sábado, 9 de março de 2019

HÁ UM ANO, NA VENEZUELA BOLIVARIANA…


Martinho Júnior, Luanda 

1- Há um ano que, na memória do dia 5 de Março, a convite da República Bolivariana da Venezuela, me desloquei a fim de participar das cerimónias em que, por altura do 5º aniversário do desaparecimento físico do Comandante Hugo Chavez, progressistas solidários de todo o mundo rendiam homenagem àquele que, 200 anos depois do içar da bandeira duma Venezuela independente e livre do colonialismo espanhol, assumia por inteiro o legado visionário e integrador de Simon Bolivar.

Naquela altura, para além da memória que foi justamente exaltada por toda a Venezuela, foi importante constatar ainda que em muito poucos dias, quanto estava mobilizada na prática a aliança cívico-militar inspirada pelo Comandante Hugo Chavez, quanto ela poderia corresponder às aspirações de luta tão legítimas de independência e soberania popular que continuam a ser um incontornável legado às presentes e futuras gerações venezuelanas e de todos os povos do mundo.

Há um ano, as pressões de toda a ordem contra a Venezuela Bolivariana por parte do sargento de turno da aristocracia financeira mundial, Donald Trump, faziam-se já sentir impactantes em toda a linha, desde a guerra psicológica em curso transversalmente, por dentro da sociedade venezuelana, até às pressões económicas e financeiras asfixiantes e votadas a isolar a Venezuela dos relacionamentos internacionais.


Devo dizer que, em termos de exaltação patriótica, na Venezuela vivia-se um ambiente humano similar ao que Angola viveu no momento tático decisivo de sua independência a 11 de Novembro de 1975… e assim mais do que minha presença solidária e a minha modesta homenagem ao Comandante Hugo Chavez, num ápice revertia a minha própria memória para aqueles dias da minha juventude em que havia tanta saudável alegria no ar, a euforia contagiante que respiravam os patriotas angolanos, entre o troar das armas, o cheiro a pólvora, o pó das picadas, o suor dos corpos dos combatentes e o verde das catedrais florestais…

Em Galipán, sem troar de armas e numa idílica paz, nem a chuva faltou, uma chuva pródiga, como aquela que corria como enorme vassoura tocada pelos ventos pelos encantos dos Dembos naquela já longínqua época estival, em Novembro de 1975…

Foi particularmente no almoço em Galipán, na coroa dos Andes do nordeste e onde, fizeram-me constar, tantas vezes o Comandante Hugo Chavez se encontrava consigo mesmo em meditação e repouso entre as refregas a que heroicamente meteu ombros, num ambiente natural indescritível como é o do Parque Nacional Waraira Repano, que lembrei as serranias dos Dembos, que lembrei a retomada de Quibaxe e a segurança acolhedora de Pango Aluquém, cortando o passo à operação da CIA contra Angola, a “Operation Iafeature” do então Secretário de Estado Henry Kissinger…

Na asa leste do enorme funil que desembocava em Quifangondo, a vitória do movimento de libertação em África inaugurava também a independência e a constituição da República Popular de Angola e eu há um ano estava na Venezuela pelos melhores motivos, num cruzamento de imagens e memórias que passando vertiginosamente por mim, unia, sentia-o eu, solidária e singularmente os povos das duas margens do Atlântico Sul, como um só!


2- De há um ano a esta parte a luta cresceu de intensidade na Venezuela Bolivariana, porque aumentou ainda mais a diversidade de pressões e de jogos operativos interconectados aos interesses da hegemonia unipolar tutelada pela aristocracia financeira mundial, mas recordo o que vi então: asseguramentos motivados com prontidão, funcionalidade e vontade, capacidades múltiplas de movimento de pequenas unidades urbanas devidamente apetrechadas e em prontidão, capacidade organizativa popular vocacionada para importantes mobilizações, correspondência transparente e lúcida por parte da superestrutura cívico-militar e de seus próprios serviços de apoio, assessores incluídos, projecções socioculturais animadoras, discernimento ideológico capaz de interpretar os fenómenos correntes e apto a mobilizar de forma abrangente e esclarecedora…

Já naquela altura, sem entrar em muitos detalhes, se evidenciava a cultura da unidade e da coesão, sem prejuízo do que cada qual devia fazer face aos desafios e riscos no cumprimento de suas missões, quer ao nível do que se pedia aos civis quer ao nível dos militares!

