Não, não estamos a falar de
aguardente nem de brandy, mas sim de um novo partido que, na realidade,
não passa de um partido velho, sustentado em requentadas ideias e personalidades.
AbrilAbril | editorial
Trata-se, de facto, de uma
operação de branqueamento de propostas e de dirigentes políticos, procurando
dar um ar de modernidade e de novidade a um partido, Aliança, cujos principais
dirigentes são co-responsáveis pelas desgraçadas políticas que hoje tanto
criticam.
Quem não se lembra de Martins da
Cruz, hoje também figura de proa da Aliança, ex-ministro dos Negócios
Estrangeiros do governo de Durão Barroso e Paulo Portas, protagonistas da tristemente célebre cimeira das Lajes, em 2003,
juntamente com o presidente norte-americano, George W. Bush e os então
primeiros-ministros britânico, Tony Blair e espanhol, José Maria Aznar?
A cimeira que ditou o início de
uma guerra contra o regime iraquiano de Saddam Hussein, que envolveu Portugal. Entretanto,
o Relatório
Chilcot, publicado no Reino Unido a propósito da participação britânica na
guerra do Iraque, concluiu serem falsas as informações sobre a existência de
armas de destruição maciça no Iraque, que então motivaram a intervenção
militar.
Mas falemos desse novel político
que é Santana Lopes, militante do PSD desde 1976, partido de que foi também
presidente, que integrou os governos de Cavaco Silva, foi primeiro-ministro após Durão Barroso e um dos sólidos
apoiantes da governação de Passos Coelho!
Um percurso que é o motor das
«novas» propostas que apresenta, nomeadamente o fim do Estado Social, uma
segurança social e um serviço de saúde para os pobrezinhos, mas com o Estado a
financiar seguros de saúde para todos isto é, sentar os grupos seguradores à
mesa do orçamento de um Estado que se quer pequeno para quem trabalha mas
forte no apoio aos grandes grupos económicos.
Este novo partido, Aliança,
regressa com a velha arenga de o Estado ser mau gestor, que sempre tem servido
para privatizar tudo o que são serviços públicos rentáveis.
É este Santana Lopes, até há um
ano atrás figura destacada de um PSD cujo governo, partilhado com o CDS,
privatizou a TAP, a ANA-Aeroportos, os CTT, que tem profundas responsabilidades
na situação da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que hoje tanto criticam, mas que
chegaram a ponderar privatizar. Ficaram-se pela privatização de 80% do capital
social da Caixa Seguros – que integrava Fidelidade, Multicare e Cares –,
que o recente relatório do Tribunal de Contas mostra não ter sido eficiente nem
suportada numa avaliação de custo/benefício.
A propósito do discurso de
Santana Lopes no «seu» congresso, onde acusa «a esquerda no poder» de aumentar
impostos, é bom lembrar a sua fidelidade à governação do PSD/CDS de Passos
Coelho, Portas e Assunção Cristas, que promoveu um rol imenso de malfeitorias,
como o assalto aos salários e pensões, a tentativa de liquidar o 13º mês e
o subsídio de Natal, e o brutal aumento de impostos.
É verdade, o líder da Aliança,
Santana Lopes apresenta-se como um político inconformado.
Sim, inconformado com
políticas que desmentiram a lógica das inevitabilidades e da resignação e
que promoveram, entre muitas outras, o reforço da garantia dos direitos à
Saúde, à Educação e à Segurança Social, a reposição de rendimentos e direitos dos
trabalhadores, nomeadamente a reposição de 35 horas de trabalho na Administração
Pública, o regresso dos feriados, o aumento o salário mínimo e das pensões e
reformas, e o aumento do abono de família para cerca 130 mil crianças.
Enfim, um modelo velho com novas
roupagens!
Imagem: O presidente do Aliança,
Pedro Santana Lopes (D) no final dos trabalhos do 1.º Congresso do Aliança,
Évora, 10 de Fevereiro de 2019 | Lusa / António Cotrim
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