@Verdade
| Editorial
Nunca
se está preparado para um Ciclone de categoria 4. A medida que as
telecomunicações são restabelecidas é possível ver o terror enfrentado por meio
milhão de pessoas na noite e madrugada de quinta e sexta-feira passadas,
difícil de descrever em palavras é o assobiar do vento forte que arrancou todos
os tectos, partiu vidros, deitou abaixo árvores, postes de energia,
telecomunicações... arrasou com a cidade da Beira.
Que
o nosso país é um dos mais vulneráveis do globo aos eventos extremos da
natureza não é novidade, milhões de dólares têm sido gastos em estudos e
consultorias para provar o que o povo sente todos os dias: o clima mudou.
Planos para prevenção e mitigação, redução, de acção, quinquenal não faltam. O
que não tem havido é dinheiro para tornar realidade o slogan do Instituto
Nacional de Gestão de Calamidades (INGC): “Mais vale prevenir que remediar”!
À
parte da liderança política dos últimos anos o INGC está dotado de
profissionais capacitados e experientes, assim como o são muitos dos executivos
que representam as diferentes instituições do Estado no Centro Nacional
Operativo de Emergência, o drama é que funciona sem fundos ao longo do ano para
acções de prevenção e quando a época chuvosa o Governo não tem disponibilizado
o dinheiro necessário para remediar. Desde 2015 que só têm sido desembolsado
cerca de 20 por cento das necessidades inscritas no Plano de Contingência, um
instrumento obrigatório à luz da Lei 15/2014.
Daí
resultam situações caricatas que culminam com a morte de pessoas. Durante 3
dias o INGC não conseguiu comunicar e coordenar as suas acções porque, tal como
o povo, dependia das telecomunicações normais, a instituição não tem um único
telefone satélite ou um kit completo de comunicações alternativas em caso de
apagão, como aconteceu. Os drones, propagandeados como uma solução para
encontrar vítimas, afinal não voam com mau tempo e não tem grande autonomia de
voo, não passam de brinquedos.
Além
disso a comunicação voltou a falhar com os países vizinhos, tal como em 2015 o
Malawi não alertou para a onda que inundou e acelerou o rio Licungo, o Zimbabwe
não preveniu sobre o transbordar da sua barragem o que precipitou as cheias no
Búzi e Púnguè.
Contudo
o IDAI terá sido, dos 16 ciclones tropicais que fustigaram Moçambique desde 1980,
aquele que mais foi alertado ao povo. Os beirenses admitem hoje que
menosprezaram os avisos, embora a maioria não tivesse meios para sair da cidade
e procurar refúgio longe dos locais onde o impacto era mais do que esperado.
Não
há dúvida que o momento é de ainda resgatar os cidadãos situados e prestar
assistência aos sobreviventes porém com Nação temos de reflectir e rever as
prioridades. O dinheiro nunca chega para tirar o povo das casas precárias que
se danificam na menor intempérie mas existe sempre para a vida faustosa dos
dirigentes e auto proclamados libertadores da pátria.
Idaí?
É preciso reconstruir e investir numa Beira resiliente, mas que desde sempre
foi preterida pelo partido que governa Moçambique desde a independência, afinal
é conotada como o centro da oposição!
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