Numa intervenção que fiz a propósito, “Caracas jamais será como Santiago”, recordo:

“Para que a hegemonia unipolar que instrumentaliza os Estados Unidos possa produzir o choque neoliberal na Venezuela, nos termos em que tem orientado as suas experiências, inclusive as experiências laboratoriais, necessário se tornaria contar com pelo menos uma fracção das forças armadas do país alvo.

Ao contrário dessas expectativas da hegemonia unipolar contra a Venezuela, são as suas próprias experiências de subversão, alienação e desestabilização que têm encontrado pela frente, entre outros e sempre de modo entrosado e integrado, os dispositivos militares e paramilitares bolivarianos, que têm sabido dosear os seus esforços em função das características de cada uma das ameaças, sejam as de carácter civil, sejam as de carácter militar, internas ou externas.

Poupar energias revolucionárias, tal como garantir reservas, é essencial face às ameaças, de forma a nunca surgir de forma arrogante ou desproporcionada para fazer face às ocorrências e colocar sempre capacidade persuasora e dissuasora antes de tudo o mais, acautelando aproveitamentos que se inscrevem na guerra psicológica sempre presente em todos os actos de desestabilização levados a cabo pela oligarquia venezuelana agenciada.

Para tal o comando tem de gerar constantemente culturas de inteligência e criatividade!

Tudo isso só pode ser feito com patriotismo, unidade, coesão, organização, disciplina e estreita identidade com a Constituição e com o povo e é assim que têm sido aferidas e temperadas as Forças Armadas Bolivarianas, assim como toda a juventude e quadros que nelas prestam serviço, desde logo com a emergência telúrica do Comandante Hugo Chavez e agora com a fidelidade e a temperança do Presidente Nicolas Maduro!

Não era propriamente uma “máquina” mobilizada, mas uma capacidade humana auto-motivadora, voluntariosa, organizada e disciplinada.

Interpretei durante aqueles 4 dias de minha permanência, que basicamente a aliança cívico-militar estava bastante mobilizada para a continuação da luta e capaz de responder aos desafios e riscos com uma enorme vontade criadora de múltiplas prevenções conducentes à paz, não se furtando à batalha das ideias como ao diálogo e busca de consensos, correspondendo a parâmetros inovadores de democracia participativa e protagónica na própria intensidade da luta!


3- Um ano decorrido, outra amostra da capacidade da aliança cívico-militar bolivariana tem sido demonstrada, sobretudo desde a tomada de posse em segundo mandato do Presidente Nicolas Maduro a 10 de Janeiro de 2019, face a tentativas desesperadas de tomada de poder pelos agenciamentos impulsionados pela inteligência e a diplomacia da hegemonia unipolar em conexão com seus vassalos da NATO e na região.

Provocando o isolamento, pirateando financeiramente iniciativas como a CITGO, ou procurando apossar-se da reserva de ouro venezuelano no Banco de Inglaterra, a fasquia da pressão que havia provocado escassez de abastecimentos e uma inflacção galopante que está ainda a ser sustida, foi conduzida a um auge a 23 de fevereiro último: a partir de território colombiano, tirando partido da vassalagem de seu actual presidente, ele próprio um factor representativo da oligarquia colombiana agenciada, uma operação “falso positiva” foi preparada à minúcia, recorrendo aos expedientes de novas tecnologias e mobilização de profissionais do caos e do terrorismo, conforme aprendizagem real antes estimulada entre outros no Iraque, na Líbia e na Síria.

