Mais de 500 ficaram feridos em
atentados a templos católicos e hotéis frequentados por estrangeiros. Polícia
prende 24 suspeitos e diz que advertiu governo sobre risco de ataques
jihadistas contra cristãos.
O número de mortos na série de
atentados coordenados que ocorreram no Sri Lanka durante o Domingo de Páscoa
(21/04) subiu para 290. Cerca de 500 pessoas ficaram feridas. Os ataques,
cometidos em alguns casos por homens-bomba, tiveram como alvos templos católicos
e hotéis de luxo da nação insular.
Ao divulgar o mais recente
balanço de vítimas, o porta-voz da Polícia do Sri Lanka, Ruwan Gunasekara,
anunciou ainda que 24 pessoas foram detidas por suspeita de participação nos
ataques. Os detidos estão sendo interrogados pela divisão de investigação
criminal da Polícia, acrescentou Gunasekara.
Nenhum grupo reivindicou autoria
das ações até o momento. Por enquanto, o governo segue divulgando informações
dispersas sobre as suspeitas no caso. O ministro da Defesa, Ruwan Wijewardene,
disse que os autores dos ataques foram identificados como "extremistas
religiosos" e pertenciam a um único grupo, sem dar mais detalhes.
Já o ministro da Saúde do país,
Rajitha Senaratne, disse que sete das oitos explosões foram cometidas por
terroristas suicidas e que todos esses homens-bomba eram cidadãos do Sri Lanka.
Ele ainda culpou um grupo islâmico radical chamado Thowheeth Jama'ath
pelos ataques.
Um porta-voz do governo, por sua
vez, afirmou que o ataque coordenado deve ter contado com ajuda externa.
"Não acreditamos que esses ataques foram executados por um grupo de
pessoas restrito a este país. Esses ataques não teriam sido bem-sucedidos sem
uma rede internacional”, disse.
Segundo o jornal New York
Times, um alto-membro da polícia do Sri Lanka advertiu o governo há 10 dias
sobre o risco de atentados contra igrejas no país e que a minoria cristã do
país estava na mira do Thowheeth Jama'ath, mas não ficou claro se as
autoridades tomaram alguma medida adicional de segurança. O primeiro-ministro
do país, Ranil Wickremesinghe, disse que não informado sobre a ameaça.
"Temos que verificar por que precauções adequadas não foram tomadas",
disse ele.
Após os ataques, embaixada dos
Estados Unidos em Colombo advertiu que "grupos terroristas" continuam
preparando ataques no Sri Lanka. "Os grupos terroristas continuam tramando
possíveis ataques no Sri Lanka. Os terroristas poderiam atacar com pouca ou
nenhuma advertência (...) áreas públicas", anunciou o Departamento de
Estado através da sede diplomática americana no país asiático.
A embaixada americana afirma como
possíveis alvos destes ataques espaços turísticos, centros de transporte,
mercados, shoppings, instalações do governo, hotéis, clubes, restaurantes,
lugares de culto, parques, eventos esportivos e culturais importantes,
instituições educativas, e aeroportos.
Ataques
No domingo de manhã, foram
registradas oito explosões pelo país. Três templos católicos, que estavam
cheios de fieis celebrando a Páscoa, foram atingidos. Explosões também
ocorreram em três hotéis de luxo em Colombo e uma pensão, também na capital.
Uma oitava explosão foi registrada em um condomínio de casas em um subúrbio de
Colombo. A última explosão teria sido detonada pelos terroristas em fuga,
enquanto a polícia fazia buscas na região.
Além disso, especialistas em
bombas do Exército do Sri Lanka detonaram também no domingo de maneira
controlada um explosivo plantado nas proximidades do principal aeroporto
internacional do país.
Nesta segunda-feira, houve
registro de uma nova explosão perto de uma das igrejas que foi alvo do ataque.
A detonação ocorreu no momento em que o esquadrão antibomba tentava desativar
um explosivo que havia sido deixado em uma van. Não há relatos de feridos.
A maioria das vítimas é natural
do Sri Lanka, mas há pelo menos 32 estrangeiros entre os mortos, incluindo
cidadãos dos Estados Unidos, China, Reino Unido e Índia.
