pouco abaixo das expetativas, o médio diz que tudo tem corrido bem, exceto os resultados que têm sido curtos.

Falando sobre a luta pelo título de Campeão, Semedo perspetiva uma águia combativa para o que resta da temporada, adiantando mesmo que a equipa está focada nos seus jogos.

"[Resultados curtos]? Acho que não falta qualidade, porque os meus colegas tentam dar sempre o máximo e fazer o melhor possível pela equipa, independentemente dos resultados. Só os resultados é que estão a ser curtos", começou por referir o jogador de 21 anos.

"Título? Há muito campeonato pela frente, estamos a quatro pontos da liderança e é possível recuperar. Estamos a fazer o nosso trabalho e no fim faremos as contas. Está tudo em aberto", atirou, falando depois sobre Rui Vitória e o iminente despedimento do técnico após o jogo com o Bayern Munique.

"Estamos focados no nosso trabalho e isso é um assunto que não é da nossa conta. Tentar fazer o nosso trabalho é o mais importante", disparou para finalizar o médio.

Notícias ao Minuto | Foto Reuters

Operação “fake news”, instrumento de censura


Criou-se um clima nebuloso onde a verdade e a mentira se confundem deliberadamente para que surja, como único farol clarificador, a versão legítima e absoluta veiculada pelos meios mainstream.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Notícias falsas existem há muito. Formam um dos pilares, juntamente com a propaganda política enganosa, em que assenta o sistema global que nos governa, na sua vertente indispensável da manipulação de opiniões – a da violência cultural, do terrorismo psicológico.

Agora há as «fake news». Se fizermos a tradução à letra o resultado é «notícias falsas», portanto algo que nos é familiar embora nem sempre demos por elas, por muito prevenidos que estejamos.

Indo além da letra da tradução, para entender as «fake news» no contexto em que entraram no léxico imposto pelo neoliberalismo económico-político-cultural, encontramos um pouco mais do mesmo em termos de manipulação, porém com um grau superior e bastante mais abrangente de agressão, não apenas formatando opiniões mas procurando também esmagar o princípio democrático do contraditório. Um gigantesco ardil.

As «fake news», tal como entraram muito recentemente nas nossas vidas, trazem no bojo uma ambição de censura não institucionalizada mas muito mais eficaz. A operação «fake news» impõe, de facto, as verdades oficiais do sistema dominante transmitidas precisamente através dos meios que sempre produziram as falsas notícias, os chamados mainstream. Ou seja, a comunicação social de grande consumo não apenas continua a limitar o acesso dos seus frequentadores – seguramente mais de 90 por cento da população mundial – à realidade em que vivem como aponta o dedo inquisitorial aos que lutam por desvendar e divulgar essa mesma realidade, transformados assim em criminosos fazedores de «fake news».

Por isso, a operação «fake news» não apenas reforça o juízo moral, político e económico, que pretende ser absoluto, como tenta asfixiar a contestação fundamentada desse juízo. A operação «fake news», no limite, quer inviabilizar os efeitos dos mecanismos através dos quais se divulgam realidades diferentes, factos contraditórios, opiniões contrárias – desacreditando-os, perseguindo-os, caluniando-os.

Exemplos abundam

Os propagadores do conceito de «fake news» tal como ele entrou no pacote de consumo quotidiano, transitando dos meios de comunicação para as conversas comuns, profundas ou superficiais, poucas vezes se ocupam em dar suporte às suas acusações, pois tal não é exigido pelo absolutismo das suas verdades. No lado contrário, os acusados da prática de «fake news» dispõem de uma rica panóplia de exemplos capazes de desmistificar algumas das grandes verdades oficiais, circunstância que permite perceber muito bem as razões que determinaram o lançamento da operação de descredibilização.

A situação exemplar clássica é a dos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 em Nova York, que está na génese, aliás, de muitas das grandes mentiras oficiais que nos envolvem e fizeram doutrina.

