O povo – presumivelmente o
másculo – andou entretido com a disputa até ao ultimo minuto do Girabola entre
o D’agosto e o Petro (agora sem a liquidez financeira da Sonangol de outros
tempos), com a taça de Angola de futebol e o campeonato africano de clubes de
basquetebol. Tudo açambarcado pelos militares. Sinais dos novos tempos e do seu
poder?
Brandão de Pinho | Folha 8 |
opinião
Sendo assim e tendo tudo isso já
terminado, poderia haver um interregno para esse mesmo povo prestar atenção ao
que vem acontecendo em Angola de realmente importante, todavia agora vem aí o
CAN e as novelas com o Dala do Rio Ave e Sporting, o Ary Papel, o Bastos na
Itália, o Cabaça e o luso-angolano Wilson Eduardo constituem dose suficiente de
ópio para mais uns tempos. As mulheres por norma refugiam-se mais nas
verdadeiras novelas, as televisivas e não nestas futebolísticas.
Para além disso ambos os sexos –
parafraseando Marx, adaptado aos novos tempos – têm na religião, smartphones e
mexericos vários (entre os quais as exonerações e nomeações, e, a caça às
bruxas de JLo ao clã Dos santos), uma dose extra de morfina para aplacar as
dores existenciais, a fome crónica, a miséria e a doença.
Enquanto isso, como veiculado no
Folha 8, nem o estado angolano nem qualquer outro órgão executivo apresentaram
qualquer prova de sobrefacturação de um consórcio relacionado com a construção
e exploração do novo porto de Luanda e onde indirectamente a super-empresária
Isabel dos Santos acabava por participar. Quaisquer investigações, análises ou
estudos comparativos de preços que provassem o que quer que fosse para impugnar
o concurso também são desconhecidos. Um alegado direito de audiência prévia
como manda a lei, de acordo com a empresa da filha mais velha de Zedu – que
fazia parte de uma empresa desse consórcio – também não foi concedido, nem
sequer foi demonstrada qualquer prática imoral como alegado pelo
Exonerador-mor, a acreditar nas palavras daquela.
Isabel dos Santos levou o caso
para tribunal, pois certamente terá prejuízos e já terá gasto muito dinheiro e
perdido do seu precioso tempo (como aconteceu com a Boeing se a anulação dos
contratos de aquisição de aviões por parte de JLo fosse avante, mas lá está,
JLo acocora-se ante os fortes na mesma proporção em que é forte com os fracos).
Anteriormente, José Filomeno dos
Santos, outro filho de Zedu, ex-presidente do Fundo Soberano de Angola,
ex-presidiário e também conhecido pelo “Nick name” de Zenu já tinha levado à
judicatura o estado angolano, também para responder pela anulação de contratos
celebrados, estado esse que o brindou, através da pessoa de JLo, com o cárcere
e demais humilhações, até que lhe extorquissem todo o dinheiro investido pelo
fundo que geria com Jean Claude Bastos a quem foi permitida, depois de bem
paga, uma muito conveniente fuga – e exigência de silencio absoluto – de
Angola, com contornos “hollywoodescos”.
Parece que do dinheiro a
repatriar propalado por Lourenço, estes dois casos foram únicos. Mais uma
promessa por cumprir.
Por falar na prole do mais velho
e em exonerações, não olvidemos que João Lourenço, prescindiu numa quarta-feira
negra a filha mais velha do anterior chefe do Estado, José Eduardo dos Santos,
do cargo de presidente do Conselho de Administração da Sonangol e pouco tempo
depois de Welwitchia dos Santos e José Paulino dos Santos de cognomes,
respectivamente, de Tchizé (ou Tchauzé conforme o ponto de vista) e Córeon Dú,
mais dois filhos do ex-presidente angolano, que até então geriam o segundo
canal da Televisão Pública de Angola, através da uma empresa de ambos.
Outros familiares e membros do
círculo fechado de José Eduardo dos Santos, também se viram afastados de cargos
que ocupavam.
Estes ardis vingativos de
Lourenço – que ordenou ao Ministério da Comunicação Social a retirada da gestão
do segundo canal da televisão pública à Semba Comunicação dos manos Dos Santos,
horas depois de se confirmar a exoneração de Isabel dos Santos do cargo que
ocupava a Sonangol – são dignos de integrar os manuais mais maquiavélicos de
como governar uma nação despoticamente.
