Jorge Rocha* | opinião
Não é que não o soubéssemos, mas
o estudo divulgado pelo MediaLab do ISCTE veio confirmá-lo na plenitude: nos
últimos três anos aumentou o número de comentadores do PSD e do CDS nas
diversas televisões, agravando-se o desequilíbrio anterior em seu favor e relativamente
aos conotados com as esquerdas.
Isto significa que os donos das televisões não
se conformaram com a formação do governo de maioria parlamentar liderado por
António Costa e logo cuidaram de criar um concertado fogo de artilharia
opinativa destinado a desqualificá-lo, a fazê-lo cair. Nos canais generalistas
em sinal aberto não há um único comentador próximo dos partidos das esquerdas,
sendo vários os que têm tribuna e provém das direitas.
Outras confirmações retiradas
quantitativamente do estudo é o forte pendor dos homens no exercício do
comentário político (84%) e a clara ostracização a que o PCP se vê sujeito.
Igualmente sem surpresa é a constatação sobre o canal do «Correio da Manhã»,
aquele em que é mais desequilibrada - numa base de três para um - a relação
entre opinadores de direita e de esquerda.
Não é que as direitas estejam a
recolher grandes frutos dessa insistência, mas poderemos questionar sobre se
continuaria a deter o apoio de um terço do eleitorado se não se visse tão
privilegiada na ocupação dos tempos de emissão televisiva destinados à
política, tendo em conta a importância destes meios de comunicação na
consolidação das escolhas eleitorais dos seus espectadores.
Às vezes os próprios comentadores
das direitas tendem a desajudá-las, quando lhes sobra alguma honestidade
intelectual ou visam interesses ideológicos imediatos dentro da sua própria
barricada. No primeiro caso Vasco Pulido Valente tratou de desancar em Marcelo
e em Agustina neste sábado. A propósito da falta de gravitas do
primeiro escreveu que “o mundo não é feito de beijinhos e de selfies”. E quanto
à incapacidade da segunda em ver reconhecido internacionalmente o talento
revelou-se taxativo quanto à razão mais óbvia: “filha de Entre Douro e Minho
(...) nunca percebeu o que ficava para lá das fronteiras em que sempre se
fechou”.
No caso de João Miguel Tavares as
suas palavras têm de ser lidas à luz da ânsia em ver Rui Rio apeado de líder do
PSD para ressuscitar Passos Coelho. Por isso até tem razão quando aborda a
esdrúxula proposta de Rui Rio em criar condições para algumas cadeiras da
Assembleia da República ficarem vazias: “é uma visão infantil do mundo, que
reflete uma profunda ignorância sobre aquilo que a política é e para que serve”.
Não é, porém, pelo facto de dizer
aqui e acolá alguma coisa certa, movido pelas suas obscuras razões, que o
discursador escolhido por Marcelo para «abrilhantar» este 10 de junho perca a
áurea ganha nas redes sociais, onde é tido como um «caluniador profissional».
*jorge rocha | Ventos Semeados
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