Francisco Louçã não acredita que
tenha sido por pressão do Presidente da República que o PS voltou atrás
relativamente à proposta da nova Lei de Bases da Saúde do Governo, que já havia
enviado aos parceiros da Geringonça.
É o tema da semana. O Bloco de
Esquerda havia anunciado há uns dias um acordo com o Governo: o fim das
PPP (Parcerias Público-Privadas) na saúde, que constaria da proposta da
nova Lei de Bases na Saúde.
Nos dias seguintes, o Executivo
garantia não existir qualquer acordo com o Bloco de Esquerda, argumentando que
o que houve foram versões de trabalho, e apresentou nova proposta, bem
diferente daquela que teria enviado tanto ao Bloco de Esquerda como ao PCP, que
deixa em aberto a questão das PPP.
Tal viragem deixou o BE
"chocado". "Só podemos estar chocados com o caminho do PS
ao apresentar propostas que contrariam o acordo alcançado", disse, esta
quarta-feira, Catarina Martins.
Francisco Louçã não tem dúvidas.
O que fez o Governo e o PS mudarem de ideias foi a pressão dos dois mil milhões
de euros que representam as PPP numa legislatura. “São 2 mil milhões que o
Estado paga para empresas que procuram obter lucro. O ponto de partida foi este”,
comentou no habitual espaço de comentário da SIC Notícias.
Para o bloquista, as divisões no
PS sobre esta matéria não são o cerne da questão. “Se olharmos com atenção
para o que se passou vemos que o filme não é esse. No final de março, o documento
foi enviado às bancadas que são parceiras do Governo e, a 4 de abril, o
primeiro-ministro estava tão satisfeito com a proposta que a anunciou no
Parlamento. Não anunciou uma versão de trabalho. Disse ‘a proposta do Governo
foi enviada’. Uma proposta, aliás, que concluía um longo processo de negociação”,
recordou.
Louçã criticou, assim, a
postura de António Costa que, primeiro, anunciou a consagração de uma medida,
tendo, dias depois, voltado atrás.
"Se o primeiro-ministro,
pela primeira vez, utiliza o plenário do Parlamento para consagrar solenemente
a apresentação de uma proposta, não pode dizer agora que era uma proposta para
testar e para depois ser abandonada", frisou, lembrando que, em março, a
ministra da Saúde propusera aos parceiros da Geringonça que
co-assinassem aquela proposta do Governo.
"O BE, concordando com ela,
disse que sim. O PCP disse que não, que queria negociar alguns outros pontos. E
nesse momento, o PS comunicou que então cada partido apresentaria as suas
propostas. Entendeu o BE apresentar como proposta o documento que já tinha sido
anunciado pelo primeiro-ministro e que consagrava o máximo de
convergência", analisou.
Então, o que terá feito o Governo
recuar? Pressão do Presidente da República, que, já se sabia, iria vetar esta lei
de bases à Esquerda? No entender de Louçã, não foi por pressão de Marcelo.
"O PR falou quatro vezes sobre esta matéria. A 19 de janeiro, noticia-se
que Marcelo não queria uma lei aprovada à Esquerda. Sempre se soube a posição
do Presidente", lembrou, concluindo que "o Governo não pode dizer que
fez esta modificação, em abril, porque descobriu que o Presidente não
concordava com a lei, porque ele já tinha dito isso em janeiro".
A pressão vem de onde, então? "A
pressão vem de ser uma lei de 2 mil milhões de euros". É essa a convicção
do bloquista, considerando que as três PPP que existem (em Cascais, Vila
Franca de Xira, e Loures) "têm um enorme interesse estratégico em manter
esta continuidade".
"E há até um interesse –
esse sim ideológico – que é dizer que em Portugal o Estado não é capaz de gerir
serviços e tem de ser o privado. E que tem de se aceitar que hoje são
três e que amanhã pode ser o hospital de São João, o de São José ou Santa
Maria. Ou seja, que há um terreno em que setores privados podem absorver uma
parte do custo do Estado", referiu.
Louçã realçou ainda que, por
exemplo, nas universidades, nunca ninguém se lembrou de dizer que as
entidades públicas devem poder ser geridas por privados. Por uma simples
razão. "Porque as universidades não dão o lucro que dão os hospitais. O
que dá muito lucro é a saúde", afirmou, lembrando uma célebre frase da
dirigente de uma destas empresas, a Isabel Vaz: “Só há um negócio
mais rentável do que a saúde que é a venda de armas” e, concordou, "é
mesmo assim".
Sobre a mudança de posição do
Governo, o comentador resumiu-a da seguinte forma: "O que o PS fez
não foi só abandonar a proposta que a ministra da Saúde tinha apresentado (...). O
que o PS fez foi uma varredela geral na lei (...)", transformando-a
em algo "muito mais confortável para o PSD e CDS".
Algo que "é espantoso do
ponto de vista da flexibilidade política" e que coloca António Costa
perante dois cenários: "Ou apoia Carlos César e desautoriza Marta
Temido, que ficará numa situação muito difícil, e avança para este acordo com a
Direita. Ou confirma o que já tinha confirmado no Parlamento – é a sua
palavra que está em causa – apoia a sua ministra e desautoriza esta iniciativa
do grupo parlamentar", observou.
Melissa Lopes | Notícias ao
Minuto
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