A grande ironia do destino, foi
que a Sonangol passava nessa altura para as mãos de Carlos Saturnino,
ex-secretário de Estado dos Petróleos, de comprovada inaptidão mas compensada
com uma capacidade de bajulação quase sem paralelo, e que, muito naturalmente,
decorridos alguns meses – tamanha era a sua incompetência – viu-se exonerado
pelo General-Presidente. Quanto à TPA, o ministro da Comunicação Social, o
famigerado e plenipotenciário João Melo, aventou (ou mandaram-no aventar) que a
gestão deveria voltar para a própria esfera da Televisão Pública pelo que não é
de estranhar as queixas crescentes do povo que consome televisão como quem
respira oxigénio, pela desorganização, diminuição da qualidade e
impressibilidade dos vários canais da TPA quer em Angola quer na diáspora.
Ainda a propósito de Saturnino,
que agora parece andar tão compungido, convém recordar que foi presidente da
comissão executiva da Sonangol Pesquisa & Produção, tendo sido demitido
por, justamente, Isabel dos Santos e devido a comprovada imperícia materializada
na acusação de má gestão e de descarados desvios financeiros.
Isabel dos Santos alertou há
algum tempo numa fase mais activa nas redes sociais, que em Angola a situação
estava a tornar-se cada vez mais tensa, com a possibilidade de se juntar à crise
económica existente, uma crise política profunda numa série de mensagens
divulgadas rede Twitter. Tinha razão nas suas premonições.
Já a sua irmã, que talvez por
carregar o apelido “Dos Santos” no nome, não foi convidada para a cerimónia de
Novembro último, na qual o Presidente angolano outorgou medalhas a vários
personagens, que se distinguiram em diversas áreas, entre os quais o sobrinho
de Jonas Malheiro Savimbi – cuja exéquias fúnebres face ao risco de veneração
pairam como um fantasma, de um lado para o outro, ante o desnorte da cúpula do
MPLA – de sua graça Demarte Pena, porque como Tchizé ironizou, foi campeão
mundial de uma espécie de luta chamada de “vale-tudo-menos-arrancar-olhos”,
perguntando-se se o lançamento da TPA Internacional terá sido coisa menor e de
somenos importância que um campeonato desse vale-tudo em peso galo… negro.
Há tempos numa declaração emitida
em nome de Isabel dos Santos e a propósito da sua exoneração da petrolífera,
veio expresso que era falsa a notícia da existência de transferências
realizadas para entidades terceiras depois da exoneração do anterior Conselho
de Administração, tal como falsa era a notícia de transferência de 57 milhões
para uma conta “offshore” no Dubai, e, mais falsa ainda a notícia de
transferências mensais de 10 milhões de euros da Sonangol para a sua Efacec.
Todavia é verdade que nunca foram
pedidos esclarecimentos sobre estes temas à anterior Administração, não
podendo, por isso, a mesma estar em falta com a prestação de qualquer
informação, de acordo com a declaração, que conclui que foi montada uma
campanha de difamação contra a Eng.ª Isabel dos Santos.
Não parece ser coincidência que
JLo, na sua quixotesca campanha contra a corrupção, tenha personalizado e
canalizado a sua fúria no clã Dos Santos, sobretudo no seu patriarca, que o
entronizou, nomeou sucessor (como numa monarquia) e lhe cedeu o lugar, e que,
mau-grado lhe ter deixado 15 mil milhões de dólares, para além da traição,
ainda se viu ignominiado por JLo que o acusou de ter deixado os cofres do
estado vazios.
Todavia, esta adversidade, não
deverá afectar o percurso empresarial de Isabel dos Santos, iniciado em 1996
quando se lançou em Angola aos 24 anos numa aventura empresarial que não correu
particularmente bem, na qualidade de dona de um restaurante e clube nocturno em
Luanda, mas que hoje, 20 anos depois, inclui participações na banca em Angola
como o Banco de Fomento Angola e em Portugal, já não no BPI mas no Eurobic que
também controla em Angola; na sociedade de cimentos angolana Cimangola; nas
telecomunicações em Angola (Unitel) e em Portugal (Nos); e; no ramo petrolífero
em Portugal através da Galp.
No sector bancário, Isabel dos
Santos, talvez por ter herdado os dotes xadrezistas maternos, tem sido qual Rei
Midas uma verdadeira e implacável empreendedora e mulher de negócios pois entre
trocas e baldrocas a depauperada banca portuguesa através do referido BPI
ofereceu a Isabel dos Santos a liderança do Banco de Fomento de Angola (BFA),
em troca do voto favorável da empresária na desblindagem dos estatutos o que
permitiu aos catalães avançar com a OPA sobre o BPI, mas que acabaram por pagar
mais por acção do que o que pretendiam, demonstrando-se mais uma vez a evidente
capacidade negocial da Isabelinha e a sua aptidão inata para fazer dinheiro e
que no espaço de dois dias resolveu um impasse de dois anos.
