Xavier Lubota, ex-dirigente da
CASA-CE em Cabinda afirma que nunca confirmou a existência dos ataques entre as
FAA e os guerrilheiros independentistas.
Deputado angolano pelo ciclo
provincial de Cabinda considera ultrapassada a estratégia de luta da Frente de
Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), e aconselha a mesma organização a
adaptar-se à nova realidade política.
Xavier Lubota, um dos deputados
dissidentes da CASA-CE, fez estas declarações ao reagir à DW África, o
"comunicado de guerra” da FLEC que tem reivindicado a morte de soldados
das Forças Armadas Angolanas (FAA).
Continua o "disse que disse”
entre as autoridades angolanas e a FLEC, grupo rebelde que reivindica a
independência da província de Cabinda nas matas do enclave e na Europa onde
estão os seus dirigentes.
Os independentistas alegam que na
última sexta-feira, 12 de abril, abateram três efetivos das FAA durante uma
emboscada realizada na região de Necuto, município de Buco-Zau.
Em entrevista à Lusa, o ministro
angolano da Defesa, Salviano Sequeira, desmentiu a informação e assegurou que a
situação no enclave de Cabinda é "tranquila".
Onde está a verdade?
Para muitos obseravdores, a
informação sobre a "guerra em Cabinda” deixa qualquer pessoa confusa em Angola. O Governo
diz uma coisa e a FLEC diz outra. Entretanto, não se sabe de que lado está
a verdade.
Contactado pela DW África, o
deputado Xavier Lubota, ex-secretário executivo da CASA-CE em Cabinda, disse
nunca teve provas da existência dos ataques na província.
"Quando exercia as funções
de secretário-executivo da CASA-CE em Cabinda, os secretários municipais que eu
tinha naquelas zonas, nunca me confirmaram a existência desses ataques. Não
estou querer dizer que estas informações são falsas. Até nós os políticos
também temos dificuldades de entender e verificar essas informações”, disse o
parlamentar que abandonou a coligação CASA-CE, depois da destituição de Abel
Chivukuvuku da presidência.
Guerrilha com armas pré-fabricadas
Falando à DW África a partir das
matas do enclave, o "general” das Forças Armadas de Cabinda (FAC), Luís
José Diase, afirmou que os alegados ataques são uma realidade.
O veterano guerrilheiro acusa,
por outro lado, as FAA de matarem pessoas inocentes em represália aos atos dos
rebeldes. O "massacre” ocorreu no Buco-Zau, aldeia de Ntango-Madiaba, na
noite de domingo, 14 de abril.
Questionado sobre as condições
logísticas para a continuidade da guerrilha, o general revelou que
FLEC/FAC continua a usar armas pré-fabricadas.
José Luís Diase reitera que a
luta contra as autoridades angolanas vai continuar e espera o apoio do povo de
Cabinda. "Se o povo decidir, vamos pegar nas catanas, canhangulo, armas
pré-fabricadas, e nos machados para lutarmos contra os angolanos. Porque
Cabinda não é Angola, e o cabindês não é angolano. Não dependemos de ajuda
porque o mundo abandonou o povo de Cabinda", revelou o guerrilheiro.
Para o deputado Xavier Lubota, a
guerra não é o caminho ideal para a solução de Cabinda, região angolana rica em
petróleo.
O parlamentar entende que cada
ano que passa, devemos marcar um passo para a solução de Cabinda.
Lubota quer que a organização
liderada agora pelo Emmanuel Nzita mude de tática de luta, lembrando que
"os nossos pais lutaram e não conseguiram sentir nenhum cheiro para a
solução de Cabinda. Se continuarmos assim, também corremos o risco de não ver
nada. A estratégia de luta tem que mudar".
O parlamentar angolano explica a
razão que levou muitas vozes contestatárias de Cabinda a abraçar os projetos
políticos dos principais partidos em Angola.
"Por isso é que entrámos
nesses partidos que podemos dizer angolanos. Hoje as grandes
figuras emblemáticas de Cabinda, como o padre Congo que está no governo
provincial, e o padre Raúl Taty, que é meu colega deputado, estão aí porque as
estratégias ficaram ultrapassadas”, afirmou Xavier Lubota,.
Essas personalidades segundo as
palavras do deputado, "não estão aí por traição. Estão aí para ver se
podemos conseguir uma solução num outro sentido, mas as pessoas interpretam
mal. Não devíamos ser atacados porque ninguém consegue saber qual é a
verdadeira estratégia da FLEC. O certo é que, hoje, a guerra como estratégia
política de conseguir uma razão para o caso de Cabinda não deve ser armada”,
defendeu.
Retaliação contra os populares
Por seu turno, o presidente da
Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos em Cabinda
(ADCDH), Alexandre Kuanga, afirma que ouviu de alguns populares que um militar
das Forças Armadas Angolanas foi morto a tiro junto de um rio. O ativista que
critica as reações "precipitadas" de Luanda, denuncia que militares
do governo reprimem os populares no interior de Cabinda sempre que há relatos
de ataques da FLEC.
Agora, explica o Alexandre
Kuanga, em função do comunicado da FLEC, o exército angolano está de plantão
na Floresta do Maiombe e noutras regiões da província. "Quando estes
ataques acontecem, os militares das FAA reprimem os populares. Ninguém vai à
lavra, porque os militares entendem que o pessoal da aldeia frequenta a lavra
para conversar com os seus irmãos da FLEC. No entanto, tem havido interdição
das pessoas, mesmo daquelas que vivem nas aldeias, principalmente nesse
momento".
Borralho Ndomba | Deutsche Welle
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