Segundo o gerente de um dos
hotéis que foi alvo dos ataques, o Cinnamon Grand Hotel, em Colombo, um
homem-bomba havia esperado pacientemente na fila do bufê de café da manhã antes
de se explodir.
De acordo com o gerente, o homem
se registrou na véspera como hóspede, sob o nome Mohamed Azzam Mohamed. Ele
carregava um prato e estava prestes a se servir quando ocorreu a detonação.
"Foi um caos total", disse. "Era 8h30 e estava cheio. Eram
famílias." Dois outros hotéis da cidade, o Shangri-La e o Kingsbury,
foram atingidos por explosões mais ou menos no mesmo horário.
Em resposta aos ataques, o
governo impôs um toque de recolher em toda a ilha, com início às 18h do horário
local até 6h do dia seguinte. O governo determinou ainda um bloqueio temporário
das redes sociais, entre elas o Facebook e Instagram, para impedir a difusão
"de informações incorretas". Nesta segunda-feira, o bloqueio ainda
persistia.
"O governo decidiu bloquear
todas as plataformas de redes sociais para evitar a disseminação de informações
incorretas e falsas. Essa é apenas uma medida temporária", afirmou a
Presidência do país em comunicado.
O governo também informou que as
escolas do país não devem funcionar até a próxima quarta-feira. Todos os
policiais que estavam de folga também foram convocados.
Além disso, o governo decretou
nesta segunda-feira a entrada em vigor de estado de emergência em todo o país a
partir da 0h de terça-feira. O objetivo é reforçar a ação das forças
de segurança, que receberão poderes especiais.
"O objetivo é autorizar a
polícia e as forças a garantir a segurança pública", afirmou a Presidência
do país em comunicado.
Após os ataques, o presidente do
Sri Lanka, Maithripala Sirisena, pediu calma ao país. "Por favor, fiquem
calmos e não sejam enganados por rumores", declarou Sirisena em mensagem à
nação. O presidente, que se mostrou "em 'choque' e triste com o que ocorreu",
esclareceu que "as investigações estão em curso para descobrir que tipo de
conspiração está por trás destes atos cruéis".
Já o ministro das Finanças do
país, Mangala Samaraweera, disse que os ataques são uma tentativa de empurrar o
Sri Lanka mais uma vez para uma situação de violência, tal como ocorreu na
longa guerra civil que castigou o país entre os anos 1980 e 2000. Segundo ele,
as explosões foram "uma tentativa diabólica de criar tensões religiosas e
raciais no país novamente (...) justo quando estamos nos recuperando de uma
longa guerra que destruiu o tecido da nossa nação por quase 30 anos”.
Os ataques contra minorias
religiosas no Sri Lanka vêm se repetindo desde 2018, quando o governo teve que
declarar estado de emergência depois de confrontos entre muçulmanos e budistas.
No Sri Lanka a população cristã representa 7%, enquanto os budistas são cerca
de 70%, os hinduístas 15% e os muçulmanos 11%.
Os atentados de domingo também
provocaram condenação internacional e demonstrações de solidariedade ao povo do
Sri lanka. A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, disse que "o
ódio religioso e a intolerância que se mostraram hoje de maneira tão terrível
não devem vencer". "É chocante as pessoas que se reuniram para
celebrar a Páscoa juntas terem sido intencionalmente visadas, nesse ataque
perverso", disse Merkel em telegrama de condolências ao governo cingalês,
publicado por uma porta-voz no Twitter.
O presidente do Brasil, Jair
Bolsonaro, também comentou os ataques no Sri Lanka e disse que "o extremismo
deixa rastros de morte e dor". Já o presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, mandou condolências ao "grande povo do Sri Lanka”. "Nós
estamos prontos para ajudar”.
O Papa Francisco, por sua vez,
disse que os atentados "causaram sofrimento e tristeza". "Confio
ao Senhor todos aqueles que pereceram tragicamente", disse Francisco
enquanto fazia a benção de Páscoa diante de milhares de fiéis na Praça São
Pedro, no Vaticano, "e rezo pelos feridos e por todos aqueles que sofrem
como resultado deste trágico acontecimento".
JPS/efe/ots | Deutsche Welle
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