Por isso não é de estranhar que
importantes jornais internacionais a tenham mimado com lisonjeiros epítetos
como o britânico “Guardian” que a chamava de “Princesa”, o espanhol “El País”
que a denominava de “Rainha de África e Imperatriz de Portugal”, e o “Le Monde”
que – neste caso talvez não tão lisonjeiramente – a comparava a uma oligarca
russa, talvez devido à sua conhecida e pública genealogia por via materna.
Segundo o jornal Expresso de
Portugal, foi pouco depois do negócio mal-sucedido relacionado com o clube
“Miami Beach” que a Isabelinha entrou no negócio dos diamantes em Angola
através da “Ascorp” que obteve do seu paizinho o direito exclusivo de
comercialização de diamantes angolanos e na qual Isabel assegurava uma
percentagem de 24,5% da nova sociedade através da empresa TAIS, que detinha com
a sua mãe, de “eslavíssimo” nome Tatiana Kukanova.
Falando de si, a Rainha de África
aludiu aos privilégios e preconceitos no sentido em que se foi privilegiada,
por um lado, foi porque teve uma boa educação, em que pôde ver o mundo e em que
consegui dar-se com pessoas de todos os estratos e quadrantes, mas nada mais do
que isso de acordo com a própria, e por outro lado, não considera que tivesse
usufruído de vantagens injustas ou de favores e favoritismo, pelo que dessa
forma estava a ser vítima de preconceituosas cogitações, não se lhe enaltecendo
o reconhecido e necessário mérito nos negócios e na tomada inteligente e
avisada de decisões acertadas e escolha de bons negócios aos melhores preços
que o mercado da altura proporcionava, pelo que o apodo de “filhinha querida e
mais velha do Presidente”, com que os detractores a invejam, menorizam e dela
zombam, de acordo com o que disse taxativamente, não passa de um mito e nada
mais do que um mito, não dando grande confiança tal impropério.
A aura de sucesso estende-se à
sua família (a que constituiu) e é tal que marido de Isabel dos Santos, o
coleccionador de arte Sindika Dokolo, comprou em hasta pública, numa altura em
que em Portugal não havia quem tivesse dinheiro ou interesse para o fazer, a
“Casa Manoel de Oliveira”, ex-propriedade do homónimo e mundialmente famoso
realizador centenário de cinema entretanto falecido.
O empresário, nascido no Congo há
43 anos, pretende instalar aí a sede da sua fundação, na cidade do Porto, com o
seu nome já que ele, além de possuir a mais importante colecção de arte
contemporânea africana, com mais de três mil obras, tem por incumbência pessoal
consubstanciar os laços artísticos entre Portugal e Angola. O sucesso de ambos
causa inveja quer em Angola quer em Portugal, sobretudo desde que o presidente
da Câmara Municipal do Porto o honrou com a distinta atribuição das chaves da
cidade.
Para além de ser a mulher mais
rica de África também é a mulher mais rica e poderosa de Portugal, pelo que
Isabel dos Santos, de acordo com a revista “Forbes”, é a primeira bilionária
africana com uma fortuna avaliada em 3,7 mil milhões de dólares. Contudo, pouco
se sabe sobre a sua vida e o seu império e como e quando fez o seu primeiro
milhão (marca psicológica para os americanos que se querem tornar ricos), se
nos diamantes -negocio onde não pode negar que foi favorecida – ou se na
concessão da rede de telemóveis, a Unitel, que tem gerado milhões.
Uma coisa é certa, Isabel dos
Santos – o símbolo do empresariado angolano e africano – é também um exemplo da
plutocracia (governo que favorece os ricos) e da delapidação de recursos (como
a lapidação de diamantes), com escasso proveito para o povo angolano apesar de
criar mais empregos que JLo.
Também é um facto que Isabel dos
Santos gere o seu império empresarial em Angola, Portugal, Suíça e Cabo Verde
de forma profissional e é o membro do clã Santos com mais dinheiro e negócios e
com um poder absoluto em Portugal.
Se há quem diga de forma
maldizente que não passa da testa de ferro nos negócios do pai, também se diz
que ela exemplifica um novo modelo de empresária africana, que prefere os
negócios à política.
Se também há quem diga que terá
sido favorecida por ser a filha do Presidente da República de Angola desde 1979
até há bem pouco tempo, também há quem afirme que sua formação anglo-saxónica
lhe deu conhecimento que poucos angolanos têm.
