Martinho Júnior, Luanda
3- Da vitória da revolução cubana
haveria que nos manuais escolares africanos fazer ainda lembrar as razões pelas
quais essa revolução, por experiência própria teve o cuidado de chegar à
conclusão que afinal, consumada uma civilização que comporta tanta barbárie,
havia uma espécie em perigo, precisamente numa cidade com o nome de Rio de
Janeiro, quando se abriram tantas espectativas sobre as recém-descobertas
relativas ao clima e ao ambiente, ainda não havia terminado o século XX…
África, um continente onde
existem tantas espécies em fase terminal, terá alguma vez despertado, ou só
desperta quando se fazem sentir as correntes de pensamento e as práticas de
acção que se alinham com os processos elitistas da inteligência dos poderosos
que nos seus tempos livres cumprem com prodigiosas caçadas, em safaris
iluminados pelo carbono puro que se arranca desde Kimberley às entranhas da
Terra?
A revolução cubana além do mais
realizou em teoria e prática a conexão sincrónica América-África, no que ao
esforço armado da luta de libertação contra a escravatura, contra o
colonialismo e contra o “apartheid” diz respeito, porque elementos
que projectaram essa vocação eram inerentes ao próprio berço guerrilheiro da
revolução.
A maior cidade do leste da
grande-caimão, Santiago de Cuba, é das que fica mais próximo do Haiti, de onde
foi recebendo caudais humanos que estiveram por dentro dos nervos mais
sensíveis de sua própria revolução.
Por isso Cuba realizou, em teoria
e prática, aquilo que alargou desde o génio intelectual e da sabedoria de
Eduardo Galeano, quando se referiu com tanta propriedade dialética ao Haiti e à
América Latina, ainda que sem espreitar para o outro lado do Atlântico, sem
olhar para o nascer do sol, para o berço da humanidade!
Os comandantes revolucionários
cubanos levaram a cabo a gesta da Sierra Maestra e a guerrilha revolucionária
da Sierra Maestra alimentou-se da mobilização e recrutamento humano que tinha
em Santiago de Cuba, bem no leste do país, seu recurso estratégico e desde logo
de potencial projecção transatlântica.
Santiago de Cuba, quanto da sua
população é proveniente do Haiti, ou é descendente de muitos haitianos que
atravessaram as poucas dezenas de milhas entre o Haiti e o este de Cuba depois
de 1804, acabando por engrossar com sangue dos afrodescendente que foram
dominados pela escravatura e o colonialismo, as fileiras da própria revolução
cubana e de suas múltiplas missões internacionalistas e solidárias.
Quando em 1975 a revolução cubana foi
em socorro da independência e soberania de Angola em conformidade com os termos
duma República Popular, fê-lo precisamente evocando a saga duma escrava que
lutou pela liberdade em Cuba e pagou com a sua vida essa ousadia face ao
poderio da potência colonial de então.
A escolha do nome de Carlota para
a operação transatlântica em socorro do moderno movimento de libertação
angolano, 171 anos depois da independência do Haiti em resultado da revolução
dos escravos afrodescendentes, foi desde logo a prova confirmada da saga
transatlântica da revolução, uma página única de reinterpretação do movimento
de libertação que teve de lançar recurso à luta armada para se ver livre do
colonialismo e do “apartheid” tal como no princípio do século XIX os
escravos do Haiti fizeram quando tiveram de desencadear a sua revolução!
De certo modo Santiago de Cuba
foi uma charneira essencial para essa transposição transatlântica, 171 anos
depois da independência do Haiti e há ainda vários exemplos vivos dessa luta
presentes entre nós, entre eles o santiagueiro general Moracén Limonta, o “Humberto” da
IIª Coluna do Che no Congo, hoje também cidadão angolano!
A vinda do Comandante Che Guevara
para África em 1965, correspondeu por inteiro a essa geoestratégia que foi um
manancial energético tão activo no esforço projectado miolo adentro dos
Não-Alinhados.
Dois anos depois do triunfo da
revolução cubana, em 1961, já se tinha realizado uma primeira experiência,
quando Cuba socorreu a luta armada de libertação da Argélia, mas a saga
geoestratégica do empenho dos revolucionários cubanos que deram substância viva
à Iª e IIª Coluna do Che em África, permitiu que a luta em África se estendesse
de Argel ao Cabo da Boa Esperança, terminando praticamente na hora de se
comemorar os 200 anos das independências que ocorreram ao longo do século XIX
América Latina e Caribe afora, em especial nos países ocupados pela colonização
sob a égide da coroa espanhola!
Essa só pode ser a história que
regime oligarca europeu algum quer ouvir contar, que a aristocracia financeira
mundial quer alguma vez entender e por isso é essa a história que
avassaladoramente nos obriga à ética e à moral de defender o sul neste Janeiro integral!
Martinho Júnior - Luanda, 7 de
Fevereiro de 2019
Ilustração… e então chegou Fidel!
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