Rui Sá* | Jornal de Notícias |
opinião
Tive a oportunidade, há um ano,
de recordar, aqui, como foi o meu 25 de Abril de 1974. Sendo certo que, a
partir desse, mais 45 se seguiram. Comemorados, sempre, com alegria e a
consciência de que é data que só se pode comemorar e que as lamentações de
rumos tomados e de expectativas frustradas não se deve ao 25 de Abril mas sim
àquilo que, coletivamente, fizemos com a liberdade que então conquistámos.
E, de todos os 25 de Abril que
comemorei, há um que ficou mais presente na minha memória e que, não tenho
dúvidas, contribuiu para aquilo que, passados estes anos, sou, do ponto de
vista político e humano. Como é sabido, em 1975 e em 1976, o 25 de Abril comemorou-se
de uma forma diferente, mas também festiva. Nesses dois anos, a data coincidiu
com as primeiras eleições livres prometidas pelo MFA: em 1975, para a
Assembleia Constituinte e, em 1976, para a Assembleia da República. Não houve,
assim, as habituais comemorações, embora recorde que, no dia 24 à noite, o povo
saiu à rua para comemorar a efeméride. Foi, assim, em 1977 que se comemorou,
sem o formalismo e a responsabilidade dos atos eleitorais, o 25 de Abril. Com
inúmeras comemorações espalhadas por todos os sítios, promovidas por
coletividades, associações de moradores, sindicatos e com a espontaneidade que
ainda se vivia nesses tempos (recordo uma frase de um meu irmão, regressado à
cidade do Porto por essa altura, de que "parecia o S. João", com
tantas festas espalhadas por todos os recantos). Pois nesse dia 24, à noite,
comemorei, no estádio do INATEL, a chegada do 25 de Abril. Sendo que as
comemorações passaram pela projeção, ao ar livre, do filme "Chove em
Santiago" sobre o golpe de Pinochet que derrubou o legítimo Governo de
Unidade Popular presidido por Salvador Allende. Tinha, na altura, 13 anos, e
esse filme, assistido ao lado de amigos da mesma idade e num ambiente de
fraternidade e de fervor democrático, marcou-me para a vida, consolidando a incipiente
predisposição para uma opção política que hoje se mantém. Não sei quem
organizou essa iniciativa, mas fico-lhes eternamente grato por terem
contribuído para essa opção....
Seguiram-se muitos mais 25 de
Abril, passados em vários locais e com diferentes responsabilidades e estados
de espírito. Impressionando que, passados tantos anos e com a maior parte da
população nascida após o 25 de Abril, continuem a ser muitos aqueles que não
abdicam de comemorar esta data maior da nossa História.
Apesar dos sinais preocupantes
que surgem em Portugal, na Europa e no Mundo, de que aqueles que em 25 de abril
derrotámos, estão aí, defendendo, como sempre, mas agora à luz do dia, a
intolerância, o ódio e a violência gratuita. O que exige maior mobilização para
comemorar Abril!
*Engenheiro
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