Mas mais uma coisa é certa, ao
contrário de um outro seu irmão, Danilo dos Santos, no caso, não se anda a
pavonear com todo o seu legítimo dinheiro (pode gostar de diamantes, champanhe
e de festas em lugares paradisíacos, mas é discreta).
No caso do tal Danilo, o leitor
lembrar-se-á do episódio do relógio que deixou o próprio Will Smith de boca
aberta, pela forma como alguém tão novo, sem trabalhar e mero filho de um
presidente de um país africano pobre onde grassa a fome e a miséria, ostentava
luxos opulentes que o próprio Will Smith não poderia ou não queria ostentar.
O Correio da Manhã, propriedade
da Cofina, verdadeiro pasquim e tablóide e que embaraça a imprensa portuguesa
com as suas notícias sensacionalistas e ardilosas fez capa há dias onde em
grandes parangonas expressava que o descredibilizado banco público português
CGD tinha “dado” muitos milhões a Isabel dos Santos, fazendo subentender que de
forma pouco ortodoxa.
Mas são tão incompetentes os seus
profissionais e jornalistas, que na edição digital desta notícia, aparece um
anúncio publicitário, justamente da empresa “NOS” pertença da própria pelo que
acredito mais em desleixo do que em notícias encomendadas cujo tema já foi
abordado e escrito no Folha 8.
Antes da queda da PT, de Sócrates
e sobretudo de Ricardo Salgado (através do BES e GES), em Portugal, havia uma
espécie de “omertà” (um código de silêncio dos mafiosos) que ainda não há muito
tempo imperava na imprensa lusa, mais comprometida com o dinheiro da
publicidade do que com o dever de informar os seus leitores com verdade e
isenção.
Essa prática protegia não só
Ricardo “Espírito Santo” Salgado conhecido como o DDT (Dono Disto Tudo quer em
Portugal mas também em Angola) como protege hoje outras figuras novas que se
alevantam onde, de acordo com as más-línguas, sobretudo do “Expresso” se
incluem Isabel dos Santos e o seu fiel escudeiro, advogado e parceiro Proença
de Carvalho.
A haver cronistas ou comentadores
que tenham por hábito questionar o poder de Isabel dos Santos estarão alguns
apenas no “Semanário Expresso” como eles gostam de se gabar agora, apesar da
subserviente e cândida entrevista que fizeram a JLo quando este veio a Portugal
na qual nem uma única pergunta foi embaraçosa.
Se de facto há mais uma excepção,
será então a do “Correio da Manhã”, mas desconfio mais, ter-se tratado de uma
incontinência verbal e incompetência sensacionalista de algum estagiário do que
uma estratégia concertada ou notícia encomendada.
Na Tuga também não há repórteres
e investigadores que tenham o hábito de averiguar o poder angolano em Portugal
ou o nepotismo do MPLA em Angola. Nem partidos ou figuras políticas tampouco, à
excepção de Paulo Morais (colaborador do Folha 8).
Há um silêncio confrangedor em
Lisboa sobre a “princesa das covinhas no rosto”, como já vi escrito numa insuspeita
revista e o mesmo acontece com Proença que acumulou demasiado poder e, acima de
tudo, acumulou cargos e que certamente, não por coincidência e acaso, é um dos
portugueses de confiança de Isabel “covinhas” dos Santos.
Não se pode ser “player” do mundo
dos negócios, advogado e amigo de ex-primeiro-ministros, gestor de média e
jornalista/comentador ao mesmo tempo, mas ninguém tem criticado essas
incoerências do poder absolutista de Proença de Carvalho.
E já agora, onde está a onda de
indignação ou preocupação com o que se passava com a Cofina através do seu
“Correio da Manhã” que é a escória dos jornais, e como tal não merecia sequer a
indignação de quem se julgava intelectualmente superior em Portugal antes desta
notícia de capa da Isabelinha, para o qual ela e Proença eram assuntos tabu,
quando o jornal passou das marcas e condenou várias personagens impunemente só
para vender jornais?
Todavia, a tal capa do “Correio
da Manhã” caso não tenha sido um lapso de estagiários pode demonstrar que os
tentáculos de João Lourenço já chegaram à Cofina. É só uma suposição minha que
às vezes, à falta de melhor aplicação do meu tempo, dá-se-me para engendrar
intrincadas teorias da conspiração.
Se o CM persistir neste género de
notícias não me admirará nada que a dupla Dos Santos & Proença ainda acabe
por adquirir a Cofina proprietária desse jornal, por acaso o de maior tiragem
em Portugal, antes que JLo o faça através de algum seu sipaio.
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