O problema não é tanto o de saber se a mirabolante versão oficial dos atentados é mentira ou não; muito mais grave é o facto de todas as outras versões que põem factualmente em causa a tese única imposta serem silenciadas, ocultadas, até ridicularizadas como “teorias da conspiração”. As informações que revelam não apenas a impossibilidade de os acontecimentos terem decorrido segundo a explicação oficial, como demonstram factos que as contradizem, são resumidas a «fake news» pela comunicação mainstream.

Por isso, os trabalhos de prestigiados engenheiros norte-americanos e de outras nacionalidades demonstrando que as torres do World Trade Center ruíram por implosão provocada provavelmente por explosivos colocados nos seus pilares, e não devido ao embate dos aviões terroristas – um caso que, finalmente, chegou às mãos de um Grande Júri de Nova York para ser apreciado –, são reduzidos a lixo provocatório. O que as investigações científicas apuraram é que os danos produzidos nos edifícios pelo embate dos aviões não foram suficientes para provocar o seu desabamento, pelo menos da maneira que aconteceu. Haveria matéria para reabrir os processos e diversificar investigações, mas isso poderia tocar em intocáveis, logo reduz-se a «fake news».

Do Iraque à Ucrânia

Não menos clássica é a mentira que serviu de rampa de lançamento à invasão e destruição do Iraque em 2003 – a da existência das celebérrimas «armas de destruição massiva» em poder do regime de Saddam Hussein. Década e meia e centenas de milhares de vítimas mortais depois os arsenais «mostrados» na ONU pelo secretário de Estado norte-americano não apareceram; e abundam os exemplos de que as fontes de tais elementos estavam inquinadas. Porém, não houve o cuidado de esclarecer a vasta opinião pública que, afinal, tudo não passou de um embuste sangrento. E a mentira continua a fazer o seu caminho.

Posto isto, dizer que não existiram as «insurreições populares» na Líbia e na Síria que serviram de justificações para as invasões dos dois países é «fake news»; informar que Muammar Khaddafi foi assassinado na sequência de um processo conduzido pelos serviços secretos franceses é «fake news»; demonstrar que países como os Estados Unidos, a França e o Reino Unido recorrem ao terrorismo fundamentalista islâmico para concretizarem estratégias próprias no Médio Oriente é «fake news»; recordar que o golpe de Estado para estabelecer a «democracia» na Ucrânia deu asas às organizações nazis para dominarem o país é «fake news»; revelar provas de que o avião civil malaio que fazia o voo MH-17 pode não ter sido abatido por um míssil da Rússia é «fake news»; todos os exemplos comprovativos de que a NATO se comporta como uma aliança agressiva são «fake news».

Qualquer um dos leitores sabe que a lista é muito mais extensa e poderá dar o seu contributo para preenchê-la. Mas não será necessário. Percebe-se perfeitamente até onde nos conduz a fábula das «fake news» brandidas pelos difusores habituais das notícias falsas que enchem as nossas vidas.

Efeito ainda mais perverso

O alcance dos efeitos de toda esta operação é, porém, bastante mais longo e culmina na viciação do ambiente informativo, propícia à confusão absoluta entre verdade e mentira.

Nesse ambiente proliferam e surtem efeitos alguns processos que jamais serão devidamente esclarecidos como o do envenenamento da família Skripal, o suposto uso de armas químicas em vários lugares, a alegada democratização do Afeganistão, as intrigantes intervenções da Rússia nas eleições norte-americanas, no referendo britânico ou até mexendo os cordelinhos que guiam os coletes amarelos em França e na Bélgica, como recentemente «descobriu» o presidente Macron.

Criou-se assim um clima nebuloso onde a verdade e a mentira se confundem deliberadamente para que surja, como único farol clarificador, a versão legítima e absoluta veiculada pelos meios mainstream, fora dos quais reinam a falsidade, a manipulação, a falta de escrúpulos.

É desigual o combate. Mas uma maneira eficaz de o travar é ter bem presente a noção de que os tradicionais e controlados fazedores de notícias falsas tentam minar tudo o que está para além deles, de modo a que a sua estratégia se afirme plenamente e sem obstáculos.

Capacetes Brancos: “traficantes de órgãos, terroristas, saqueadores”


A Fundação para o Estudo da Democracia apresentou esta quinta-feira, na ONU, os resultados de uma investigação sobre a acção dos Capacetes Brancos na Síria, vincando a ligação do grupo ao terrorismo.

