Jorge Rocha | opinião
Como qualquer outra pessoa tenho
a minha quota parte de racismo, embora hajam os que exageram, e muito!, nesse
preconceito e o cheguem a dimensionar em comportamentos criminosos. Daí que,
perante o sucedido no Bairro Jamaica, no Seixal, ou nos acontecimentos desta
noite em Odivelas, na Póvoa de Santo Adrião e em Setúbal enjeite uma leitura
maniqueísta como a que, invariavelmente, assume a organização SOS Racismo.
Porque, na realidade, se há racismo dos brancos relativamente aos negros,
também o inverso é verdadeiro, como constatei lamentavelmente, em Ponta Negra (Rep.
Congo) e em Douala (Camarões), onde só por sorte escapei a violência por tal
motivada. É pena, mas os seres humanos têm, no seu pior, a característica de
transferirem para os que lhe são diferentes - em cor da pele, em religião, em
clube de futebol, etc.– as suas frustrações.
Sobre os casos, que têm sido
notícia de abertura nos telejornais estou longe de considerar isentos de culpa
os moradores do bairro do Seixal, e não são imagens selecionadas de acordo com
o ponto de vista dos que as captaram a convencer-me do contrário. Embora não
sejam de excluir infiltrações de neonazis nas forças de segurança pública -
matéria que deveria estar a ser permanentemente aferida - elas devem ser
respeitadas e as ordens acatadas. Se assim não é, que podem
fazer? Meter a viola (cassetete) no saco e retirar? Daí dar razão
aos que na polícia defendem a necessidade de imitar os norte-americanos na
filmagem de todas as suas intervenções até para defesa da legitimidade dos seus
atos.
Quanto ao vandalismo subsequente
à manifestação da véspera, e sem excluir a possibilidade dos seus autores serem
idiotas incapazes de compreenderem quanto podem estar a prejudicar-se, criando
anticorpos até nos mais indiferentes às diferenças de cor da pele - todos se
imaginam na pele dos donos dos carros absurdamente incendiados! - não é de
excluir que tenham sido perpetrados pelos que queiram acicatar esse clima de
violência racial. Sabendo-se do que são capazes não descartaria essa possibilidade
como real.
jorge rocha | Ventos Semeados
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