Sociedade angolana e ativistas
cívicos definem o ativista José Patrocínio como um "grande combatente
pelos direitos humanos" e dizem que "deixa um legado pela
tolerância". Morreu por doença, sábado (01.06).
José Patrocínio nasceu a 26 de
dezembro de 1962, no Lobito, província de Benguela. Morreu este sábado, vítima
de doença, aos 57 anos e deixa um filho.
Nas redes sociais, pessoas
próximas ao ativista dos direitos humanos e fundador da organização não governamental
OMUNGA e indivíduos de vários estratos sociais continuam a lamentar a sua
morte.
É o caso de Alexandra Simeão,
presidente da ONG Handeka, uma associação cívica que tem lutado para dirimir os
principais constrangimentos que inibem o pleno exercício da cidadania no país,
como, por exemplo, o acesso ao ensino primário. Alexandra falou à DW África,
este sábado.
"Foi com bastante tristeza
que tomei conhecimento da partida de José Patrocínio, um querido amigo, um
grande combatente pelos direitos humanos, um homem que sempre esteve ao lado
dos que tinham menos, das minorias, dos pobres. Daquele povo que ainda não tem
país e que sofre injustiça todos os dias", declarou.
"Nunca olhou para os
constrangimentos nem para as dificuldades, ele era sempre o primeiro, estava
sempre na linha da frente. Onde houvesse desgraça, onde houvesse insuficiência,
onde houvesse alguma coisa que tinha que ser resolvida, uma injustiça que tinha
que ser sanada, José patrocínio estava lá," acrescentou.
Uma vida pelos direitos humanos
Apesar de ser um engenheiro
agrónomo, Patrocínio dedicou a sua vida aos direitos humanos. A sua última
batalha foi o impedimento de construção de uma fábrica de fertilizantes no
bairro da Graça, no Lobito, sua terra natal.
Sob o lema "Não à Desgraça
na Graça", o ativista levou a cabo uma petição na internet muito aderida
por diferentes personalidades. No dia 17 deste mês, o líder da OMUNGA liderou
uma marcha pelas ruas de Benguela que terminou no local onde está a ser erguida
a fábrica, entretanto já embargada pelo Governo central.
Na altura, o ativista
lamentava: "A nossa insatisfação é o silêncio do governador, quando
as obras, perante uma garantia destas da ministras, as obras continuam até em
ritmo acelerado," disparou.
"Zé Tô" ou
"Cabeçudo", como era carinhosamente chamado pelos mais próximos,
nunca se calou perante as injustiças. Em dezembro de 2010, lançou o filme
"Não Partam a Minha Casa", um documentário que denuncia o drama de
milhares de angolanos vítimas das demolições e desalojamentos forçados por
quase todo o país.
Solidariedade e respeito à
Constituição
O jornalista e ativista angolano
José Gama, não tem dúvidas: José Patrocínio deixou um grande legado. "Um
legado de defesa dos mais desfavorecidos, mas, sobretudo, um legado de pregação
pela tolerância. Foi um ser bastante moderado, procurava sempre abordar os
assuntos de associativismo dentro dos marcos da lei", considera.
"Patrocínio apenas fazia
aquilo que era permitido por lei, por isso é que era um defensor da ordem
constitucional. Ao defender a Constituição, foi várias vezes mal interpretado
pelas forças de segurança que o agrediram", recorda.
José Patrocínio foi o fundador da
OMUNGA, uma palavra de origem na língua Umbundo que significa
"Solidariedade". A associação é de âmbito nacional e foi fundada a 16
de junho de 2005. Com sede no Bairro da Luz, no Lobito, a OMUNGA desenvolve
ações de promoção e proteção dos direitos da infância e juventude.
Alexandra Simeão espera que todos
dêem continuidade ao trabalho deixado pelo "Zé Tô". "Desejo,
sinceramente, que o exemplo dele tenha contagiado não só as pessoas que o
seguiam, com quem trabalhava em Benguela para continuar a obra da OMUNGA, mas
que se mantenha em nós presente e vivo para podermos, do seu exemplo, enquanto
ativista e enquanto defensor da humanidade, conservar essa mensagem de vida e
que possamos, ao mesmo tempo, honrá-lo pelas batalhas e pelos todos os combates
que travou em nome da pátria," finaliza.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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