Regiões mais disputadas na
campanha para as eleições de 10 de março, que arranca este sábado, são as mais
pobres do país. Populares condenam luxo ostentado pelos políticos. Ambiente de
tensão gera receios de insegurança.
São 21 dias de caça ao voto para
os 21 partidos políticos que disputam, em 29 círculos eleitorais, 102 lugares
no parlamento da Guiné-Bissau. Rumo à décima legislatura, os concorrentes às
eleições legislativas de 10 março são unânimes ao afirmar que chegou a
"Hora da Mudança" para os guineenses que querem, com estas eleições,
pôr fim à mais fatídica crise política e económica - que durou mais de três
anos.
Para os 102 assentos na
Assembleia Nacional Popular concorrem mais 500 candidatos, entre vários jovens
estreantes e alguns veteranos que procuram a reforma vitalícia. Os líderes
partidários são candidatos a primeiro-ministro em caso da vitória dos
respetivos partidos.
A campanha eleitoral decorre numa
altura em que a organizações da sociedade civil, a Comissão Nacional de
Eleições e partidos políticos manifestam preocupações com a segurança
eleitoral, devido à agitação social, ânimos exaltados entre atores políticos
que contestam o recenseamento eleitoral e constantes ameaças de perturbação à
ordem pública para interromper o processo eleitoral e consequente adiamento das
eleições.
Forças de segurança a postos
Divergências entre o Presidente
da República, José Mário Vaz, e o primeiro-ministro, Aristides Gomes, não
permitiram a nomeação do ministro do Interior para assegurar que o processo
decorra com sossego, admite o chefe do Governo.
O Comissário Geral da Polícia da
Ordem Pública (POP), Celso de Carvalho, disse que 6 mil efetivos das diferentes
corporações das forças de segurança serão mobilizados para reforçar medidas de
segurança durante todo o processo. Em conferência de imprensa, Celso de
Carvalho minimizou a falta de ministro do Interior, afirmando que se trata de
um cargo meramente político e que as autoridades estão prontas para intervir em
caso de desordem.
Horas antes dos comícios
partidários de abertura da corrida eleitoral, o apelo ao civismo domina as
mensagens dirigidas ao povo e aos concorrentes. A comunidade internacional,
agrupada no chamado P5, apela a umas eleições justas, livres e transparentes. Os
membros do Conselho de Segurança da ONU, que estão em Bissau para encorajar os
atores políticos a prosseguir com os progressos para estabilização efetiva da
Guiné-Bissau, querem que as eleições sirvam para apresentar sinais de
estabilidade e desenvolvimento.
A campanha eleitoral para as
eleições legislativas, que estiveram inicialmente marcadas para 18 de novembro
do ano passado, arranca em tensão política, que começou em 2015 depois da
demissão de Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, do cargo de primeiro-ministro,
e que se adensou com os problemas registados no recenseamento eleitoral.
Os cadernos eleitorais
definitivos ainda não foram divulgados pelo Gabinete Técnico de Apoio ao
Processo Eleitoral, o que tem provocado um aumento da crispação política entre
alguns partidos políticos e o Governo em funções.
"A pobreza está nos nossos
rostos"
No terreno, os comentadores
políticos criticam os partidos, acusando-os de ostentarem materiais eleitorais
de luxo, nomeadamente viaturas topo de gama, e de esbanjarem dinheiro vivo e
exibirem materiais de propaganda eleitoral de ponta, quando o povo sofre de
falta de quase tudo. Gabú e Bafatá, no leste do país, são tradicionalmente as
regiões mais disputadas pelos partidos, mas, ao mesmo tempo, as zonas mais pobres.
"Eles lembram-se que nós
existimos apenas nesse período eleitoral. Há zonas aqui em que o Estado da
Guiné-Conacri tem mais presença do que o nosso, só porque temos uma
fronteira", afirma Bacar Sonco, de 37 anos, ouvido pela DW África.
Revoltado com a cíclica crise
política, admite que vai votar em branco, "porque os políticos são todos
iguais, os mesmos de sempre, que vêm aqui renovar o emprego para servir-se do
Estado e resolver seus problemas pessoais". "A pobreza está nos
nossos rostos", conclui.
Tal como Sonco, muitos jovens
recusaram-se a participar no processo eleitoral em protesto pelas más condições
de vida dos guineenses - que contrastam com a vida de luxo dos políticos.
"A Guiné-Bissau é um exemplo
de que as eleições não resolvem o problema do povo, mas sim dos políticos e das
suas famílias, que na campanha eleitoral vêm gozar e ostentar riqueza na nossa
pobreza", comenta Júlia Nanque, vendedora do mercado central de Gabú.
Braima Darame (Bissau) Deutsche
Welle
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