As conclusões do relatório
confidencial da Rand Corp foram tornadas publicas num "Brief". Esse
documento revela como gerir a nova Guerra Fria contra a Rússia. Algumas
recomendações já estão a ser concretizadas, mas esta apresentação sistemática
ajuda a compreender o seu ver-dadeiro objectivo.
Forçar o adversário a
desdobrar-se excessivamente, a fim de desequilibrá-lo e derrubá-lo - não é um
movimento de judo, mas o plano contra a Rússia desenvolvido pela Rand
Corporation, o ‘think tank’ mais influente dos EUA que, com uma equipa de
milhares de peritos, representa a fonte mundial mais fiável dos serviços
secretos (inteligência) e análise política para os governantes dos Estados
Unidos e para os seus aliados. A Rand Corp orgulha-se de ter contribuído para a
elaboração da estratégia a longo prazo que permitiu aos Estados Unidos serem os
vencedores da Guerra Fria, obrigando a União Soviética a esgotar os seus
recursos económicos no confronto estratégico.
É neste modelo que se inspira o
novo plano, "Overextending and Unbalancing Russia", publicado pela
Rand [1].
Segundo os seus analistas, a Rússia continua a ser um poderoso concorrente dos
Estados Unidos em alguns campos fundamentais. Por conseguinte, os Estados
Unidos, juntamente com os seus aliados, devem empenhar-se numa estratégia
abrangente a longo prazo que tire o máximo partido das suas vulnerabilidades.
Assim sendo, são analisadas as várias maneiras de forçar a Rússia a
desequilibrar-se, indicando para cada uma delas, as possibilidades de sucesso,
os benefícios, os custos e os riscos para os EUA.
Os analistas da Rand acreditam
que a maior vulnerabilidade da Rússia é de caracter económico, devido à sua
forte dependência das exportações de petróleo e gás, cujas receitas podem ser
reduzidas, agravando as sanções e aumentando as exportações de energia dos EUA.
Devem fazer com que a Europa reduza a importação de gás natural russo,
substituindo-o por gás natural liquefeito transportado por mar, de outros
países.
Outra maneira de prejudicar a
economia da Rússia a longo prazo, é encorajar a emigração de pessoal qualificado,
em particular, jovens russos com um nível de educação elevado.
No campo ideológico e
informativo, devem ser encorajados os protestos internos e, ao mesmo tempo,
prejudicar a imagem da Rússia no estrangeiro, expulsando-a dos fóruns
internacionais e boicotando os acontecimentos desportivos internacionais que
ela organiza.
No campo geopolítico, armar a
Ucrânia permite que os EUA aproveitem o ponto de maior vulnerabilidade externa
da Rússia, mas isso deve ser ajustado para manter a Rússia sob pressão, sem
atingir um grande conflito, em que ela teria vantagem.
No campo militar, os EUA podem
ter grandes benefícios, com baixos custos e riscos, através do aumento das
forças terrestres dos países europeus da NATO em função anti-Rússia.
Os EUA podem ter grandes
oportunidades de serem bem sucedidos e altos benefícios com riscos moderados,
investindo, sobretudo, em mais bombardeiros estratégicos e mísseis de ataque de
longo alcance contra a Rússia.
Sair do Tratado INF e instalar
novos mísseis nucleares de alcance intermédio apontados contra a Rússia
asseguram grandes possibili-dades de êxito, mas também envolvem riscos
elevados. Ao discriminar cada opção para alcançar o efeito desejado - concluem
os analistas de Rand - a Rússia acabará por pagar o preço mais alto no
confronto com os EUA, mas até mesmo os americanos terão de investir grandes
recursos, subtraindo-os a outros fins. Anuncia-se, assim, um aumento ainda
maior das despesas militares militares USA/NATO em detrimento das despesas
sociais.
Este é o futuro previsto pela
Rand Corporation, o mais influente ‘think tank’ do Estado Profundo, ou seja, do
centro subterrâneo do verdadeiro poder, mantido pelas oligarquias económicas, financeiras
e militares, o poder que determina as escolhas estratégicas não só dos EUA, mas
do todo o Ocidente.
As “opções” previstas pelo plano
são, na realidade, apenas variantes da mesma estratégia de guerra, cujo preço
em termos de sacrifícios e riscos, é pago por todos nós.
*Manlio Dinucci
| Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto
(Itália)
Nota:
[1] Overextending
and Unbalancing Russia. Assessing the Impact of Cost-Imposing Options, by
James Dobbins, Raphael S. Cohen, Nathan Chandler, Bryan Frederick, Edward
Geist, Paul DeLuca, Forrest E. Morgan, Howard J. Shatz, Brent Williams, Rand
Corporation, May 2019.
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