O concurso das novas tecnologias tem estado bem presente na criação da imagem do até há pouco desconhecido Juan Guaidó como nas acções que em função de sua projecção estão a ser desencadeadas a um ritmo frenético e sem precedentes…

A hegemonia unipolar e os seus vassalos latino-americanos estão a levar a cabo a subversão que tem sido aplicada pelas“revoluções coloridas” e “primaveras árabes” culminando num apogeu a 23 de Fevereiro quanto procuraram forçar a Venezuela a aceitar os nutrientes do “cavalo de tróia”, sob o falso pretexto de “ajuda humanitária”, arrogando-se ainda no “direito a intervir”.

Os tentáculos da ingerência e da manipulação tiveram a 23 de Fevereiro último o fulcro instalado em Cúcuta, uma localidade colombiana fronteiriça à Venezuela, que económica e socialmente tem mais laços com as iniciativas abrangentes dos bolivarianos de Caracas do que com a oligarquia instalada “representativamente” em Bogotá…

As comunidades de pobres da cidade do interior Cúcuta, que constituem a maioria da população, têm tido mais atenção da solidariedade bolivariana que alguma vez tiveram dos ricos de Bogotá, pelo que provavelmente o fulcro da operação foi escolhido sem levar em conta questões humanas que logo à partida concorriam para o seu fracasso.

O entrosamento do uso de novas tecnologias com os factores humanos no terreno, obriga a inventários que mesmo assim escapam à arrogância dos poderosos e isso, a 23 de fevereiro de 2019, foi também verificável com todas as demais acções operativas desencadeadas, que não conseguiram penetrar em território venezuelano quando o legítimo poder bolivariano fechou as fronteiras com a Colômbia e com o Brasil, nos pontos nevrálgicos das tensões.

A jornalista Rosa Mirian Elizalde, esclareceu no seu artigo “Apuntes preliminares sobre la guerra en las redes contra Venezuela” publicado a 1 de Março no Cubadebate, o que se passou com o uso de novas tecnologias:

“El #23F aporta la primera gran evidencia de que la izquierda en el continente aprende a defenderse y hacerle frente a la guerra de nueva generación.

Hay demasiado fogonazo en las redes todavía y quizás es temprano para hacer una evaluación razonada sobre los recientes acontecimientos en Venezuela desde el punto de vista de las acciones ofensivas en redes, pero es posible entrever algunos ejes de una batalla por la disputa de sentido que, a mi juicio, han ganado las fuerzas progresistas con amplio marge”…

(…)

… “En el 2010, el Departamento de Estado creó el Center for Strategic Counterterrorism Communication (CSCC), que sigue utilizando abiertamente las redes sociales como plataforma para contrarrestar la propaganda enemiga.

En palabras de su fundador, el embajador retirado Richard LeBaron, el CSCC materializa la especialización de la diplomacia pública en el campo de las redes sociales, como los equipos SEAL se especializan en acciones contraterroristas en el plano táctico.

El CSCC cuenta con tres equipos multidisciplinares: Inteligencia y Análisis, Planes y Operaciones, y el Digital Outreach Team (DOT), encargados del planeamiento, análisis, diseño y producción de las campañas gráficas y su seguimiento.

Su capacidad de interacción en Twitter es casi en tiempo real y alcanza un elevado nivel de interacción en conversaciones con extremistas de todas partes del mundo.
Los combatientes son guerreros cibernéticos profesionales, empleados del gobierno de Estados Unidos o contratados en terceros países, además de experimentados guerrilleros aficionados que persiguen objetivos muy bien definidos con precisión militar y herramientas especializadas.

Cada tipo de combatiente trae un modelo mental diferente al conflicto, pero usa el mismo conjunto de herramientas, afirma Renee DiResta en su ensayo The Digital Maginot Line.

