O excesso de concentração de
famílias em tendas nos centros de acomodação provisória na província da
Zambézia, centro de Moçambique, está a aumentar a incidência de problemas de
saúde, principalmente entre as crianças.
As autoridades sanitárias
apelaram à redução do número de pessoas que dormem nas tendas disponibilizadas
para as vítimas do ciclone Idai. Uma visita recente de um grupo de médicos do
Hospital Central de Quelimane aos centros de reassentamento de Namitangurine,
Dhugudiua e Furquilha, na província da Zambézia, detetou um crescente número de
casos de doença respiratória entre a população.
"Um dos fatores para a
existência de doenças respiratórias é o ambiente de convivência. Naqueles
meios, as tendas têm pouco espaço, a ventilação é escassa e isso predispõe ao
desenvolvimento de infeções respiratórias", explica o médico Ladino Súade.
Das mais de 700 pessoas
observadas, entre adultos e crianças, a maioria foi diagnosticada com problemas
relacionados com o sistema respiratório. "Durante o dia é preciso abrir as
tendas para as ventilar e uma tenda deve ter o menor número de pessoas possível.
Quanto menor for a tenda, menos pessoas deve ter", refere o médico.
"Em Furquilha, atendemos 320
pacientes; quando estivemos em Namitangurine atendemos 435 pacientes. Onde
encontrámos doenças respiratórias com maior frequência foi em
Namitangurine", adverte o especialista.
Malária, outra ameaça iminente
Para além das doenças
respiratórias, que são potencialmente mortais, a malária também tem despertado
preocupação entre as autoridades moçambicanas. José João Colaço, chefe do
centro de reassentamento em Namitangurine, lamenta a chegada tardia de redes
mosquiteiras. "Febres e malária são doenças constantes… Mesmo eu estou
constipado, tenho problemas de saúde, estou a tossir e tenho febre",
comenta à DW África. "Temos medicamentos, mas só agora é que recebemos
redes mosquiteiras", conta José João Colaço.
Desde que ciclone Idai e as
cheias assolaram a região centro de Moçambique, em março, as autoridades
de saúde na Zambézia têm desencadeado campanhas periódicas de atendimento
gratuito e especializado, em zonas mais distantes da cidade, e nos centros de
acomodação.
As autoridades também instalaram
unidades sanitárias nos recintos onde estão refugiadas as vítimas, para
atenderem casos urgentes. "Normalmente os doentes vão ao encontro do
médico no hospital e nós estamos com esta iniciativa a levar o hospital e o
médico ao encontro do doente", descreve o médico Ladino Súade.
"Viemos a esta povoação
[Maquival] para dar apoio àqueles doentes que não são capazes de se deslocarem
até ao Hospital Central de Quelimane. Estão aqui instaladas as especialidades
de ginecologia, otorrinolaringologia, ortopedia, urologia, medicina interna e
clínica geral", indica este profissional de saúde.
"São estas as especialidades
mais necessitadas e são também especialidades que menos precisam de movimentar
equipamentos. Para os serviços que precisam de movimentar muitos equipamentos é
difícil fazer consulta na comunidade", conclui o médico.
A malária é uma infeção
parasitária que afeta os glóbulos vermelhos do sangue. É uma doença evitável,
detetável e tratável. O parasita é transmitido através da picada da fêmea do
mosquito Anophelesinfetado. Estes mosquitos geralmente picam entre o
anoitecer e o amanhecer. Em 2017, esta patologia matou mais de 435 mil pessoas
em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Marcelino Mueia (Quelimane) |
Deutsche Welle
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