sábado, 16 de fevereiro de 2019

Portugal | Pediu uma Aliança velha?


Não, não estamos a falar de aguardente nem de brandy, mas sim de um novo partido que, na realidade, não passa de um partido velho, sustentado em requentadas ideias e personalidades.

AbrilAbril | editorial

Trata-se, de facto, de uma operação de branqueamento de propostas e de dirigentes políticos, procurando dar um ar de modernidade e de novidade a um partido, Aliança, cujos principais dirigentes são co-responsáveis pelas desgraçadas políticas que hoje tanto criticam.

Quem não se lembra de Martins da Cruz, hoje também figura de proa da Aliança, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Durão Barroso e Paulo Portas, protagonistas da tristemente célebre cimeira das Lajes, em 2003, juntamente com o presidente norte-americano, George W. Bush e os então primeiros-ministros britânico, Tony Blair e espanhol, José Maria Aznar?

A cimeira que ditou o início de uma guerra contra o regime iraquiano de Saddam Hussein, que envolveu Portugal. Entretanto, o Relatório Chilcot, publicado no Reino Unido a propósito da participação britânica na guerra do Iraque, concluiu serem falsas as informações sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque, que então motivaram a intervenção militar.

Mas falemos desse novel político que é Santana Lopes, militante do PSD desde 1976, partido de que foi também presidente, que integrou os governos de Cavaco Silva, foi primeiro-ministro após Durão Barroso e um dos sólidos apoiantes da governação de Passos Coelho!

Um percurso que é o motor das «novas» propostas que apresenta, nomeadamente o fim do Estado Social, uma segurança social e um serviço de saúde para os pobrezinhos, mas com o Estado a financiar seguros de saúde para todos isto é, sentar os grupos seguradores à mesa do orçamento de um Estado que se quer pequeno para quem trabalha mas forte no apoio aos grandes grupos económicos.

Este novo partido, Aliança, regressa com a velha arenga de o Estado ser mau gestor, que sempre tem servido para privatizar tudo o que são serviços públicos rentáveis.

É este Santana Lopes, até há um ano atrás figura destacada de um PSD cujo governo, partilhado com o CDS, privatizou a TAP, a ANA-Aeroportos, os CTT, que tem profundas responsabilidades na situação da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que hoje tanto criticam, mas que chegaram a ponderar privatizar. Ficaram-se pela privatização de 80% do capital social da Caixa Seguros – que integrava Fidelidade, Multicare e Cares –, que o recente relatório do Tribunal de Contas mostra não ter sido eficiente nem suportada numa avaliação de custo/benefício.

A propósito do discurso de Santana Lopes no «seu» congresso, onde acusa «a esquerda no poder» de aumentar impostos, é bom lembrar a sua fidelidade à governação do PSD/CDS de Passos Coelho, Portas e Assunção Cristas, que promoveu um rol imenso de malfeitorias, como o assalto aos salários e pensões, a tentativa de liquidar o 13º mês e o subsídio de Natal, e o brutal aumento de impostos.

É verdade, o líder da Aliança, Santana Lopes apresenta-se como um político inconformado.

Sim, inconformado com políticas que desmentiram a lógica das inevitabilidades e da resignação e que promoveram, entre muitas outras, o reforço da garantia dos direitos à Saúde, à Educação e à Segurança Social, a reposição de rendimentos e direitos dos trabalhadores, nomeadamente a reposição de 35 horas de trabalho na Administração Pública, o regresso dos feriados, o aumento o salário mínimo e das pensões e reformas, e o aumento do abono de família para cerca 130 mil crianças.

Enfim, um modelo velho com novas roupagens!

Imagem: O presidente do Aliança, Pedro Santana Lopes (D) no final dos trabalhos do 1.º Congresso do Aliança, Évora, 10 de Fevereiro de 2019 | Lusa / António Cotrim

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