Esos entramados están ahora mismo operando en Venezuela, como lo han hecho en otros escenarios.

Estas campañas a menudo se perciben como un caos orgánico impulsado por acciones emergentes en línea y acciones de aficionados, cuando de hecho son ayudadas o instigadas por entes estatales e institucionales sistemáticos que van de arriba hacia abajo con entramados jerárquicamente bien establecidos”…

(…)

… “La herramienta Account Analysis de Luca Hammer refleja la agitada actividad anti-venezolana en Twitter del Senador, que el 23 de febrero dirigía desde Cúcuta el cuartel general de la provocación contra el país sudamericano.

Según esta herramienta, del 21 al 23 de febrero, las etiquetas más tuiteadas por Marco Rubio fueron: #Venezuela (149), #Maduro (22), #MaduroRegime (15), #Colombia (11), #Cuba (11), #Caracas (7) e #Israel (7)”…

(…)

… “Los chavistas han comprendido que si hay una tarea política fundamental es la de acabar de entender que la vida on line y off line no van separadas, son una continuidad, forman parte de un solo cuerpo, y que hay que saber apreciar este cuerpo único como termómetro de la vida social y medidor del pulso de la política.

El territorio fundamental en la guerra de información es la mente humana.

Si no eres un combatiente, eres el territorio.

Y una vez que un combatiente gana sobre un número suficiente de mentes, tiene el poder de influir en la cultura, la sociedad y la política.

Este principio del nuevo ecosistema mediático parece que empieza a ser comprendido por las fuerzas revolucionarias”…

(…)

… La ofensiva del #23F contra el chavismo fracasó estrepitosamente porque, además de otras variables que apuntan a la unidad cívico-militar y a la fortaleza del liderazgo venezolano, hay una altísima presencia de la población en la red y una actuación militante de la ciudadanía, que enfrenta a la oposición en las calles y en las redes.

El chavismo conoce y se apropia del discurso del liderazgo, acompaña sus propuestas y etiquetas, y desagrega los conceptos para generar contenido propio de forma muy activa.

Entiende cada red social y su estilo, y traslada sus mensajes de manera creíble y personalizada.

Las etiquetas del golpismo y el intervencionismo en los últimos tres días no han podido señorear las tendencias de Twitter en el país, aunque han hecho un aporte a los hábitos de la red del pájaro azul: la aparición de un hashtag en inglés en el trending de un país de habla castellana”.


4- Sem querer embarcar em falsos triunfalismos, agora já não basta à aristocracia financeira mundial ter poder quase exclusivo de manipulação das novas tecnologias, sincronizando com as acções subversivas promotoras de caos e de terrorismo no terreno, visando a tomada de poder em Caracas:

A aliança cívico-militar bolivariana está a decifrar o tipo e o grau dos desafios, dos riscos e das ameaças não só dentro como fora das fronteiras nacionais, rompendo com inteligência as pretensões arrogantes de bloqueio em toda a linha, conduzindo respostas em todas elas, conformes ao que desencadeou adequadamente no episódio do 23 de Fevereiro que serve apenas como exemplo!

Até no campo das novas tecnologias manipuladas como tentáculos subversivos contra os interesses dos povos a hegemonia unipolar está a experimentar fracassos…

Por todas as razões, da minha parte só poderá continuar a haver uma posição saudável na luta pela paz e na via da lógica com sentido de vida: na trincheira legítima do movimento de libertação no século XXI, TODOS SOMOS VENEZUELA!

Martinho Júnior - Luanda, 5 de Março de 2019

Minhas fotos que são memória e testemunho de “há um ano, na Venezuela bolivariana”:
- Um e dois – homenagem no Quartel da Montanha – 4 de Fevereiro – Caracas;
- Três, quatro e cinco – homenagem em La Guaira – Praça bolivariana entre o mar do Caribe e o arco montanhoso do nordeste dos Andes – La Guaira – Estado de Vargas.

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