“Beira
é a primeira cidade na história do mundo que foi completamente arrasada pelas
Mudanças Climáticas" diz Graça Machel
Graça
Machel declarou sobre o impacto do Ciclone IDAI: “eu tenho a maior dor para
dizer que é o meu país e o meio povo que vai ficar na história como tendo sido
a primeira cidade a ser devastada completamente pelas Mudanças Climáticas”. A
1ª primeira-dama de Moçambique desafiou o mundo a preparar-se “para pedidos de
assistência de grande escala e de uma sofisticação e complexidade de como é que
se reorganiza uma cidade que ficou totalmente arrasada, nunca aconteceu,
aconteceu aqui”.
Falando
com jornalistas em Maputo após visitar as províncias fustigadas desde o passado
dia 14 pelo Ciclone tropical IDAI, Graça Machel não tem dúvidas que o que
aconteceu no Centro de Moçambique, são as Mudanças Climáticas. “Dizia-se que os
pobres são aqueles que vão pagar o maior preço, eu tenho a maior dor para dizer
que é o meu país é o meio povo que vai ficar na história como tendo sido a
primeira cidade a ser devastada completamente pelas Mudanças Climáticas”.
“Daqui
a algumas semanas o mundo tem que se preparar para números muito maiores, para
pedidos de assistência de grande escala e de uma sofisticação e complexidade de
como é que se reorganiza uma cidade que ficou totalmente arrasada, nunca
aconteceu, aconteceu aqui. Os mundo já viu as Caraíbas com ilhas mas uma cidade
como a Beira ficar completamente arrasada esta é a primeira experiência”,
alertou a activista social.
A
viúva do Presidente Samora desafiou ao mundo: “Todas as experiências de
reconstrução pós Mudanças Climáticas vão ter de se por a prova aqui neste país
e naquela zona do nosso país”.
Mas
antes da reconstrução Graça Machel apelou as autoridades nacionais e
internacionais envolvidas: “A operação de busca e salvamento ainda não está
completada, todos nós podemos imaginar o que significa estares pendurado em cima
de um tecto ou de uma árvore, as pessoas começam a cair de exaustão por causa
de todas as coisas que podemos imaginar”, lamentando que “devemos-nos sentir
profundamente preocupados disso não se ter conseguido fazer em tempo
relativamente curto”.
“Moçambique vai continuar a precisar de assistência internacional por muito mais tempo, e não estou a falar de reconstrução”
Com
experiência acumulada de décadas a lidar com a assistência humanitária às zonas
rurais a antiga primeira-dama chamou atenção para o facto de estarem a ser
constituídos diversos centros de acolhimento para se facilitar a distribuição
de assistência, “mas isso quer dizer que nós vamos precisar por muito tempo de
meios aéreos, porque não há estradas que permitam levar em grandes quantidades
para todos os centro de acomodação e fazemos apelo ao mundo para saber que os
meios aéreos que estão a ser usados para salvamento vão ser necessários para
continuar por mais tempo para fazer a distribuição da assistência de todo o
tipo”.
“Esta
é uma emergência nunca vista na nossa história, nós todos estamos perplexos e
não temos toda a experiência de gerir a complexidade desta emergência” disse a
mamã Machel reiterando o apelo “Queremos solicitar que as pessoas estejam
connosco por muito tempo, e não aquilo que muitas vezes nas primeiras semanas,
um mês depois a atenção começa a virar para outro lado, Moçambique vai
continuar a precisar de assistência internacional por muito mais tempo, e não
estou a falar de reconstrução, estou a falar do período exclusivamente de
assistência”.
“Muito
acima de 3 milhões de pessoas que estão afectadas, e todo o apoio ainda é
insuficiente”
A
activista ressalvou que embora seja “verdade a Beira é a primeira cidade na
história do mundo, que eu saiba, que foi completamente arrasada. É preciso
lembrar-nos que são muitos outros distritos que estão afectados, os números que
o Governo teve de apresentar numa primeira fase estão muito abaixo daquilo que
são as pessoas afectadas, há necessidade de aumentar a dimensão e os números de
assistência que nós precisamos”.
“Há
pessoas que estão em Dondo, em Nhamatanda, no Búzi, que atravessaram para zonas
de Chimoio, o Sul da Zambézia, são muitos distritos afectados. Nós temos, eu
posso arriscar, muito acima de 3 milhões de pessoas que estão afectadas, e todo
o apoio ainda é insuficiente”, concluiu Graça Machel.
Viviam
nas províncias de Sofala e Manica, de acordo com o Censo de 2017, mais de 4,2
milhões de cidadãos moçambicanos. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades
indicou neste domingo a existência de 446 óbitos e reviu para 518.323 o número
de pessoas afectadas directamente pelo Ciclone IDAI que deixou 2.184 inundadas
e 56.480 parcial ou totalmente destruídas. Existem 434 escolas afectadas
colocando sem estudar mais de 90 mil alunos. Unidades sanitárias são 45
danificadas, 19 delas só na cidade da Beira.
Um
Relatório do INGC de 2012 constatou que “Como resultado das mudanças
climáticas, a exposição ao risco de calamidades naturais em Moçambique
aumentará significativamente ao longo dos próximos 20 anos e mais além”, dentre
os vários impactos descritos o documento antecipava que: “As regiões centrais serão
as mais afectadas por ciclones mais intensos e pela subida do nível do mar” e
indicou que a “Beira é a cidade mais vulnerável seguida, alternadamente, de
locais, vilas e cidades nomedadmente Tofu, Pemba, praia de Xai-Xai, Maputo,
Ponta d'Ouro e Vilanculos”.
Adérito
Caldeira | @Verdade
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