sexta-feira, 31 de maio de 2019

São Tomé | Que Ciência e que Futuro num país abandonado e isolado?


Deuses e Demónios no Turismo de São Tomé e do Príncipe: QUE CIÊNCIA e que FUTURO num país abandonado e isolado?

Isabel de Santiago | Téla Nón | opinião

Pode a fotografia ser uma Ciência ou uma arte? Aprendi a paixão da fotografia, a acompanhar o Rui Ochoa, antigo diretor de fotografia do grande jornal Expresso. Atual fotógrafo oficial do Presidente da República de Portugal que se desloca ao meu País, de nascimento e de naturalidade e nacionalidade. A paixão ficou e para onde quer que vá, em nome da ciência ou em meros passeios, as minhas super amantes Canon, nunca se separam de mim. Em 2013, no dia 3 de Novembro fotografei, num ato mais de paixão associado à Ciência um Eclipse Solar (98%). Quando um astro tapa outro isso chama-se eclipse. Naquele domingo, eu vi a partir de São Tomé, a Lua tapou o Sol. Na África equatorial, aqui ao lado, o eclipse foi completo, com a Lua a tapar integralmente o Sol às 13h52. Em São Tomé e Príncipe, o eclipse foi quase completo (98% às 13h44). O fenómeno astronómico foi ainda visível no leste da América do Norte, no Norte da América do Sul, no extremo da Europa Ocidental, na África e no Médio Oriente. Já na outra cidade, onde passo metade do meu tempo, em Lisboa, o pico do eclipse aconteceu às 12h23, mas com apenas 14% do Sol ocultado. Em Novembro de 2013, imagens publicadas no Jornal Público aqui.



De que Ciência falamos quando falamos deste microestado, São Tomé e Príncipe?  No dia 29 de Maio de 1919, há 100 anos, Sir Arthur Eddington deslocou-se numa expedição à ilha do Príncipe, no meio do Equador, Golfo da Guiné. Nesse dia 29 de Maio, o astrónomo inglês Arthur Eddington fez na ilha do Príncipe as provas fotográficas, que viriam a constituir a primeira confirmação direta da teoria geral da relatividade, proposta por Albert Einstein em 1915. Durante esse curtíssimo período que durou o eclipse total do Sol, registou aquelas observações históricas. A data é assinalada por várias celebrações e conferências programadas entre delegações de cientistas de todo o Mundo, a caminho da Roça SUNDY (senhor Dias) com símbolo maçónico de triangulo, em regime de concessão ao investidor de origem sul africana Mark Shuttleworth. Se o seu investimento – triangulado entre Africa do Sul, Ilha de Man (zona franca de Inglaterra) e STP – tem provado algum desenvolvimento na Ilha do Príncipe, desde 12 de Julho de 2014 Património natural da UNESCO, o mesmo não se pode dizer do país, São Tomé (e Príncipe)  onde esta ilha mágica com menos de 10 mil pessoas se insere.

Voltando ao mágico eclipse:  durou apenas  302 segundos, ou melhor: 5 minutos e dois segundos. A Europa, vivia um período não mágico, de conjuntura política em convulsão, com o fim ainda recente da Primeira Grande Guerra do continente velho. Essa conjuntura, afetou a relação de troca de informações e comunicação entre cientistas alemães e ingleses, cortada. Por isso, a partir do Observatório de Cambridge, Eddington (inglês) teve conhecimento da teoria de Einstein (alemão). A sua excitação, reza a história, levou-o ao êxtase. Como qualquer cientista, revejo-me no mundo do social aplicado às ciências da saúde, o importante, é colocar as perguntas certas. E, se Albert Einstein estivesse certo, então a luz das estrelas distantes sofreria um determinado encurvamento à passagem junto a um campo gravítico. Simplificando, a tal  luz sofreria um encurvamento, por exemplo, perto Sol. Nesse período da história, os astrónomos já utilizavam necessários instrumentos e técnicas para observar e confirmar o tal encurvamento. A única questão que se colocava  e – que condicionava essa confirmação –  ocorrer um eclipse total do Sol. Esta seria a única maneira  de a luz não ofuscar a observação da trajetória da luz emitida pelas estrelas mais afastadas. Veio a confirmar-se que estava previsto ocorrer o tal ECLIPSE, e que seria a 29 de Maio de 1919 e a ilha do Príncipe, em São Tomé e Príncipe – então colónia portuguesa – até ser adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a resolução 1514 (XV), de 14 de dezembro de 1960. O mundo virar-se-ia de pernas para o ar. 

E bem, com os movimentos de autodeterminação dos povos. Não posso dizer que tenha sido um pacífico movimento. Causou enormes marcas, sequelas e defesas insuportáveis. São Tomé sofre desde síndrome. Tudo ficou virado ao abandono. Ao esquecimento. À Miséria. À destruição. Passou-se a desamar as pessoas, a história. O património. Andar nas ruas do país que me viu nascer, preta, e onde me chamam branca com manchas de racismo, ressabiamento, revelam que hoje, tenho a certeza, é meu dever, devolver o que o País nunca me deu. E fazer isso com ciência e afeto. Não posso abandonar. E deixar que este País fique ainda mais miserável do que estava quando eu nasci. Fruto de escravatura e fossos entre uns e outros. Eddington escolheu a ilha do Príncipe para a sua própria missão. E escolheu bem. Colocou o nosso belo País e uma mágica ilha, no centro do Mundo. Hoje no Centro da atividade científica. Apelo aos jovens e às redes sociais: olhem para os astros e projetem-se neles. O futuro pode vir das estrelas. Os santomenses têm escolhido o abandono, o desinvestimento na educação. Não existe um único nome que se associe à ciência e investigação com publicações fora, em seios académicos. Talvez tenha sido, a única a desenvolver ciência aplicada à saúde, apesar de muitas perseguições anti semitas de ex ministras de Justiça e de saúde.

Dia 28, véspera do centenário, aterra o Presidente da República de Portugal, numa visita oficial destas comemorações. A Ciência Viva do já está no Príncipe. O amor pelo Pavilhão do Conhecimento está presente. Viva a Ciência. E que este País comece a brilhar, não apenas para os ASTROS, mas para a Humanidade. Porque chega. Mas chega mesmo, os políticos envelhecidos e enferrujados, decretaram o abandono à ciência, ao desenvolvimento, à saúde e à educação. No fundo os dois grande pilares do desenvolvimento futuro do País.

É tempo de mudar. E só depende de nós, mas mais desta nova geração. Segurar as rédeas, com amor e educação e paixão pela história – o nosso passado – e adoração à ciência e conhecimento – o nosso futuro – que (RE)começa hoje.

Isabel de Santiago

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