Jornal de Notícias | editorial
Cada vez mais isolado a caminho
de duas batalhas eleitorais decisivas, desgastado por sucessivos embates com
uma Esquerda inevitavelmente empenhada em preservar o seu eleitorado e a
ligação aos sindicatos, António Costa recebeu da Direita um inesperado pretexto
para dramatizar a sua saída de cena.
Arrastado em anos de negociações,
greves, avanços e recuos com passagem por Belém, o dossiê da contagem de tempo
dos professores acaba por abrir uma crise em cima das eleições.
Eleitoralismo, grita-se da
Esquerda à Direita. Calculista, sem dúvida, a posição do Governo, empenhado na
narrativa das boas finanças que foi o seu principal trunfo político e capital
de credibilização externa. Mas igualmente eleitoralista a manobra do PSD e do
CDS, que poderá sair cara nas urnas. Invertendo a votação que tiveram no âmbito
do Orçamento do Estado para 2019, dificilmente conseguirão explicar as razões e
o calendário para este alinhamento com BE e PCP.
Sobre a questão de fundo, o
quando e o como para a contagem integral dos nove anos, quatro meses e dois
dias dos professores, fica afinal quase tudo por responder. O impacto
financeiro sempre suscitou dúvidas, agravadas pelo facto de ser deixado em
aberto um calendário a trabalhar por um futuro governo. Tudo somado, PSD e CDS
conseguem o truque de piscar o olho aos professores, sem se comprometerem com a
substância das contas.
Será um problema para o próximo
executivo. Mais um. E o futuro começará a jogar-se na votação final do diploma,
no máximo a 15 de maio. Anunciado que está o sentido de voto de cada um dos
partidos, nessa altura morre, no Parlamento, um Governo nascido da força do
Parlamento.
O que fica por saber é se também
a solução governativa à Esquerda morre definitivamente. Em política, a verdade
de hoje pode ser a mentira de amanhã, com a tensão a ser enterrada à medida das
conveniências. Tudo depende do que venha a dizer o eleitorado. Que tem uma
única e decisiva forma de se expressar: o voto.
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