Embora sejam louvados pelas potências ocidentais pelo trabalho «voluntário de resgate humanitário», a acção dos Capacetes Brancos não fica assim tão bem vista após a investigação realizada pela Fundação para o Estudo da Democracia, sediada na Rússia e cujos resultados foram ontem apresentados pelo seu director, Maxim Grigoriev, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque.

De acordo com Grigoriev, os Capacetes Brancos trabalham com grupos terroristas na Síria, roubam órgãos às vítimas que fingem estar a evacuar, participam na encenação de falsos ataques com armas químicas e outro tipo de ataques, e saqueiam as casas dos sírios mortos e feridos na guerra.

Presente na audiência, o representante permanente da Rússia junto das Nações Unidas, Vassily Nebenzia, afirmou que as provas apresentadas mostram que o grupo – há muito denunciado pelas autoridades sírias – é «perigoso», e defendeu a sua inclusão na lista de grupos terroristas designada pelas Nações Unidas.

O relatório baseou-se em entrevistas a mais de 100 testemunhas oculares, incluindo 40 membros dos Capacetes Brancos, 50 residentes de bairros de cidades sírias onde eles actuaram e 15 antigos combatentes terroristas. Para além disso, indica a RT, foram consultados mais de 500 civis nas cidades de Alepo e Daraa.

Pagos, traficantes de órgãos, militantes de grupos terroristas

«Em vez de serem voluntários, quase todos os membros dos Capacetes Brancos eram pagos», explicou Grigoriev, acrescentando ter «provas irrefutáveis» de que recebiam ordens por escrito do grupo terrorista Jaysh al-Islam.

«As pessoas evacuadas pelos Capacetes Brancos muitas vezes não voltavam com vida; apareciam mortas e sem os órgãos internos», disse Grigoriev, referindo-se aos testemunhos de residentes entrevistados.

Um dos testemunhos sobre a matéria é um antigo membro do grupo terrorista Ahrar al-Sham, que disse que o comandante da organização, Shadi Kadik, conhecido como Abu Adel al-Halabi (de Alepo), aceitou participar na colheita de órgãos. Só em Alepo, «há várias centenas» de casos envolvendo roubo de órgãos humanos, frisou Grigoriev.

O director da Fundação destacou ainda a prática habitual da pilhagem de casas destruídas por parte dos membros dos Capacetes Brancos, bem como a sua participação «na falsificação de ataques químicos, que era uma parte essencial das suas actividades». Um ataque por eles encenado em Douma, nos arredores de Damasco, esteve na origem do ataque com mísseis contra instalações do Exército sírio por parte da França, do Reino Unido e dos EUA, em Abril deste ano.

A propósito da «especialização» na «criação de falsas notícias e organização de evacuações encenadas», Grigoriev lembrou o caso ocorrido em Jisr al-Haj (Alepo), onde militantes incendiaram lixo e, depois, trouxeram corpos da morgue local, para encenar uma «evacuação» – filmada – pelos Capacetes Brancos. De acordo com uma testemunha, cada membro desta organização recebeu 50 dólares a mais pelo trabalho.

Em Ghouta Oriental, a Fundação estima que entre 100 e 150 membros da organização alegadamente humanitária fossem também membros de grupos terroristas, vangloriando-se desse facto nas redes sociais, mas negando-o sempre que eram entrevistados por repórteres ocidentais.

Em Julho deste ano, em plena operação de libertação do Sudoeste do país por parte do Exército sírio, centenas de membros dos Capacetes Brancos foram «salvos» por Israel, que os levou para a Jordânia. O governo deste país declarou ter aceitado a operação na medida em que o Reino Unido, o Canadá e a Alemanha tinham aceitado acolhê-los como refugiados.

A este propósito, Vassily Nebenzia disse entender que os Capacetes Brancos sejam defendidos no Ocidente. «Tem lógica proteger um investimento», frisou.

Abril Abril

Foto: Os capacetes brancos e a Frente Al-Nusra, Alepo, Síria, 2016 / The Libertarian Institute

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