As propostas de PSD e CDS de
acareação entre generais com responsabilidades recentes no topo da hierarquia
do Exército reflectem a irresponsabilidade, o oportunismo e a falta de
sentido de Estado.
AbrilAbril | editorial
As inusitadas e inesperadas
propostas do PSD e do CDS, apresentadas na Comissão Parlamentar que visa o
apuramento das responsabilidades políticas no caso de Tancos, de acareação
entre os generais Rovisco Duarte, Faria Menezes e José Calçada, a propósito de
declarações ali prestadas pelos três militares, são para os partidos da
direita uma forma de atingir os seus fins sem olhar a meios.
O furto de material militar dos
paióis de Tancos e a tentativa de agora lavar a «roupa suja» do Exército servem
para PSD e CDS alimentarem a campanha mediática contra o Governo e, de forma
indirecta, contra a actual solução política, mas que, objectivamente, contribui
para o caldo da cultura populista cujas consequências não atingirão apenas o
Governo, mas a própria democracia.
Aliás, PSD e CDS, dentro e fora
do governo, nunca deixaram de agitar o papão da coesão e da disciplina nas
Forças Armadas sempre que as associações profissionais de militares esboçaram
acções em defesa dos direitos daqueles que representam, mas não se inibem de
propor uma acareação entre os generais que no passado recente eram os
responsáveis de topo na hierarquia do Exército.
Pelos vistos, para PSD e CDS,
arrastar para a lama a imagem do Exército não põe em causa a sua coesão!
Falta saber em que medida a
exibição pública de tal diferendo permitirá apurar responsabilidades políticas
no caso em apreço, sendo que PSD e CDS não é isso que procuram e não os
preocupando que a exibição pública deste diferendo provoque, com estrondo, a
queda da imagem de uma instituição milenária que, por ser também um pilar do
Estado e um elemento estruturante da nossa soberania, deve ser preservada.
As audições destes generais
mostram também as mazelas não apenas do Exército, mas de umas Forças Armadas
que, por via das alterações legislativas de sucessivos governos, têm sido
vítimas de um processo perigoso de governamentalização, quando não de
partidarização, que se traduz, nomeadamente, na escolha das chefias militares e
nas promoções entre oficiais generais, mas também na atribuição ao ministro da
Defesa Nacional da responsabilidade de nomear e exonerar, por exemplo, os
vice-chefes de Estado-Maior dos ramos, os comandantes operacionais dos
três ramos, os comandantes das academias e da Escola Naval e o director do
Hospital das Forças Armadas.
Destas audições fica também a
pergunta: qual é o papel de um Chefe de Estado-Maior que perde a confiança no
general comandante operacional que está na sua dependência hierárquica, mas
cuja nomeação é da responsabilidade do Governo?
Imagem: Armando Babani / EPA
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