O nacionalista Neves Bendinha foi
morto pelas forças coloniais portuguesas e o seu corpo atirado aos cães, na
sequência da repressão que se seguiu aos ataques contra a Cadeia do São Paulo e
a Casa de Reclusão, em Luanda, a 4 de Fevereiro de 1961.
Segundo o historiador e
investigador Fernando Jaime, iniciada a operação, na madrugada de 4 de
Fevereiro, os nacionalistas foram rechaçados, mas acima de tudo valeu a
intenção. “Daí em diante foi tudo sangrento e terrível. Luanda transformou-se
num cemitério a céu aberto. Começaram as prisões e foi uma matança impiedosa e
intensa”.
Com as prisões em massa, disse, cavaram-se valas comuns nas Bês, Rangel e Marçal,
Neves Bendinha
O historiador, que falava numa palestra em alusão ao 58º aniversário do início da luta armada, disse que a evolução histórica que conduziu o povo angolano à revolta do 4 de Fevereiro foi auxiliada por acções concertadas e representativas de organizações como a Liga Nacional Africana, Anangola, Botafogo, o grupo dos enfermeiros, Espalha Brasas, PLUA, MINA, entre outras.
A organização do 4 de Fevereiro, acrescentou, foi minuciosa e feita com os maiores cuidados. A chama da libertação do Congo (actual RDC), a fama e as acções desencadedas a Norte tiveram uma grande influência em Angola.
Foi nesta conformidade, reforçou, que a acção do 4 de Fevereiro, alimentada pelo pensamento de grandes figuras como Viriato da Cruz, Cónego Manuel das Neves, Neves Adão Bendinha e tantos outros, se tornou possível e graças à unidade e acção concertada, onde estiveram envolvidos mais de três mil patriotas angolanos.
O Cazenga e a Funda foram os locais de concentração e treino, onde ficou também acordado que o ataque seria feito na madrugada do dia 4 de Fevereiro, numa época em que estavam encarcerados grandes figuras e circulava a informação de que os mesmos seriam lançados ao mar.
Intervenção dos
quimbandas
Como atacar o exército português
que estava armado até aos dentes e com uma capacidade superior a dos angolanos?”,
questionou Fernando Jaime, explicando que foi aí que surgiu a ideia de se
introduzir a magia no processo de luta, onde os quimbandas exerceram também o
seu papel.
O historiador explicou que no dia da ofensiva todos os combatentes deviam levar pauzinhos em baixo da língua, usar uniformes, calções, camisolas e bonés pretos como símbolo de África e para confundir durante a noite. Foram igualmente proibidos de manter relações sexuais na semana que antecedeu ao ataque.
Virgílio Sotto Mayor, um dos comandantes, foi supervisionar o perímetro a percorrer para os ataques e os locais estratégicos e deixar alguns paus pretos no caminho. Era também necessário integrar uma mulher virgem para o êxito da operação. Foi assim que Engrácia Francisco Cabenha, na altura com 12 anos, integrou o grupo. Depois de avançarem ninguém devia olhar para trás, sob pena de morrer.
As catanas foram adquiridas nos armazéns Mabílio Albuquerque, na baixa de Luanda e foram guardadas na sacristia sob vigilância do Cónego Manuel das Neves. A operação foi repartida por vários grupos, que deviam actuar em simultâneo. O factor surpresa foi um elemento importante para o êxito da acção.
Assim, para a Casa de Reclusão foi um grupo chefiado por Imperial Santana, para a Emissora Nacional foi destacado Virgílio Sotto Mayor, Raul Diogo para a Cadeia de S.Paulo, Domingos Manuel para a quinta esquadra e para a Companhia Indígena, Paiva Domingos da Silva.
Edna Dala | Jornal de Angola
Na foto: Historiador Fernando
Jaime falou sobre o 4 de Fevereiro / Maria Augusta | Edições Novembro
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