quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Moçambique | Reina o silêncio sobre detenção do jornalista Amade Abubacar


Defesa de Amade Abubacar continua à espera de uma resposta ao segundo pedido de liberdade provisória, feito na semana passada. Jornalista está detido há mais de um mês na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

Há uma semana que a defesa do jornalista Amade Abubacar espera uma resposta a um pedido de liberdade provisória, sob pagamento de caução. Este já é o segundo pedido desde que o jornalista foi detido a 5 de janeiro na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, quando fotografava famílias que fugiam da região com medo de ataques. O primeiro não foi respondido atempadamente.

Amade Abubacar é acusado de crimes de violação do segredo de Estado e incitação à desobediência com recurso a meios informáticos.

Sem gravar entrevista, Jonas Wazir, presidente do núcleo em Cabo Delgado da organização de defesa da liberdade de imprensa MISA-Moçambique diz, no entanto, que, desta vez, espera uma resposta favorável.

A DW África tentou falar com o Tribunal Judicial Provincial de Cabo Delgado acerca do andamento do processo, mas foi-nos informado que o porta-voz do tribunal encontra-se ausente.

Jornalista escrevia para o jornal "Carta de Moçambique"

Na segunda-feira (11.02), o jornal "Carta de Moçambique" publicou no seu portal um artigo em que assume que, na altura da detenção, Amade Abubacar trabalhava como seu correspondente em Macomia e escrevia sobre os ataques armados que ocorrem em alguns distritos de Cabo Delgado.

"Contrariando uma narrativa das autoridades oficiais, segundo a qual o Amade Abubacar não estava a trabalhar para nenhum outro jornal no dia em que foi detido, o que nós fizemos foi desmentir isso, provando que ele estava a trabalhar para a Carta", explica o diretor do jornal, Marcelo Mosse.

"Achámos que era útil publicar esta informação para mostrar que qualquer suspeita de que ele não estava a trabalhar para nenhum outro órgão é infundada", sublinha o jornalista.

Amade Abubacar assinava na "Carta de Moçambique" com o pseudónimo Saíde Abibo. Com a colaboração do jornalista, a "Carta tornou-se numa das principais fontes de informação  sobre a insurgência em Cabo Delgado", revelou o jornal.

Em entrevista à DW África, o diretor Marcelo Mosse refere que as acusações do Ministério Público sobre Amade Abubacar são um equívoco, apelando por isso à classe jornalística a não cruzar os braços para defender o colega. Disse ainda que a "Carta de Moçambique" está disponível para testemunhar a favor de Abubacar em tribunal. "Ele é nosso colega e estamos dispostos a ir até às últimas consequências, para que se prove que, pelo menos, ele era nosso colaborador", diz Marcelo Mosse.

Amade Abubacar denunciou, no mês passado, à Ordem dos Advogados de Moçambique que foi torturado por militares, depois da sua detenção a 5 de janeiro. Várias organizações de defesa dos direitos humanos têm pedido a libertação imediata do jornalista. Abubacar não vê a esposa, os filhos e o irmão desde que foi detido.

Delfim Anacleto Uatanle (Pemba) | Deutsche Welle

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