Deuses e Demónios no Turismo de
São Tomé e do Príncipe: QUE CIÊNCIA e que FUTURO num país abandonado e
isolado?
Isabel de Santiago | Téla
Nón | opinião
Pode a fotografia ser uma Ciência
ou uma arte? Aprendi a paixão da fotografia, a acompanhar o Rui Ochoa,
antigo diretor de fotografia do grande jornal Expresso. Atual fotógrafo oficial
do Presidente da República de Portugal que se desloca ao meu País, de
nascimento e de naturalidade e nacionalidade. A paixão ficou e para onde quer
que vá, em nome da ciência ou em meros passeios, as minhas super amantes Canon,
nunca se separam de mim. Em 2013, no dia 3 de Novembro fotografei, num ato mais
de paixão associado à Ciência um Eclipse Solar (98%). Quando um astro tapa
outro isso chama-se eclipse. Naquele domingo, eu vi a partir de São Tomé,
a Lua tapou o Sol. Na África equatorial, aqui ao lado, o eclipse foi
completo, com a Lua a tapar integralmente o Sol às 13h52. Em São Tomé e
Príncipe, o eclipse foi quase completo (98% às 13h44). O fenómeno
astronómico foi ainda visível no leste da América do Norte, no Norte da América
do Sul, no extremo da Europa Ocidental, na África e no Médio Oriente. Já
na outra cidade, onde passo metade do meu tempo, em Lisboa, o pico do
eclipse aconteceu às 12h23, mas com apenas 14% do Sol ocultado. Em Novembro de
2013, imagens publicadas no Jornal Público aqui.
De que Ciência falamos quando
falamos deste microestado, São Tomé e Príncipe? No dia 29 de Maio de
1919, há 100 anos, Sir Arthur Eddington deslocou-se numa expedição à ilha do
Príncipe, no meio do Equador, Golfo da Guiné. Nesse dia 29 de Maio, o astrónomo
inglês Arthur Eddington fez na ilha do Príncipe as provas fotográficas, que
viriam a constituir a primeira confirmação direta da teoria geral da
relatividade, proposta por Albert Einstein em 1915. Durante esse curtíssimo
período que durou o eclipse total do Sol, registou aquelas observações
históricas. A data é assinalada por várias celebrações e conferências
programadas entre delegações de cientistas de todo o Mundo, a caminho da
Roça SUNDY (senhor Dias) com símbolo maçónico de triangulo, em regime
de concessão ao investidor de origem sul africana Mark Shuttleworth. Se o seu
investimento – triangulado entre Africa do Sul, Ilha de Man (zona franca de
Inglaterra) e STP – tem provado algum desenvolvimento na Ilha do Príncipe,
desde 12 de Julho de 2014 Património natural da UNESCO, o mesmo não se pode
dizer do país, São Tomé (e Príncipe) onde esta ilha mágica com menos de
10 mil pessoas se insere.
Voltando ao mágico eclipse:
durou apenas 302 segundos, ou melhor: 5 minutos e dois segundos. A
Europa, vivia um período não mágico, de conjuntura política em convulsão, com o
fim ainda recente da Primeira Grande Guerra do continente velho. Essa
conjuntura, afetou a relação de troca de informações e comunicação entre
cientistas alemães e ingleses, cortada. Por isso, a partir do Observatório de
Cambridge, Eddington (inglês) teve conhecimento da teoria de Einstein (alemão).
A sua excitação, reza a história, levou-o ao êxtase. Como qualquer cientista,
revejo-me no mundo do social aplicado às ciências da saúde, o importante, é
colocar as perguntas certas. E, se Albert Einstein estivesse certo, então a luz
das estrelas distantes sofreria um determinado encurvamento à passagem junto a
um campo gravítico. Simplificando, a tal luz sofreria um encurvamento,
por exemplo, perto Sol. Nesse período da história, os astrónomos já utilizavam
necessários instrumentos e técnicas para observar e confirmar o tal
encurvamento. A única questão que se colocava e – que condicionava essa
confirmação – ocorrer um eclipse total do Sol. Esta seria a única maneira
de a luz não ofuscar a observação da trajetória da luz emitida pelas
estrelas mais afastadas. Veio a confirmar-se que estava previsto ocorrer o tal
ECLIPSE, e que seria a 29 de Maio de 1919 e a ilha do Príncipe, em São Tomé e
Príncipe – então colónia portuguesa – até ser adotada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas a resolução 1514 (XV), de 14 de dezembro de 1960. O mundo
virar-se-ia de pernas para o ar.
E bem, com os movimentos de autodeterminação dos
povos. Não posso dizer que tenha sido um pacífico movimento. Causou enormes
marcas, sequelas e defesas insuportáveis. São Tomé sofre desde síndrome. Tudo
ficou virado ao abandono. Ao esquecimento. À Miséria. À destruição. Passou-se a
desamar as pessoas, a história. O património. Andar nas ruas do país que me viu
nascer, preta, e onde me chamam branca com manchas de racismo, ressabiamento,
revelam que hoje, tenho a certeza, é meu dever, devolver o que o País nunca me
deu. E fazer isso com ciência e afeto. Não posso abandonar. E deixar que este
País fique ainda mais miserável do que estava quando eu nasci. Fruto de
escravatura e fossos entre uns e outros. Eddington escolheu a ilha do
Príncipe para a sua própria missão. E escolheu bem. Colocou o nosso belo
País e uma mágica ilha, no centro do Mundo. Hoje no Centro da atividade
científica. Apelo aos jovens e às redes sociais: olhem para os astros e
projetem-se neles. O futuro pode vir das estrelas. Os santomenses têm escolhido
o abandono, o desinvestimento na educação. Não existe um único nome que se
associe à ciência e investigação com publicações fora, em seios académicos.
Talvez tenha sido, a única a desenvolver ciência aplicada à saúde, apesar de
muitas perseguições anti semitas de ex ministras de Justiça e de saúde.
Dia 28, véspera do centenário,
aterra o Presidente da República de Portugal, numa visita oficial destas
comemorações. A Ciência Viva do já está no Príncipe. O amor pelo Pavilhão do
Conhecimento está presente. Viva a Ciência. E que este País comece a brilhar,
não apenas para os ASTROS, mas para a Humanidade. Porque chega. Mas chega
mesmo, os políticos envelhecidos e enferrujados, decretaram o abandono à
ciência, ao desenvolvimento, à saúde e à educação. No fundo os dois grande
pilares do desenvolvimento futuro do País.
É tempo de mudar. E só depende de
nós, mas mais desta nova geração. Segurar as rédeas, com amor e educação e
paixão pela história – o nosso passado – e adoração à ciência e conhecimento –
o nosso futuro – que (RE)começa hoje.
Isabel de Santiago
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