António José Gouveia | Jornal de
Notícias | opinião
Ainda não foi votado nem sujeito
a alterações, mas o relatório preliminar elaborado pelo deputado do Bloco de
Esquerda Jorge Costa evidencia que, nos últimos anos, os consumidores andaram a
pagar muito mais pela eletricidade do que aquilo que deviam. Nem vou falar aqui
que a EDP foi beneficiada porque, tal como na Caixa Geral de Depósitos, a
elétrica foi usada e usou dos vários governos que permitiram as tais rendas
excessivas que o relatório do inquérito parlamentar parece apontar. Para já, há
uma premissa importante: os factos que o inquérito analisa são referentes a uma
empresa semipública em que os governos tinham, não só uma influência política,
como também o peso acionista de quem mandava. Ou seja, quem esteve à frente dos
executivos poderia decidir o que entendia sobre a política energética e, acima
de tudo, definir o que a EDP deveria fazer. O problema aqui é que, quem
transferiu dívidas dos consumidores para o sistema tarifário, foram os próprios
governos, principalmente os liderados por José Sócrates e Passos Coelho, que
utilizaram a empresa para tapar buracos das contas públicas: ou através dos
lucros da empresa ou da sua privatização. António Mexia, até ver ou ser
provado, apenas fez o que os acionistas pediam. Como presidente-executivo
entregou resultados. Muito elogiado na altura, muito criticado agora. Terá a
EDP influenciado as políticas governativas de forma a que a empresa e os seus
gestores fossem beneficiados? Será uma resposta a ser dada pelos tribunais. O
relatório preliminar faz várias recomendações, entre as quais que a empresa,
completamente privada, faça o ressarcimento de alguns ganhos que os contratos e
as leis na altura permitiram. E são às centenas de milhões de euros. Desde os
famosos CMEC, às tarifas das eólicas ou à extensão do domínio hídrico. Tal como
o Governo de Passos Coelho "alindou a noiva" para a sua venda aos
chineses, quer-se agora tornar a noiva uma viúva-negra.
*Editor-executivo
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